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by STANLEY23KUBRICK | created - 16 May 2014 | updated - 06 Jul 2020 | Public
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1. Phaedra (1962)

Not Rated | 115 min | Drama

To build bridges with his estranged son, a Greek shipping magnate enlists the help of his second wife, Phaedra. But, in rain-soaked Paris, their passionate affair threatens to destroy his empire. Will the modern temptress accept her fate?

Director: Jules Dassin | Stars: Melina Mercouri, Anthony Perkins, Raf Vallone, Elizabeth Ercy

Votes: 1,892

[Mov 06 IMDB 6,8/10] {Video/@@@@@}

PROFANAÇÃO

(Phaedra, 1962)


''Adaptação moderna da personagem da mitologia grega Phaedra, filha de Minos e esposa de Teseus, que se apaixonou pelo seu enteado. Na Grécia atual, o pai de Alexis é um homem muito rico que faz fortuna na área de transporte marítimo. Ele se casa com a jovem e sensual Phaedra, que consequentemente torna-se madrasta de Alexis. O intreresse do rapaz pela moça é imediato. Ela corresponde aos flertes e logo ambos estão mantendo um caso amoroso secreto." (Filmow)

"Nunca aos Domingos/Never on Sunday, de 1960, e "Profanação"/Phaedra, de 1962. Os dois filmes de Jules Dassin são elogiadíssimos, faladíssimos, badaladíssimos, clássicos. Nunca aos Domingos teve cinco indicações ao Oscar, levou o de canção (a de Manos Hadjidakis), fora outras oito indicações importantes – Cannes, Bafta, Globo de Ouro. Phaedra teve indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro, ao Bafta. E, no entanto, achei os dois filmes ruins, muito ruins.Os dois são daqueles filmes dos quais ouvi falar muito entre os 11 e os 14 anos, no começo dos anos 60, quando foram feitos, e que não pude ver na época por causa da censura de faixa etária. Vi os dois, pela primeira vez, na mesma semana, em julho de 2004. Primeiro vi Phaedra, a adaptação de Dassin da história da Grécia clássica para a moderna Grécia da época em que o filme foi feito. Melina Mercouri, a legendária atriz, então casada com o diretor, faz a Phaedra do título original, que tem uma das paixões mais proibidas de todo o gênero humano, uma das essências da tragédia grega, a tragédia grega em si: a paixão de uma mulher pelo filho, aqui suavizada para a paixão pelo filho do marido. O marido da Phaedra moderna de Dassin, interpretado por Raf Valone, é um milionário armador grego – teria Dassin se calcado na figura de Aristóteles Onassis? O filho dele é feito por Tony Perkins, então no auge da fama, depois de Sublime Tentação, um imediato clássico de William Wyler com Gary Cooper, de1956, Até os Fortes Vacilam/Tall Story, uma simpática comedinha de Joshua Logan com a iniciante Jane Fonda, em 1960, e no mesmo ano, Psicose. Enquanto via Phaedra, me lembrava do meu irmão Geraldo me contando com os mínimos detalhes a história do filme que eu não podia ver porque seria barrado na portaria por ter menos de 14 anos. A narrativa dele nunca me saiu da cabeça – eu ficava imaginando Tony Perkins correndo no carro esporte em uma estrada perigosa ao som de Bach e berrando contra o destino: Até aqui você me persegue, Johann Sebastian? Ao final do filme, visto 40 anos depois da época em que deveria ter visto, conclui: o filme não é bom. Na verdade, o filme é muito ruim. E me perguntei: mas então era um mito? O Dassin não era bom, afinal de contas? Um ponto alto dos dois filmes, que não pode deixar de ser mencionado: as trilhas sonoras. Jules Dassin teve o privilégio de contar com os dois maiores compositores gregos nas trilhas sonoras. A de Nunca aos Domingos, como já se citou, é de Manos Hadjidakis. A de Phaedra é de Mikis Theodorakis. Não importa se foi porque na época ele era casado com Melina Mercouri, a estrela dos dois filmes e um imenso ícone da Grécia da segunda metade do século XX. É uma honra grandiosa, gigantesca." (50 Anos de Filme)

35*1963 Oscar / 20*1963 Globo

Joele Melinafilm

Direyor: Jules Dassin

712 users / 126 face

Check-Ins 34

Date 25/07/2012 Poster - ########

2. Piranha II: The Spawning (1982)

R | 94 min | Horror, Sci-Fi, Thriller

15 Metascore

A scuba diving instructor, her biochemist boyfriend, and her police chief ex-husband try to link a series of bizarre deaths to a mutant strain of piranha fish whose lair is a sunken freighter ship off a Caribbean island resort.

Directors: James Cameron, Ovidio G. Assonitis, Miller Drake | Stars: Tricia O'Neil, Steve Marachuk, Lance Henriksen, Ricky Paull Goldin

Votes: 9,909

[Mov 02 IMDB 3,4/10 {Video}

PIRANHAS 2 - ASSASSINAS VOADORAS

(Piranha Part Two: The Spawning, 1981)


''Clube Elysium, pode parecer um paraíso. Mas a poucos metros da praia, surge uma nova onda de terror que não poupa ninguém de sua fome selvagem e insaciável. Enquanto investigava a morte misteriosa de um mergulhador, a instrutora de mergulho Anne Kimbrough, faz uma descoberta arrepiante: peixes parecidos com piranhas e dotados de asas são os responsáveis pela morte do mergulhador. À medida que o número de cadáveres aumenta, Anne, desesperadamente tenta convencer o gerente do resort a cancelar a celebração anual do peixe frito na praia. Mas ele está determinado a proporcionar aos seus hóspedes um verdadeiro banquete." (Filmow)

Brouwersgracht Investments Chako Film Company

Diretor: James Cameron

5.034 users / 662 face

Check-Ins 78

Date 04/11/2012 Poster - ###

3. Psycho (1998)

R | 105 min | Horror, Mystery, Thriller

47 Metascore

A young female embezzler arrives at the Bates Motel, which has terrible secrets of its own.

Director: Gus Van Sant | Stars: Vince Vaughn, Anne Heche, Julianne Moore, Viggo Mortensen

Votes: 50,699 | Gross: $21.46M

[Mov 02 IMDB 4,5/10] {Video/@@} M/47

PSICOSE

(Psycho, 1998)


"Todo cineasta tem um filme pelo qual se envergonhar em sua filmografia (pelo menos a maioria), e no caso de Gus Van Sant este Psicose é o dito cujo. Sério, ele podia ter passado sem essa, que só serviu pra fazer Hitchcock se revirar no caixão." (Heitor Romero)

"Que fique entendido que não é um filme ruim. Mas, a audácia de refilmar um clássico torna o projeto inútil. Copiar o original também é feio, um desserviço. Por fim, as más escalação e direção dos atores, medíocres, tornam esse o pior trabalho de Van Sant." (Rodrigo Torres de Souza)

***** "Estranha e reverencial ideia a de Gus van Sant: posto diante da hipótese de um remake do clássico "Psicose" de Hitchcock, optou por fazer um "Psicose" que fosse a retomada do primeiro, plano a plano, como a dizer não se pode melhorar o que já é perfeito. Aceitemos. As mudanças, a parte a cor, são irrelevantes: apenas adaptações ao comportamento do tempo presente. Então, será difícil responder a pergunta: para que fazer algo que apenas retoma o original? Talvez para provar que, se não se pode melhorar o perfeito, pode-se bem piorar. E o resultado é esse: sem vida, sem psicose." (* Inácio Araujo *)

"A segunda metade dos 90 representou para o diretor como uma época de intenso flerte com o mainstream. Talvez em função disso, esse seja um período bastante irregular em termos de qualidade de produção. É indicado ao Oscar de melhor diretor por Gênio Indomável (1997), seu primeiro blockbuster. Recebe, no entanto, uma série de críticas pela refilmagem de Psicose, de Alfred Hitchcock, lhe rendendo inclusive o notório prêmio “Framboesa de Ouro” por Pior Diretor. Após o abalo provocado pela péssima recepção de Psicose, o diretor sente a necessidade de uma renovação de seu trabalho. Renovação que só poderia ocorrer com um retorno às origens do cinema experimental e introspectivo." (Tubo de Ensaio)

Top 100#49 Cineplayers (Bottom Editores)

Universal Pictures Imagine Entertainment

Diretor: Gus Van Sant

33.388 users / 1.193 face

Soundtrack Rock = Sourcerer

Check-Ins 82 23 Metacritic

Date 24/09/2012 Poster - ##

4. Poseidon (2006)

PG-13 | 98 min | Action, Adventure, Thriller

50 Metascore

On New Year's Eve, the luxury ocean liner Poseidon capsizes after being swamped by a rogue wave. The survivors are left to fight for their lives as they attempt to escape the sinking ship.

Director: Wolfgang Petersen | Stars: Richard Dreyfuss, Kurt Russell, Emmy Rossum, Josh Lucas

Votes: 110,391 | Gross: $60.67M

[Mov 02 IMDB 5,6/10] {Video/@@@} M/50

POSEIDON

(Poseidon, 2006)


Um filme que vai contra todos os méritos do original. Mais uma refilmagem desnecessária e mal feita.

"Quando, em 1972, saiu nos cinemas O Destino de Poseidon, fora classificado como um thriller de ação, mas havia algo de diferente nele; trabalhando numa lógica de microcosmos, tínhamos um grupo de personagens enfrentando uma situação adversa, cujos laços entre eles eram apenas tão fortes seus instintos de sobrevivência, lutando não contra uma pessoa física, ou um grupo de pessoas ou seres, mas contra a situação e contra o tempo, dentro do confinado e ameaçador universo de um navio afundado por um acaso natural, funcionando como um deus-ex-machina a testar a sorte dos protagonistas e a força de vontade de escapar. Nascia o cine-catástrofe. Não só esta nova fórmula foi uma bem-vinda mudança para os thrillers, como rendeu ao estúdio 42 milhões de dólares em locação apenas; querendo lucrar tudo isso de novo com uma geração adversa a filmes antigos, mas que potencialmente se interessaria pela premissa, os produtores liberaram verba para fazer esta perversão do filme clássico. Mas engana-se quem acha estar levando mais do mesmo: Poseidon (2006) também se foca tão e exclusivamente no navio como o personagem principal, evitando estender a história para fora daquele ambiente, e acaba por aí as semelhanças com o filme original, bem como os méritos deste. Praticamente tudo que transformava o original em um grande filme e uma ótima diversão foi retirado, deixando apenas uma roupagem levemente parecida. Não que este tente modificar a história, muito pelo contrário, todos os eventos são iguais ou muito parecidos, a seqüência das cenas, tudo seguindo o manual de criatividade-zero das refilmagens, apenas adaptando a trama ao contexto atual e ao espectador atua, que – de acordo com os produtores – parece ser bem mais idiota que há 30 anos atrás. Os efeitos especiais, brilhosos e artificiais demais, nos fazem perguntar como conseguiram gastar 30x o orçamento do filme original e conseguir um resultado pior, mas diante de tantos defeitos do filme, este passa quase desapercebido. Em O Destino de Poseidon, as situações de desespero eram causadas, em grande parte, não pela adversidade em si, mas pelo eclético grupo de personagens que tentava escapar juntos da desgraça. Aqui, eles são substituídos por um grupo de jovens atletas, cujos únicos membros que distoam são um sujeito cinquentão que era bombeiro, um velho arquiteto que aparenta estar na sua melhor forma física e um garotinho de 10 anos – não surpreendentemente o mais esperto de todos. Acabou também qualquer companheirismo e união que os personagens tinham, aqui é cada um por si, de preferência ainda dando uma rasteira em quem estiver na frente. No original, quando o navio vira, há uma discussão entre os passageiros no saguão para saber o que fazer, entre aqueles não queriam fazer nada, os que já haviam perdidos as esperanças e os que queriam lutar para sair dali, resultando na tensa cena da árvore de natal; em Poseidon, afim de criar um grupo de personagens o mais antipáticos possível, atitudes como a do reverendo Frank de tentar convencer a todos que a melhor saída era permanecerem unidos e tentarem escapar é inadmissível, preferindo o grupo dos ‘espertos’ a saírem sorrateiramente, deixando os outros passageiros que seguiram a cartilha dos comandantes do navio a serem premiados com uma morte lenta e angustiante – e é curioso no mínimo que depois, o grupo que escapou fique se lamentando ao ouvir os gritos de desespero dos que ficaram pra trás. Além, é claro, de certas convenções do cinema catástrofe moderno que não poderiam faltar, como os personagens que estão lá apenas para morrer tragicamente e outros que estão lá apenas para atrapalhar nos momentos mais inoportunos, como o espoleta garotinho Conor, que, em certa hora, se desprende da mãe (outra vez) e acaba entrando não sabe como (lógico) numa sala e fica preso lá dentro, justamente (quem diria!) quando eles estão prestes a escapar. Assim como o final, que tenta imitar o drama do original, mas que acaba apenas copiando o dilema insosso de Armageddon, de tão mal construído só nos resta perguntar se alguém realmente caiu nessa jogada tosca de roteiro e se importou com personagens dos quais não sabemos nada. Aliás, sabemos alguma coisa sim, já que eles aproveitaram a única situação realmente tensa do filme para engajar numa discussão boba sobre costumes de casamento. Nem o próprio navio escapa da impiedosa mutilação da refilmagem: ameaçador e inóspito no original, aqui feito com a mais alta tecnologia para que tudo seja inflamável, e nos faz perguntar o porquê dos personagens andarem carregando lanternas, já que todos os ambientes são muito bem iluminados, mesmo submerso. A única coisa que talvez assuste são as pilhas de mortos, importadas diretamente de um filme do George Romero. Todo estruturado como um videogame de aventura nos moldes de ICO e Prince of Persia, a cada novo cômodo a câmera dá um travelling mostrando o caminho a ser seguido até a reta final, bem como as adversidades do local. O que não seria de todo mau, fossem as situações verdadeiramente interessantes e inventivas. No final das contas, que saiu pior na história foi o diretor, Wolfgang Petersen. A culpa do filme é bem mais de roteiro, de atuação e de produção do que propriamente da direção, que faz o que pode para não estragar ainda mais; mas, aos olhos da História, ele que vai sair como o culpado por ter cometido esta aberração. Se bem que, depois de Air Force One, ele já deve estar acostumado." (Roberto Ribeiro)

"Existem, basicamente, dois motivos que podem justificar uma refilmagem: dar uma nova visão, uma nova luz, a um tema já mostrado anteriormente pelo cinema, ou apresentar um assunto antigo a um público novo. Assim como o recente A Profecia, esta refilmagem de O Destino de Poseidon também só pode ser justificada pelo segundo motivo citado. Para as gerações que já curtiram o original de 1972, este remake nada acrescenta. Quem não viu o antigo pode experimentar o novo, mas com uma ressalva: o filme traz todos os cacoetes da onda cinema-catástrofe dos anos 70. A estrutura dramática é a mesma de sempre: primeiro, uma breve apresentação dos personagens tenta criar alguma empatia com público. Afinal, ninguém torce por alguém que não conhece. Depois, vem o grande fator desencadeador da catástrofe. Neste caso, uma onda gigantesca que deixa de casco para o ar um enorme e luxuoso transatlântico. Em seguida, começa o filme videogame, ou seja, o núcleo central de personagens é submetido a uma sucessão de situações-limite das quais são obrigados a escapar... Ou morrer. Uma sucede a outra com precisão matemática, como nas fases de um joguinho de computador. Daí, é sentar e deixar o tempo passar, sem levar nada muito a sério. Como entretenimento puro e simples, o filme funciona, mesmo porque esbanja nos efeitos especiais, enchendo os olhos da platéia. Quando sair em DVD, será também uma boa opção para os profissionais que fazem palestras de treinamento, já que seu roteiro é repleto de exemplos de trabalho em equipe, liderança motivacional e todos estes temas que a turma de Recursos Humanos adora. Difícil dizer se propositalmente ou não. O fato é que o elenco parece ter sido escolhido em função se suas experiências anteriores com situações catastróficas. Richard Dreyfuss esteve em Tubarão, Emily Rossum em O Dia Depois de Amanhã e Kurt Russell em Stargate. Isso sem falar em Josh Lucas, que atuou no catastrófico Stealth - Ameaça Invisível, mas isso já é outra história... O diretor alemão Wolfgang Petersen tem experiência no tema, pois foi justamente um filme sobre submarinos (o ótimo O Barco - Inferno em Alto Mar) que o lançou no mercado internacional. Depois, já nos EUA, Wolfgang não demonstrou o mesmo talento, tendo dirigido os medianos Força Aérea Um, Mar em Fúria e Tróia. E com certeza não será Poseidon o filme que reerguerá sua carreira: com um custo estimado de US$ 160 milhões, faturou pouco mais que ¼ desta soma nas bilheterias dos EUA. Com o perdão do trocadilho ruim, um verdadeiro naufrágio financeiro." (Celso Sabadin)

Remake do filme-catástrofe de 1972 é uma aventura ágil que peca pela falta de dinâmica entre os personagens.

''A falta de criatividade dos roteiristas e o medo cada vez maior de patrocinar filmes caros que fracassem nas bilheterias são os dois elementos responsáveis pelo enorme número de refilmagens lançadas pelos estúdios de Hollywood. Até mesmo produções medianas, mas já previamente testadas com sucesso diante do público, têm sido canibalizadas por essa prática. O caso de “Poseidon” (EUA, 2006) é exemplar, pois o filme assinado pelo alemão Wolfgang Petersen é a última peça de uma cadeia de obras que remete aos anos 1950. Trata-se de uma aventura de roteiro burocrático, filmada em ritmo ágil e com bons efeitos especiais, mas que carece de dinâmica entre os personagens e, principalmente, de uma história original. Oficialmente, “Poseidon” é o remake daquela obra que lançou a moda dos disaster movies (ou seja, os filmes-catástrofe), em 1972. O Destino do Poseidon, por sua vez, teve origem em romance lançado três anos antes, uma história que ficcionalizava o desastre real do Titanic, já filmado na década de 1950 nos Estados Unidos. Pode-se dizer, portanto, que a produção de 2006 atualiza um longa-metragem já baseado em um livro buscava inspiração em filmes baseados em um caso real. E também pode-se aferir, deste raciocínio, que “Poseidon” deseja tirar uma casquinha do sucesso (já antigo) de Titanic (1998). Para refazer a história do grupo de sobreviventes de um naufrágio que tinha que lutar para chegar à superfície de um transatlântico virado em alto mar por uma onda gigante, a Warner Bros escalou um cineasta experiente em filmagens aquáticas. Dois dos filmes mais bem-sucedidos de Wolfgang Petersen se passam no oceano: o ultra-claustrofóbico drama de guerra O Barco (1981) e a aventura dramática Mar em Fúria (2000). Petersen, que à época do convite saía do não muito bem sucedido Tróia, aceitou a tarefa. Entregou um filme trivial, cujo maior mérito está na recriação impecável – via direção de arte e efeitos especiais – do interior do navio virado de ponta-cabeça. Deve-se levar em consideração, claro, que há problemas com o realismo da situação. O tsunami ocorrido na Ásia, em 2004, nos ensinou que uma onda não quebra nunca em alto mar, como ocorre no filme. No mundo real, ela chegaria sem aviso, arrastando grande quantidade de água em enorme velocidade, e viraria o navio atirando-o para cima e para os lados simultaneamente, com violência. Uma catástrofe assim, porém, simplesmente não seria cinematográfica. Pareceria visualmente pouco dramática. Assim, Petersen preferiu abdicar do realismo e, com a ajuda do conceito de rogue wave (ou onda traiçoeira, que em tese aparece sem aviso e destrói barcos de vez em quando), filmou o impacto em câmera lenta e com grande quantidade de detalhes. Uma vantagem do filme é que Wolfgang Petersen tem consciência de que está realizando um filme-pipoca, com a única intenção de fazer a platéia vibrar por uma hora e meia. Ele não perde tempo desenvolvendo personagens: gasta apenas 10 minutos para mostrar rapidamente quem faz parte do grupo de sobreviventes que optará por se dirigir à superfície, contrariando as ordens do capitão. Há um ex-bombeiro e prefeito de Nova York (Kurt Russell), a filha dele (Emmy Rossum) e o namorado (Mike Vogel), um oficial da Marinha (Josh Lucas), um gay cinqüentão abandonado pelo companheiro (Richard Dreyfuss), uma latina que viaja como penetra (Mia Maestro) e uma mãe com o filho pequeno. A partir do momento em que o grupo decide rumar para a superfície, o filme assume um formato de videogame, em que os personagens precisam cumprir determinados objetivos para passar à próxima fase (ou seja, o compartimento seguinte do navio), e assim por diante, até encontrarem uma saída. De estágio em estágio, um ou outro personagem vai ficando pelo caminho, e Petersen não foge de uma narrativa burocrática e previsível, eliminando sempre as pessoas mais desagradáveis no começo e reservando um momento tocante para o final, quando um dos integrantes mais simpáticos decide se sacrificar para permitir a sobrevivência dos outros. A dinâmica entre os personagens simplesmente não existe. Aqui e acolá, alguns lampejos indicam que o filme poderia crescer como drama se esse fator fosse ampliado. O melhor exemplo está na curta cena em que a criança que integra o grupo começa a imitar o personagem de Josh Lucas, aquele que mais de aproxima do estereótipo de herói do grupo. Este tipo de interação entre pessoas submetidas a um acontecimento traumatizante é exatamente o que fazia “O Barco”, obra-prima de Petersen, um filme brilhante e um exemplo perfeito de claustrofobia cinematográfica. É verdade que o diretor alemão repete, em “Poseidon”, alguns truques aprendidos no filme de 1981. Ele realiza uma direção de arte impecável, que reproduz a decoração de um transatlântico de luxo com perfeição, inclusive de cabeça para baixo. Além disso, abusa de enquadramentos fechados e tonalidades escuras, o que acentua o clima claustrofóbico e aproxima a sensação do espectador do drama experimentado pelos personagens. Além disso, também o trabalho da equipe responsável pelo som é de tirar o chapéu – os ruídos ameaçadores que vêm do oceano e das entranhas do navio ferido lembram aos passageiros (e também ao público) que eles estão muito próximos da morte, o que eleva o grau de tensão ao máximo. Aliadas à curta duração, ao ritmo quase sempre frenético e às cenas subaquáticas filmadas de maneira bem realista, essas qualidades fazem de “Poseidon” um filme-pipoca satisfatório, desde que descontados a falta de originalidade e o excesso de estereótipos." (Rodrigo Carreiro)

79*2007 Oscar

Warner Bros. Pictures Virtual Studios Radiant Productions Next Entertainment Irwin Allen Productions Synthesis Entertainment

Diretor: Wolfgang Petersen

71.161 users / 1.330 face

Check-Ins 83 36 Metacritic

Date 24/09/2012 Poster - #

5. Philomena (2013)

PG-13 | 98 min | Biography, Comedy, Drama

77 Metascore

A world-weary political journalist picks up the story of a woman's search for her son, who was taken away from her decades ago after she became pregnant and was forced to live in a convent.

Director: Stephen Frears | Stars: Judi Dench, Steve Coogan, Sophie Kennedy Clark, Mare Winningham

Votes: 103,781 | Gross: $37.71M

[Mov 09 IMDB 7,7/10] {Video/@@@@} M/76

PHILOMENA

(Philomena, 2013)


"Philomena" começa com a imagem de um jornalista político, Martin Sixsmith (Steve Coogan), em depressão após perder seu emprego no governo britânico. Em seguida é que entra Philomena (Judi Dench), senhora que, em sua juventude, na Irlanda, vivia num orfanato. Após uma gravidez inesperada, foi forçada pelas freiras a entregar seu filho de um ano a adoção. No dia em que o filho completaria 50 anos, Philomena tem em mãos a foto do menino que uma jovem freira lhe entregou em sigilo. É sua única prova da existência do menino. Sua angústia se manifesta com força nesse dia: quem seria hoje o menino, onde estaria, como se saiu na vida, será que algum dia ele pensou na mãe, ou chegou a lembrar-se dela? Daí começa a busca, na qual Martin se envolve por pura falta de opção. Ele despreza esse tipo de matéria de interesse humano, mas é um profissional e vai se empenhar na busca. Além de profissional, na verdade, Martin não é um grande fã do catolicismo: é ateu declarado e não compreende como ''Philomena'' pode ainda ser tão fiel à sua fé, depois da atrocidade que lhe fizeram as freiras. A partir daí a história se bifurca. Temos, por um lado, o drama (o melodrama, na verdade) de Philomena: a dor de não saber nada sobre próprio o filho, a dura luta para conseguir alguma informação só a partir da foto que, milagrosamente, ainda tem consigo. O segundo drama diz respeito à Igreja Católica, seus usos, costumes, certas crenças, seu apego à negação da sexualidade. Esse é o aspecto da história que mais parece interessar a Stephen Frears. A primeira parte da ação (a doação, na verdade venda de crianças) ocorre em 1957, pré-Concílio Vaticano 2º. E a segunda parte, em 2009, ainda no período de ortodoxia antissexualidade que marcou os pontificados de João Paulo 2º e Bento 16. Esse aspecto intransigente do catolicismo surge com força seja na figura da madre superiora (e a estranha teia que tece envolvendo a perda da castidade e os sofrimentos a que Philomena e outras pecadoras estariam condenadas), seja na de Michael, o filho, de cuja homossexualidade tomaremos conhecimento (sabe-se: os últimos papas foram restritivos quanto à sexualidade e ao uso de métodos anticoncepcionais). Se do ponto de vista da formulação intelectual esse é o eixo principal do filme, é a busca do filho perdido e o que a cerca que se mostra não raro comovente, não só pelas razões óbvias, como pela ligação que vai se criar entre essa mulher simplória e esse jornalista sabido, como a lembrar que a verdade não é feita apenas de simplicidade, mas também não só de sofisticação. Nem só de coração e nem só de intelecto. Diga-se a bem da verdade, Frears se desincumbe melhor da parte do coração. A do intelecto (a crítica à igreja) sucumbe pela frágil demonização de um ou outro personagem." (* Inácio Araujo *)

"Como sobreviver no cinema comercial contemporâneo? Eis aí a questão real que coloca "Philomena", em que Stephen Frears cede tudo, ou quase, à banalidade e ao sentimentalismo. Existe ali a história (real, no mais) de uma senhora que engravida quando era pensionista num convento católico. As boas freiras a forçam a entregar o filho. A isso junta-se a história do jornalista que, anos e anos depois, decide ajudar Philomena a encontrar o filho. Eis então o outrora livre-pensador Frears vendendo bons sentimentos, e o aceno inconformista em relação aos padrões do catolicismo não ajuda muito. Mas foi com isso que o filme entrou no Oscar; não ganhou prêmio, mas já se garantiu aí." (** Inácio Araujo **)

Novelão bem feito de Stephen Frears é alternativa para quem está cansado de ver a nova esquerda esbravejar clichês nas mídias sociais.

"Não espere do diretor Stephen Frears uma estética inovadora ou filmes visualmente impactantes: sua passagem por superproduções Hollywood produziu catástrofes como O Segredo de Mary Reilly, Herói por Acidente (Hero, 1992), ou o fraco, bobo Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000). Com a carreira a perigo, voltou para sua Inglaterra natal e vem fazendo filmes menores, escancaradamente televisivos, com resultados variados, mas com um acerto: A Rainha (The Queen, 2006). A fórmula é clara: foco na direção de atores, quase nenhuma firula de câmera, diálogos escritos por excelentes roteiristas (quando não dramaturgos conceituados) e tramas que poderiam estar em qualquer novela brasileira. ''Philomena'', seu mais recente filme - e entre os melhores de sua carreira -, conta a história de uma mulher que teve de dar o filho em adoção na década de 60, quando a Irlanda ainda sofria com o obscurantismo da Igreja Católica. Adolescente grávida, enviada pelos pais a uma instituição religiosa que mais parecia uma masmorra da Idade Média, com freiras que deixavam as meninas sofrerem de propósito durante o parto, algumas delas até a morte, Philomena teve de trabalhar 4 anos na lavanderia do lugar para pagar os custos do nascimento do filho – tudo isso para no final vê-lo sendo levado por um casal de americanos. Apelativo? Sentimental? Popularesco? O filme tem sim algumas derrapadas populistas, com cenas tolas e gratuitas, implausíveis e mesmo estereotipadas – as freiras do convento, por exemplo, beiram a caricatura. Frears quis fazer um filme anti-clerical e exagerou, forçando o filme a um sem número de concessões populistas que enfraquecem sua estrutura. Mas há vantagens: inteligência e o bom gosto estão presentes, como o caráter humano. Frears não larga sua personagem e quando a ambivalência entra em cena, quando os maniqueísmos ficam de lado, o filme voa, sim, alto. O filme foi escrito, interpretado e produzido pelo comediante Steve Coogan (prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes), que faz um jornalista ressentido por ter perdido o emprego. Cínico, por vezes grosseiro com subalternos, só aceita escrever essa história de interesse humano por estava desempregado e deprimido. Com seu vocabulário Oxbridge (mistura de Oxford e Cambridge, as duas universidades da elite britânica), pronuncia o nome da personagem de maneira clássica, Failomina, em vez do mais comum Filomina. Quando recebe a proposta, dispara: para ele, essas experiências de vida nada mais eram que uma mistureba sentimental destinada a pessoas ignorantes (ou, no seu rebuscado inglês, mawkish concoction aimed to ignorant people). Vai levar uma admirável lição de vida da personagem, que serve também para a turma indignada das mídias sociais: Não comecei tudo isso para odiar ninguém, diz a enfermeira de classe média baixa, sem cultura e religiosa. É muito cansativo isso. Para preservar os leitores de spoilers, não vamos revelar a trama (uma pena, tantas discussões interessantes), mas saibam que o filme é muito mais as intervenções do jornalista cínico e desiludido com a enfermeira piedosa e sofrida do que a tal busca pelo filho perdido da trama. Dame Judi Dench, em seu segundo filme com Frears, está inesquecível. A horas tantas, vai se confessar e, de frente a um padre, não consegue dizer uma só palavra. O jornalista, ateu, diz q a Igreja é que devia pedir perdão, não ela. Que pecados você teria para confessar?, indaga. Estóica, a personagem não perde a fé; quando balança, Judi Dench está lá, firme, para defender sua personagem. Realmente tocante. O interessante é que jornalista (no caso, o ator, roteirista, produtor) e o diretor parecem andar juntos em contraponto à velha senhora católica. Vão descobrir que a senhora também tinha outros interesses. Surpresa? Nenhuma. No fim, a impressão que fica: um filme sentimental para pessoas não-sentimentais. Philomena é sofisticado e inteligente o suficiente para se deixar levar pelo mau gosto. É o mais próximo que podemos chegar de um folhetim televisivo sem chafurdar na grosseria e apelação. É Stephen Frears no seu melhor, ou seja, Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, 1998), clássico literário que ele dirigiu como um folhetim. Ao iluminar sua personagem principal, abrindo mão da narrativa digamos policial da trama (Hitchcock fazia o mesmo) para deixar mais espaço a Judi Dench brilhar da metade em diante do filme, some a discurseira contra a religião, homofobia, cultura pop, e entra silêncios, dúvidas e reflexões. Philomena indaga às pessoas que conheceram seu o filho se um dia ele falou da sua pátria de origem, a Irlanda, e de sua família. Envergonhada e insegura, tinha medo da resposta, tipo acusações de que ela teria abandonado o filho, o que não era verdade. No fundo, ela queria era dizer a todos que ele lhe foi tirado dela à força. Pode parecer cafona, brega e gratuito, mas esse cinema simples, de qualidade, feito de inteligência e bons atores, diretor sensível e acessível, sumiu do mapa e está cada vez mais difícil de se encontrar. A fórmula migrou definitivamente para a TV. É um caso raro, portanto. Mas na TV, o impacto talvez seria menor, perdido nas intermináveis durações das séries, nem suas firmes convicções humanistas se adaptariam ao imediatismo das mídias sociais e sua perpétua indignação vociferante. Personagens como Phimonena precisam de seu próprio tempo, porque suas inflexões são muito sutis; por isso, são ainda melhores de se ver na velha sala escura de um cinema." (Demetrius Caesar)

{Li uma reportagem muito engraçada num jornal satírico outro dia, sobre o terremoto na turquia: Deus superou os terroristas mais uma vez, O por que Deus sente a necessidade de aniquilar centenas de milhares de pessoas inocentes} (ESKS)

{O fim de nossa exploração será chegar onde começamos, e perceber o local pela primeira vez} (ESKS)

"Um relacionamento incomum e improvável através da oposição de moral e comportamento entre os dois personagens, trazidos à tela de forma sensível e, claro, naturalmente piegas." (Alexandre Koball)

"O tempo, irrecuperável, confronta mágoas e crenças. Lindo, lindo, lindo e Judi Dench é um monstro. Engraçado foi noatr que um dos filmes menos com cara de Oscar acabou se mostrando um dos melhores dessa edição." (Rodrigo Cunha)

"O primeiro ato é bem comprometido pelos apressados flashbacks iniciais. Quando a narrativa migra para os EUA, e o roteiro agrega novas camadas ao plot central (religião e homofobia), a coisa entra no prumo. O final é simplista, mas o saldo é positivo." (Régis Trigo)

"A protagonista - defendida com a nobreza de sempre por Judi Dench - é o grande achado do filme, dando um tom leve a uma obra que nem sempre acerta nos aspectos mais sérios (como nos flashbacks iniciais). Mas é divertido, agradável e por vezes tocante.(Silvio Pilau)

"Parece convencional, numa primeira olhada pode ser que alguém torça o nariz. No entanto é adorável, especialmente por Dench. É bastante consciente sobre o que deseja mostrar: a convicção inabalável de uma mãe." (Marcelo Leme)

"Bonitinho, fofinho, uma gracinha de filme... e nada mais que faça acrescentar algo na vida de alguém, apenas burocracia extrema. Lágrimas fáceis e uma grande Judi Dench. Só." (Francisco Carbone)

86*2014 Oscar / 71*2014 Globo / 2013 Lion Veneza

Weinstein Company, The Yucaipa Films Pathé BBC Films British Film Institute (BFI) Canal+ Ciné Baby Cow Productions Magnolia Mae Films

Diretor: Stephen Frears

63.429 users / 31.836 face

Check-Ins 598 41 Metacritic

Date 12/08/2014 Poster - #####

6. Project X (2012)

R | 88 min | Comedy

46 Metascore

Three high-school seniors throw a birthday party to make a name for themselves. As the night progresses, things spiral out of control as word of the party spreads.

Director: Nima Nourizadeh | Stars: Thomas Mann, Oliver Cooper, Jonathan Daniel Brown, Dax Flame

Votes: 233,320 | Gross: $54.73M

[Mov 8 IMDB 6,7/10 {video/@@@@} M/48

Projeto X - Uma Festa Fora de Controle

(Project X, 2012)


"O formato de falso-documentário está mais do que desgastado, mas aqui, mesmo entre dezenas de clichês, há um teor de novidade difícil de definir. É um filme muito divertido com alma verdadeira, algo que lembra Superbad, mas sem a mesma qualidade." (Alexandre Kobal)

"Sobre a construção de um mito contemporâneo." (Daniel Dalpizzolo)

"Lembra muito "Poder Sem Limites", que através da câmera subjetiva e da premissa da festa juvenil, também discutia a necessidade dos jovens serem aceitos pelos seus pares. Mas "Projeto X" não decola e o saldo geral é apenas boboca. Dessa festa, eu tô fora." (Régis Trigo)

"Daria um dedo para ter ido nessa festa. Mas também daria outro para não precisa ver esse filme mais uma vez." (Silvio Pilau)

"Em dado momento, diversos cortes indicam a falácia da câmera subjetiva. Ainda passa uma mensagem bem vazia dos esforços de que um jovem no Highschool é capaz pra se tornar popular, mas é razoável. Ir à festa teria sido uma experiência bem mais divertida." (Rodrigo Torres de Souza)

Que balada é essa!?

''A esta altura você já deve conhecer muito bem o nome de Todd Phillips, que faturou mais de 1 bilhão de dólares nas bilheterias ao redor do mundo com os dois filmes da franquia Se Beber, Não Case (Hangover). E é ele que, por meio de sua produtora Green Hat Films, rompe novamente as regras do que é socialmente aceitável e lança ''Projeto X'' (Project X, 2012). O filme conta a história de três adolescentes que fazem parte da turma invisível da sua escola, mas que, no aniversário de um deles, resolvem aproveitar que a casa estará vazia e fazer uma festa inesquecível. E - sem medo de spoilers, posso dizer - conseguem! Apesar de utilizar mais uma vez o estilo de filmagem encontrada (found footage) popularizado em A Bruxa de Blair, ''Projeto X'' consegue escapar das armadilhas da fórmula apresentada pelo gênero, ao focar basicamente na tal festa adolescente que foge - e muito!! - do controle, e acaba virando notícia nacional. A câmera na mão pilotada por um colega do trio protagonista faz todo o sentido aqui e te coloca no lugar em que você mais gostaria de estar, no meio da festa, dançando com muita gente bonita, tomando tudo o que aparece na frente e aproveitando ao máximo cada segundo. Somam-se à câmera principal trechos captados por iPhones, Blackberries e Flips que a produção forneceu aos atores e figurantes durante as 25 noites em que a balada durou, em Los Angeles. Já dá para imaginar que deve ter muito crítico por aí torcendo o nariz. Dou até um pouco de razão, primeiro porque as primeiras notícias que apareceram sobre o filme diziam que ele era uma comédia - o que ele não é. Mas a verdade é que este filme não é para eles, pessoas que gostam de cinema de arte, de preferênica com takes longuíssimos em que só se ouve o barulho do vento batendo no microfone. ''Projeto X'' foi feito para a geração YouTube, que vê o mundo em cortes rápidos, através das telinhas das filmadoras digitais barateadas, dos celulares que captam todas as cenas do cotidiano, enfim, do vídeo democratizado. Se você não vestir a jaqueta da Geração Y, jamais vai entender ou curtir o filme. Apesar de curto - apenas 87 minutos - o ritmo estroboscópico do longa faz parecer que ele é muito maior do que realmente é. Até aí, tudo bem. O problema é que o roteiro do promissor Michael Bacall (Scott Pilgrim, Anjos da Lei) não consegue manter o ritmo ou dar um desfecho que combine com o que havia sido mostrado até então. Ao trazer de volta um personagem que havia aparecido lá atrás, a história vira outra coisa e a festa apenas termina. Resumindo, ''Projeto X'' é um Negócio Arriscado batido com um Superbad - É Hoje, mas sem a parte cômica de um McLovin' ou o sexo no trem. De resto, estão lá a vontade de ser popular, o anseio de finalmente pegar alguém, a dificuldade de conseguir bebida, o carrão intocável do pai e até o final em que o festeiro se dá bem na vida. Como pai, eu acho que o filme realmente é uma afronta à sociedade. Mas o adolescente que ainda vive dentro de mim curtiu muito a balada." (Marcelo Forlani)

''Hoje vamos falar um pouco sobre o ''Projeto X: Uma Festa Fora de Controle'', dirigido pelo debutante Nima Nourizadeh e produzido por Todd Phillips, que ficou conhecido pelos dois filmes da franquia Se beber não Case. Um longa cercado de clichês e politicamente incorreto, que não demonstra nenhum arrependimento. Partindo de uma visão de reality show e documentário, temos uma direção propositalmente desleixada e documental, bem ao estilo found footage ou mockumentary. Algumas cenas foram feitas a partir de celulares e câmeras entregues aos figurantes e atores: uma idéia bem sucedida e executada. Os amigos Thomas, Costa e J.B., rejeitados em seu colégio, fazem a festa mais louca da escola Thomas(Thomas Mann), Costa(oliver Cooper e J.B.(Jonathan Daniel Brown) fazem parte do grupo invisível da escola. No dia do aniversário de Thomas, Costa resolve dar uma festa e finalmente entrar para o hall das estrelas do colégio. Para isso, Costa resolve documentar todo o evento em vídeo e acabará perdendo o controle sobre os convidados - para alegria de todos felicidade geral da garotada. À primeira vista, não será notada nenhuma poesia e profundidade em um filme adolescente, mas está tudo lá para se refletir. Não são eles que irão aprender nada no exato momento. Não teremos o impacto de Kids, ou veremos a moral da estória. Talvez de forma exacerbada, mas temos um retrato da juventude curtindo sem nenhuma noção do perigo e na velocidade dos novos tempos. As cenas seguem em velocidade acelerada e na linguagem que estamos cada vez mais acostumados a encontrar. Como vídeos postados na Internet, ou um grande reality show, nos tornamos expectadores de uma aventura que pode ser vista como apenas um novo Porks ou um Curtindo a vida adoidado da nova geração, mas que, na certa, deixará para os mais atentos uma leitura do que acontece em diversas festas. Claro que temos o exagero, mas aí que entra a magia do filme, e é certo que uma festa dessas já passou pela cabeça de um montão de gente. O roteiro de Michael Bacall não traz nenhuma novidade e todos os clichês de filmes teen estão presentes. Temos um bom ritmo inicial e uma velocidade interessante em maior parte do filme. Ao fim, perdemos um pouco a velocidade máxima e nos despedimos com mais um desfecho clichê. De positivo, não ter que assistir nenhuma lição final ou conscientização forçada. A garotada curtiu, sim, perdeu o controle e tudo isso faz parte do crescimento. Todos aprendemos com nossos erros. Tudo tem seu tempo." (Andre Prado)

Green Hat Films Silver Pictures

Diretor: Nima Nourizadeh

124.676 users / 29.014 face

Soundtrack Rock = White Arrows + Eminem + Yeah Yeah Yeahs + The Xx + Yeasayer + Queens of the Stone Age + The Hundred In the Hands + The Kills + Small Black

Check-Ins 97

Date 27/06/2014 Poster - #########

7. Je t'aime moi non plus (1976)

R | 89 min | Drama

Petite waitress Johnny works and lives in a truck-stop, where she's lonely and longs for love. She develops a crush on garbage-truck driver Krassky, although her sleazy boss Boris warns her that he's gay.

Director: Serge Gainsbourg | Stars: Jane Birkin, Joe Dallesandro, Hugues Quester, Reinhard Kolldehoff

Votes: 2,327

[Mov 09 IMDB 6,2/10] {Video/@@@@@}

PAIXÃO SELVAGEM

(Je t'aime moi non plus, 1976)


''Johnny (Jane Birkin) é uma garçonete que trabalha em uma lanchonete de beira de estrada, onde vive solitária e carente. Ela começa a se interessar pelo caminhoneiro Krassky (Joe Dallesandro), apesar dos alertas de seu chefe, Boris (René Kolldehoff), em relação à homossexualidade do rapaz. O fato é que, talvez por causa da aparência masculina de Johnny, Krassky também começa a se interessar pela garçonete, o que atiça o ciúme de Padovan (Hugues Quester), namorado do caminhoneiro." (Filmow)

{Acho lindo esse monte de merda. É a náusea das cidades. O vômito dos homens. A fonte de Styx. O rio do inferno. Na mitologia grega. Os que não eram enterrados, vagavam por suas margens pela eternidade} (ESKS)

1976 César

Président Films Renn Productions

Diretor: Serge Gainsbourg

Check-Ins 577

Date 08/06/2014 Poster - ##########

8. Get the Gringo (2012)

R | 96 min | Action, Drama, Thriller

60 Metascore

A career criminal nabbed by Mexican authorities is placed in a tough prison where he learns to survive with the help of a young boy.

Director: Adrian Grunberg | Stars: Mel Gibson, Kevin Balmore, Daniel Giménez Cacho, Jesús Ochoa

Votes: 111,627

[Mov 07 IMDB 7,1/10 {Video/@@@}

PLANO DE FUGA

(Get the Gringo, 2012)


"Trabalho de Mel Gibson é cheio de energia e tem certa originalidade. Um refresco em uma carreira que demonstrava-se cansada." (Alexandre Koball)

"Ver Mel Gibson em um filme policial politicamente incorreto, bem humorado e violento é sempre um prazer. Dá até para ignorar uma coisa ou outra, principalmente as forçadas de barra da história." (Rodrigo Cunha)

"Mesmo com uma trama simples e onde nem tudo funciona, é um prazer ver Gibson voltando a interpretar o protagonista de um filme descompromissado ao misturar ação com humor. Depois de alguns esforços medianos, esta é a produção que marca o retorno do astro." (Silvio Pilau)

"Daqueles roteiros exagerados típicos em filmes de ação hollywoodianos, mas que não deixa qualquer ponta solta e oferece bom entretenimento ao explorar a melhor faceta de Mel Gibson, exibida à época de Máquina Mortífera: fanfarrão e divertido." (Rodrigo Torres de Souza)

{Um homem que não se abre com você é um homem que não se pode confiar} (ESKS)

Tragam-me a cabeça do gringo.

"O filme de estreia de Adrian Grunberg, que já havia trabalhado como assistente de direção de Mel Gibson em Apocalypto (idem, 2006), não é uma obra exatamente ruim, pura e simplesmente, e sim – entre outras coisas – refém das limitações que geralmente são imanentes a muitos primeiros trabalhos e à vontade de ser algo, mas sem ter como. Grunberg carace daquela malícia que só os gênios ou então aqueles realizadores bastante experientes têm, e isso muitas vezes salta à vista durante a projeção. Em "Plano de Fuga" (Get the Gringo, 2012), Mel Gibson interpreta um sujeito, ladrão mais que profissional, que depois de passar a mão, junto a um comparsa, numa bagatela de cerca 2 milhões, é preso na fronteira entre EUA e México. Logo ele é levado a uma prisão mexicana, que mais parece uma cidade à parte, pois lá, além dos detentos, encontramos mulheres e seus filhos, divisões sociais e até mesmo um negócio imobiliário liderado por Javi (Daniel Giménez Cacho), o grande chefão, aquele que é respeitado por todos e que cumpre sua pena gozando de diversas regalias. Tentando adaptar-se ao lugar, o “Gringo” começa a fazer aquilo que mais sabe: roubar. Em pouco tempo, conhece um garoto de 10 anos (Kevin Hernandez) com quem inicia amizade e que daí em diante o ajudará com informações preciosas sobre aquela sociedade ali formada. A primeira coisa que vemos em "Plano de Fuga" é a imagem de um cachorro e logo em seguida a de um homem guiando uma carroça. Mas não demora para que naquela região seca e com muita poeira surja o contraponto a esses primeiros elementos exibidos. Trata-se da primeira tentativa de Grunberg de preencher o tempo de seu filme com alguma cena teoricamente estimulante, algo que, mesmo com a inserção de algumas outras (cenas) onde o ritmo mais ágil parece ser tudo, só irá se repetir com considerável sucesso durante os 25 ou 30 minutos finais. Nesses momentos iniciais assistimos a uma perseguição policial, na qual estão envolvidos dois ladrões com máscaras de palhaço, um deles com hemorragia interna e vomitando sangue sobre as notas que acabaram de roubar. O carro dos perseguidos capota, o palhaço ferido morre, o motorista é desmascarado e o resto já foi contado no parágrafo anterior. Durante alguns minutos, o filme se limita quase que inteiramente à apresentação da feia e suja cadeia e à voz em off do protagonista, que nos passa algumas informações essenciais. Daí pra frente, Grunberg erra, e com certa frequência, pois a maquiagem de que dispõe para disfarçar certos problemas não é suficiente para todas as situações. Da primeira hora talvez o maior destaque seja a cena da trocas de tiros em câmera lenta, onde a personagem de Gibson consegue a façanha, que chega a ser engraçada e exagerada, de sair correndo em direção a uma granada para catá-la ainda no ar e devolvê-la para quem a atirou. Não sei, todavia, se um mestre do recurso como Sam Peckinpah aprovaria. Nas camadas menos superficiais do filme, contudo, o já parceiro de longas datas de Mel até que manda bem, especialmente quando realiza aproximações bem funcionais com o western: homem sem nome que chega a uma terra onde – quando não é um renegado do próprio lugar que como um fantasma ressurge – é simplesmente um indesejável estrangeiro; o poder capital passa a ser ameaçado pela presença do forasteiro; mulheres e crianças – cedo ou tarde – cedem ao lado carismático desse herói; e existe um momento em que para ambos os lados uma aliança é a melhor alternativa. Há ainda, lá pelas tantas, o uso do nome de Clint Eastwood; isso sem falar de seu título original, que de imediato nos traz à consciência aqueles da famigerada vertente spaghetti. Retomando, porém, o que é de fato essencial, é importante destacar que Get the Gringo tem por volta de 60 minutos de exatidão de formulário. Grunberg não deixa fios soltos, pois o choque poderia ser fatal. Entretanto, sentindo o insuportável peso que é camuflar de artifícios um filme que sem muitas dificuldades se resumiria a – talvez – metade de sua duração, ele acaba cedendo e buscando na meia hora derradeira compensar com uma sequência de cenas que, diferentemente das que assistimos até então, realmente podem nos fazer mover pelo menos um músculo facial. Esses momentos mais intensos coincidem com a saída do protagonista da cadeia, o que parece empurrar por água abaixo boa parte da força que emana deste que é o principal palco do filme. Essas cenas são bem calculadas, concebidas perfeitamente para nos livrar de certa frouxidão que acompanha algumas curvas e irregularidades a que somos submetidos durante boa parte da narrativa. É aí onde ocorre uma sutil, mas importante, mudança de tom, porque em 2/3 de projeção temos um ritmo, que não me agradou tanto, e na etapa remanescente o filme, invertendo consideravelmente esse tom, coloca a cabeça pra fora e brada que existe. Para elucidar o que digo, cabe lembrar as palavras do crítico André Setaro: O realizador que tem timing faz com que seus filmes deem a impressão de que um fio elétrico de alta tensão está inserido na estrutura narrativa. Mesmo em momentos de calmaria, há sempre uma expectativa de que algo possa acontecer. É exatamente isso que não sinto em Plano de Fuga. Até que o diretor, com seu ritmo ágil, tenta alcançar isso, mas o que havia para ser filmado era pouco e ele não soube extrair daquilo nem mais um fiapo de possibilidade – o que, por conseguinte, não pôde fazer com que esperasse nada além de um ainda mais desgastante ato final. Timing, portanto, não é só a equação perfeita que concebe cenas literalmente agitadas, ou algo do tipo, e sim o compasso que faz com que nos entreguemos ao que se coloca diante da gente, seja na exaltação ou na serenidade. Deixando aquilo que alguma maneira pode ser aproveitável para o final, Grunberg simplesmente tenta nos iludir com alguns minutos de pequenos êxtases, tática muito malandra e costumeira que geralmente esconde desajustes narrativos. O que resume esse debute é, antes de qualquer coisa, a falta do que dizer. Se o observarmos bem, constataremos que seus problemas de pique muito se aliam à escassez do que filmar, porque não há muito a ser transmitido ao espectador, quase todas as cenas mais atraentes da história se concentram em sua última meia hora e tudo que precisamos conhecer já está metodicamente disposto na primeira parte. Assim fica difícil manter o fio condutor. É como ter 2 horas para fazer um pornô sem cortes. Mas como Grunberg é esperto, buscou segurar as pontas e não se tornou inteiramente exaustivo, pois, do contrário, meteria de vez o pé na jaca. O jeito foi tentar ocupar pelo menos uma hora com alguns ornatos que jamais falham com a maioria do público: momentos de inegável habilidade de Gibson; uma explosão aqui, um tiro acolá; uma piada sem compromisso de vez em quando; umas sacadas típicas de filmes de gênero e mais um punhado de coisas que não precisam ser citadas aqui porque identificá-las é tarefa fácil para qualquer espectador. Tudo isso, claro, está aliado a uma montagem que não foge à regra. Assim sendo, ao contrário do que parece, Plano de Fuga não é algo completamente descartável. Para muitos a sessão certamente será compensadora, apesar dos desmantelos." (David Campos)

Mel Gibson roteiriza, produz e estrela seu novo filme de ação - e continua mandando bem!

''Ainda no começo deste ano foi divulgado que ''Plano de Fuga'' (Get The Gringo, 2011), novo filme roteirizado, produzido e estrelado por Mel Gibson seria lançado nos Estados Unidos direto em Video on Demand (sistema de pay per view que deixa os espectadores pagarem para ver o filme em casa, quando quiserem), pulando assim uma estreia nos cinemas. Tal atitude pode ser facilmente entendida pela atual ruptura do ator/cineasta com Hollywood, depois de andar bebendo demais, ter arranjado problemas com a ex-esposa e, principalmente, ter desfilado um anti-semitismo justamente na terra que é controlada - em grande parte - por judeus. O boicote já havia prejudicado sua participação em Se Beber, Não Case! Parte II (The Hangover Part II) e parece longe de acabar. Enquanto isso, ele vai fazendo seus filmes independentes. ''Plano de Fuga'' é tudo isso e ainda uma auto-prova de que ele ainda aguenta estrelar um filme de ação, correndo, atirando e mantendo a pose aos 56 anos. O projeto foi rodado majoritariamente na mesma cidade de Veracruz, no México, onde ele filmou Apocalypto e o diretor estreante é o argentino radicado no México Adrian Grunberg, que foi primeiro assistente de direção de Gibson no épico maia. A falta de experiência aparece em alguns momentos, mas não compromete. O filme começa com uma perseguição de carros na fronteira entre Estados Unidos e México. Após ser preso, o protagonista é logo levado para a cidade-presídio de El Pueblito. O local, ele vai descobrir, é comandado por uma família de bandidos locais, que dá ordens até mesmo no diretor do presídio e tem por ali tratamento de rei. O comércio local é liberado e o pagamento não se restringe apenas a cigarros. Após usar suas artimanhas para conseguir os primeiros trocados, que lhe renderão um certo conforto, Driver (Gibson) é abordado por um menino de 10 anos e vai aprendendo com ele mais sobre o local e seus costumes. O roteiro - com final bastante previsível, mas um bom desenvolvimento - mostra tudo o que há de mais politicamente incorreto. É boca suja, todos os mexicanos são corruptos e corruptíveis, o local é um grande lixão superpovoado e o menino faz de tudo para conseguir saciar seu vício com a nicotina. Este cenário, que poderia perfeitamente ser mostrado em um filme ambientado no Brasil, é tão ou mais interessante que os próprios personagens - principalmente os secundários, que são completamente bidimensionais. Além de toda a ação e a parte detetivesca de descobrir por que ele está ali, o que ele roubou e de quem, e como fará para sair daquela, o filme também se utiliza bastante do humor. Um humor diferente, que não tem medo de arriscar para arrancar um sorriso do rosto do espectador, e até a gag física, do tapa na cara do palhaço - literalmente. Ainda no cenário mexicano, Mel Gibson vai em breve estrelar como o vilão de Machete Kills. Resta saber quando é que Stallone o chamará para entrar para a trupe dos seus Mercenários. Em Plano de Fuga ele prova mais uma vez que ainda é um ótimo astro de ação e mantém a sua cara e jeito de louco desde os tempos de Máquina Mortífera." (Marcelo Forlani)

''Depois de algum tempo longe do cinema, no qual se dedicou com afinco a protagonizar escândalos, Mel Gibson voltou à ativa em 2009 com o policial O Fim da Escuridão, um retumbante fracasso. Seguiram-se mais alguns escândalos envolvendo excesso de álcool, prisões, antissemitismo, homofobia e agressão até que Jodie Foster o resgatasse no bom drama Um Novo Despertar. Mas os fãs queriam velho Gibson, o cara carismático e durão de séries como Máquina Mortífera e Mad Max. ''Plano de Fuga'' não tem o vigor necessário para reaver a carreira do ator. Tanto que nem chegou às salas de cinema americanas, sendo lançado direto em VOD (Video on Demand). Mas se está difícil para Gibson recuperar o prestígio, a culpa, definitivamente, não é do filme. A indústria de cinema estadunidense é até bastante indulgente com os arroubos de suas estrelas, mas fica difícil perdoar um astro que bate em mulher, critica judeus, negros, homossexuais e toda e qualquer minoria, além de não perder a oportunidade de se mostrar arrogante e megalomaníaco quando pode. Existe um limite, mesmo em Hollywood, e o ator parece tê-lo excedido. ''Plano de Fuga'' não foi ignorado por sua qualidade. Coescrito e produzido pelo ator, o longa marca a estreia na direção de Adrian Grunberg (assistente de direção de Gibson em Apocalypto). Tem início com uma ótima sequência de abertura, com o astro de Coração Valente ao volante de um carro sendo perseguido pela polícia, vestido de palhaço e com alguns milhões de dólares no banco de trás. Sem grandes pretensões, mas bem conduzido, o filme resgata o Mel Gibson dos velhos tempos: sarcástico, sensível (só o necessário) e perigoso no papel de um ladrão que passa o infortúnio de parar em El Pueblito, um presídio mexicano insólito e violento. Controlado por bandidos e policiais corruptos, o local funciona como uma pequena cidade onde pessoas não condenadas convivem com os criminosos, o comércio é livre e existe um esquema de saídas relegado aos chefões locais. Gringo, como fica conhecido o personagem de Gibson, só quer reaver seu dinheiro e dar o fora dali. Antes, se envolve com um morador local, um menino esperto cuja vida tem uma relação bizarra com a do chefão do presídio. O que segue são cenas de ação e tiroteio muito bem dirigidas, diálogos divertidos e uma trama intricada na qual tudo se encaixa a contento graças ao roteiro bem-amarrado. O filme tem certa previsibilidade, mas é agradável de ver muito em virtude do carisma do ator. Plano de Fuga não vai resgatar Gibson do limbo nem entrar na galeria de seus melhores filmes, mas é uma boa diversão descompromissada, ainda mais para quem estava com saudades de ver o ator fazer o que sabe melhor." (Roberto Guerra)

Airborne Productions Icon Productions

Diretor: Adrian Grünberg

71.675 users / 12.700 face

Soundtrack Rock = Ten Years After

Check-Ins 105

Date 05/02/2013 Poster - ####

9. Panic in the Streets (1950)

Approved | 96 min | Crime, Drama, Film-Noir

A doctor and a policeman in New Orleans have only 48 hours to locate a killer infected with pneumonic plague.

Director: Elia Kazan | Stars: Richard Widmark, Paul Douglas, Barbara Bel Geddes, Jack Palance

Votes: 8,843

[Mov 08 IMDB 7,3/10 {Video}

PÂNICO NAS RUAS

(Panic in the Streets, 1950)


"Pânico nas Ruas" é um momento privilegiado para conhecer o cinema de Elia Kazan e sua personalidade. Ali desenvolve, antes ainda de ser molestado pela Caça às Bruxas, sua ideia sobre a delação necessária. Estamos em situação limite: por um navio, a peste chegou ao porto e ameaça expandir-se. Qual o único mecanismo capaz de impedir sua proliferação descontrolada? A delação, como veremos. Tudo aqui evoca a dificuldade de viver, a estreita margem de manobra do humano frente ao mundo. Kazan pensava com a própria cabeça. Isso lhe custaria um preço enorme em troca de uma bela obra, que teria como ponto de chegada O Último Magnata.'' (* Inácio Araujo *)

23*1951 Oscar / 1950 Lion Veneza

Twentieth Century Fox Film Corporation

Diretor: Elia Kazan

4.230 users / 240 face

Soundtrack Rock = Billie Holiday

Check-Ins 129 Date 10/03/2013 Poster - #########

10. Odds and Evens (1978)

PG | 109 min | Action, Comedy, Crime

A Navy detective enlists his brother, a former gambler, to help him liquidate an illegal gaming house on a yacht near Miami.

Director: Sergio Corbucci | Stars: Terence Hill, Bud Spencer, Luciano Catenacci, Marisa Laurito

Votes: 9,934

[Mov 03 IMDB 6,8/10 {Video}

PAR OU ÍMPAR

(Pari e Dispari , 1978)


''Com o apoio de Johnny Firpo (Terence Hill), Amiral O’Connor declara guerra contra Parapolis, o Grego, líder de uma rede de jogos e apostas de Miami. O meio-irmão de Johnny, Charlie (Bud Spencer), é um ex-jogador que trabalhava para Parapolis e é agora um motorista de caminhão. Ele não pretende retornar ao submundo do jogo, mas Johnny o convence inventando que aquela é a única maneira de pagar uma operação para seu pai, que está ficando cego. Juntos eles vão lutar contra toda gangue de Parapolis para depois enfrentar um problema ainda maior: o que fazer com os milhões que conseguiram ganhar?'' (Filmow)

Columbia Pictures Corporation Derby Cinematografica

Diretor: Sergio Corbucci

3.735 users / 117 face

Check-Ins 140

Date 18/03/2013 Poster - #

11. Popeye (1980)

PG | 114 min | Adventure, Comedy, Family

64 Metascore

The adventures of the famous sailor man and his friends in the seaside town of Sweethaven.

Director: Robert Altman | Stars: Robin Williams, Shelley Duvall, Ray Walston, Paul Dooley

Votes: 34,397 | Gross: $49.82M

[Mov 05 IMDB 4,9/10 {Video/@} M/48

POPEYE

(Popeye, 1980)


{Deus deve ter aportado aqui, por que mais nos deixaria perdidos aqui. Onde o ar é agradável e puro. Doce "Zweethhaven", a ilha do Popeye} (ESKS)

*** ''Robin Williams vai bem como o marinheiro Popeye, mas não se pode imaginar outra que não Shelley Duvall para fazer Olivia Palito em "Popeye", o muito rejeitado filme de Robert Altman, que vi com prazer há uns bons anos, em grande parte devido à escolha (e ao desempenho) dos atores, mas também porque a adaptação da aventuras do marinheiro (feita por Jules Feiffer) me pareceu graciosa e fiel ao espírito do original. Não sei como terá envelhecido esse filme de 1980, mas vale uma espiada, em todo caso." (* Inácio Araujo *)

***** ''Se existe um filme de Robert Altman objeto de desprezo este é "Popeye". Pessoalmente, eu o colocaria na galeria dos subvalorizados. Isso porque é difícil um personagem de animação dar certo quando passa a atores de carne e osso. Ora, Robin Williams está perfeito como o velho marinheiro e não há ninguém melhor que Shelley Duvall para dar carne e osso (muito mais osso) a Olivia Palito. No filme, os dois se conhecem e se apaixonam, claro. E Popeye enfrentará seu velho inimigo Brutus, também indispensável. Pode-se apreciar, ainda, fotografia de Giuseppe Rotunno e roteiro de Jules Feiffer, bastante fiel à saga já célebre - que não exclui nem as baixezas de Brutus nem sua queda por Olivia e, menos ainda, a força que o espinafre dá a Popeye -, e Altman deu-lhe uma forma cinematográfica de acordo.'' (** Inácio Araujo **)

''Aventura semi-esquecida oferece a chance de ver grande produção infantil dirigida por Robert Altman. Um cineasta iconoclasta e autoral, especialista em montar complexas teias de relações humanas, no comando de uma produção infanto-juvenil? Vista em retrospectiva, a decisão da Paramount em pôr o cineasta Robert Altman no comando de “Popeye” (EUA, 1980) já prenunciava um fracasso antes mesmo que uma única polegada de celulóide fosse rodada. Deu no que deu: renda nas bilheterias abaixo dos US$ 50 milhões, quantia minúscula para um longa-metragem que trazia como protagonista um dos personagens mais populares dos desenhos animados da TV norte-americana. Se conferido com atenção, o trabalho não é exatamente ruim. “Popeye” tem qualidades: a escalação do elenco é impecável, a caracterização dos personagens ficou perfeita, e os cenários põem o espectador diretamente no ambiente de um porto. A Paramount não economizou na pré-produção: mandou erguer uma cidade inteira, na ilha de Malta, durante sete meses de trabalho duro, e o resultado é tão bom que seria possível sentir o cheiro de peixe, se o filme tivesse odor. No entanto, os longos números musicais e as raras e anêmicas seqüências de ação deixam o filme com cara de aventura para adultos. Não são poucos os críticos que põem “Popeye” como o pior trabalho de toda a carreira de Altman. Considerando a qualidade geral dos filmes que o cineasta dirigiu (M.A.S.H., Nashville, Short Cuts – Cenas da Vida e Jogos e Trapaças – Quando os Homens São Homens), este fato não chega a ser desabonador; não é nem mesmo uma surpresa. De qualquer forma, o longa-metragem vale uma conferida atenta, nem que seja para avaliar a estréia do comediante Robin Williams no cinema. No papel-título, turbinado por um par de braços de espuma e murmurando frases incompreensíveis a todo momento, o ator impressiona pela semelhança espantosa com o marujo comedor de espinafre das tirinhas. Boa parte da má vontade de público e crítica com “Popeye” vem do fato de que o roteirista Jules Feiffer privilegiou a fase inicial do personagem, roubando elementos nas tirinhas de jornais dos anos 1930 para criar a história. Naquela época, só para citar um exemplo de como Popeye era diferente, o marujo odiava comer espinafre – isto só acontece uma vez nos 114 minutos da aventura, e olhe que o personagem engole a pulso a latinha esverdeada, cujo conteúdo é empurrado goela abaixo pelo eterno inimigo Brutus (Paul L. Smith, numa ótima caracterização). No todo, é uma história simples, que começa com a chegada de Popeye no porto de Sweethaven. O marujo viaja pelo mundo procurando o pai desaparecido. Na cidade dominada pelo violento Brutus (Altman usa rosnados de tigres para criar os ruídos ferozes que o personagem faz quando está comendo), ele conhece e se apaixona por Olívia Palito (Shelley Duvall, perfeita no papel), adota o pirralho Gugu (Wesley Ivan Hurt, neto do diretor) e implica com o comedor de hambúrgueres Dudu (Paul Dooley). Um enredo simples e direto, esticado excessivamente pelos longos e desnecessários números musicais, com coreografias explicitamente inspiradas em números de circo – Altman contratou malabaristas e ginastas para interpretar os habitantes da cidadezinha. Além disso, há pouquíssimas seqüências de ação. Na única cena longa que merece ser chamada assim, o cenário é adornado por uma patética lula gigante de borracha que não faria feio num filme de Ed Wood, mas provoca constrangimentos em uma produção tão cara. “Popeye” vale pela curiosidade de ver Altman no timão de uma aventura infantil, mas não deixa saudades." (Roberto Carreiro)

Paramount Pictures Walt Disney Productions

Diretor: Robert Altman

19.200 users / 2.297 face

Check-Ins 150

Date 07/05/2013 Poster - #####

12. Prometheus (I) (2012)

R | 124 min | Adventure, Mystery, Sci-Fi

64 Metascore

Following clues to the origin of mankind, a team finds a structure on a distant moon, but they soon realize they are not alone.

Director: Ridley Scott | Stars: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron

Votes: 644,026 | Gross: $126.48M

[Mov 07 IMDB 7,2/10 {Video/@@@@} M/65

PROMETHEUS

(Prometheus, 2012)


"O desacreditado Ridley Scott tratou muito bem a franquia que o lançou. Prometheus é melhor do que o esperado e uma ficção científica revigorante. Um raro motivo para desejar uma sequência." (Alexandre Koball)

"Boa expedição espacial bem filmada por Scott e abarrotada de referências. Abre com potencial crítico e reflexivo, termina como um thriller. É bem realizado em ambos." (Marcelo Leme)

"Scott merece aplausos por inserir ideias e questionamentos de verdade, mas o roteiro jamais se completa, deixando muitas lacunas e furos. Ainda assim, é um filme muito bem executado, com diversos bons momentos. Mas poderia - e deveria - ter sido melhor." (Silvio Pilau)

"As questões são levantadas com obviedade e se desenrolam de forma cretina. Os personagens são clichês e repeteco do passado. A discussão sobre Deus é boicotada por um roteiro que não quer se comprometer nem aqui, nem acolá. A direção também não se salva." (Emilio Franco Jr)

"Ridley Scott volta ao que sempre deu certo com seu cinema e faz de Prometheus uma grande produção visual, que apesar de não se mostrar tão profundamente filosófica como promete, brilha quando encontra paralelo com o personagem mitológico de seu título." (Heitor Romero)

"As personagens são uma cambada de malas e o filme nem sempre mantém o pique. Mas Scott por vezes consegue explorar bem os pontos limítrofes da ficção científica e construir uma meia dúzia de momentos realmente apreciáveis. Mas acho que é só." (David Campos)

"Embora privilegiado por um roteiro cheio de conveniências (negligência e ingenuidade duma tripulação espacial inconcebíveis) e cercado de ideologia rasteira, tecnicamente excelente, explora bem rimas visuais com Alien e tem ação na medida certa." (Rodrigo Torres de Souza)

"Boa expedição espacial bem filmada por Scott e abarrotada de referências. Abre com potencial crítico e reflexivo, termina como um thriller. É bem realizado em ambos." (Marcelo Leme)

"O que o mundo menos precisava era de uma versão sentimentalóide e melodramática de Alien." (Bernardo D I Brum)

Mexeram com quem estava quieto.

''Muito se falou sobre este ''Prometheus'' (idem, 2012) quando ele foi anunciado, o famoso prequel de Alien – O Oitavo Passageiro (Alien, 1979). A desconfiança era grande, afinal, o retrospecto recente de Ridley Scott não é dos melhores: se O Gângster (American Gangster, 2007) apresenta-se como um grande filme, Robin Hood (idem, 2010), Um Bom Ano (A Good Year, 2006) e Cruzada (Kingdom of Heaven, 2005) não são títulos lá muito animadores. Porém, conforme os trailers e novas informações foram sendo divulgados, criou-se uma certa esperança de se ter o retorno daquele cineasta que um dia entregou filmes como o próprio Alien e Blade Runner - O Caçador de Andróides (Blade Runner, 1982). Bom, certamente Prometheus está longe de ser um desses trabalhos mais conceituados de Scott, mas também não pode ser visto com um olhar indiferente. A boa verdade é que de prequel de Alien essa fita nada tem. Sim, há uma ponte com o original, assim como é o mesmo universo. Também é o retorno de Scott para a ficção científica voltada para a ação, com uma fotografia perfeita que conecta genialmente os filmes ao recriar aqui a mesma ambientação alcançada lá no final dos anos 70. Mas só. O tipo de abordagem é diferente, os objetivos são diferentes. Não estamos enclausurados em uma nave em busca de sobrevivência, mas sim em um planeta distante da Terra em busca de respostas sobre a existência humana. Depois de indícios de que o homem pode ter vindo de uma raça alienígena, uma expedição embarca na nave Prometheus e segue pistas até um planeta distante, onde descobrem perigos que não colocam apenas suas vidas em risco, mas também de toda a humanidade. Lógico que Scott não é Kubrick e muito menos Tarkovsky, mas as inspirações tanto em 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968) quanto em Solaris (Solyaris, 1972) são óbvias. Prometheus é muito mais filosófico em seu discurso do que Alien, e isso cria um clima mais épico, principalmente pelas imagens distantes; planos gerais que mostram naves imensas, que perto de planetas ficam minúsculas, assim como montanhas, chuvas e demais ambientações magníficas. Visualmente, ''Prometheus'' é riquíssimo e proporciona uma experiência como poucos filmes do gênero conseguem hoje, ainda mais se visto em alta definição. A ambientação é forte e, mesmo que o público comum não perceba, é levado a reconhecer esse ambiente. Deixando os efeitos especiais impecáveis apenas para quando são necessários, há muitos cenários sendo feitos em estúdio de maneira convincente, à moda antiga, resgatando um tipo de ficção que não se faz mais, suja, explícita, escura, caótica, sem frescuras. O sentimento é de que estamos vendo um trabalho dos anos 80 feito nos dias de hoje, com direito a luz contra a lente e tudo, tanto por seu desenvolvimento paciente quanto por suas decisões e personagens. Por falar neles, algumas ações da equipe podem ser vistas como ingênuas ou estúpidas para o naipe de seus currículos, porém, o lado humano e sua reação ao inesperado são conhecidos não de hoje. Então, quando um personagem tenta interagir com um ser de porte ameaçador, sabemos que muita gente faria o mesmo, ou pela curiosidade, ou pelo medo. Apesar de contar com um vasto elenco, há dois nomes que devem ser destacados dos demais. Michael Fassbender é David, o robô apresentado no começo do filme que auxilia a equipe com informações e tudo o que for necessário. Apesar de estar sempre com um discurso amigável, suas intenções nunca ficam claras e ele é, de longe, o personagem mais complexo e interessante de Prometheus. Sua inspiração em Hal 9001 de 2001 é clara e pertinente. Já Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) é a nova Ripley e sofre com a sombra da heroína do filme original. Porém, Noomi se sai maravilhosamente bem e convence não apenas como intelectual, mas quando precisa lutar por sua vida – Scott sempre se deu bem com personagens femininas fortes. A cena da operação é uma das mais tensas do filme e certamente fará algumas caras virarem quando estiver em tela. Encerrando sem fechar tudo o que abriu para discussão (o que era esperado, afinal, um dos roteiristas é ninguém menos que Damon Lindelof, de Lost), Prometheus é uma viagem sensacional que se prende um pouco demais na parte filosófica e que provavelmente decepcionará quem esperar um discurso um pouco mais profundo. Porém, quando o filme esquece disso, volta a ser aquilo que faz de melhor e que todos esperavam dele: entretenimento eficiente, abastecido por uma produção impecável e personagens com força para marcar história. Potencial tem, basta lembrar que Prometheus é Prometheus, e não Alien, como alguns assim esperam." (Rodrigo Cunha)

{Se você não pode estar com quem você ama, ame a pessoa que está com você} (ESKS)

Vamos falar sobre sexo?

''Prometheus'', o prelúdio de Alien - O Oitavo Passageiro que conta a história de uma expedição espacial a bordo da nave que dá nome ao filme, marca não só o retorno de Ridley Scott à franquia e ao gênero da ficção científica depois de 30 anos, como também responde a uma das mais perturbadoras questões que assolam a humanidade: afinal, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Há outras perguntas, claro, como aquela feita pelo escritor Erich von Däniken no livro de 1968 Eram os Deuses Astronautas?, que Scott diz homenagear com o filme. Embora Prometheus aborde as supostas origens extraterrestres da raça humana, porém, é de maternidade, em particular, que trata todo Alien. E este prelúdio, assim como os demais longas da série, reorganiza de um modo menos sutil e mais calculado as metáforas feministas propostas em O Oitavo Passageiro. Sem Ellen Ripley (que segundo o cânone nasceu na Lua terrestre em 2092, um ano antes da chegada da nave Prometheus à lua LV-223 nos confins do universo), temos agora como protagonistas a cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e a executiva Meredith Vickers (Charlize Theron). A primeira acredita que a humanidade veio de alienígenas e quer conhecê-los, já Meredith busca resultados mais práticos na viagem que a empresa dela, a Weyland, financia com base nos estudos de Elizabeth. Credulidade e racionalidade opõem as duas, mas como estamos no terreno de Alien há mais diferenças em jogo. Elizabeth diz ser estéril e se ressente de não poder ter filhos, enquanto Meredith se orgulha de seu sexo; quando o piloto negro e forte da Prometheus dá em cima da fria loira, ela só cede na hora em que o homem questiona se ela não seria, na verdade, uma robô. Como em todo Alien, a afirmação pessoal é acima de tudo uma demonstração do sexo - o que consequentemente leva à questão materna e ao velho nó do ovo e da galinha. O retorno não só de Scott mas também do suiço H.R. Giger, o criador do design do alien original, como consultor em ''Prometheus'' rende uma nova leva de símbolos - das cobras fálicas ao engenheiro (nome dado ao criador da raça humana) retratado como um ultramacho, com seus músculos definidos - então os desafios às mulheres só aumentam. Estamos em um sci-fi de terror sobre violações e fecundações, afinal, e há uma cota de secreções viscosas a atingir. O 3D valoriza essa variedade de texturas quando as ressalta da tela - não só as gosmas mas também o vapor, o metálico, o terroso - e torna Prometheus mais táctil, mais imersivo. De resto, convém não esperar nenhum milagre do cinema. ''Prometheus'' reproduz o primeiro Alien não só no subtexto, mas também na estrutura, que envolve novamente um contato prometéico com o desconhecido, que então gera um castigo do espaço a ser resolvido com muitos sacrifícios. Descontados os atalhos apressados da narrativa, os diálogos literais e os desencontros de continuidade (Prometheus não se encaixa perfeitamente com a situação em que encontramos o Space Jockey em Alien), o filme tem seus momentos. A cena do parto, especialmente, é linda, com a injeção de anestesia paralisando a câmera à altura dos olhos da pessoa deitada, que então assiste ao resultado do seu desafio aos deuses. Nesse sentido, Prometheus, embora tenha toda uma vocação para a megalomania, é muito coerente com outros Alien, que não são mais do que contos de cautela sobre o horror de ser mulher em um universo de homens.'' (Marcelo Hessel)

''O retorno de Ridley Scott ao gênero que ajudou a definir no cinema era algo muito esperado pelos fãs desde 1982, quando lançou seu último filme de ficção científica Blade Runner e nada poderia ser mais apropriado do que um prólogo de Alien. Com boa parte da tensão e visual que estamos acostumados a ver em produções anteriores do cineasta, Prometheus é um filme ambicioso que até pode ser considerado o Alien do século 21, porém isso não significa que ele cumpra a expectativa criada a sua volta. A questão é que o longa é ambicioso demais e acaba sem conseguir abarcar tudo o que pretende. Ele trata da procura por respostas sobre a criação da humanidade e isso nos leva a uma lua distante, a bordo da nave que dá nome ao longa-metragem, onde nos deparamos com momentos de terror e mortes violentas. É exatamente a tentativa de misturar essas profundas questões com a obrigação de dar sustos e ter cenas chocantes gratuitas que impede o filme de ser melhor do que é. O interessante é que desde o início ''Prometheus'' procura se distanciar de Alien (é importante saber disso ao ir ao cinema), porém recicla muitos elementos que deram certo no clássico de 1979 e, sem vergonha de beber da mesma fonte, constrói aos poucos uma atmosfera de tensão e paranoia. Só que em nenhum momento a coisa fica tão séria quanto a bordo da Nostromo (nave onde Ripley era tenente), pois as motivações dos personagens são claras demais quando não deveriam e obscuras quando não precisavam ser – o que dá um tom artificial em alguns momentos – principalmente porque Alien já fez tudo isso antes. No entanto, isso não impede que tenhamos atuações sólidas e convincentes. Michael Fassbender rouba a cena mais uma vez, como já havia feito em X–Men: Primeira Classe. O ator interpreta o androide David de uma forma assustadora e bizarra, sem sentimentos, ao ponto de incomodar o espectador que observa, passivo, decisões importantes serem tomadas por uma máquina sem medo e sem consideração pela vida humana. A personagem de Noomi Rapace (Os Homens Que Não Amavam As Mulheres), a arqueóloga Elizabeth Shaw, não chega aos pés da eterna tenente Ripley (Sigourney Weaver), porém consegue conquistar o público com seu jeito sonhador, aparentemente frágil e muito mais feminino. Charlize Theron (Branca de Neve e o Caçador) mais uma vez está bem, desta vez no papel da inescrupulosa e bela Vickers. Uma pena que a executiva da Weyland Corp. seja um tanto dispensável para a trama – se melhor explorada, seria capaz de contribuir para o clima de paranoia, tão importante em Alien - O Oitavo Passageiro. É claro que o grande astro do filme é o show de imagens, sons, luzes e efeitos. Os cenários são realistas e detalhados, a sala com a cabeça humana gigante dá calafrios e o clima de Alien aparece com força em alguns deles – ponto para o quesito nostalgia. É impressionante a forma com que os motores da nave ''Prometheus'' fazem o cinema tremer – a intensidade é assustadora. As criaturas e, consequentemente, as cenas de sustos são exatamente como esperamos – coisa de quem sabe o que está fazendo. Até o 3D vale o ingresso. Quem curte sci–fi vai perceber que a ciência ficou de lado e a tecnologia – muito mais clean e avançada do que no filme que se passa 30 anos no futuro – funciona apenas como ferramenta narrativa, sem muito embasamento, mesmo dentro do gênero. Os problemas aparecem até durante a simples analise do material genético de um extraterrestre, cujo resultado não é convincente, e olha que não sou especialista em DNA. No final das contas parece ser uma forma gratuita de negar as teorias de Charles Darwin e justificar o US$ 1 trilhão (que em 90 anos nem será tanto assim) investido na construção da nave. Como fã de ficção científica, é impossível não gostar de Prometheus, um dos poucos bons filme do gênero dos últimos anos, que teve alguns destaques como o suíço Cargo, A Origem e Star Trek. Entretanto, é inegável que a aventura futurista de Ridley Scott patina um pouco do meio para o final, é previsível e, às vezes, dá a sensação de que existiam certas obrigações (impostas pelo estúdio?) a serem cumpridas – como a explosão de uma criatura nojenta saindo do peito de alguém. Ainda assim, seu magnífico visual, boa trama e atuações fazem do longa uma obra que vale a pena ser vista. Só não vá ao cinema esperando assistir a algo tão impactante como Alien – O Oitavo Passageiro.'' (Daniel Reininger)

85*2013 Oscar

Twentieth Century Fox Dune Entertainment Scott Free Productions Brandywine Productions

Diretor: Ridley Scott

360.302 users / 93.399 face

Soundtrack Rock = Stephen Stills

CHeck-Ins 175

Date 02/06/2013 Poster - #####

13. Lost in Space (1998)

PG-13 | 130 min | Action, Adventure, Family

43 Metascore

The Robinson family was going into space to fight for a chance for humanity. Now they are fighting to live long enough to find a way home.

Director: Stephen Hopkins | Stars: Gary Oldman, William Hurt, Matt LeBlanc, Mimi Rogers

Votes: 74,855 | Gross: $69.12M

[Mov 03 IMDB 4,9/10 {Video/@} M/42

PERDIDOS NO ESPAÇO - O FILME

(Lost in Space, 1998)


''Na segunda metade do século XXI, as fontes de energia de origem fóssil estão para serem esgotadas. Na tentativa de salvar a raça humana os cientistas construíram um portal que permite que a viagem na velocidade da luz possa ser possível, mas só se existir um outro portal para receber os viajantes. Com isso, um cientista (William Hurt) e sua família são escolhidos para viajar em velocidade normal até o local onde o segundo portal deve ser construído, numa viagem que durará dez anos e onde os tripulantes ficarão criogenicamente congelados até chegarem em Alpha Prime, o único planeta habitável conhecido. Porém, um outro cientista (Gary Oldman) sabota a espaçonave para que um robô mate os tripulantes dezesseis dias após a partida, mas acaba sendo vítima da própria trama, pois ele é traído por seus comparsas e fica preso na nave. Assim, colabora com os demais tripulantes para poder salvar a si mesmo, mas quando a espaçonave é atraída para o sol em virtude do forte campo gravitacional a chance deles sobreviverem é ativarem a hiper velocidade, mas sem um portal do outro lado são arremessados a lugar desconhecido do espaço sideral. Totalmente perdidos, eles se defrontam com uma infinidade de perigos que os ameaçam constantemente e tentam encontrar Alpha Prime para construírem o segundo portal, que é a única esperança da população da Terra." (Filmow)

New Line Cinema Saltire Entertainment Irwin Allen Productions Prelude Pictures

Diretor: Stephen Hopkins

52.064 users / 898 face

Soundtrack Rock = Apollo 440 + The Propellerheads + Death In Vegas + The Crystal Method

Check-Ins 192

Date 08/06/2013 Poster - #

14. Piranha 3DD (2012)

R | 83 min | Comedy, Horror, Sci-Fi

24 Metascore

After the events at Lake Victoria, the pre-historic school of blood-thirsty piranhas make their way into a newly opened waterpark.

Director: John Gulager | Stars: Danielle Panabaker, Ving Rhames, David Hasselhoff, Matt Bush

Votes: 45,383 | Gross: $0.38M

[Mov 01 IMDB 3,9/10 {Video/@} M/24

PIRANHA 2

(Piranha 3DD, 2012)


''Desta vez, as vorazes criaturas pré-históricas invadirão um lotado parque aquático, o Big Wet Water Park , bem no meio da temporada de verão.' (Filmow)

"Muito superior ao primeiro pois tem um par de cenas genuinamente engraçadas. Mas não deixa de ser outro grande WTF!" (Alexandre Koball)

Top 200#157 Cineplayers (Bottom Usuários)

Dimension Films Mark Canton Productions Intellectual Properties Worldwide (I) Neo Art & Logic

Diretor: John Gulager

26.456 users / 14.605 face

Check-Ins 198

Date 10/06/2013 Poster - #

15. Percy Jackson: Sea of Monsters (2013)

PG | 106 min | Adventure, Family, Fantasy

39 Metascore

In order to restore their dying safe haven, the son of Poseidon and his friends embark on a quest to the Sea of Monsters, to find the mythical Golden Fleece, all the while trying to stop an ancient evil from rising.

Director: Thor Freudenthal | Stars: Logan Lerman, Alexandra Daddario, Brandon T. Jackson, Nathan Fillion

Votes: 126,534 | Gross: $68.56M

[Mov 04 IMDB 5,9/10] {Video/@@@} M/39

PERCY JACKSON E O MAR DE MONSTROS

(Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013)


TAG THOR FREUDENTHAL

{esquecível}


Sinopse

''Percy e seus amigos estão na busca pelo Velocino de Ouro, o único artefato mágico capaz de proteger o Acampamento Meio-Sangue da destruição. É com essa missão que ele e outros campistas partem para uma eletrizante viagem pelo Mar de Monstros, onde deparam com seres fantásticos, perigos e situações inusitadas, que põem à prova seu heroísmo e sua herança. Está em jogo a existência de seu refúgio predileto e, até então, o lugar mais seguro do mundo para eles.''
''Se existe um adjetivo perfeitamente adequado para descrever este “Percy Jackson e o Mar de Monstros” é medíocre, resultado deveras frustrante quando consideramos que a trama tem a ideia de atualizar os mitos gregos para o nosso mundo, um conceito fenomenal, principalmente quando lembramos que muito dos super-heróis que fazem tanto sucesso hoje em dia junto ao público e à crítica são derivados indiretos (ou mesmo diretos) desses mesmos mitos. Esta continuação do menos insosso Percy Jackson e o Ladrão de Raios não exige do público muito prévio conhecimento da série de livros ou mesmo da fita anterior, com o roteiro de Marc Guggenheim (“Lanterna Verde”) se encarregando de expor o que aconteceu anteriormente, com nosso herói sendo um meio-sangue, filho do deus Poseidon com uma mulher mortal. Essa raça mestiça é levada para o Acampamento Meio-Sangue, onde são protegidos dos inimigos dos olimpianos por um campo de força instituído por Zeus, após a morte de uma de suas filhas. Em um período de relativa calma, Percy (Logan Lerman) se sente pouco apreciado, não tendo alcançado muita coisa desde que salvou o Olimpo em sua aventura anterior. Para completar, Percy descobre que possui um meio irmão ciclope, o atrapalhado Tyson (Douglas Smith), que parece receber um pouco mais de atenção do atenção do pai que ele. Eis que ressurge Luke (Jake Abel), adversário do jovem herói que destrói a barreira de proteção do acampamento e deixa os meio-sangues expostos, tencionando reviver o maligno titã Cronos. Percy, Tyson e seus amigos Annabeth (Alexandra Daddario) e Grover (Brandon T. Jackson) saem por conta própria rumo ao temível mar de monstros para recuperar o lendário velocino de ouro, objeto que restabelecerá o campo de força, mas que também pode trazer Cronos de volta à vida, o que os coloca em rota de colisão com Luke e seus asseclas. Com tantos plots e subplots para serem explorados em 100 minutos de projeção, obviamente um dos grandes defeitos da fita é sua superficialidade. Detalhes que deveriam ser mais chocantes, como a traição de alguns meio-sangues ou mesmo a relação entre Luke e seu pai, Hermes (Nathan Fillion), são simplesmente jogados ao léu, com a película preferindo explorar o preconceito de Annabeth para com Tyson, algo que obviamente será resolvido da maneira mais previsível possível. Agravando esse problema de prioridades, pouco nos importamos com o próprio Percy. Isso por conta da interpretação sem energia ou carisma de Logan Lerman. Como As Vantagens de Ser Invisível provou, o rapaz é um bom ator, mas aqui se encontra extremamente letárgico, o que prejudica boa parte do elenco, cujos personagens dependem de interações com o protagonista, e até nossa preocupação com a própria busca do herói. E se Lerman está lento, o Luke de Jake Abel está praticamente em coma, com o vilão não despertando raiva ou simpatia, apenas… existindo. E se o Acampamento Meio-Sangue em si está longe de ser tão interessante quanto a Hogwarts da saga Harry Potter (e a comparação aqui é inevitável, bem como com a sequência da Carruagem da Danação e o Noitebus Andante do bruxo inglês), o universo no qual a história se insere, mesmo pontualmente bobo, é responsável pelos melhores momentos da fita, como o milagre reverso com o vinho de Dionísio (uma ponta rápida de Stanley Tucci) e o fato de Hermes ser dono da UPS. Até mesmo o disfarce dos objetos divinos como produtos de comércio mundanos é uma bela sacada. Ainda há algumas boas piadas para os fãs de Joss Whedon, como ver Anthony Head (o Giles de Buffy – A Caça-Vampiros) informando novamente um herói de uma profecia e Nathan Fillion falando sobre uma ótima série cancelada após uma temporada (algo que deve ter doído nos fãs de Firefly), mas estas são muito localizadas para um público específico para contarem como um ponto relevante. A direção de arte se mostra pouco inspirada, especialmente no acampamento, que é extremamente sem graça. As criaturas estão apenas OK, assim como os efeitos especiais, embora ambos mostrem alguma melhora durante a curtíssima batalha final. A trilha sonora, composta por Andrew Lockington, chega a doer de tão genérica e não ficaria estranha em um desses filmes de cachorro exibidos na televisão aberta durante a tarde. No fim de tudo, a direção frouxa de Thor Freudenthal, incapaz de tirar o melhor de seu elenco, dar um tom mais forte à produção, dar um visual mais único ou ao menos orquestrar uma cena de ação empolgante sequer foi a proverbial pá de cal nessa franquia que termina em um cliffhanger para uma sequência que, provavelmente, jamais virá." (Thiago Siqueira)

Franquia do filho de Poseidon melhora, mas não justifica a sua existência.

Fracasso entre críticos e fãs da série literária de Rick Riordan, Percy Jackson e o Ladrão de Raios ganhou uma sequência graças ao seu poder de bilheteria em águas internacionais (dos mais de US$ 226 milhões arrecadados, US$ 137, 7 saíram de bolsos fora dos EUA). Uma segunda chance que chega aos cinemas ávida por exorcizar a mistura desandada de mitologia grega e cultura teen assinada por Chris Columbus em 2010. A salvação da franquia, porém, escapa às mãos do novo diretor, Thor Freudenthal, e ''Percy Jackson e O Mar de Monstros'' não passa do menos pior no critério de qualidade. A adaptação apenas continua a desdobrar a sua falha mitologia, redistribuindo a Grécia Antiga pelo mapa dos EUA e povoando-a com personagens fantásticos extremamente ordinários. Saindo da ordem pai e filho do primeiro filme, o segundo capítulo foca nos laços entre irmãos (de sangue ou não) e coloca seu personagem-título para justificar a própria divindade no temível Mar de Monstros, também conhecido como Triângulo das Bermudas. Desta vez, o trio de amigos sobrenaturais capitaneado por Logan Lerman precisa salvar o seu precioso acampamento de verão – aqui, o único lugar seguro na Terra para deuses, semideuses e afins é o segundo principal arquétipo da infância norte-americana depois do bullying escolar. Mesmo que funcione nos livros, falta densidade para que essa americanização/pasteurização da mitologia grega se justifique no cinema. Assim como o seu antecessor, Percy Jackson e O Mar de Monstros apenas cola personagens, maldições e missões em um amontoado que é bruscamente arremessado em direção ao espectador. Os poucos suspiros de alívio são fornecidos por Stanley Tucci (que desempenhou papel semelhante em Jack – O Caçador de Gigantes), uma boa sequência de animação e alguns marinheiros zumbis. A redução (não eliminação) do didatismo e da pieguice nos diálogos também ajuda a elevar a nota do segundo filme. À época de seu lançamento, O Ladrão de Raios carregava a aura de o próximo Harry Potter. Comparado à franquia de J.K. Rowling, contudo, Percy Jackson está mais próximo das séries de TV da Disney e da Nickelodeon do que do cinema, com uma direção de arte que sobrepõe gregos e romanos para criar um mundo extraordinário incapaz do óbvio: encantar. Os monstros do título só ganham importância quando vistos em 3D, quando o filme justifica o seu enredo aparentemente despretensioso ao se transformar em um passeio desenfreado de montanha-russa – bons sustinhos que valem uma meia-entrada em um dia de chuva. Talvez exista outra crítica possível de ''Percy Jackson e O Mar de Monstros''. Um olhar mais ingênuo e menos crítico-chato sobre o filme. Quando se chega à vida adulta, entretanto, é preciso mais consistência para se abandonar a realidade. Na sua segunda tentativa, o filho de Poseidon continua mundano demais para alçar o público acima dos 10 anos ao Olimpo." (Natalia Bridi)

"Percy Jackson "2" tem um argumento um pouco mais interessante que o primeiro capítulo, e a produção também parece ser levemente superior. Mas ainda é um produto sem identidade." (Alexandre Koball)

"Sequência melhor a partir de material original pior, superior nos efeitos visuais, mas que padece de uma inofensividade (não revolta, nem emociona) que gera sonolenta indiferença. Assim, difícil dizer que ao menos o público vai querer conhecer a Odisseia." (Rodrigo Torres de Souza)

Quando High School Musical encontra Mitologia Grega.

''Em 2010, já se antecipando ao fim da série Harry Potter e Crepúsculo, Hollywood começou uma caça a novas franquias que pudessem se aproveitar do vazio deixado por essas obras. O caminho mais óbvio foi vasculhar as prateleiras de livros infanto-juvenis, esperando que uma base de fãs já formada fosse o suficiente pra justificar os gastos exorbitantes que esse tipo de filme demanda. Entre erros, como A Hospedeira (The Host, 2013), Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, 2013), e acertos, como Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012), a Disney decidiu apostar em Percy Jackson, personagem de uma série de livros escritos por Rick Riordan que mistura pre-teens com mitologia grega. A primeira incursão, Percy Jackson e o Ladrão de Raios (Percy Jackson & the Olympians: The Lightning Thief, 2010), decepcionou nas bilheterias americanas, mas conseguiu alguma sobrevida ao redor do mundo. Aparentemente foi o suficiente para garantir uma continuação. Afinal, se até Harry Potter conseguiu se recuperar depois de um primeiro filme ruim, também dirigido por Chris Columbus, porque Percy Jackson não poderia? Trouxeram um diretor mais condizente com o material, Thor Freudenthal (de Diário de um Banana [Diary of a Wimpy Kid, 2010], Um hotel bom pra cachorro [Hotel for Dogs, 2009]), chamaram o roteirista brilhante Marc Guggenheim (Lanterna Verde (Green Lantern, 2011]), e posicionaram a estreia no meio de um verão americano já inflado, mas onde as pessoas não costumam escolher o que vão ver baseado na qualidade, ou no talento dos envolvidos. O primeiro erro de Percy Jackson e o Mar de Monstros (Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013) foi não conseguir manter o seu elenco. Por mais que o primeiro filme não fosse um primor, era no mínimo interessante ver Sean Bean como Zeus, Pierce Brosnan como um centauro, Uma Thurman como Medusa, ou Catherine Keener como uma coadjuvante que não está à altura do seu talento. Talvez fosse mais o prazer de ver outras pessoas passando por situações constrangedoras, mas ainda assim era um prazer proporcionado pelo filme. Em Mar de Monstros, tirando o elenco juvenil, ninguém voltou. Nem o pai Poseidon, com quem Percy tenta falar o tempo todo, responde. Kevin McKidd aparentemente não saiu de Grey’s Anatomy nem para gravar a voz em off. Fica apenas a curiosidade para fãs de Joss Whedon, já que Anthony Head substituiu Pierce Brosnan como Chiron e Nathan Fillion substituiu Dylan Neal como Hermes. Mas pra não dizer que todos escaparam incólumes, Stanley Tucci entrou nesse filme em mais um papel desnecessário para a sua carreira, como Dionísio. É Hollywood nos lembrando que todos temos contas a pagar. Outra que parece não ter voltado para a continuação foi a personalidade de Annabeth (Alexandra Daddario), que no primeiro filme era ótima lutadora, rivalizava com Percy, destemida, aventureira. Em Mar de Monstros, se restringe a cair no chão e gritar por socorro. A posição de amazona do grupo infelizmente já estava preenchida por uma nova personagem, Clarisse (Leven Rambin). Annabeth sofre do mal de que interesse amoroso não pode ser tão masculinizada, nem competir com o seu homem, e esse parece ser o destino de sua personagem: ser a namorada de Percy. Com isso, transformaram a personagem mais interessante do trio protagonista em mais uma menina bobinha. Até loira ela ficou, mais apropriado para uma donzela em perigo, mais próxima da descrição dos livros. Mas o maior problema de ''Percy Jackson e o Mar de Monstros'' é a forma com que trata seu público: como pessoas desprovidas de inteligência. Todas as viradas da trama são percebidas a quilômetros de distância; como quando um personagem é atingido e cai de um desfiladeiro em um rio. Seria grave, se já não tivéssemos sido apresentados ao fato de que filhos de Poseidon têm poder de cura quando em contato com a água. Ainda assim, passamos por todo processo de luto dos personagens, lágrimas e remorsos. São vários momentos assim que nos fazem perceber que Percy não tem 12 anos, como no livro original, mas esqueceram de adaptar também a história. Um ritmo acelerado, e muitos efeitos especiais (alguns bem ruins) não levam a história muito longe. E espero que não levem Percy Jackson a um terceiro filme." (Felipe Tostes)

Fox 2000 Pictures TSG Entertainment Sunswept Entertainment 1492 Pictures

Diretor: Thor Freudenthal

79.868 users / 28.893 face

Check-Ins 652 33 Metacritic

Date 17/08/2014 Poster - #

16. Planet Terror (2007)

R | 105 min | Action, Comedy, Horror

After an experimental bio-weapon is released, turning thousands into zombie-like creatures, it's up to a rag-tag group of survivors to stop the infected and those behind its release.

Director: Robert Rodriguez | Stars: Rose McGowan, Freddy Rodríguez, Josh Brolin, Marley Shelton

Votes: 223,201

[Mov 05 IMDB 7,3/10 {Video/@@@@@}

PLANETA TERROR

(Planet Terror, 2007)


"Em "Planeta Terror", Quentin Tarantino é produtor e ator. Aliás, Tarantino sempre dá uma força para Robert Rodriguez. Deve ser para que, pela comparação, todos possamos renovar nossa admiração por ele mesmo quando não dirige o filme. Em "Planeta Terror", o enigma sugerido é: como arranjar as peças para chegar a um horror tão pouco memorável. Se é para levar a sério, as possibilidades são mínimas. Existe, para começar, um grupo de mutantes (vítimas de uma história na Guerra do Golfo) que precisa inalar gás para não se dissolver e que sai de uma base militar comendo os passantes. Há, em seguida, um hospital, onde são recebidas vítimas dos mutantes e onde há um casal de médicos perversos (em relação aos pacientes e em relação a um ao outro). E existe o herói El Wray (Freddy Rodríguez), um fora-da-lei disposto a reconquistar sua amada, a dançarina Cherry (Rose McGowan). Os clichês se acumulam fazendo lembrar uma multidão de filmes -de zumbi, de médicos dementes e outros. Não são mais do que clichês que, à força da obviedade, Rodriguez -como em outros de seus filmes- parece querer nos fazer acreditar que está acima deles. Pode-se pensar então em um efeito cômico. Também não dá pé. Se comparado aos filmes de Ivan Cardoso, por exemplo... Não dá nem para comparar: a diferença, para começar, é que este abacaxi é lançado nos cinemas; já os filmes mais recentes de Cardoso, não. Do que se poderia rir, afinal? De um bar de estrada nojento que aspira a ganhar o título de melhor churrasco? De um estuprador mutante cujos órgãos se decompõem na hora de estuprar uma mulher? Talvez a única tirada aceitável ao longo de todo o filme seja a de Cherry, a garota bonita da história, que, após ter a perna devorada por um mutante, acaba recebendo, como implante, uma metralhadora. Isso rende dois ou três risos amarelos. "Planeta Terror" tende, no entanto, a encontrar um mercado em espectadores que apreciam os exercícios paródicos aos quais alguns intitulam -tão gastos quanto o humor do filme - de metalinguagem." (* Inácio Araujo *)

''Fãs do mais clássico cinema trash norte-americano já podem começar a comemorar: Planeta Terror é sensacional, atendendo ao apetite dos famintos por banhos de sangues, carnificina e piadas espertas. Nascido do projeto Grindhouse, concebido pelo diretor e por Quentin Tarantino (Kill Bill), ''Planeta Terror'' é um longa originado a partir do média-metragem exibido nos cinemas norte-americanos junto a À Prova de Morte, sob a direção de Tarantino - que tem uma divertida participação como ator neste filme. O projeto é uma homenagem aos filmes estilo exploitation, populares especialmente nos anos 70, misturam sexo e violência numa forma sensacionalista. O Grindhouse que nomeia o projeto era dado às salas que costumavam exibir os filmes do gênero. Nos EUA, Grindhouse foi um fracasso de bilheterias; para o lançamento internacional, os dois médias chegarão aos cinemas como longas independentes. Nos EUA, eles eram ligados por dois trailers falsos; aqui, ''Planeta Terror'' será antecedido pela ótima prévia de Machete, também dirigida por Rodriguez. Pincelado por polêmicos temas atuais - como militarismo, o terror envolvendo armas biológicas, conflitos bélicos no Oriente Médio e Osama Bin Laden -, Planeta Terror mostra o que acontece quando produtos químicos detidos e negociados pelo exército norte-americano caem nas mãos erradas. Como resultado, grande parte da população de uma pequena cidade texana vira zumbi. Todos sedentos por carne fresca e, claro, miolos. Paralelamente, acompanhamos a história dos renegados Wray (Freddy Rodríguez) e Cherry (Rose McGowan, extremamente sensual). Ele é um fora-da-lei que namorou Cherry, go go dancer que sonha em ser comediante. Os dois se reencontram quando os zumbis pestilentos tomam conta da cidade e se unem para liderar um bando de sobreviventes. Planeta Terror'' traz os elementos que formam uma típica produção com zumbis: criaturas se arrastando, humanos sendo devorados violentamente, tiros e abrigos incomuns para os sobreviventes. Pense nessas características e adicione altíssimas doses de violência e você terá idéia do que é o filme. O sangue jorra na tela (literalmente) enquanto zumbis caminham, exibindo enormes feridas na pele, daquelas que até se mexem sozinhas, até. Em meio a tiros e jatos de sangue, a produção também traz diálogos espertos, divertidos e repletos de palavrões, característicos dos filmes de Robert Rodriguez, que também assina o roteiro. Definitivamente, ''Planeta Terror'' não é para os estômagos fracos. Ao dosar zumbis, ótimas cenas de ação, humor e até toques de romance, este é um filme bastante divertido, que certamente agradará aos fãs de filmes B, sem ser, necessariamente, um longa mal produzido, muito pelo contrário." (Angelica Bito)

''Existe uma palavra que define perfeitamente ''Planeta Terror'': Nojento. Mas não, esta palavra não quer dizer que o filme é ruim, muito pelo contrário. É claro que você precisa apreciar o gênero, ter estômago forte e senso de humor. Sendo assim, o filme se transforma em diversão minuto a minuto, em um terrir trash B que Robert Rodriguez dirige com louvor. Utilizando clichês já batidos do gênero e transformando-os em piada, o filme se inicia com um acidente de carregamento do governo, que acaba transformando a população da cidade em zumbis. Mas o que diferencia este dos outros filmes é o eclético grupo de rebeldes sobreviventes: o xerife da cidade, babás gêmeas, um latino, e, é claro, a famosa stripper com um calibre .45 no lugar de uma das pernas. É então que a diversão corre solta, com muito pus, sangue, explosão e zumbis bastante diferentes. O elenco se diverte: Rose McGowan, a garota com arma ao invés da perna, está melhor que o de costume, e mantém o senso de humor que a personagem requer. Freddy Rodriguez e Marley Shelton também se destacam, além de consagradas participações de atores como Bruce Willis e Quentin Tarantino. ''Planeta Terror'' surpreende ao final, e vale a pena cada segundo de filme. Mas vai difícil não soltar, em diversas cenas, o famoso Que Nojo." (Renato Marafon)

''Quando Grind House ainda era dois longas-metragens pelo preço de um, antes do esquartejamento para o lançamento fora dos Estados Unidos, um crítico de lá fez o comentário fundamental: em seu segmento, À Prova de Morte, Quentin Tarantino filma como quem passou a adolescência inteira frequentando as grindhouses, os cinemas setentistas com sessões duplas de filmes trash-malditos, enquanto Robert Rodriguez filma o seu Planeta Terror (Planet Terror, 2007) como quem só ouviu falar de grindhouse. Não há, essencialmente, um demérito aí, mas uma constatação. Como diz Marley Shelton a Rose McGowan em cena de Planeta Terror, todo talento inútil um dia serve para alguma coisa. E o talento inútil de Rodriguez é justamente o da mimetização. Ele não precisava ter assistido a nenhum film noir para reproduzir o porte de uma mulher fatal em Sin City - o mundo de signos do noir já é parte do imaginário popular, como também é o universo do faroeste revisitado pelo cineasta na trilogia do mariachi. Da mesma maneira, Rodriguez pode até ter ignorado a era de ouro dos exploitations, mas isso não o impede de saber como se alastra um contágio zumbi. A saber: os zumbis canibais de ''Planeta Terror'' não são desmortos propriamente ditos (pelo menos não todos eles), mas pessoas infectadas por um gás tóxico que o exército dos Estados Unidos utilizou sem medida nas campanhas no Oriente Médio. Por um acaso, o gás se alastra em uma cidadezinha, daquelas com dançarina go-go, xerife e dinner de beira de estrada. O grupelho de sobreviventes, que tem alguns cartuchos para gastar com a horda de alvos lacerados, é mais eclético do que o de costume: tem babás gêmeas, amante latino, anestesista com filho a tiracolo e a já famosa moça com a perna calibre .45. Se o cinema de Tarantino é o da homenagem, o de Rodriguez é o da reciclagem, frequentemente pela via da paródia. O primeiro infectado a surgir na tela ainda não desenvolveu nenhum sinal visível de alteração física; daí o médico pede para ele abrir a boca e o cara está com a língua cheia de pústulas. Depois, o próprio Tarantino aparece em cena, como um militar sádico que pretende estuprar a heroína - o problema é que o gás transformou seu pênis em um mingau. É da colagem dessas pequenas sacadas, com fio dramático mínimo e muita borracha, sangue falso e maquiagem, que Planeta Terror tira a sua força. O problema é que piada, especialmente paródica, tem vida curta. E a obra de Robert Rodriguez, definitivamente, não foi feita para durar. (A não ser que você seja fã de carteirinha do cineasta - daí tem citações e auto-referências a se encontrar em ''Planeta Terror'' por um loooongo tempo, sem contar as ligações com À Prova de Morte." (Marcelo Hessel)

{Acerta altura da vida, você encontra utilidade para seus talentos inúteis} (ESKS)

"Meu Rodriguez preferido. Metralhadora na perna já é clássico!" (Daniel Dalpizzolo)

"Quem compra a proposta de Rodriguez tem tudo para se divertir imensamente. Sangue e tripas para todo lado, mulheres seminuas, diálogos engraçados de tão ridículos e cenas realmente criativas. Concordo com o Dalpizzolo: metralhadora como perna é genial." (Silvio Pilau)

"Aperitivo bem 'saboroso' para o que seria o ótimo projeto Grindhouse." (David Campos)

Dimension Films Troublemaker Studios Rodriguez International Pictures Weinstein Company, The

Diretor: Robert Rodriguez

141.119 users / 6.234 face

Soundtrack Rock = Nouvelle Vague

Check-Ins 241

Date 01/08/2013 Poster - ######

17. Seeking a Friend for the End of the World (2012)

R | 101 min | Adventure, Comedy, Drama

59 Metascore

As an asteroid nears Earth, a man finds himself alone after his wife leaves in a panic. He decides to take a road trip to reunite with his high school sweetheart. Accompanying him is a neighbor who inadvertently puts a wrench in his plan.

Director: Lorene Scafaria | Stars: Steve Carell, Keira Knightley, Melanie Lynskey, Patton Oswalt

Votes: 118,765 | Gross: $6.62M

[Mov 07 IMDB 6,6/10 {Video/@@@@} M/59

PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO

(Seeking a Friend for the End of the World, 2012)


"Atmosfera de cinema indie, quase que forçadamente, desenvolvendo-se em um filme mais frio do que o normal. Mas o final é deveras corajoso e coerente." (Alexandre Koball)

Nostalgia de um passado recente.

"O filme de apocalipse - e seu subgênero do terror de mortos-vivos - nunca esteve tão vivo na cultura pop. A ideia de uma sociedade em frangalhos, em que tudo o que as pessoas têm é o outro, sem o apoio de tecnologia, governo ou mídia, demonstra uma certa nostalgia de um passado recente, em que o convívio existia de maneira física, sem a interferência tecnológica que vivemos diariamente hoje. Com as facilidades do contato digital, da substituição da conversa pelo chat e com o papo para colocar as novidades em dia sendo suprido pelo acompanhamento da "atualização de status", milênios de convívio físico são deixados de lado... uma evolução rápida demais para ser absorvida. Daí a produção cada vez maior de obras em que o tema é a necessidade de contato. ''Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo'' (Seeking a Friend for the End of the World, 2012) leva essa melancólica constatação a um novo patamar. Nele, dois estranhos - Steve Carrell e Keira Knightley - encontram-se por acaso às vésperas da chegada que um asteroide à Terra que vai acabar com toda a vida do planeta. Parte do apelo do filme é a ambientação criada pela roteirista e diretora Lorene Scafaria (de Nick & Norah - Uma Noite de Amor e Música). Na situação criada por ela, o mundo se divide entre as pessoas que buscam viver intensamente depois de anos de marasmo, os deprimidos incapazes de aceitar seu destino e as turbas revoltadas, que decidem se aproveitar da situação. Mas há também aqueles que continuam vivendo como se nada estivesse acontecendo - que seguem na mesma toada de desilusões, de rompimentos amorosos e parecem alheios ao fim de tudo, focados apenas em lamentar seus próprios problemas. Com o reforço de um elenco de apoio de qualidade (que inclui Martin Sheen, Mark Moses, Adam Brody, William Petersen e Patton Oswald), os protagonistas vividos por Carrell e Keira integram exatamente esse último grupo. Ele, um vendedor de seguros solitários. Ela, uma imigrante inglesa de espírito livre. O filme acompanha-os em em uma jornada de aceitação. A nostalgia do contato é sentida ao longo do filme, que aproveita para reforçar a regressão tecnológica também através da música. A personagem de Keira anda o tempo todo abraçada aos seus LPs - e explica como reconhecer um bom vinil: quanto mais grosso o disco são mais fundos os sulcos, o que melhora a qualidade do som. Quanto mais físico, melhor. Ora levemente cômico, ora romântico e dramático, mas sempre satisfatoriamente equilibrado - sem forçar a barra para extrair emoção -, ''Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo'' é também surpreendentemente bem estruturado, com uma inesperada e honestíssima reviravolta, que não afronta os personagens ou a situação criada. Em tempos em que lamentamos nosso destino através do terror, quando temos nossos pés puxados por mortos-vivos para lembrar-nos do quão anti-natural é a socialização por telas, é revigorante assistir a um filme assim." (Erico Borgo)

''O fim do mundo é o cenário ideal para as pessoas cometerem as maiores loucuras de suas vidas, frutos de suas fantasias mais obscuras. É também uma grande oportunidade para reatar um velho romance ou começar um novo. ''Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo'' busca mostrar exatamente isso, ao acompanhar os últimos 14 dias de vida na Terra compartilhados por dois desconhecidos, interpretados por Steve Carell e Keira Knightley, e sua jornada de autoconhecimento e de acerto de contas com o passado. Este não é o primeiro filme, muito menos o mais original, a mostrar como a sociedade encararia o apocalipse. Melancolia, de Lars Von Trier, é um exemplo de como fazer isso bem feito, assim como o mais antigo A Última Noite. Fugindo ao ambiente das comparações, a diretora Lorene Scafaria (Nick & Norah - Uma Noite De Amor E Música) pega esse conceito e o transforma em um interessante road movie. Na trama, Dodge (Carell) é um vendedor de seguros que falhou em alcançar seus sonhos. Para piorar, sua mulher o abandona para ficar com o amante após o fracasso da última esperança de salvação da Terra, uma missão espacial que deveria interceptar o gigantesco asteroide, bem a la Armageddon (aquele com Bruce Willis e música do Aerosmith). Sem rumo, o personagem continua com seu dia-a-dia monótono à espera do fim. Tudo muda quando seu caminho cruza com o de Penny (Knightley), vizinha jovem, interessante, livre e com uma paixão louca por discos de vinil, que está em crise em seu relacionamento e deprimida por ter perdido o último voo comercial que a permitiria rever sua família. Depois de chorar as mágoas, ela devolve a Dodge três anos de correspondências entregues na caixa postal errada, entre as quais está uma carta enviada pelo amor de adolescência dele há apenas três meses. Está armada a aventura mais inesperada possível, tudo graças ao apocalipse iminente. Não é difícil perceber, logo de cara, que o filme não pretende tratar do fim do mundo (em nenhum momento o asteroide é mostrado), nem do amor impossível, mas sim da banalidade da vida humana, uma alegoria à futilidade da busca por status e do cumprimento das expectativas de uma sociedade cada vez mais consumista e rasa. Impossível não refletir sobre quão irônico é o fato das pessoas decidirem viver sem medos, resolverem questões do passado ou fazerem tudo o que sempre sonharam, como largar empregos sem sentido e relacionamentos falidos, apenas quando estão diante da iminência da destruição completa de tudo que conhecem. Existe aqui uma semente de crítica, mas nada mais aprofundado, afinal, trata-se de uma típica produção hollywoodiana. Só que o cinismo do começo do filme, que inclui a festa de uma pacata famíia suburbana que se torna uma orgia regada a heroína, perde o fôlego e o tom crítico na segunda metade. Personagens tomam decisões inexplicáveis, que parecem até terem sido impostas para transformar o longa em uma comédia romântica e fazer a audiência chorar a qualquer custo, comprometendo a história e sua credibilidade. Sorte que o final chega a tempo de manter a boa impressão inicial. ''Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo'' deixa de cumprir a expectativa criada de início e fica claro que havia potencial para algo muito melhor. Ainda assim, trata-se de um longa interessante que vai dividir opiniões, deixar muita gente deprimida na saída do cinema e, quem sabe, resultar em boas discussões." (Daniel Reininger)

Focus Features Mandate Pictures Indian Paintbrush Anonymous Content

Diretor: Lorene Scafaria

68.021 users / 21.590 face

Soundtrack Rock = The Beach Boys + Ray Davies + INXS + Wang Chung + Scissor Sisters + The Selecter + P.M. Dawn + Frank Black + Lions + The Hollies + The Walker Brothers

Check-Ins 333

Date 30/09/2013 Poster - ######

18. Red Lights (2012)

R | 114 min | Drama, Fantasy, Mystery

36 Metascore

Psychologist Margaret Matheson and her assistant debunk paranormal activity, which leads them to investigate a world-renowned psychic who has resurfaced after many years out of the limelight following the suspicious death of his toughest critic.

Director: Rodrigo Cortés | Stars: Sigourney Weaver, Robert De Niro, Cillian Murphy, Elizabeth Olsen

Votes: 66,076 | Gross: $0.05M

[Mov 06 IMDB 6,1/10 {Video/@@} M/36

PODER PARANORMAL

(Red Lights, 2012)


''A partir de O Sexto Sentido (1999), o cineasta M. Night Shyamalan cristalizou um modelo de suspense sobrenatural: ao longo da narrativa, ele deixa discretas pistas sobre o mistério central; no final, reagrupa esses elementos em uma espécie de clipe expositivo. Desde então, muitos cineastas tentaram repetir o modelo, sem o mesmo sucesso. A razão é simples: eles pegaram o que havia de pior em Shyamalan (a artificialidade da fórmula), mas nunca igualaram o que tem de melhor (a originalidade audiovisual). Esse é o problema que aflige "Poder Paranormal". O diretor Rodrigo Cortés (Enterrado Vivo) segue à risca o padrão celebrizado por Shyamalan, mas o estilo funcional do espanhol está longe da sofisticação do colega. O filme se apoia no embate entre crença e razão, e sua premissa tem lá seu interesse -ainda mais em tempos de onda espírita no cinema. Uma professora de psicologia (Sigourney Weaver) e seu assistente (Cillian Murphy) se especializam em desmascarar pessoas que se passam por paranormais. A tarefa costuma ser simples: os investigados são, em geral, charlatões primários. Mas aí aparece em cena o médium cego Simon Silver (Robert De Niro), uma lenda da paranormalidade, que havia se aposentado há 30 anos. Ele se revelará um desafio muito maior -e mais perigoso- para o ceticismo da dupla de investigadores. Há alguma sabedoria na escolha de De Niro para interpretar o médium: a canastrice que o ator desenvolveu nos últimos anos se encaixa bem no papel. Weaver e Murphy também são opções corretas. Mas os méritos de Cortés não vão muito além do casting. "Poder Paranormal" sofre com uma contradição básica: para tornar mais chamativa a história de pessoas que investigam truques mediúnicos, o filme recorre a uma série de truques narrativos -sobretudo esconder informações essenciais sobre os personagens. Quando elas finalmente são reveladas, fica a sensação de engodo, como se o diretor fosse também um charlatão -e o espectador, sua vítima. É algo que se sente também nos filmes menos interessantes de Shyamalan, como Sinais (2002) ou A Dama na Água (2006). Mas, nesses caos, são a sobremesa de uma refeição cinematográfica farta, e não do arroz com feijão de "Poder Paranormal"." (Ricardo Calil)

"Fazia um bocado de tempo que um suspense não me surpreendia tanto." (Alexandre Koball)

''O truque dos ilusionistas, diz Tom Buckley (Cillian Muprhy) em ''Poder Paranormal'' (Red Lights), é conduzir o olhar do espectador para longe do ponto onde ele está fazendo sua mágica. Se o filme passa, desde o começo, a impressão de que o diretor espanhol Rodrigo Cortés está deixando pistas falsas para o público, depois desse diálogo a armação então fica mais do que evidente. Tom trabalha ao lado da professora de psicologia Margaret Matheson (Sigourney Weaver) desmascarando fenômenos paranormais e supostos psíquicos. Ela faz disso sua cruzada pessoal porque seu filho vive em estado vegetativo há anos, e Margaret não quer desligar os aparelhos até que encontre evidências do sobrenatural - indícios de que existiria vida além de um coma irreversível. Quando o vidente cego mundialmente renomado Simon Silver (Robert De Niro) reaparece na mídia depois de 30 anos, Tom fica obcecado em desmascará-lo, mas Margaret proíbe o auxiliar de seguir adiante. Quais seriam as motivações da personagem? Simon tem mesmo poderes? Por que o filme se chama luzes vermelhas? São as perguntas que Poder Paranormal levanta para despistar a audiência enquanto aplica seu golpe (que obviamente não será entregue aqui). Se em Enterrado Vivo, o primeiro longa hollywoodiano do diretor espanhol, o desafio era rodar um filme inteiro num espaço fechado, agora Cortés se propõe fazer o jogo - bastante popular, diga-se - dos suspenses de reviravolta. Em certo plano, a câmera avança lateralmente e mostra uma fileira de jornalistas atentos à ação, tomando notas. É a imagem-síntese da brincadeira de adivinhação, que pede mais atenção do espectador para o acúmulo de pequenas pistas do que para a narrativa em si. Muita gente reclama da revelação final no desfecho de Poder Paranormal, mas ninguém pode dizer que foi enganado; Cortés já deixava claro no começo, naquele diálogo do ilusionista, a sua intenção lúdica. A questão é: Poder Paranormal tem algo a oferecer, a reter, depois que o truque é desvendado (em providenciais flashbacks explicativos)? Tem, sim. A resposta de Cortés para os dilemas levantados no filme é apaziguadora, em sintonia com o pensamento liberal americano (cada um pode ter sua verdade, o que importa é a busca individual), mas sua recusa dos dogmas religiosos é frontal e não deixa de ser bem-vinda hoje em dia. Na verdade, Poder Paranormal é violentamente antidogmático; a cena em que Tom apanha no banheiro por ser questionador é tão forte que chega a destoar do resto, e isso num filme que tem na grandiloquência a sua principal ferramenta. O único dogma que Cortés não renega, no fim das contas, é a obrigatoriedade da reviravolta..." (Marcelo Hessel)

''Os chamados Filmes B de antigamente ganharam status diferente nos dias de hoje. Como no caso deste, costumam ser edulcorados por grandes nomes do cinema, já sem tanto prestígio como antes, para driblar a desconfiança do público e levá-lo às salas de cinema. Na maioria das vezes, funciona. Em ''Poder Paranormal'', dirigido por Rodrigo Cortés, do bom Enterrado Vivo, temos Sigourney Weaver e Robert De Niro tão somente como chamarizes para uma trama improvável sobre paranormalidade e seus truques baratos, que leva o público a uma viagem de quase duas horas de sustos e revelações pretensamente surpreendentes. Weaver é Margaret Matheson, cientista taciturna que vive de refutar publicamente charlatões que se dizem detentores de poderes sobre-humanos. Seu fiel escudeiro é o jovem doutor em Física Tom Buckley (Cillian Murphy, de A Origem), que parece tão ou mais cético que sua mentora. Quando renomado médium Simon Silver (Robert De Niro) volta à cena, depois de anos de afastamento após um episódio nebuloso, Buckley se sente tentado a investigar seus métodos, mas encontra a resistência de sua chefe. Segredos improváveis são, então, revelados e ameaçam por em perigo a vida de todos os envolvidos. A percepção de se estar assistindo a apenas uma distração rasa não vem logo. ''Poder Paranormal'' tem um início promissor e nos leva a crer, ao menos por algum tempo, estarmos diante de algo diferente. Não demorar muito, no entanto, para essa impressão fugaz ser desfeita por um enredo frágil que envolve um jovem em coma e segredos não revelados que parecem inseridos a fórceps no filme para manter a atenção do espectador presa, enquanto nada de realmente importante acontece. Weaver, destaque do filme, contribui para acreditarmos estar diante de um thriller de atmosfera assustadora e enredo acima da média. Sua personagem é reservada e ambígua e sugere ao público uma mulher que esconde importantes segredos. O problema é que os tais segredos não são tão importantes e reveladores como se supõe. E nesse crescendo de frustração, chegamos a um final inverossímil do qual, da empolgação do início, só resta um tédio decepcionante como um filme cheio de possibilidades, mas fracamente desenvolvido." (Roberto Guerra)

Nostromo Pictures Cindy Cowan Entertainment Antena 3 Films Attitude Pinículas y Films A.I.E. Televisió de Catalunya (TV3)

Diretor: Rodrigo Cortés

41.157 users / 9.752 face

Check-Ins 339

Date 29/09/2013 Poster - ####

19. Scent of a Woman (1974)

R | 103 min | Comedy, Drama

A young private is assigned to accompany a blind captain. It soon becomes clear that they are both complex personalities.

Director: Dino Risi | Stars: Vittorio Gassman, Alessandro Momo, Agostina Belli, Moira Orfei

Votes: 5,155

[Mov 07 IMDB 7,6/10 {Video/@@@}

PERFUME DE MULHER

(Profumo di Donna, 1974)


''O capitão Fausto perdeu a visão e uma das mãos num acidente com uma granada, tornando-se um homem amargurado e cínico. Sua tia contrata Giovanni, o jovem recruta de uma escola militar, para escoltar o cego em uma viagem pela Itália, de Turim a Nápoles. Sem que o rapaz saiba, o velho capitão tem planos secretos para o final da viagem. Refilmado nos Estados Unidos como "Perfume de Mulher" (1992).'' (Filmow)

{O 11 de espadas. Uma carta fora do baralho que não entra no jogo} (ESKS)

{As putas que acham alguém mais infeliz do que elas viram mães e eu já sou bem filho da puta} (ESKS)

''Depois do Adeus ao realizador e argumentista italiano Dino Risi, vem a jeito da review semanal lembrar uma das suas obras mais conhecidas, Profumo di Donna (1974). Pode-se rapidamente classificar o cinema do cineasta milanês como pertencendo ao género cómico: um artifício necessário para disfarçar uma abordagem crítica às disparidades sociais da vida quotidiana na Itália, através de um olhar cínico e cru. Depois do lançamento em DVD ter sido tardio (como já é costume por parte das distribuidoras), ''Perfume de Mulher'' é, em muitos aspectos, mais negro, mais austero, mais severo e mais envolvente que o remake de 1992 – esta última versão galardoou Al Pacino com Oscar de Melhor Actor Principal. Na visão de 74 do romance de Giovanni Arpino, Vittorio Gassman (premiado em Cannes) é o protagonista: um reformado militar cego, maneta, alcoólico, melancólico e sorumbático, um porco sexista que leva consigo um jovem soldado para o último fim-de-semana de deboche antes de executar um planeado suicídio colectivo com a ajuda da sua companheira – uma também reformada e incapacitada arma do exército. Apesar do filme de 92 ser visivelmente inspirado no seu predecessor, diferem bastante em pequenos detalhes. Enquanto o filme de Hollywood mostra um carismático protagonista de bom coração escondido por debaixo de uma camada exterior bruta, Gassman interpreta a personagem sem qualquer pingo de compaixão, um miserável bêbedo rejeitado pela sociedade. Em vez de dançar o tango e proclamar monólogos moralistas e intolerantes perante as opiniões de outras pessoas, Gassman limita-se a estar na companhia de afectuosas companhias, raparigas jovens e atraentes, comprometendo-se em fúrias consequentes de muito álcool e a abusar emocionalmente de quem quer que se aproxime dele. Não quer dizer que o capitão Al Pacino não o faça também, embora prevaleça de sobremaneira incontornável o atraente e bruto espírito mediterrânico. Esta personalidade, sob a sua aparente força, abuso verbal, intransigência, irreverência e desdém pelas convenções de compaixão das quais é refém, esconde um profundo desespero e vulnerabilidade. Este é o interesse fundamental do filme que Dino Risi filma magistralmente: a verdade dos efeitos pós-guerra, o menosprezo e a falta de apoio para com os soldados da pátria.Agostina Belli interpreta Sara, uma jovem rapariga apaixonada, é a única que conhece todas as facetas do capitão e não se conforma com a sua enfermidade. Residem maioritariamente nos close-ups.Agostina Belli as imagens mais belas do filme. Se o filme permanece, em certa medida actual, é a fotografia de Claudio Cirillo que lhe dá um certo ar de vintage look e algo de temporalmente característico dos filmes dos anos 70." (Pedro Xavier)

48*1975 Oscar / 1975 César / 1974 Palma de Cannes

Dean Film

Diretor: Dino Risi

2.241 users / 327 face

Check-Ins 363

Date 16/10/2013 Poster - ######

20. Thief (1981)

R | 123 min | Action, Crime, Drama

78 Metascore

An ace safe cracker wants to do one last big heist for the mob before going straight.

Director: Michael Mann | Stars: James Caan, Tuesday Weld, Willie Nelson, Jim Belushi

Votes: 38,961 | Gross: $11.49M

[Mov 10 Favorito IMDB 7,4/10] {Video/@@@@} M/78

PROFISSÃO: LADRÃO

(Thief, 1981)


TAG MICHAEL MANN

{intenso}


Sinopse ''Frank (James Caan) é um ex-presidiário que ganha a vida de fato realizando roubos ousados de jóias e arromabando cofres. Solitário, ele nunca se apegava a ninguém até conhecer Jesse (Tuesday Weld), uma garçonete que pratica pequenos golpes. Obcecado a mudar o rumo de sua vida, ele faz um pacto com Leo (Robert Prosky), chefe do crime organizado, e concorda em participar de um perigoso golpe, mas acaba envolvido em uma trama que coloca sua vida em risco.''


"Filme que já reúne todos os grandes elementos do cinema de Michael Mann, ao mesmo tempo perfeitamente instalado no universo do gênero policial e preenchido por uma atmosfera de melancolia singular e inquebrantável." (Daniel Dalpizzolo)

''Este aspecto de desencanto se apresenta em toda a obra de Mann. Em ''Profissão Ladrão'', um de seus primeiros filmes, James Caan é um dedicado especialista em roubo de jóias que resolve se aposentar e constituir uma família. Para o último grande golpe, ele se alinha a uma quadrilha que termina por aprisioná-lo numa estrutura de poder que põe em risco seu código de conduta. Profissão Ladrão é uma provocante aplicação de uma visão marxista à proposta de revisão de gênero: tudo gira em torno do trabalho, que constitui o objeto de estudo privilegiado da narrativa; a câmera se deixa hipnotizar por cada gesto que constitui o último grande assalto, uma longa seqüência em que vemos apenas a aplicação prática da elaborada técnica dos ladrões. A trama, por sua vez, se desenvolve rumo a uma vingança kamikaze de Caan contra os agentes da exploração de seu trabalho." (Fernando Verissimo)

1981 Palma de Cannes

Top Ação #44

Mann/Caan Productions

Diretor: Michael Mann

19.439 users / 2.459 face

8 Metacritic

Date 02/11/2014 Poster - #####

21. Movie 43 (2013)

R | 94 min | Comedy

18 Metascore

A series of interconnected short films follows a washed-up producer as he pitches insane story lines featuring some of the biggest stars in Hollywood.

Directors: Elizabeth Banks, Steven Brill, Steve Carr, Rusty Cundieff, James Duffy, Griffin Dunne, Peter Farrelly, Patrik Forsberg, Will Graham, James Gunn, Brett Ratner, Jonathan van Tulleken, Bob Odenkirk | Stars: Emma Stone, Stephen Merchant, Richard Gere, Liev Schreiber

Votes: 112,287 | Gross: $8.83M

[Mov 06 IMDB 4,4/10 {Video/@@} M/18

PARA MAIORES

(Movie 43, 2013)


"Humor escatalógico com elenco requintado tem [raros] momentos inspiradíssimos (a primeira gag é fenomenal), mas fora isso é uma bagunça dispensável." (Alexandre Koball)

"Se anteriormente os motivos para uma reunião de atores famosos no mesmo filme giravam em torno de datas comemorativas, cuja graça (ou falta dela) era ver suas tramas se conectarem em plenas metrópoles americanas, como em Idas e Vindas do Amor e Noite de Ano Novo, agora ela não é mais necessária. Desta vez, astros e estrelas de Hollywood estão envolvidos em pequenos curtas-metragens sem qualquer relação entre si, a não ser pelo fato de exibirem e abordarem obscenidades e escatologias bem além do suportável e recomendável, fazendo deste “Para Maiores” nada mais do que uma mancha eterna e desnecessária na carreira de alguns deles ou mais um fracasso no currículo de outros menos seletivos.Halle Berry, Anna Faris, Uma Thurman, Jason Sudeikes, Sean Williams Scott, Johnny Knoxville e Gerard Butler são alguns dos vários nomes reconhecidos mundo afora envolvidos neste vergonhoso projeto. Mas tudo estaria relativamente normal, já que escolhas ruins têm sido a tônica na carreira de todos os citados, se Liev Schreiber, Naomi Watts, Hugh Jackman, Richard Gere e até Kate Winslet (o que ganhar um Oscar não faz, hein?) não integrassem o filme. Juntos eles protagonizam uma série de esquetes cômicas, em sua maioria, mal contadas e de mau gosto, que bebem incessantemente da fonte do non-sense e que terminam subitamente ou cujo desfecho pode fazer os com estômagos mais sensíveis desejar vomitar. Iniciado com uma trama que mostra dois adolescentes e seu computador buscando armar uma pegadinha para uma nem tão ingênua criança, a película tenta encontrar um filão que una os curtas que virão adiante. Mas a fragilidade da história e o amadorismo da direção de Bob Odenkirk é tão notório que a necessidade de sua existência pode e deve ser questionada, piorando sua qualidade à medida que suas pretensões medonhas aumentam e uma respiração entre os segmentos se mostra essencial. Fingindo que compramos a justificativa oficial da existência de “Para Maiores”, passamos a acompanhar, então, um desfile de atores famosos em situações embaraçosas. As primeiras vítimas são ninguém menos que Kate Winslet e Hugh Jackman, que protagonizam uma história que mais parece saída de um filme dos irmãos Wayans. Algumas risadas de espanto podem acontecer, mas ao nos acostumarmos com a falta de limites dos curtas, elas vão cessando e cada vez mais se transformando em caretas de desconfiança, raramente gerando momentos hilários novamente. Não se espante, então, ao deparar-se com um conto amoroso celebrado a base de fezes, com pais beijando filhos ao ensinar-lhes como curtir a vida sem sair da própria casa ou gatos animados pervertidos masturbando-se com fotos de Josh Duhamel. Não falta também preconceito, com as mulheres sendo desrespeitadas em quase todas as tramas, mas especialmente no segmento iBabe, e com os negros, reduzidos a homens sem confiança, mas donos de dotes invejáveis, como mostra o segmento Victory’s Glory. Os melhores momentos do filme (o mais apropriado seria dizer menos ruins) acontecem quando os exageros são deixados de lado e um pouco de inteligência e humor negro são incluídos. Logo, ver a personagem de Chloe Grace Moretz ter de encarar a primeira menstruação na masculina casa do paquera de colégio soa como uma boa dose de inocência neste projeto sem escrúpulos. Também é inevitável não achar graça nas falsas publicidades Tampax e Machine Kids que trazem piadas eficientes e que ajudam a pontuar o longa-metragem com suas ainda mais curtas durações. Super-heróis desbocados e fadas pervertidas, porém, tratam de elevar novamente a péssima qualidade da película. Mais parecendo um programa humorístico super-produzido, mas de gosto duvidoso, “Para Maiores'' suja o nome ainda de seus roteiristas e diretores, dentre eles Peter Farrelly e Brett Ratner, bem como o de Elizabeth Banks, ainda em início de carreira na função. Soando muito mais como um projeto que tinha como objetivo fazer seus atores se divertirem durante as filmagens, o filme falha até em exibir tal fato, como tenta fazer em seus créditos finais. E ao final destes, a pergunta que fica é o que eu acabei de assistir?. Logo, passe longe, bem longe!" (Darlano Didimo)

"O ano mal começou, mas o posto de pior filme de 2013 já tem fortíssimo candidato. Ou teria, caso “Para maiores” pudesse ser considerado um filme. Produzido pela turma de Quem quer ficar com Mary e Débi & Lóide, dividido entre uma dúzia de diretores, como Peter Farrely (Passe Livre) e Steve Carr (Uma casa de pernas pro ar), e estrelado por nomes de ponta como Kate Winslet, Halle Berry, Naomi Watts, Richard Gere e muitos outros, “Movie 43” (no original) não passa de uma sucessão primária de pegadinhas constrangedoras alinhavadas por um fiapo de história envolvendo três adolescentes em busca de aberrações na internet. A colheita é farta, com ênfase em escatologia, bizarrices sexuais, comportamentos esdrúxulos e o que mais não se puder imaginar envolvendo adultos, crianças e super-heróis como marionetes de um quadro social agressivo e infantilizado.Alguns exemplos: Hugh Jackman (concorrendo a Oscar de melhor ator por Os miseráveis) tem testículos pendurados no pescoço e não está nem aí, digamos, para esta marca pessoal. Outro: uma namorada deseja uma suprema prova de amor do namorado, que ingere poderosos laxantes para lhe atender. E por aí vai, com apelações grotescas visando o riso do espectador. Quando se pensa que o calvário terminou, após uma lista de créditos intermináveis, surge o golpe final: um triângulo formado por um casal e um gato de animação, objeto de mil e uma utilidades para o rapaz. A única façanha deste não filme é o imenso desperdício de elenco, sabe-se lá por que motivos envolvido no projeto. E não vale a desculpa do politicamente incorreto. Trata-se apenas de mau gosto - sem atenuantes." (Susana Schild)

"Todos já sabem que os cineastas estão apelando e atirando para todos os lados, mas “Para Maiores” ultrapassa todos os limites que um filme exibido em cinema poderia ultrapassar. O filme é compostos de curtas, cada um como uma história mais louca o possível, desde o Hugh Jackman (vulgo Wolverine) com testículos no lugar do gogó, até Halle Berry (diversos personagens em A viagem / Tempestade na franquia X-men) introduzindo pimenta super forte na vagina. O filme tem como história base uma sátira à tão falada Deep Web. Para quem ainda não conhece, é um lugar da internet em que você pode comprar drogas, órgãos e crianças, além de contratar um assassino de aluguel ou mesmo ter acesso aos mais bizarros vídeos já feitos. E é justamente nessa última função da Deep Web em que se baseia o filme. Dois rapazes que resolvem fazer uma pegadinha com o irmão mais novo de um deles, o plano é ocupar o menino fazendo-o buscar um vídeo que não existe, na internet, para que o mais velho possa colocar diversos vírus no notebook do mais novo. Era para o filme 43 ser apenas uma invenção dos dois mais velhos, mas descobre-se que o filme de fato existe. Enquanto navega em diversos sites em busca do tal filme, o jovem hacker encontra os mais bizarros filmes já vistos. Incluído o que acredito ser uma menção a redublagem de antigos episódios de Batman." (EMJ)

Relativity Media Virgin Produced GreeneStreet Films Wessler Entertainment Witness Protection Films

Diretor: Elizabeth Banks Steven Brill Steve Carr Rusty Cundieff James Duffy Griffin Dunne Peter Farrelly Patrik Forsberg Will Graham James Gunn Brett Ratner Jonathan van Tulleke Bob Odenkirk

66.305 users / 23.513 face

Check-Ins 424

Date 23/12/2013 Poster - #

22. Petulia (1968)

R | 105 min | Drama, Romance

An unhappily married socialite finds solace in the company of a recently divorced doctor.

Director: Richard Lester | Stars: Julie Christie, George C. Scott, Richard Chamberlain, Arthur Hill

Votes: 3,411

[Mov 07 IMDB 7,1/10 {Video/@@@@}

PETÚLIA - UM DEMÔNIO DE MULHER

(Petulia, 1968)


''Baseado em romance de John Haase. Em uma festa de caridade, um jovem médico recém-divorciado conhece uma recém-casada jovem da alta sociedade e eles acabam se envolvendo." (Filmow)

''Antônio Gonçalves Filho me chamou agora na redação do Estado para dizer que está saindo em DVD um filme ‘da nossa juventude’. Perguntei qual, já que são tantos. É o Petúlia, do Richard Lester, lançado pela Magnus Opus. Lester foi aquele diretor que absorveu as lições de corte-e-montagem na célebre cena do assassinato na ducha em Psicose e inventou o videoclipe, ao fazer de Os Reis do Ié-Ié-Ié um falso documentário sobre um dia na vida de uma certa banda em Londres, em 1964, os Beatles – vocês já ouviram falar? (Brincadeirinha…) Na seqüência, Lester dirigiu de novo os Beatles em Socorro! e o filme é tão ‘desestruturado’ que o cineasta o dedicou ao inventor da máquina de costura. Seguiram-se A Bossa da Conquista, que ganhou a Palma de Ouro em 1965; Um Escravo das Arábias em Roma, com uma participação memorável de Buster Keaton; Como Ganhei a Guerra, com John Lennon, e só então, em 1968, Lester fez Petúlia, que no Brasil recebeu um acréscimo ao título original – ficou "Petúlia, Um Demônio de Mulher". Faz muito tempo que não revejo Petúlia, mas guardo a lembrança de um filme brilhante, que aplica a ‘descontinuidade (ou desestrutura) dos filmes com os Beatles a uma história sobre médico divorciado que se envolve com mulher complicada em São Francisco, nos loucos anos 60. Julie Christie faz a personagem-título, George C. Scott é o médico e Richard Chamberlain é o marido pirado da protagonista, mas quem rouba a cena, se a memória não me falha, é Shirley Knight. Lester foi decisivo na minha juventude e na de qualquer um que foi jovem, na época. Seu humor, sua irreverência tinham a cara dos anos 60, mas acho que foi nos 70 que ele fez seus melhores filmes. Acho Robin e Marian, com Sean Connery e Audrey Hepburn, sobre o herói que volta das Cruzadas e encontra a amada num convento, um dos filmes mais melancólicos que já vi. Há uma tristeza tão grande na história dos mitos que vão envelhecendo. Paradoxalmente, a Robin e Marian segue-se, na obra do diretor, A Juventude de Butch Cassidy, em que ele percorre o caminho inverso e conta a história dos verdes anos dos personagens interpretados por Paul Newman e Robert Redford no western de George Roy Hill, de 1970. Para concluir, lembro sempre da história que Joseph Losey contou a Tom Milne, no livro com a entrevista que deu ao crítico e historiador. Losey atravessava não sei que apuro durante a conclusão de Estranho Acidente, um de seus filmes escritos por Harold Pinter (com Dirk Bogarde, Stanley Baker, Jacqueline Sassard e Delphine Seyrig). Lester, gentilmente – e sem qualquer ônus, nem crédito –, fez a mixagem de som para ele, para ajudar numa obra que lhe parecia tão importante (e é). O artista a gente avalia pelos filmes. Essa história eu acho que revela o homem." Luiz Carlos Merten)

Petersham Pictures Warner Brothers/Seven Arts

Diretor: Richard Lester

1.745 users / 115 face

Soundtrack Rock = Janis Joplin and The Big Brother and the Holding Company + The Grateful Dead

Check-Ins 453

Date 02/03/2014 Poster - #####

23. Lilya 4-Ever (2002)

R | 109 min | Crime, Drama

83 Metascore

Sixteen-year-old Lilja and her only friend, the young boy Volodja, live in Russia, fantasizing about a better life. One day, Lilja falls in love with Andrej, who is going to Sweden, and invites Lilja to come along and start a new life.

Director: Lukas Moodysson | Stars: Oksana Akinshina, Artyom Bogucharskiy, Pavel Ponomaryov, Lyubov Agapova

Votes: 49,380 | Gross: $0.18M

{Video} M/82

PARA SEMPRE LILYA

(Lilja 4-ever, 2002)


''Lilya (Oksana Akinshina) tem 16 anos e vive em um subúrbio pobre, em algum lugar da antiga União Soviética. Sua mãe mudou-se para os Estados Unidos, com seu novo marido, e Lilya espera que ela lhe envie algum dinheiro. Após algum tempo sem receber notícias nem qualquer quantia dela, Lilya é obrigada a se mudar para um pequeno apartamento, que não possui luz nem aquecimento. Desesperada, ela recebe o apoio de Volodya (Artyom Bogucharsky), um garoto de apenas 11 anos que de vez em quando dorme no sofá de Lilya. A situação muda quando Lilya se apaixona por Andrei (Pavel Ponomaryov), que a convida para iniciar uma nova vida na Suécia. Apesar da desconfiança de Volodya, Lilya aceita o convite e viaja com Andrei.'' (Filmow)

''Chega ao Brasil mais um filme do sueco Lukas Moodysson. ''Para Sempre Lilya'' não é seu filme mais recente, mas com certeza irá tocar mais o público. Recentemente, o polêmico diretor chocou a platéia no Festival do Rio 2004 com Um Vazio no Meu Coração. A produção era tão bizarra que nos pontos de venda dos ingressos e nos cinemas programados para exibi-lo, havia (pasme!) cartazes com avisos para os espectadores mais distraídos. Em Para sempre Lilya, vencedor de diversos prêmios, o tema abordado também é polêmico, mas dessa vez Lukas preferiu não ser explícito e com isso conseguiu atingir os espectadores. É impossível sair da sessão sem pensar ou falar sobre a produção. Nas primeiras cenas acompanhamos uma jovem perturbada e com hematomas correndo por entre automóveis. Ela pára em cima de um viaduto com a nítida idéia de que irá se jogar. Acontece um corte e o filme volta três meses e assim começamos a descobrir os motivos que levaram aquela moça a tamanho desespero. Ela é Lilya, uma jovem de 16 anos que mora num pobre e melancólico subúrbio em algum lugar da antiga União Soviética. Sua mãe se mudou para os Estados Unidos com o novo marido e Lilya espera que ela lhe mande dinheiro para viajar ao seu encontro. Quando não recebe nem cartas nem o dinheiro, fica claro que Lilya foi abandonada. Ela é obrigada a se mudar para um minúsculo apartamento sem luz ou aquecimento. Desiludida e sem dinheiro, a jovem se desespera. Seu único amigo é Volodya, um garoto de apenas 11 anos de idade que volta e meia dorme em seu sofá. Ela, então, conhece e se apaixona por Andrei, que a chama para começarem juntos uma nova vida na Suécia. Volodya desconfia que tudo acontece rápido demais, mas Lilya viaja mesmo assim. Lukas posiciona a câmera de tal forma que sofremos todas as dificuldades ao lado da protagonista, mesmo não vendo as cenas. Tudo é feito implicitamente, mas de forma tão poderosa que comprova que a sugestão atinge mais que a imagem explicita. O sofrimento de Lilya é marcado por estupro, prostituição e violência. Oksana Akinshina no papel principal consegue uma interpretação digna de um Oscar. Artyom Bogucharsky também não fica muito atrás como Volodya. A história relata que pais negligentes e instituições governamentais de auxílio ao menor são os verdadeiros responsáveis pela situação de Lilya e, claro, de milhares de outros jovens. O espectador tem a certeza que o mundo é cruel e que é habitado por homens e mulheres repugnantes. As crianças que existem são as vítimas dessa maldade. Não há momentos de redenção ou personagens ambivalentes. Mesmo sendo tosco, em certas cenas Lukas cria imagens de pura emoção. Ele começou sua carreira como poeta e utiliza esse formato para construir seqüências artísticas misturando sonho com realidade. Em uma das seqüências mais belas vemos Lilya e Volodya retratados com asas de anjos num paraíso perpétuo. Com isso apresenta que a vida é o inferno e o paraíso é a liberdade. O filme abre e fecha com Mein Herz Brennt (My Heart is Burning), uma canção poderosa da banda Rammstein. Com isso aprendemos que dissonância em vez de harmonia é o tema predominante e que bonecas, lápis de cor e bichos de pelúcia não farão parte da vida dessas crianças. A música é utilizada como uma intensificadora dessa característica durante o filme. Como sempre as produções de Lukas Moodysson são atreladas com algum tipo de mensagem. No caso de Para sempre Lilya é dedicado às crianças que são envolvidas no tráfico sexual escravo. Às vezes até parece um documentário pelo crescimento dessa prática na Suécia, já que a legislação de lá só considera ilegal comprar sexo e não vender. Jovens russas e dos países bálticos viajam para a Suécia com passaportes falsos e promessas de casamento e trabalho, mas acabam encontrando seus piores pesadelos. Percebemos essa ênfase no filme quando os clientes de Lilya são filmados esbaforidos e em close no momento do coito. Parece um espelho da forma como a prostituição é encarada na Suécia. Há também uma denúncia de que a globalização nos levou a um apetite frenético por mercadorias e comodidades, enquanto milhões de pessoas são abandonadas a uma existência amarga, em que as crianças são as vítimas mais vulneráveis. Os valores norte-americanos continuam sendo as maiores influências no planeta. Nos poucos momentos de alegria de Lilya, ela sonha em morar na América, conta com orgulho que nasceu no mesmo dia que a cantora Britney Spears e sua felicidade reside em lanchar no McDonalds. É triste, mas infelizmente é a realidade atual." (Mario “Fanaticc” Abbade)

Top Dinamarca #19 Top Suécia #42

Date 11/01/2015 Poster - ########

24. Final Destination 3 (2006)

R | 93 min | Horror, Thriller

43 Metascore

Wendy Christensen and a group of teens who escaped a fatal roller-coaster crash face a bloody date with Death.

Director: James Wong | Stars: Mary Elizabeth Winstead, Ryan Merriman, Kris Lemche, Alexz Johnson

Votes: 153,698 | Gross: $54.10M

[Mov 03 IMDB 5,8/10 {Video/@@@} M/41

PREMONIÇÃO 3

(Final Destination 5, 2011)


"Mary Elizabeth Winstead (*__*) e uma brincadeirinha aqui e outra acolá." (David Campos)

"Merece créditos por tentar trazer alguma novidade para uma fórmula já visivelmente desgastada, embora essa própria novidade seja um tanto difícil de engolir. Algumas mortes também soam forçadas, embora outras sejam deliciosamente divertidas." (Rafael W. Oliveira)

Mesmo que não tenha sido prevista uma trilogia, o terceiro filme da franquia chega aos cinemas.

"Vamos ser francos: uma pessoa que vai ao cinema assistir à segunda seqüência do relativo sucesso Premonição está esperando o quê? Mortes, engenhosas mortes, nada de diálogos inspirados, atores competentes ou direção inteligente, certo? Se a resposta for sim, esta pessoa tem grandes chances de se divertir, mesmo que as mortes sejam mais atamancadas que as dos dois primeiros. Agora, se a resposta for negativa, é bom passar bem, mas bem longe desse filme. Se no primeiro filme o estopim da trama era um acidente de avião e, no segundo, um acidente rodoviário, neste é uma montanha-russa que desencadeia a ação. Sem Devon Sawa e Ali Larter, devidamente exterminados pela Dona Morte nos anteriores, é a desconhecida Mary Elizabeth Winstead quem vai confrontá-la dessa vez. Seguindo novamente o esquema narrativo dos anteriores, ela tem a premonição, salva alguns amigos, para depois ocorrer o acidente. Mas como todo mundo sabe, Dona Morte nunca é ludibriada e vai atrás dos sobreviventes. O que mais impressiona nessa franquia é que a cada exemplar as mortes vão ficando gradativamente mais explícitas e chocantes. Portanto, espere tripas expostas, corpos mutilados e sangue, muito sangue. Afinal, não é importante quem, e sim como determinado personagem vai morrer. Infelizmente, o maquinismo que tanto funcionava nos anteriores aqui é meio capenga. O roteiro até tenta disfarçar isso instigando o espectador a tirar conclusões errôneas, como sugerir que um personagem vá morrer, quando na verdade algum outro próximo é quem bate as botas. Mas fica bastante claro que as idéias não foram tão férteis dessa vez. Por isso mesmo algumas cenas soam mais cômicas que assustadoras. Uma destas, envolvendo cabines de bronzeamento (não estou contando nada de mais, afinal logo no início desta já se adivinha o desfecho), parece saída diretamente de um filme trash qualquer. Ao som de uma música cuja tradução seria Montanha-Russa do Amor, patricinhas nuas e siliconadas são fritadas literalmente. Para uma pessoa com um mínimo de intelecto, o mais difícil de agüentar – tirando as mortes, claro, para quem tem estômago fraco - é ouvir as verdadeiras pérolas que os personagens vão soltando ao longo da projeção. Ainda no início a personagem principal solta um ‘É frio e assustador’ sobre seus pressentimentos (claro que emoldurado por ventos estranhos, folhas voando e velas se apagando), culminando com um Eu não morrerei! proferido por um personagem que é limado logo depois. O ator que o interpreta, um tal de Texas Battle (!), não seria aceito nem no elenco de Malhação, definitivamente. Mas nenhuma frase supera o que um dos protagonistas diz ao se dar conta da situação: É bom fazer algo pelos amigos. Tentando trapacear os espectadores assim como os personagens em relação a morte, o roteiro escrito por Glen Morgan (do bizarro A Vingança de Willard) e pelo criador da série James Wong (que dirigiu este e o primeiro da série) não se furta de soltar informações desencontradas – aliás, nada mais sem nexo que a (falta de) lógica no encadeamento das mortes. Sem nexo também a relação dessas com as tais fotos digitais que a protagonista descobre ser uma espécie de pista sobre como os fatos se sucederão, ou os letreiros do parque formando avisos. Esse filme, na verdade, não forma um conjunto homogêneo com os anteriores. Duvido muito que a intenção original dos criadores fosse criar uma trilogia (ou mais continuações, mesmo que esse não deixe ganchos para um posterior), até porque ninguém esperava que o primeiro fosse fazer algum sucesso. Mesmo assim, um dos personagens faz a conexão com os anteriores, que se tornou uma saída para os roteiristas deixarem a par os protagonistas do que está para acontecer – mesmo que os espectadores já saibam disso." (Andy Malafaya)

''De todas as franquias de suspense adolescente que existem, Premonição é uma das minhas preferidas. Ela funciona como um álbum de figurinhas em que a surpresa de cada pacotinho é uma morte estapafúrdia diferente. O grande mérito da série é assumir-se como uma bobagem divertida de humor negro e não tentar tornar-se mais inteligente, apenas mais criativa - o que dá a ela um certo status de Filme B. Isso é basicamente tudo o que existe para falar do filme, mas como eu tenho um mínimo de parágrafos pra escrever aqui, preciso encher um pouco de lingüiça (no espírito do suspense, também assuma este texto como um artigo dispensável e divertido já que do tema não vai sair nenhuma obra de arte). A história de "Premonição 3" (Final destination 3 - quantos destinos finais podem existir?) é a mesma - mesmíssima - dos filmes anteriores. O roteirista e o diretor do original, Glen Morgan e James Wong, retornam ao comando da franquia e deixam tudo do jeitinho que estava. No mote da série, um jovem qualquer tem uma premonição de morte e impede que seus amigos sigam no que estava fazendo. Mas a morte não pode ser enganada e todos começam a morrer exatamente na ordem que empacotariam se não tivessem sido interrompidos. Desta vez a sortuda é Wendy Christensen (Mary Elizabeth Winstead), que vê ela e seus amigos morrendo num terrível acidente de montanha-russa de parque de diversões, gerado por uma série de coincidências bizarras (eu já tive uma dessas, mas a minha foi ativada por um sujeito com uma marreta dando porradas numa engrenagem de uma roda gigante. Achei melhor não entrar, mas a premonição era furada. O marreteiro era bom e arrumou o brinquedo. Ninguém morreu. Ainda). Ao tirar seus amigos do destino fatal, Wendy e alguns outros, incluindo seu colega de classe Kevin (Ryan Merriman), forçam o destino a agir contra eles. Todos os sobreviventes devem morrer... e cabe aos dois amigos descobrirem pistas que os levem à próxima vítima. Se conseguirem parar o processo, serão salvos. As mortes são tão morbidamente bacanas quanto às dos primeiros filmes e outras produções que têm a encapuçada esquelética e sua foice como tema, como as finadas (ah, a infâmia) Dead like me e A sete palmos. Mas uma é particularmente apetitosa aos fãs: a seqüência em que duas patricinhas estúpidas passam do ponto numa máquina de bronzeamento artificial e transformam-se em torradas. Essa aí vale o filme e parece muito mais bizarra que a cena da montanha-russa descarrilada, que é um tanto inferior às cenas iniciais de Premonição 1 (o avião - memorável) e 2 (o realista acidente rodoviário). Mas se é tudo igualzinho aos longas passados, por que conferi-lo? Pra colecionar as figurinhas, claro. Ou você gosta de largar álbum pela metade?" (Erico Borgo)

''O diretor James Wong, responsável pelo primeiro filme, volta ao comando da franquia neste “Premonição 3'', também como co-autor do roteiro. Mesmo sem poder contar com a ajuda do fator surpresa, esta seqüência tem o mérito de manter o ritmo e o suspense que garantiram o sucesso das duas produções anteriores. A história começa com as festividades de um grupo de formandos em um parque de diversões. Como em todos os filmes da série, um engenhoso desastre – neste caso numa montanha-russa - irá interferir no destino de parte dos jovens, mas alguns deles conseguirão escapar vivos (pelo menos temporariamente) graças à premonição da estudante Wendy (Mary Elizabeth Winstead, de O Chamado 2 e Super Escola de Heróis). A partir daí, o filme segue em ritmo acelerado, enquanto os jovens, agora perseguidos por uma espécie de ajuste de contas da morte, tentam escapar de novos acidentes. Para inovar no suspense, os roteiristas decidiram incluir na história pistas das próximas mortes em uma série de fotos digitais que a protagonista tira do grupo no parque. As fotos digitais foram inseridas no roteiro para dar ao público a oportunidade de interpretar as pistas junto com os protagonistas e tentar descobrir quem será o próximo a morrer. À medida que vamos para uma nova seqüência, o público é armado com um punhado de pistas para que possa se envolver de uma forma que não era possível nos dois primeiros filmes. A estratégia funciona em partes, já que alguns acidentes são por demais mirabolantes, impossibilitando que o público desempenhe a contento sua função Sherlock Holmes. Mas o conjunto da obra garante um bom entretenimento. Detalhe: apesar de ser eficiente, o desastre na montanha-russa não é tão impressionante quanto o do avião e o do engavetamento na estrada, dos filmes anteriores. No final, um outro acidente de grandes proporções acontece, contrabalançando a favor desta seqüência." (Edson Barros)

''Imagine a seguinte situação: um sujeito transitando desatento em frente à sua residência deixa cair um bilhete de loteria que, graças à ação do vento, entra pela janela e pousa em seu colo. Suponha ainda que, nesse mesmo dia, o sorteio do tal concurso seja realizado e você acaba sendo premiado com uma pequena fortuna. Para completar, imagine que os números contidos nesse bilhete são sequenciados, algo como 01 - 02 - 03 - 04 - 05 - 06. Agora responda: quais são as chances de essa série de eventos ocorrer com você? Ora, correntes de vento de fato conseguem elevar objetos leves a alturas razoáveis, ao passo que números sequenciados têm exatamente a mesma probabilidade de serem sorteados que qualquer outra combinação - e, por isso, a resposta correta para a pergunta é: as chances de tudo isso ocorrer são mínimas - mas repare, elas existem. Caos, desordem, entropia ou qualquer que seja a terminologia utilizada caracterizam o princípio da improbabilidade de eventos favoráveis consecutivos acontecerem ao acaso - ou no caso da franquia Premonição, eventos bastante desfavoráveis. Após as premonições que evitaram mortes na explosão de um avião no primeiro filme e em um acidente rodoviário no segundo, agora vemos a colegial Wendy (Mary Elizabeth Winstead) prevendo um acidente fatal na montanha-russa de um parque de diversões segundos antes de ela mesma partir para uma volta na atração. Apavorada com o realismo da visão, a garota consegue sair do carrinho antes que este deixe a estação e, na confusão, faz com que uma série de amigos também abandonem o brinquedo - que acaba de fato descarrilando e matando alguns de seus colegas, inclusive seu namorado Jason (Moss). Porém, quando duas colegas salvas do acidente acabam falecendo dias depois sob misteriosas circunstâncias, Wendy e o amigo Kevin (Merriman) passam a desconfiar que suas vidas correm risco, já que teriam atrapalhado o plano da Morte e esta cedo ou tarde retornaria para concluir o serviço inacabado. Depois de introduzir o conceito com base no suspense no primeiro filme e explorar o potencial cômico das mortes elaborados no segundo, a franquia finalmente acha o tom ideal nessa terceira parte que, assim como o ótimo Zumbilândia, estabelece um parque de diversões como o cerne de sua trama, num indicativo claro de que, em ambos os filmes, a diversão será a válvula de escape para o suspense. Por isso, por mais fúnebre que possam ser, as mortes vistas aqui não deixam de ter um viés cômico, graças a uma ponta de exagero que encontra equilíbrio no eficiente clima de suspense desenvolvido no restante da projeção. Por outro lado, é admirável que, excetuando uma ou outra ventania, luz piscante ou interferência eletromagnética, boa parte dos eventos que precedem as mortes dos personagens são consequência não exatamente de um plano ambicioso e complexo de uma entidade maligna, mas sim de diversas atitudes displicentes e irresponsáveis tomados pelas vítimas, que assumem a todo momento uma série de riscos - como o desprezo por regras das garotas e do funcionário na clínica de bronzeamento artificial, os precários padrões de segurança do show de fogos de artifício ou o comportamento desleixado dos personagens em um depósito de materiais de construção. Dessa forma, ''Premonição 3'' é um filme que se diverte explorando até as últimas consequências todas aquelas chances remotas citadas no primeiro parágrafo já que, em última instância, não há indícios concretos de participação de entidades paranormais nas mortes de seus personagens. E esse é um dos grandes méritos dos realizadores, que concebem com competência e riqueza de detalhes os ambientes e as circunstâncias em que as mortes ocorrem, tonando ainda mais interessante, dinâmico e intrigante o conceito introduzido a respeito da possibilidade de prever através de fotografias os causas mortis. E já que toquei nesse assunto, é importante ressaltar que, ainda que ligeiramente episódicos, os óbitos desse exemplar não ferem nenhuma lógica e soam naturais dentro dos limites cabíveis, o que é extremamente positivo e surpreendente para uma franquia como essa. Nesse sentido, o retorno de James Wong (do Premonição original) se revela uma grata surpresa, já que o diretor consegue, com o auxílio do montador Chris Willingham, criar o clima de inquietação através de diversos planos-detalhe em objetos supostamente perigosos que, em última análise, representam muito mais a paranóia de seus personagens (e naturalmente, a nossa também) do que ameaças reais - e de fato, apenas como exemplo, nenhum evento anterior ao embarque na montanha-russa apresenta algum caráter realmente macabro, mas a sensação é transmitida graças à trilha sonora de suspense, à crescente inquietação de Wendy e ao fato de termos consciência de estar assistindo a mais um filme da série Premonição. Pecando apenas nos efeitos especiais deficitários e em certas inconsistências narrativas oriundas de uma estrutura fechada e limitada, ''Premonição 3'' é um esforço bem sucedido para dar uma cara nova e definitiva à franquia, resultado de uma acertada lapidação do que já tinha sido testado nos dois primeiros filmes. É uma pena, portanto, que necessidades comerciais hollywoodianas enxerguem no "modo Jogos Mortais de se fazer filmes" uma mina de ouro. Vide Premonição 4." (Eduardo Monteiro)

New Line Cinema Hard Eight Pictures Kumar Mobiliengesellschaft mbH & Co. Projekt Nr. 1 KG (in association with) Matinee Pictures Practical Pictures Zide-Perry Productions

Diretor: James Wong

88.174 users / 1.701 face

Soundtrack Rock = The Sounds + Ohio Players + The Lettermen + Hed Planet Earth

Check-Ins 473

Date 28/02/2014 Poster - #

25. Pieta (2012)

Not Rated | 103 min | Crime, Drama, Thriller

72 Metascore

A loan shark is forced to reconsider his violent lifestyle after the arrival of a mysterious woman claiming to be his long-lost mother.

Director: Kim Ki-duk | Stars: Jo Min-soo, Lee Jung-Jin, Woo Ki-hong, Eunjin Kang

Votes: 15,764 | Gross: $0.02M

{Video/@} M/72

PIETA

(Pietà, 2012)


"Do mistério de seus primeiros filmes, Kim Ki-Duk se transformou no cineasta da violência e polêmica gratuitas, uma espécie de mistura entre Miike e Kitano, mas sem o talento destes dois. Pietá pode ter ganho Veneza, mas é bem mais vazio do que aparenta." (Régis Trigo)

"Diretor desmistifica o milagre econômico coreano nessa fábula macabra, desnecessariamente violenta e politicamente questionável. Ki-duk Kim não é adepto a sutilezas nem a nuances: quer mesmo é chocar, o que diminui um pouco seus filmes." (Demetrius Caesar)

A tragédia solitária sul-coreana.

''Como nos seus dois filmes mais conhecidos – os clássicos recentes Casa Vazia e Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera – Duk conta a história de um indivíduo solitário que passa por uma transformação ao encontrar alguém que catalisará numa série de eventos que lentamente o expulsarão de sua vida alienada. Se antes era um jovem arrombador à procura de um local para dormir que tinha sua rotina transformada ao encontrar uma mulher com quem se identificava ou então um jovem discípulo de um monastério que, ao conhecer uma mulher, conhecia toda a sorte de sentimentos que iam contra os ensinamentos de seu mestre, aqui conhecemos Gang-Do, um jovem que vive de cobrar de trabalhadores o dinheiro que eles emprestaram de um agiota. Sua cobrança é brutal e insensível: ele aleija pessoas com uma expressão vazia no rosto, para que o seguro pague as dívidas delas. O jovem, que vive da rotina violenta e de momentos de tédio onde na maior parte do tempo apenas come e se masturba de maneira silenciosa e algo desesperada, tem seu cotidiano interrompido pela misteriosa Mi-Son, uma mulher que diz ser sua mãe que o abandonou quando ele ainda era recém-nascido. Apesar da agressividade inicial – tanto pelo sentimento de dúvida quanto pelo posterior de raiva, Gang-Do acaba se afeiçoando pela mulher e querendo torna-la parte de seu cotidiano – e o problema, agora, é ver o feitiço virar contra o feiticeiro: após arruinar tantas famílias que caíram em desgraça por suas pedras fundamentais terem se tornado aleijados miseráveis, o mesmo agora tem que proteger sua mãe da vingança. Dessa forma, Gang-Do acaba conhecendo o peso dos seus atos violentos – o doloroso processo de humanização pelo qual passam todos os personagens da carreira do cineasta. É quase impossível entre ocidentais não associar o nome do filme diretamente com o tema Pietà da arte cristã, sendo a mais famosa a escultura de Michelangelo que reside no Vaticano; a representação de um Cristo morto nos braços da Virgem Maria encontra um paralelo quase perverso e para lá de psicologizado nesse filme sul-coreano. Não há o Cordeiro de Deus, mas um homem violento que procura pelos braços maternos a sua vida toda. Não há a Virgem Maria, a santa mãe dos cristãos, mas uma mulher covarde, confusa mas ao mesmo tempo obstinada pela redenção. Kim Ki Duk, para o bem e para o mal, encontrou uma maneira de filmar inconfundível: seu formalismo seco, trabalhando com uma paleta cromática dura e demarcada cria em conjunto com sua câmera tensa e inconstante uma atmosfera personalíssima, claustrofóbica e quase irrespirável, se valendo tanto de planos parados que apostam em uma composição simples mas extremamente pensada de dois ou três elementos proporcionais marcantes quanto de uma movimentação de eixo errada para os padrões clássicos, quase feia, mas que, em muitos momentos, reforçam visualmente a tensão psicológica que emana de seus personagens – sempre de maneira expansiva, como manda a escola de atuação coreana. Sem muitos filtros ou grandes efeitos, a violência de Duk é maltratada, praticamente anti-estilizada: os estragos físicos só são vistos por detalhes ou por conseqüência, mas o ato violento é sempre filmado de maneira direta, sem cortes ou alteração na velocidade da filmagem que valorizem cada ação: como a violência real a qual pouco nos acostumamos, ela é repentina, explosiva, surge do silêncio e some em um outro instante. Essa compreensão da violência como um ato gratuito em sua existência mais profunda é o que torna Duk – e tantos de seus compatriotas – diretores tão impactantes no trato dado a ela. Mas talvez, assim como acontece no cinema de Chan-Wook Park, essa maneira tão única de se filmar também tem seu lado negativo: se o formalismo direto e agressivo é sempre o mesmo, há também o risco do conformismo estético-narrativo. Os filmes de Kim Ki-Duk, com o passar do tempo, apresentam cada vez mais como maior ponto fraco a sensação de homogeneidade. Não a homogeneidade que sabe se manter heterogênea, de diretores como Brian De Palma ou John Carpenter ou mesmo o conterrâneo de Duk e Park, Bong Joon-Ho, que sempre souberam se renovar mesmo sempre filmando temas muito parecidos; Duk padece da sensação samba de uma nota só. Assistir seus filmes isoladamente talvez seja mais interessante do que acompanhar sua carreira como diretor, que não de hoje vem apresentando desgastes por uma excessiva repetição. Claro que o filme passa longe de ser ruim – ainda que não seja das melhores obras do diretor, continua sendo, no mínimo, uma experiência impactante mesmo que o seu ato final descambe para uma melodramática e até desnecessária história de vingança que traía um filme tão interessante – onde o rito de humanização de Gang-Do se dá através de um estupro incestuoso; a violência, como princípio alienante, isola seus indivíduos do resto do mundo e essa é uma desgraça recorrente no universo do cinema coreano, tanto do icônico vingador Oh Dae Su de Oldboy ou do seu companheiro de desgraça mais desconhecido Soo-Hyun, de Eu Vi o Diabo; é justamente essa ultraviolência tanto o catalisador da desgraça e da solidão de seus personagens quanto sua única maneira de se revoltar, expressar seus medos, angústias e carências. Não é de hoje que o cinema da Coréia do Sul marca presença, praticamente todo ano com uma obra notável, como um dos mais interessantes estética e narrativamente surgidos nesse início de século. Pietá talvez não seja um dos seus melhores exemplares, mas só reafirma esse grupo de realizadores como singulares e únicos na abordagem tanto temática – vingança, violência e amor são um trinômio constante e desesperado desses filmes – os modos singulares que essas histórias foram narradas já se tornaram até um padrão qualitativo no inconsciente popular. E Duk, um dos primeiros da leva, ainda se mantém em forma – Pietá ganhou o Leão de Ouro como outro atestado inegável de uma leva de filmes que, daqui a poucas décadas, serão lembrados como uma das grandes gerações do cinema recente." (Bernardo D.I. Brum)

''Como às vítimas da moda, o impulso do espectador de cinema mais informado de consumir tudo que se destaca nas passarelas dos grandes festivais costuma provocar congestões estéticas. O caso do cineasta coreano Kim Ki-duk é exemplar. Depois de obter espaço com as "transgressões" de "A Ilha", a cada filme seguinte conquistou prêmios com uma mistura de exotismo oriental e efeitos de profundidade. Em "Pietá", inexplicável Leão de Ouro no último Festival de Veneza, Kim combina o tema da vingança e overdoses de violência com uma pretensiosa releitura do imaginário e da moral cristãos. Um jovem solitário vive de brutalizar excluídos, atuando como cobrador de dívidas e, literalmente, arrancando pedaços dos inadimplentes. A chegada de uma senhora que diz ser sua mãe introduz em seu cotidiano uma afeto que ele primeiro recusa, mas de que torna-se dependente. Esse impacto da mudança na rotina de indivíduos é um tema comum do cineasta. Em "Pietá", contudo, Kim se desfaz do abrigo da subjetividade, que mal ou bem sempre ofereceu proteção a seu cinema, para se arriscar numa cruzada contra os malefícios da ordem capitalista. O que é o dinheiro? O começo e o fim de todas as coisas, diz um personagem. Com esse discurso, feito para encontrar a receptividade de quem crê no poder da indignação, "Pietá" busca ocupar um nicho de mercado. Não parece bastante. É preciso explorar a violência como forma de provocar incômodo e inserir um verniz psicanalítico para denotar inteligência. O que se consegue de fato é gerar uma sensação equivalente à indigestão." (Cassio Starling Carlos)

2012 Lion Veneza

Top Coréia do Sul #32

Date 12/02/2015 Poster - ####

26. Pompeii (I) (2014)

PG-13 | 105 min | Action, Adventure, Drama

41 Metascore

A slave-turned-gladiator finds himself in a race against time to save his true love, who has been betrothed to a corrupt Roman Senator. As Mount Vesuvius erupts, he must fight to save his beloved as Pompeii crumbles around him.

Director: Paul W.S. Anderson | Stars: Kit Harington, Emily Browning, Kiefer Sutherland, Adewale Akinnuoye-Agbaje

Votes: 116,625 | Gross: $23.22M

{Video/@@@@} M/39

POMPEIA

(Pompeii, 2014)


"Como um Gladiador/Ben-Hur de baixo orçamento, Pompeia se sai muito bem, considerando-se que abusa (e depende) de estereótipos e clichês do gênero aventura para avançar em sua ponta de enredo." (Alexandre Koball)

Arena e vulcão.

"Há filmes que se destacam pelo que sabiamente evitam. ''Pompeia'' é livre da grandiloquência que esperaríamos de um Ridley Scott em suas investidas nos épicos similares. E suas sequências de combates dos gladiadores e entre romanos e bárbaros transformados em escravos, apesar de sanguinolentas, tampouco remetem ao jeito MMA em voga no novo marco civilizatório dos esportes nesses nossos tempos (e cujo alcance é refletido em filmes ou séries abjetas de TV como a Spartacus: Blood and Sand). As consequências podem ser medidas tanto na rejeição de um público que sente falta desses elementos há muito transformados em vícios de linguagem, acusando o filme de Paul W.S. Anderson de insuficiência, como no louvor de uma parcela de críticos e espectadores que distinguem obsessões estéticas recorrentes na filmografia do realizador. Há um cuidado suficiente de produção e efeitos visuais para que Pompeia passe longe de ser visto como trash (acusação a que nenhum detrator seu chegaria), e ao mesmo tempo o emprego natural das tendências de Anderson em lidar com o cinema de gênero e filmar a vulgaridade com a ideia que o diretor tem de elegância. Ainda assim, é um reconhecimento um tanto duvidoso, como se estivéssemos elogiando um individuo por ele saber o que está colocando em prática, por não tropeçar nos próprios cadarços. Longe de um típico filme histórico, com algum espaço à intriga política e o contexto apenas o suficiente para nos localizarmos na Pompéia do século I d.C. em que o escravo celta Milo (Kit Harington) é feito gladiador e a nobre Flavia (Emily Browning) é prometida pelo seu pai a um senador romano (Kiefer Sutherland) para que este invista na arena de gladiadores da cidade. Tudo é resumido ligeiramente como numa graphic novel, com uma preocupação maior para em tomadas diversas, muitas delas aéreas, visualizarmos como o imaginário de uma cidade perdida reconstruída pela nossa época, e as distâncias entre os locais em que transcorrem as ações. Por outro lado, há figuras que parecem retiradas de personagens idênticos de Peter Ustinov e Woody Strode em Spartacus (idem, 1960), como o gladiador negro que divide a mesma cela com o protagonista com o qual poderá lutar até tornarem-se amigos. ''Pompeia'' se mantém razoavelmente forte em dois arcos dramáticos principais, os dos combates na arena e a explosão do vulcão perto do final, e a passagens de um para o outro garante o reforço de nossa atenção. Acostumado a realizar adaptações mais ou menos dentro de sua visão particular de cinema em cima de festejados jogos de videogame, Anderson utiliza tanto as cenas de lutas quanto as de fuga e desespero pela sobrevivência provocada pelas larvas jogadas pelo vulcão para transformar suas figuras em personagens de um jogo, onde o essencial é resistir e passar de fase, ainda que fugindo sempre da estética visual ofensiva aos não-adeptos de games convertidos em cinema. O romance em ''Pompeia'' é um de seus elos ruins, e com ele Anderson não perde tanto tempo, servindo apenas para reforçar o drama pelo prenúncio da morte iminente com a erupção do vulcão. Muito filme B e de gênero resistiu bem a atores fracos, no entanto os que interpretam aqui o casal principal são de uma inexpressividade que anula a possibilidade de os vermos como figuras especiais. O fogo vindo do alto do Vesúvio como se proveniente do céu atingindo e incendiando os corpos, estatuas de pedras e os locais de um mundo prestes a ruir injetam fortes cargas de adrenalina O melhor é a sensação experimentada em ter visto um museu histórico cuidadosamente erigido para vê-lo desabar logo após. É o velho filme de catástrofe que irresistivelmente nos prende, mas de efeito com prazo de validade expirado pouco depois do seu fim. Tudo se desvanece, sem que nos instigue o retorno ao objeto conhecido. Experiência longe do memorável." (Vlademir Lazo)

''Os filmes que têm grandes desastres como focos de suas tramas não são exatamente novidades. Apenas para citar um exemplo contemporâneo, o diretor Rolland Emmerich fez sua carreira justamente com este gênero, que é deveras popular. Há um estranho canto das mentes humanas que gosta de ver o fim de tudo. Melhor ainda quando existe alguma veracidade no fato, por menor que seja a verossimilhança do resultado final. Dirigido por Paul W.S. Anderson, “Pompeia” pega como mote a destruição da cidade-título, que ocorreu com a erupção vulcânica do monte Vesúvio na segunda metade do século I. Como o mero espetáculo pirotécnico não é o suficiente para um longa, o roteiro do casal Lee Batchler e Janet Scott Batchler (Batman Eternamente) e Michael Robert Johnson (Sherlock Holmes) ainda encaixam – ou ao menos tentam fazê-lo – lutas de gladiadores, busca por liberdade, crítica política e, obviamente, uma história de amor para enrolar o público até a devastação chegar. Não entendam mal, situações dramáticas são essenciais para os filmes-desastre. A força dramática da tragédia em si só existe se o público se importar com as vítimas/personagens. O plot principal, que é o amor proibido entre o escravo gladiador Milo (Kit Harrington) e a bela nobre Cássia (Emily Browning), jamais decola e muito disso deve-se à inexpressividade do casal principal. Harrington certamente foi escolhido por seu papel como o bastardo Jon Snow em Game of Thrones e o rapaz certamente tem o visual e a experiência para executar cenas de ação competentes, mas apresenta zero de química com Browning. A bela, por sua vez, tem um estilo de atuação mais introspectivo (vide Beleza Adormecida) que realmente não funciona aqui, resultando em uma participação apagada e sem paixão. Adewale Akinnuoye-Agbaje, o eterno Mr. Eko da série de TV Lost, oferece aqui sua imponente presença física como o parceiro de Milo, o gladiador Attico, que sonha com sua prometida liberdade. Carrie-Anne Moss e Jarred Harris, ambos praticamente em participações especiais, dão vida aos pais de Cássia, chantageados pelo cruel Senador Corvo (Kiefer Sutherland) para dar a mão da jovem em casamento para ele. O problema é que, mesmo tentando empurrar goela abaixo todo esse contexto no guião, o longa quase não dá motivos para que a audiência se importe com a sobrevivência e a felicidade dos heróis, embora até acerte em criar um vilão odioso com Sutherland, certamente a figura menos esquecível do elenco principal, a despeito do seu forçado e atroz sotaque britânico. Com seu carisma habitual e uma atuação que deixa claro que seu personagem é o mal encarnado desde o primeiro quadro em que aparece, Sutherland parece ser um dos únicos a entender que esse tipo de longa não necessita de sutileza nenhuma e que precisa apenas dar o mínimo de pano de fundo – leia-se, personagens minimamente interessantes – antes de partir para o que interessa, que é o caos destrutivo. E é aí que Anderson falha. Antes de chegar aos finalmentes, o diretor perde muito tempo com sequências de batalhas que, mesmo bem realizadas, não possuem qualquer força porque o público sabe o que está por vir, inclusive sendo disso pontualmente lembrado pelo próprio filme. Como vamos nos preocupar com o resultado de uma luta se, horas depois, bolas de fogo vão cair do céu e potencialmente matar todos os combatentes queimados? No terço final da projeção, quando finalmente o Vesúvio faz o seu trabalho, os efeitos são competentes, mas nada revolucionários, e as cenas de destruição se mostram um tanto quanto breves. Anderson, mesmo com algumas mudanças bruscas de foco, é um dos cineastas que melhor se utiliza do 3D e se aproveita dos ambientes e das partículas postas em movimento pela devastação para criar eficientes ilusões de profundidade. Quando todas as cinzas assentam e os créditos começam a rolar, uma pena que sintamos mais pela destruição dos belos cenários e figurinos que pelos destinos dos personagens em si. Nisso, “Pompeia” mais parece um espetáculo vazio que, ainda que visualmente eficiente, demora para começar e termina muito rápido." (Thiago Siqueira)

''Uma das maiores catástrofes naturais da história, a erupção do vulcão do Monte Vesúvio dissipou a população de Pompeia em 79 d.C. e espalhou uma nuvem de rochas, cinzas e fumaça a mais de 30 quilômetros de distância. Trata-se de uma passagem trágica. Se a boa intenção de Paul W. S. Anderson em recordar esse fato fosse mais dedicada ao evento em si, talvez seu longa Pompeia fosse um filme interessante, e não apenas o relato de um romance impossível entre menina rica e garoto pobre com uma catástrofe ao fundo. Inspirado na história da destruição de Pompeia, o filme começa relembrando passagens sobre a dominação dos povos celtas da Europa ocidental durante ascensão do Império Romano. Neste contexto, Milo é apenas um garoto quando vê sua família ser brutalmente assassinada pelo exército do senador Corvis, um ambicioso e sanguinário representante da dominação. Mais de quinze anos depois de vagar sozinho pelo mundo, é capturado como escravo e transformado em gladiador, que segue então a caminho de Pompeia, onde enfrentará novos e velhos inimigos e encontrará o amor. Originário de uma tribo cavaleira, Milo, com seus cabelos selvagens e olhos contemplativos, é um herói mais apático do que sua história promete. Mesmo nos pontos altos do filme, o gladiador celta de Kit Harington faz mais cara de coitadinho do que qualquer outra expressão que demonstre sua natureza revolucionária. Sua valentia não convence, e tampouco sua paixão pela bela Cassia, filha de um rico empreendedor de Pompeia com ambições comerciais. Embora a trama sobre um gladiador em busca de vingança e libertação, em tese, prometa batalhas repletas ação, o filme de Paul W. S. Anderson também não entrega boas cenas de luta. No coliseu de Pompeia, os lutadores repetem aqueles embates coreografados que ganharam fama no passado em filmes como Troia. Lembram dos saltos do Aquiles de Brad Pitt no emblemático confronto com seu inimigo Hector, vivido por Eric Bana? Eles também estão nas batalhas de Pompeia. Não são detalhes que prejudicam as cenas de luta, mas demonstram a falta de criatividade do diretor em elementos importantes da construção. Para seu público jovem, no entanto, talvez passe até desapercebido. A dimensão dos personagens do longa é outro ponto fraco do filme de Anderson, que aposta em clichês e exagera nas caricaturas. O núcleo familiar da jovem Cassia, por exemplo, reproduz um modelo bastante conhecido em Hollywood: pai (relativamente) justo e benevolente, mãe dedicada e compreensiva, bela e única filha pela qual mocinho e vilão irão travar sua guerra. Todos reféns de um sistema político que agregaria muito mais interesse à trama do que a simples relação entre garoto pobre e menina rica a que o filme se resume. Como o previsto, o clímax acontece durante a erupção do vulção, que cospe rochas e lava por toda a cidade e aniquila sua população gradualmente. A exibição em 3D pode melhorar a experiência, mas não representa nada visualmente muito expressivo. Com roteiro ingênuo e preguiçoso, Paul W. S. Anderson parece ter escolhido a maneira mais simples que podia para ambientar grandes fatos históricos: entregar uma trama romântica, uma porção de cenas manjadas de luta e atribuir o clímax do filme ao evento em si - neste caso, à própria erupção do vulcão do Monte Vesúvio. O resultado é um filme morno, com atuações pouco convincentes e caricaturas desnecessárias. Sem novidades. (Ana Carolina Addario)

Date 17/02/2015 Poster - ####

27. A Life Less Ordinary (1997)

R | 103 min | Comedy, Crime, Fantasy

37 Metascore

Upon being fired, a desperate guy kidnaps a daughter of his former boss. Two angels are sent to Earth to check if love is possible in this case.

Director: Danny Boyle | Stars: Cameron Diaz, Ewan McGregor, Holly Hunter, Delroy Lindo

Votes: 37,186 | Gross: $4.27M

[Mov 04 IMDB 6,4/10 {Video/@@@@} M/35

POR UMA VIDA MENOS ORDINÁRIA

(A Life Less Ordinary, 1997)


"Por um Filme Menos Ordinário." (Heitor Romero)

''Robert Lewis (Ewan McGregor) é um sujeito de pouca sorte. Desacreditado em suas tentativas de tornar-se escritor de um romance trash, ele, no mesmo dia, é abandonado pela namorada (que o deixa pelo professor de aeróbica) e demitido do emprego de faxineiro de uma empresa (sendo substituído por um robô). Indignado com sua situação desesperadora, ele invade o escritório de seu chefe e, ao perceber que nada fará o frio empresário mudar de ideia a respeito de sua dispensa, faz a única coisa que lhe passa na cabeça: sequestra sua filha, a dondoca Celine Naville (Cameron Diaz). A moça, revoltada com o fato de ser obrigada a trabalhar para pagar por seus luxos, une-se então a Robert para arrancar dinheiro de seu pai. O que os dois jovens nem de longe sonham, porém, é que dois anjos bastante atrapalhados - O'Reilly (Holly Hunter) e Jackson (Delroy Lindo) - tem a difícil missão de fazê-los se apaixonarem um pelo outro, para que não sejam obrigados a viver na Terra pra sempre.Com essa premissa de novela das sete, a dupla Danny Boyle (diretor) e John Hodge (roteirista) voltou às telas depois do estrondoso sucesso crítico de Trainspotting, que colocaram seus nomes no mapa da indústria hollywoodiana. Contando ainda com o ator Ewan McGregor (com quem haviam trabalhado ainda em "Cova rasa"), Boyle e Hodge experimentaram, para seu desgosto, o amargo sabor do fracasso. Ignorado pelo público e malhado pela crítica, "Por uma vida menos ordinária" nem de longe causou o mesmo impacto de seus trabalhos anteriores e, pior ainda, foi rechaçado até mesmo pelos fãs mais fiéis do time até então vencedor. Mas afinal de contas, a comédia romântica de Boyle mereceu todo essa vaia generalizada? É preciso saber se o público - e até mesmo a imprensa - entendeu a proposta do cineasta e seus fiéis asseclas. O que se pode esperar de uma comédia romântica cujos autores deram ao mundo um suspense recheado de humor negro e um drama sobre drogas que foi acusado de glamourizá-las? Obviamente não há, em "Por uma Vida Menos Ordinária'', cenas daqueles romances melosos que Hollywood costuma empurrar a plateias sedentas por escapismo sentimental. Quando acontece de falarem de amor, logo somos lembrados - pela trilha sonora propositalmente piegas ou pelos absurdos do roteiro - de que estamos diante de um filme que fala de amor, sim, mas da maneira menos convencional possível. Robert e Celine não formam um típico par romântico ele é quase um banana, capaz de desmaiar ao ver sangue, e ela é uma riquinha mimada cujo hobby é brincar de Guilherme Tell (mesmo que corra o risco de ferir o próprio ex-namorado). E o fato de estarem à mercê de dois anjos nada dados a sentimentalismos e capazes de violência física para atingir seus objetivos apenas reitera o tom de brincadeira absoluta. É preciso que se compre a proposta de Por uma vida menos ordinária. E o público, infelizmente, dessa vez não comprou. Logicamente nem tudo são flores... É necessário admitir que há muitos erros em "Por uma Vida Menos Ordinária", a começar pelo roteiro que, apesar de alguns bons momentos, não chega nem aos pés do brilhantismo de Trainspotting e Cova rasa. As personagens são mal delineadas (talvez de propósito, mas isso não fica exatamente claro) e certas situações não se desenvolvem a contento, dando a impressão de uma colagem de desventuras sem muita conexão. Mas Danny Boyle é visivelmente um diretor muito criativo e isso fica nítido em soluções visuais bastante interessantes, como o céu de um branco absoluto e na sequência musical em que Ewan McGregor e Cameron Diaz parecem se divertir a valer (McGregor inclusive voltaria a demonstrar seus dotes vocais nos filmes Velvet Goldmine e Moulin Rouge). Somados à atuação delirante de Holly Hunter (de longe a melhor coisa do filme) e à trilha sonora impecável (característica das obras do diretor), esses momentos de criatividade fazem do filme uma agradável experiência. Pode não ser um Danny Boyle dos melhores, mas está longe de ser um dos piores. E tem a simpatia contagiante de Ewan McGregor." (Clenio)

''Quando ''Por Uma Vida Menos Ordinária'' entrou em cartaz nos cinemas em 1997, provavelmente, não tinha o menor conhecimento de quem era Ewan McGregor ou Danny Boyle. Só mesmo depois de conferir o excelente suspense Cova Rasa que comecei a acompanhar a carreira de ambos. Cameron Diaz já tinha lugar cativo no meu coração (e olha que nem tinha feito Quem Vai Ficar com Mary? ainda). Sabem aqueles filmes praticamente impossíveis de alguém (principalmente os romanticos modernos) chegar e dizer que não suporta? Danny Boyle conseguiu a proeza com o seu ''Por Uma Vida Menos Ordinária'', que logo no começo já surpreende: um autêntico SAC divino atolado de tarefas e funcionários (e paredes) de branco. E o personagem de Ewan McGregor, um faxineiro sonhador, aparece explicando que a personagem principal do romance que está escrevendo é uma filha bastarda de Marilyn Monroe e John Kennedy. É a prova de que Danny Boyle e John Hodge (que também escreveu o roteiro em Cova Rasa, Trainspotting e A Praia) não perdem a oportunidade de usar e abusar de citações pop’s em suas obras. Não há duvidas de que Boyle criou um universo mágico para o romance entre dois personagens tão opostos: a ricaça sociopata e mimada e o faxineiro perdedor. Sem falar na dupla de cupidos que tem a missão de juntar o casal, custe o que custar. Apesar de não ter sido um sucesso de público e crítica, este é um dos meus filmes favoritos do diretor Danny Boyle. Além de mostrar Cameron Diaz em atuação inspirada. Muito bom! E são três caipirinhas!" (Tullio Dias)

Channel Four Films Figment Films Polygram Filmed Entertainment

Diretor: Danny Boyle

28.167 users / 768 face

Soundtrack Rock = The Supremes + Sneaker Pimps + Elastica + Underworld + Alabama 3 + The Shirelles + Beck + Orbital + The Prodigy + R.E.M. + Faithless + Ash + The Folk Implosion + The Cardigans + Elvis Presley + Squirrel Nut Zippers + Dusted + Gladys Knight + Luscious Jackson

Check-Ins 496

Date 25/03/2014 Poster - ###

28. Paradise Now (2005)

PG-13 | 91 min | Crime, Drama, Thriller

71 Metascore

Two childhood friends are recruited for a suicide bombing in Tel Aviv.

Director: Hany Abu-Assad | Stars: Kais Nashif, Ali Suliman, Lubna Azabal, Hamza Abu-Aiaash

Votes: 24,066 | Gross: $1.45M

[Mov 07 IMDB 7,5/10 {Video/@@@@} M/71

PARADISE NOW

(Paradise Now, 2005)


"A urgência dos conflitos no Oriente Médio pelo prisma dos terroristas, seu cotidiano pacato, uma vida familiar. Pessoas distintas (um mais esfuziante, outro pacífico), e normais. Panorama exposto com discrição, prezando pela reflexão. Pequena obra-prima." (Rodrigo Torres de Souza)

''No centro de "Paradise Now" há dois rapazes, Said e Khaled, ambos palestinos e voluntários a morrer como mártires, ou seja, como homens-bomba, explodindo em algum lugar de Israel. Algumas coisas chamam especialmente a atenção neste filme de Hany Abu-Assad. A primeira é que ele nos põe em contato com rapazes nada fanáticos. São normais, digamos assim. Sonham muito menos com o paraíso do que com as questões terrenas. O segundo ponto é que a religião não joga o papel tão preponderante nas decisões dos palestinos que nos levam a crer os lugares-comuns da informação sobre os povos muçulmanos. Ou, como diz um dos rapazes, a respeito do seu destino, estar sob ocupação já é estar morto. É um filme político que mereceria atenção, sobretudo das autoridades israelenses." (* Inácio Araujo *)

"A questão básica de "Paradise Now"; classificação indicativa não informada) é: como rapazes pacíficos, cuja primeira preocupação é viver, acabam se deixando recrutar para tarefas do tipo tornar-se homem-bomba? As imagens de Hany Abu-Assad ajudam, de certa forma, a responder. Ele segue os últimos dois dias de dois rapazes recrutados por uma organização palestina para se tornarem homem-bomba em Israel. A honestidade do filme consiste em mostrar um panorama amplo e ambíguo da questão do Oriente Médio. Sua agudeza se fixa muito mais em aspectos cotidianos nos territórios palestinos do que em questões políticas. Mas elas existem e se misturam com particularidades religiosas a que o filme não fica indiferente. É a questão humana, no entanto, que mais chama a atenção do realizador. Como para tantos outros, o conflito, aqui, parece um fenômeno antes de tudo estarrecedor, porque serve muito mais à política do que às pessoas." (** Inácio Araujo **)

***** ''O que faz a atualidade aparentemente eterna de "Paradise Now" é a incapacidade ocidental (Israel aí incluído, claro) de tratar com os palestinos. Sabemos que o problema já não é mais apenas palestino: espalha-se por todo o Oriente Médio e mais um pouco. Chama-se Al Qaeda ou Estado Islâmico. Cada vez mais essa parte do mundo se assemelha ao filme do diretor Hany Abu-Assad. Aqui, os dois rapazes, Said e Khaled, quando os olhamos, não têm nada de facínoras capazes de fazer de tudo em nome da fé, como vários que o EI tem recrutado mundo a fora. Said e Khaled, porém, dispõem-se a morrer e a matar quem estiver por perto. É possível maldizê-los com o estigma da palavra terrorista. Isso não os mudará, nem aos seus inimigos: o cinema aqui entra como agente de uma tolerância cada vez mais ausente da história.'' (*** Inácio Araujo ***)

Representante oficial da Palestina no Oscar de 2006, fita aborda com habilidade o tema do eterno conflito entre israelenses e palestinos.

''É uma triste realidade constatar que estas manchetes já nem nos chamam mais a atenção. Nem tanto pelo fato de elas retratarem uma realidade muito distante da nossa, mas sim – e o que é pior – porque elas se tornaram lugar comum dentro dos noticiários. Uma espécie de pauta padrão a ser cumprida diariamente pelos jornais. Fico imaginando as redações do principais meios de comunicação do mundo, ao repassar os principais notícias do dia, o editor pergunta “Bem, e o Oriente Médio, como foi o dia? Alguma bomba explodiu por lá hoje? Já sabem quantos são os mortos?”. Perdemos a dimensão trágica do evento. Seja por já estarmos vacinados pela violência que assola o nosso cotidiano (vide os últimos atentados comandados pelo PCC, no Estado de São Paulo), seja pela contínua repetição dos atentados (que se prolongam há pelo menos 5 décadas), seja até mesmo porque não compreendemos quem luta pelo quê, o fato é que encaramos o conflito entre Israel e a Palestina como algo banal, quase monótono. Diante desta contraditória banalidade da tragédia, nos esquecemos das dezenas de mortos e feridos gerados por cada um destes ataques. Com o passar do tempo, estas pessoas viram apenas números no interior das manchetes, que se diluem dentro do jornal ao lado da frieza de outros dados estatísticos como percentuais de inflação, cotação do dólar, saldo de gols dos times no campeonato nacional e a temperatura que a meteorologia prevê para o dia seguinte. Se deixamos de pensar nos inocentes fulminados pelos atentados, o que dizer então dos próprios terroristas? Em princípio, representantes do que há de pior na face da Terra, personificação do mal em sua essência, preferimos achar que eles nem mesmo existem. Como se os explosivos plantados em ônibus ou latas de lixo tivessem sido lá colocados por mãos invisíveis ou os carros-bombas, guiados por motoristas fantasmas. E se parássemos um só minuto para analisar a figura destas pessoas, homens suicidas que entregam suas vidas em nome de uma crença, que se sentem honrados por terem sido escolhidos para o trabalho, que têm a certeza de estarem a caminho do paraíso. Como será o dia destes indivíduos momentos antes da execução? E a véspera? Sua relação com os familiares? Com Paradise Now, o diretor Hany Abu-Assad tenta trilhar por este espinhoso caminho, levantando tais questões, sem ter a preocupação de buscar respostas definitivas. O debate é o que importa. Por mais acirrado que seja o conflito, a solução diplomática ainda será sempre a melhor alternativa. É a mensagem que, afinal de contas, o cineasta parece querer passar. Paradise Now'' acompanha a vida de dois amigos de infância, Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman). Ambos moram numa cidade próxima à Tel Aviv, passam o dia trabalhando numa funilaria de fundo de quintal e, no tempo livre, ficam se drogando e vendo a cidade do alto das montanhas. Abu-Assad faz questão de nos mostrar seus protagonistas despojados de qualquer fanatismo ou disciplina. Pelo contrário: Said e Khaled levam suas vidas de forma até mesmo desleixada, quase irresponsável. Logo no início, uma desavença fútil com o patrão faz com que Khaled quebre o pára-choque do carro de um cliente. Na cena seguinte, nenhum dos dois parece muito preocupado com o fato. A narrativa muda seu curso quando Said é procurado por Jamal (Amer Hlehel). Said é avisado que ele e Khaled foram escolhidos para a execução de um ato suicida, em Tel Aviv. O roteiro não se preocupa muito em expor os detalhes e objetivos do plano. Apenas ressalta que a estratégia vinha sendo estudada há 2 anos e que, naquele momento, era chegada a hora de partir da teoria para a prática. Inicialmente as reações são diferentes: ao receber a notícia, Said fica em silêncio. Não parece entusiasmado. Para ele, mesmo tendo sido doutrinado na cultura palestina desde a infância, é difícil acreditar que aquela será sua última noite na face da Terra. Ao contrário, Khaled não se contém em si. Esfuziante, sente-se honrado com o convite e não vê a hora de partir para a ação. Esse conflito interno dos personagens vai pontuar todo o terceiro terço do filme, quando os detalhes da operação são revelados e colocados em prática. Abu-Assad, palestino de nascença, passa seu recado com algumas belas e enigmáticas seqüências: no momento em que Khaled grava o vídeo, anunciando as razões de sua conduta, a câmera apresenta problemas técnicos, que fazem com que o discurso tenha que ser refeito por duas vezes. Na primeira, o operador comenta: Não funcionou!. Na segunda, Jamal, que assiste a gravação, diz: “Calma Khaled! Agora você poderá fazer de novo. Terá uma nova oportunidade!”. Sutilmente, o diretor mostra a dificuldade para encontrar o equilíbrio entre a solução diplomática e a bélica. Na primeira interrupção, o aviso do operador de câmera funciona como desabafo de que toda aquele palavreado sobre a opressão de Israel sobre a Palestina já não dá mais resultado. Na segunda, a frase de Jamal revela uma esperança de que, por intermédio de uma nova tentativa de diálogo, as partes consigam chegar a um consenso. Particularmente, esta seqüência me fez lembrar uma passagem de Munique, um dos melhores e mais subestimados filmes de Spielberg dos últimos anos, com quem Paradise Now, por razões óbvias, tem pontos de contato. Num determinado momento de Munique, palestinos e israelenes (integrantes do Mossad) precisam dividir o mesmo esconderijo. O conflito é estabelecido pela escolha da estação de rádio. Ao final, a solução é dada pelo meio termo, uma canção que agrada a ambas as partes. A seqüência é toda realizada sem diálogo, como uma espécie de duelo de espadas. Simbolicamente, Spielberg está dizendo que é possível sim, sem fazer uso das armas – a rigor, até mesmo das palavras – encontrar a paz para o conflito.

Mais tarde, em Paradise Now, na noite da véspera do ataque, todos os participantes da operação – não só os executores, mas o pessoal de auxílio, chamado internamente de colaboradores – reúnem-se à uma mesa, todos de frente para a câmera. A cena é rápida mas o cineasta atinge seu objetivo: Abu-Assad reproduz o quadro de Da Vinci, A Santa Ceia. Pode parecer exagero. Afinal de contas, o diretor está explicitamente comparando Jesus e seus apóstolos a pessoas que, no fundo, carregam bombas em suas cinturas. No entanto, a inusitado da situação é que é justamente assim que elas se vêem. Verdadeiros mártires, messias escolhidos por Alá para desenvolver a missão que lhes foi imposta na Terra. Outra ironia está no próprio título, que nos remete a Apocalypse Now. No clássico de Coppola, a busca pelo Coronel Kurtz no interior da selva vietnamita é também uma descida ao inferno, literal e metaforicamente. No caso de Paradise Now, o efeito é o inverso: ser o escolhido para a execução do plano de ataque, é o caminho mais curto para a subida ao Paraíso, para o tão esperado encontro com os anjos do céu. Neste sentido, e revelador o diálogo entre Said e Jamal:

  • “E o que acontece depois?”


  • “Dois anjos virão buscá-los”.


  • “Você tem certeza?”.


  • “Absoluta”.


A presença da família também é outro importante aspecto considerado por Abu-Assad. Ambos os homens-bombas não escondem seus vínculos familiares: Khaled, mesmo transparecendo ser aquele que tem mais convicção na sua condição de instrumento de Alá, lembra da mãe justamente no momento da gravação do vídeo. Said, por sua vez, na manhã da operação, sabatina sua mãe de perguntas sobre seu pai, morto como colaborador da causa. Essa busca pelas raízes humanizam os personagens. Palmas para Abu-Assad que, sem exagerar no sentimentalismo, mostra que por trás de um assassino em massa, reside uma pessoa repleta de conflitos, provida de um passado, de uma memória. Do ponto de vista político, o diretor parece ter escolhido a personagem de Suha (Lubna Azabal) como seu porta-voz. Ela é uma das clientes da oficina em que Said e Khaled trabalham. Desenvolve um flerte com o primeiro deles. No final, por intermédio de suas ações, Paradise Now, certo ou errado, apresenta seu ponto de vista: os ataques terroristas representam retrocessos na solução diplomática. Para Abu-Assad, enganam-se os palestinos que a cada bomba que eles explodem, a cada alvo atingido, sua voz está se fazendo ouvir ao redor mundo. Antes disso, estes ataques nada mais fazem do que dar mais razão para a reação de Israel. Ao contrário de encurtar o conflito, a alternativa das armas o prolonga. E, pior que isso, a um custo de inúmeras vidas inocentes. Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, Paradise Now foi o primeiro filme indicado ao Oscar como representante oficial da Palestina, uma nação que, a rigor, sequer é oficialmente reconhecida. Todos os protestos que surgiram desde então já são conhecidos. Se estes fatos prejudicaram a candidatura do filme junto aos membros da Academia, que preferiram o sul-africano Tsotsi, é algo que, num contexto maior, não tem qualquer relevância. O que fica é o filme, a mensagem e a tentativa de sensibilizar a todos os envolvidos para que o conflito seja resolvido de uma vez por todas. Se até agora a dialética das idéias não vem colaborando muito para este objetivo, quem sabe o cinema não cumpre esse papel. ''Paradise Now' pode ser um começo." (Régis Trigo)

''Ao acompanharmos as notícias sobre os conflitos entre judeus e muçulmanos na região de Israel que envolvem os famigerados homens-bomba, imediatamente nos questionamos sobre os motivos que levam alguém a explodir-se por uma causa. Fanatismo é a primeira palavra que vem à cabeça, geralmente seguida por imagens estereotipadas de osamas-bin-ladens genéricos, segurando explosivos numa mão e uma AK-47 na outra, enquanto gritam Alá e pressionam o botão da bomba. Paradise now (2005), filme do israelense Hany Abu-Assad, acaba com tudo isso. Assad escolheu uma forma interessante de abordar o conflito, quase que exclusivamente visto pelos olhos endinheirados dos israelenses judeus: através do ponto de vista dos próprios homens-bomba. Não se trata, no entanto, de um filme que promove o ódio. Pelo contrário. Tenta explicar como pessoas tão normais quanto você e eu podem sujeitar-se ao martírio. Na trama, Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman) são dois palestinos amigos de infância, escolhidos, quase que sem aviso, para um ataque suicida. Eles aguardavam sua hora há vários anos e, quando ela chega, ambos têm tempo apenas para passar a última noite com as respectivas famílias. Mas seus instrutores terroristas avisam que ninguém pode desconfiar do fato. Assim, os agradecimentos são deixados para um vídeo. Durante suas últimas horas de vida, um mergulha em dúvidas sobre a ação. Já o outro, filho de um colaborador executado como traidor, não hesita em seguir seu destino. A produção não toma partido. Retrata os suicidas com humanidade, mas introduz personagens que os fazem pensar, como Suha (Lubna Azabal) uma ativista da luta pacífica que percebe o que vai acontecer e tenta dissuadi-los debatendo. Importante também é a figura da mãe de Said (a maravilhosa Hiam Abbass, de A noiva da Síria e Free Zone), que dá ao filho uma nova visão sobre os chamados traidores. Algumas imagens são especialmente emblemáticas na produção. Partindo da pequena e devastada cidade fronteiriça de Nablus, com fachadas e edifícios destruídos, Said e Khaled chegam à moderna metrópole de Tel Aviv para cumprir sua missão. De dentro do automóvel que os transporta, observam pessoas inocentes nas praias e ruas. Impossível demonizar seu inimigo assim de tão perto. Um pequeno e poderoso filme, que prova que libelos pacifistas podem vir das fontes mais improváveis possíveis. Afinal, criatividade é necessária para mudar este planeta e a imagem da pombinha branca já deu no saco." (Erico Borgo)

"Na história, Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman) são dois amigos que se alistam como voluntários de Alá, disponibilizando-se, pois, para a prática de atentados suicidas. Os dois levam uma vida pacata na Faixa de Gaza, campo de refugiados palestinos, consertando carros em uma oficina. No fim dos dias, vão para uma colina, de onde vislumbram toda a cidade, para fumar narguilé (Dicionário Aurélio: cachimbo largamente usado pelos turcos, hindus e persas, composto de um fornilho, um tubo, e vaso cheio de água perfumada que o fumo atravessa antes de chegar à boca). Quando em um fim de dia, Jamal (Amer Hlehel) procura Said, este já sabe que sua hora de participar na guerra santa chegou, no entanto, ao contrário do que se podia imaginar, ele não está muito convicto de que essa atitude seria correta. Já seu amigo Khaled, também procurado por outro mensageiro, mostra-se exultante com a possibilidade de servir à causa de libertação da Palestina. Os dois se encontram em um esconderijo e participam de um ritual que os prepara para a grande jornada. Após, seguem para o ponto de encontro com um agente infiltrado no lado israelense da fronteira, no entanto a operação não sai como planejada. Quanto aos aspectos técnicos, o elenco de apoio é muito consistente, servindo de base sólida ao filme quando requisitado. O figurino, assim como os costumes locais, é outro fator interessante, especialmente a nós, por se tratar de cultura diferente da Ocidental. A fotografia é particularmente peculiar, pois retrata os aspectos urbanos e geográficos daquela região, mesmo que de forma superficial. Mais importante do que os aspectos técnicos do filme, no entanto, é a discussão proposta pelo longa em cima da legitimidade dos movimentos de libertação da Palestina. Mais do que isso, os próprios palestinos mostram uma visão crítica sobre o assunto, questionando se é esse o melhor meio para o fim buscado. Tal discussão é concentrada no triângulo formado pelos personagens Khaled, Said e Suha, mulher pela qual Said se interessa, que por ter nascido na França e ter sido criada em Marrocos, apresenta a visão mais exógena dos três, deflagrando questionamentos sobre a legitimidade e a necessidade de tais atos. As transformações nos personagens de Said e Khaled é outro ponto a que o espectador deve estar atento, pois nelas estará implícita a mensagem que o filme busca passar, atentando-se também aos diálogos desses personagens. Se você busca abrir seu paradigma crítico a respeito dessa questão tão atual, Paradise Now é uma excelente opção. Além disso, o filme também serve como um ótimo entretenimento por apresentar uma edição que conduz o espectador de maneira tensa no desenrolar da trama." (Jonas Maciel)

78*2006 Oscar / 63*2006 Globo / 2005 Urso de Ouro

Top Holanda #15 Top Israel #5

Augustus Film Lama Productions Razor Film Produktion GmbH Lumen Films arte France Cinéma Hazazah Film Eurimages Filmstiftung Nordrhein-Westfalen Lama Films Medienboard Berlin-Brandenburg Nederlands Fonds voor de Film

Diretor: Hany Abu-Assad

17.949 users / 2.064 face

Check-Ins 501

Date 22/03/2014 Poster - #####

29. Still Alice (2014)

PG-13 | 101 min | Drama

72 Metascore

A linguistics professor and her family find their bonds tested when she is diagnosed with Alzheimer's Disease.

Directors: Richard Glatzer, Wash Westmoreland | Stars: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth

Votes: 143,460 | Gross: $18.75M

{Video/@@@} M/72

PARA SEMPRE ALICE

(Still Alice, 2014)


"Com personagens bem construídos, elenco Classe A, e diretores que não inventam mas sabiamente se colocam a serviço da história, "Still Alice" foge das armadilhas deste tipo de filme e consegue realmente emocionar em vários momentos. Moore está ótima." (Régis Trigo)

"Embora os cineastas consigam tratar o tema de forma sensível e delicada, o que eleva o filme a algo maior do que um melodrama de TV é Moore, estupenda na sutileza e na eficácia de sua composição. Talvez esteja na hora de finalmente ganhar seu Oscar." (Silvio Pilau)

"Fazer um filme sobre o Alzheimer é um desafio: não há épica possível, mesmo o melodrama fica limitado às reações de família: o esquecimento não é um problema filosófico, mas dolorosamente físico. Trata-se de uma morte da mente: alguém deixa de ser quem é ainda em vida. Assim, não é estranho que "Para Sempre Alice" se proponha antes de mais nada como um filme de atriz: trata-se de observar a lenta e inexorável deterioração de Alice (Julianne Moore). O mais irônico é que Alice é uma intelectual, uma famosa linguista, alguém cuja perda de memória afeta totalmente sua vida mental. Alice reproduz os momentos da deterioração da personagem, acompanhando-a da relação com os parentes: o marido e os três filhos. Se o conjunto da obra é honesto, se a ideia de progressão do mal é apropriada, se só raramente o público é submetido a chantagem emocional, o que mais chama a atenção são achados sutis, como a reação impaciente do marido diante do elevador que não chega. Parece simples, mas talvez seja o mais difícil de achar. Se há momentos vazios, o sentimento mais forte é de aflição: Alzheimer é o mal do qual ninguém se sente livre. E o filme esclarece: palavras cruzadas não adiantam. Coragem!" (* Inácio Araujo *)

***** ''Existe uma ciência no cinema americano de tornar palatável um tema que, em princípio, parece insuportável. Em "Para Sempre Alice" o que vemos é uma mulher decompor-se sob o efeito do Alzheimer. Não qualquer mulher: uma professora. E de linguística, para completar. E para provar que atividade intelectual não tem nada, rigorosamente, a ver com a doença. Essa mulher é, no caso, Julianne Moore. Eis a ciência hollywoodiana: em lugar de ver a mulher se decompondo, se desumanizando, podemos nos fixar no desempenho de Julianne Moore, que por sinal ganhou um Oscar pelo papel. Que por sinal o mereceu. O horrível torna-se então de certo modo agradável. Continuamos em um filme de tema típico, grave, no mais. Mas o gozo do espectador é garantido. Viva a estrela!'' (* Inácio Araujo *)

87*2015 Oscar / 72*2015 Globo

37 Metacritic

Date 28/02/2015 Poster - #######

30. Padre Padrone (1977)

Not Rated | 114 min | Biography, Drama

The son of a shepherd embarks in the quest of emancipating himself from a tough lifestyle that his condition and his father force on him.

Directors: Paolo Taviani, Vittorio Taviani | Stars: Omero Antonutti, Saverio Marconi, Marcella Michelangeli, Fabrizio Forte

Votes: 4,363

[Mov 03 IMDB 7,4/10] {Video}

PAI PATRÃO

(Padre Padrone, 1977)


''Aos seis anos de idade, Gavino é obrigado pelo pai a abandonar os estudos para trabalhar no campo, cuidando de ovelhas. Todas as suas tentativas de mudar de vida são abortadas pela ignorância e violência do patriarca. Aos vinte anos, ainda analfabeto, Gavino acaba entrando para o exército, onde pode enfim adquirir algum conhecimento de base. Renunciando à carreira militar, ele volta à sua terra para seguir estudando. No entanto, o choque com o pai é inevitável. Baseado no romance autobiográfico de Gavino Ledda. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 1977." (Filmow)

"Baseado numa história real, este contundente drama mostra a trajetória de Gavino, um menino que é obrigado pelo pai, interpretado por Omero Antonutti, a abandonar os estudos para trabalhar no campo, cuidando das ovelhas na Sardenha, sul da Itália. Todas as suas tentativas de mudar de vida são frustradas pela ignorância e pela violência do patriarca. Com o tempo, o jovem Gavino, interpretado por Fabrizio Forte, descobre sua única saída: estudar. Ter a arma que seu pai não possui: a cultura. Drama contundente que retrata a forma primitiva de estranhamento e opressão milenar: a do patriarca, senhor da Vida e da Morte no seio da família, instituição primordial da sociedade humana. No caso, o pai oprime o filho, buscando nele força de trabalho servil na atividade de pastoreio. Por isso, castra toas as possibilidades de desenvolvimento humano de Gavino. O estranhamento é imposto pelo próprio pai, assumindo caráter ancestral, quase-natural, ligado a formas tradicionais de opressão social. Os Irmãos Taviani expõem o conflito entre disposições ancestrais primitivas, quase da Natureza inculta, em plena época da modernidade do capital. É através da reapropiação da cultura que Gavino irá buscar uma saída para seu estranhamento primordial. O pai, como a Natureza, é superado, mas não eliminado, como sugere a cena final. Ele persiste como memória-hábito, no gesto da vigília cadenciada no pasto." (Sinopses de Filmes)

1977 Urso de Ouro / 1977 Palma de Cannes

Rai 2 Cinema S.r.l

Diretor: Paolo Taviani / Vittorio Taviani

2.229 users / 200 face

Check-Ins 515

Date 17/04/2014 Poster - ##

31. Pygmalion (1938)

89 min | Comedy, Drama, Romance

A phonetics and diction expert makes a bet that he can teach a cockney flower girl to speak proper English and pass as a lady in high society.

Directors: Anthony Asquith, Leslie Howard | Stars: Leslie Howard, Wendy Hiller, Wilfrid Lawson, Marie Lohr

Votes: 9,660 | Gross: $3.05M

[Mov 06 IMDB 8,1/10] {Video}

PIGMALIÃO

(Pygmalion, 1938)


''Henry Higgins (Leslie Howard) é um professor de fonética que, juntamente com seu amigo, o Coronel Pickering (Scott Sunderland), resolve transformar a florista inculta Eliza Doolitle (Wendy Hiller) em uma grande dama no espaço de três meses." (Filmow)

''Pigmalião'' virou o texto mais popular de tudo o que o irlandês George Bernard Shaw (1856-1950) escreveu – e ele escreveu profusamente, peças, críticas de música e teatro, ensaios sobre política, economia, sociologia, panfletos, e cartas, aos milhares. A peça estreou em Londres, a cidade onde se passa a ação, em 1913, e fez um tremendo sucesso; deu origem a três filmes, dois na Holanda (em 1921 e 1937) e um na Alemanha (1935). Shaw detestava todos os filmes que haviam sido feitos com base em suas peças. Foi Gabriel Pascal, um húngaro que já havia trabalhado no teatro na Áustria e no cinema, como ator e produtor, na Itália, na França e na Alemanha, que, com muito custo, conseguiu convencer o Prêmio Nobel de Literatura (de 1925) a permitir que fosse feita uma nova versão cinematográfica de Pigmalião, com a garantia de que nem uma linha de diálogo seria tocada, e, depois, com a sugestão de que ele mesmo cuidasse do roteiro. Assim, foi o próprio Shaw que escreveu cenas adicionais, como a do grande baile na embaixada – que não aparecia na peça, era apenas citada -, e assinou o roteiro. ''Pigmalião'' é um desses fenômenos fantásticos, obras de criadores geniais, que conseguem agradar às platéias, cair no gosto popular, sem precisar para isso ser simples, rasas; tem doses iguais de encanto, graça – e seriedade, idéias, inteligência. Contém os ingredientes básicos da obra de Shaw: a crença na capacidade do ser humano de evoluir, crescer; a crítica ácida ao conformismo social, à estrutura rigorosa de classes da sociedade britânica, da qual o uso da língua é o símbolo mais óbvio e aparente, ele próprio um estratificador social. O filme manteve toda a força da peça, toda a difícílima alquimia de juntar profundidade e deleite. Consta que Shaw defendeu, para fazer o professor Higgins, o ator Charles Laughton, mas acabou sendo convencido de que Leslie Howard desempenharia bem o papel e garantiria uma boa recepção no emergente mercado americano. A atriz, no entanto, foi escolha do autor; ele adorava as interpretações de Wendy Hiller no teatro, e confiava nela para fazer Eliza Doolittle, a florista que trabalha nas imediações do Covent Garden, aquela espécie assim de fronteira entre a Suíça e a Índia encravada bem no coração do então Império, a ópera de um lado da rua e a fauna maltrapilha do mercado de frutas e verduras do outro. O filme foi um tremendo sucesso, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos; Leslie Howard eventualmente iria para a ex-colônia no ano seguinte para participar de uma superprodução da Metro, … E o Vento Levou, ao lado de outra inglesa, Vivien Leigh; Wendy Hiller, no entanto, preferiu ficar em seu país, onde fez por merecer o prestígio como uma das grandes atrizes de teatro do século e, mais tarde, o título de Dame, o correspondente feminino ao de Sir. Nos créditos de Pigmalião, aparece um introduzindo, antes do nome dela; é uma licença mercadológica, pois ela já havia feito um filme, antes, e voltaria a fazer vários outros, embora sempre como uma atividade secundária. Também nos créditos de ''Pigmalião'', como autor da montagem, consta um nome na época desconhecido; era seu quarto filme como montador. Dez anos mais tarde viria a dirigir um filme excepcional, Desencanto/Brief Encounter, e, do final dos anos 50 até os meados dos 60, seria o autor de várias obras-primas, vastos painéis, afrescos gigantescos, em que entrelaçaria com mão de mestre acontecimentos emblemáticos do século – a Segunda Guerra, a Revolução Russa, as chagas do colonialismo no Oriente Médio e na Índia – com a intensidade dos dramas pessoais de seus personagens. Está lá, num letreiro que agrupa vários técnicos, o nome de David Lean, mais tarde Sir David Lean, um dos maiores artistas da História do cinema. Shaw seguramente gostou do resultado – tanto que transformou Gabriel Pascal no homem que negociaria os direitos de filmagens de seus trabalhos, daí em diante. Vários filmes surgiram a partir dessa combinação entre os dois. Pascal tentou convencer Shaw a adaptar Pigmalião para um musical. O escritor recusou a idéia terminantemente. Pascal, no entanto, não desistiu dela e, depois da morte de Shaw, ofereceu-a a vários compositores – Noël Coward, Cole Porter, Rodgers e Hammerstein. Nenhum deles se dispôs a enfrentar a tarefa. Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, no entanto, aceitaram. Mesmo para quem fez a história de Um Americano em Paris e as músicas e letras de Núpcias Reais, Brigadoon e Gigi, no entanto, não foi uma tarefa fácil; levaram anos para criar o libreto, as letras intrincadas, cheias de palavras gigantescas, as melodias ricas mas facilmente assimiláveis. Pascal morreu em 1954 sem ver o trabalho pronto; My Fair Lady estreou na Broadway em 15 de março de 1956 – e virou, instantaneamente, uma unanimidade." (50 Anos de Filmes)

11*1939 Oscar / 1939 Lion Veneza

Gabriel Pascal Productions

Diretor: Anthony Asquith / Leslie Howard

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Check-Ins 528

Date 07/04/2014 Poster - #####

32. Pasolini (2014)

84 min | Biography, Drama

71 Metascore

A kaleidoscopic look at the last day of Italian filmmaker Pier Paolo Pasolini in 1975.

Director: Abel Ferrara | Stars: Willem Dafoe, Ninetto Davoli, Riccardo Scamarcio, Valerio Mastandrea

Votes: 4,554 | Gross: $0.03M

{Video/@@@@} M/60

PASOLINI

(Pasolini, 2014)


"Um filme para Pasolini e seus ideais, onde os diálogos ganham ainda mais força no desempenho brilhante de Willem Dafoe." (Francisco Bandeira)

''O encontro entre Pier Paolo Pasolini e Abel Ferrara não era inevitável. De certo modo era até previsível, por aquilo que aproxima os dois homens: ambos incapazes de se dobrar às exigências sociais, ambos contestadores do poder, ambos assombrados pela figura de Deus. Mais que isso: as contradições abundam na obra de Ferrara e na vida de Pasolini. Este, em particular, parece querer abraçar todas elas: humanismo e masoquismo, por exemplo. O alto e o baixo. O corpo e a espiritualidade. Ser homem é vasto e perigoso. Pasolini e Ferrara não pensam diferente a esse respeito. E Ferrara vai em busca, primeiro, de um Pier Paolo caseiro, que chega de uma viagem. Ele reencontra família e amigos. Não veste em nenhum momento a pele do gênio, nem a do maldito. É esse homem coloquial que nos atrai e impressiona no filme. Seu calor, a maneira simples e intensa de estar no mundo, a maneira como aprecia um vinho ou uma conversa. Um homem como qualquer outro – e, ao mesmo tempo, único. Para Ferrara, é mais importante fazer Pasolini parar num restaurante e conversar com o dono do que criar algum tipo de crescendo dramático tradicional. É mais importante, inclusive, inserir no conjunto uma dessas parábolas tipicamente pasolinianas –a um tempo desesperadas e otimistas–, trazendo Ninetto Davoli, que foi o ator fetiche do cinema de Pasolini. De tal modo que, quando se chega ao coração da narrativa, a morte do poeta, Ferrara pode novamente nos surpreender. Não tanto pela maneira como representa a morte (diferente do que se tem como aceito), mas pelo modo como a prepara e conclui. É no momento da dor pela perda de uma pessoa tão especial, porém, que Ferrara mostra o cineasta superior que é: faz-nos sentir esse assassinato não por ele, não por sua família ou amigos, mas pela humanidade. É algo a que Ferrara aspira: representar a morte de Cristo, daquele que morre pelos homens. De certo modo, "Pasolini" realiza esse feito. Com uma cruel diferença: a morte de Cristo supostamente leva a algo, enquanto a de Pasolini é apenas cruel, infame, desnecessária (como a de Cristo, mas não leva a nada). Abel Ferrara é um cristão niilista. Por fim: não se pode falar de "Pasolini" sem falar de Willem Dafoe, extraordinário.'' (* Inácio Araujo *)

{Eu penso que escandalizar seja um direito, e ficar escandalizado é um prazer e quem recusa o prazer de escandalizar é um moralista} (ESKS)

{É só no momento da morte, que nossa vida, ambígua, suspensa e indecifrável até ali, adquire significado} (ESKS)

''Vamos dar uma volta?, perguntou o poeta e mestre do cinema italiano ao garoto de programa, de acordo com o que este confessou à polícia posteriormente. Se você sair comigo, eu te dou um presente. Assim começaram os acontecimentos que conduziriam ao assassinato de Pier Paolo Pasolini, intelectual e cineasta homossexual e brilhante, cuja visão política – baseada em um singular entrelaçamento entre Eros, catolicismo e marxismo – anteviu a história da Itália depois de sua morte, e o florescimento do consumismo mundial. Foi um homicídio que, quatro décadas mais tarde, continua envolto na forma de opacidade e mistério em que a Itália se especializa – un giallo, um thriller sombrio. O encontro ocorreu no miasma de prostituição que envolvia a estação ferroviária Termini, de Roma, às 22h30min de 1º de novembro de 1975. E esse é o ponto de partida de um filme visto como um dos favoritos para levar o Leão de Ouro do festival bienal de Veneza, esta semana – Pasolini", estrelado por Willem Dafoe e dirigido por Abel Ferrara, nascido em Brooklyn e descendente de italianos. O filme gira em torno do dia final de uma vida extraordinária. Ferrara diz: "Sei quem matou Pasolini", mas não revela o nome. Mas em uma entrevista a Il Fatto Quotidiano, ele acrescenta: Pasolini é minha fonte de inspiração. À 1h30min, três horas depois do encontro na estação, um carro de patrulha dos carabinieri deteve um Alfa Romeo que estava percorrendo em alta velocidade a deteriorada avenida costeira de Idroscalo, em Ostia, perto de Roma. O motorista, Giuseppe (Pino) Pelosi, 17, tentou fugir, e foi detido pelo roubo do carro, identificado como pertencente a Pasolini. Duas horas depois, o corpo do cineasta foi encontrado - espancado, ensanguentado e mostrando marcas de atropelamento - ao lado de um campo de futebol. Lascas de madeira ensanguentada foram encontradas em torno do corpo. Pelosi confessou que ele e Pasolini tinham saído juntos, e que haviam jantado em um restaurante que o diretor sugeriu, o Biondo Tevere, perto da basílica de São Paulo, lugar em que Pasolini era conhecido. Pino comeu espaguete alho e óleo, Pasolini tomou uma cerveja. Às 23h30min, saíram de carro rumo a Ostia, onde Pasolini "pediu algo que eu não queria fazer" –sodomizar o jovem com um bastão de madeira. Pelosi recusou, e Pasolini o atacou; Pelosi correu, apanhou dois pedaços de uma mesa, tomou o bastão e espancou Pasolini até a morte. Ao fugir com o carro, ele passou sobre o que imaginou ser um desnível na estrada. "Matei Pasolini", ele disse ao seu companheiro de cela e à polícia. Pelosi foi condenado em 1976, em companhia de cúmplices desconhecidos. Um exame forense conduzido pelo Dr. Faustino Durante concluiu que Pasolini foi vítima de um ataque conduzido por mais de uma pessoa. No julgamento de um recurso, porém, os cúmplices desconhecidos foram excluídos do veredito. Pelosi havia agido sozinho e o mestre do cinema morreu como resultado de um esquálido encontro sexual frustrado – um destino que ele talvez tivesse merecido, e uma história que seria melhor esquecer. Mas a fascinação com Pasolini e seus filmes (e, na Itália, por sua escrita) só cresceu – e o mesmo vale para os mistérios que ainda persistem sobre suas horas finais. O renome de sua obra tem sólida base no mérito: o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) montou uma retrospectiva de seus filmes em 2012, e o Instituto Britânico de Cinema (BFI) fez o mesmo no ano seguinte. Este ano, o Vaticano, que no passado perseguiu Pasolini e ajudou a obter uma condenação contra ele por blasfêmia, declarou que O Evangelho Segundo São Mateus, sua obra-prima, é o melhor filme já feito sobre Jesus Cristo. A expressão da fé radical de Pasolini retrata Jesus como um messias vermelho, revolucionário, de acordo com a doutrina franciscana da pobreza santa, que influencia em alguma medida o atual Papa Francisco. Mas a compulsão de sua morte é menos explicável: em 2010, Walter Veltroni, ex-prefeito de Roma e líder do Partido Democrático, de centro-esquerda, exigiu que o caso fosse reaberto com base em uma convergência de circunstâncias estranhas, e politicamente controversas. Pasolini foi morto um dia depois de voltar de Estocolmo, onde se havia reunido com Ingmar Bergman e outros representantes da vanguarda cinematográfica sueca, e de ter dado uma entrevista explosiva à revista L'Espresso. Na entrevista, ele tratou de seu tema favorito: Considero o consumismo como uma forma de fascismo pior que a versão clássica. A visão de Pasolini sobre um novo totalitarismo, sob o qual o hipermaterialismo estava destruindo a cultura da Itália, agora pode ser encarada como brilhante antevisão do que aconteceria com o mundo em geral na era da Internet. Mas nos meses anteriores à sua morte, sua crítica vinha sendo muito mais específica. Ele havia destacado a televisão como influência especialmente perniciosa, prevendo a ascensão e o poder de um tipo como o magnata de mídia tornado primeiro-ministro Silvio Berlusconi muito antes que ela se concretizasse. De forma ainda mais específica, ele havia escrito uma série de colunas para o jornal "Corriere della Sera" denunciando a liderança do Partido Democrata Cristão, que dominava a Itália, por suas conexões com a Máfia, prevendo os escândalos da chamada "Tangentopoli" –"cidade da propina"– 15 anos antes que eles fossem expostos, levando à prisão de praticamente toda uma classe política no começo dos anos 90. Em suas colunas, Pasolini afirmava que a liderança democrata cristã deveria ser julgada não só pela corrupção como por suas conexões com o terrorismo neofascista, por exemplo atentados a bomba contra trens e contra uma manifestação em Milão. Uma vez mais, suas alegações foram confirmadas mais tarde de maneira assustadora. Aqueles foram os chamados anos de chumbo da Itália, culminando no atentado a bomba contra a estação ferroviária de Bologna por neofascistas trabalhando com a cooperação do serviço secreto, que causou a morte de 82 pessoas, depois da morte de Pasolini. Eu era estudante na turbulenta Florença de 1973, e voltei à cidade todos os anos depois disso; na época, era filiado a uma organização radical chamada Lotta Continua; e ainda lembro do jornal da organização publicando textos de Pasolini, ainda que sua relação com os movimentos radicais criados como consequência dos levantes de 1968 fosse ambígua. Ele se identificava com os policiais que combatiam os estudantes radicais, disse, porque eles eram filhos dos pobres sofrendo o ataque de filhinhos de papai. E por isso, depois do assassinato de 1975, pessoas próximas a Pasolini viram a mão do poder por trás de seu assassinato. Não teria sido a primeira vez: esquerdistas conhecidos costumavam ser atacados, e alguns deles foram mortos; Franca Rame, líder feminista que mais tarde se casaria com o dramaturgo anarquista Dario Fo, foi estuprada por um grupo de neofascistas, que agiram estimulados pelos carabinieri. Membros da família e do círculo de amigos de Pasolini, e os escritores Oriana Fallaci e Enzo Siciliano, mencionaram possíveis motivos políticos para o assassinato e apresentaram provas que contrariavam a confissão de Pelosi, por exemplo um suéter verde encontrado no carro que não pertencia nem a Pasolini nem a Pelosi, e marcas de sangue das mãos de Pasolini na capota do carro (não havia muitas marcas de sangue nas roupas e pessoa de Pelosi). Motociclistas e um outro carro haviam sido vistos seguindo o Alfa Romeo. Em janeiro de 2001, o jornal La Stampa publicou um artigo que convertia essa teoria da conspiração em pista concreta. Envolvia a morte, em um acidente aéreo acontecido em 1962, do presidente da estatal italiana de energia ENI, Enrico Mattei, transformada em filme por Francesco Rosi, com quem Pasolini havia trabalhado. O autor do artigo, Filippo Ceccarelli –um dos mais competentes jornalistas políticos italianos –, mencionou a investigação de um juiz, Vincenzo Calia, sobre intrigas políticas na ENI, de acordo com a qual o avião havia sido derrubado. O juiz Calia implicou o sucessor de Mattei na ENI, Eugenio Cefis, em cooperação com líderes políticos. A reportagem falava de um jornalista que trabalhou no filme O Caso Mattei com Rosi, Mauro di Mauro, que foi sequestrado e desapareceu sem deixar traços. Muito antes da investigação de Calia, publicada em 2003, Pasolini estava trabalhando no livro Petrolio, publicado postumamente, que apresentava versões muito mal disfarçadas de Mattei e Cefis, e revelava conhecimento de como o escândalo e assassinato na ENI envolviam figuras centrais do poder e a loja maçônica P2, da qual Cefis era membro fundador. Com 25 anos de antecedência, escreveu Ceccarelli, o escritor Pasolini estava ciente do resultado de uma longa investigação. Depois, em 2005, surgiu uma torrente de revelações. Pelosi, entrevistado na televisão, retirou sua confissão, afirmando que dois irmãos e um outro homem haviam matado Pasolini, chamando-o de bicha e comunista imundo enquanto o espancavam até a morte. Ele disse que os homens frequentavam a unidade do partido neofascista MSI no bairro de Tiburtina. Três anos mais tarde, Pelosi revelou novos nomes em um ensaio intitulado "Negro Profundo", publicado pela Chiaralettere, uma editora radical, revelando conexões com células fascistas ainda mais extremas ligadas aos serviços de segurança do Estado, e dizendo que ele não havia ousado se pronunciar antes por conta de ameaças à sua família. Um dos amigos mais próximos de Pasolini, o diretor assistente Sergio Citti, então se pronunciou para afirmar que suas investigações haviam produzido provas completamente desconsideradas pelas autoridades: pedaços ensanguentados do bastão, deixados perto do campo de futebol, e uma testemunha ignorada na investigação oficial, segundo a qual cinco homens arrastaram Pasolini para fora do carro. Citti introduziu um novo tema: o roubo de rolos de Salò, o último filme de Pasolini, cuja restituição o cineasta havia tentado negociar. A quadrilha de ladrões frequentava o mesmo salão de bilhar a que Pelosi costumava ir, sua investigação revelou, e eles haviam telefonado a Pasolini para marcar um encontro, no último dia de sua vida. Outra investigação, pelo jornalista Fulvio Abbate, vinculou os assassinos à quadrilha Magliana do crime organizado, nos subúrbios costeiros de Roma. Mas o caso continua fechado, e há pessoas no círculo de Pasolini e na classe política que preferem que as coisas continuem assim. O escritor Edoardo Sanguinetti define o crime como suicídio delegado por um sadomasoquista determinado a se autodestruir. Nico Naldini, primo de Pasolini, e como ele poeta e homossexual, escreveu em seu Breve Vida de Pasolini – um título deliberadamente ambíguo – sobre os rituais fetichistas do cineasta e sua atração por meninos que o faziam perder o sendo de perigo. Pasolini morreu, assim insiste a história, como se estivesse em uma cena de um de seus filmes. É só no momento da morte, Pasolini disse em 1967, que nossa vida, ambígua, suspensa e indecifrável até ali, adquire significado." (Ed Vulliamy)

O escândalo feito carne.

''De uma forma ou de outra, sempre foi difícil não ver uma conexão entre os cinemas de Pier Paolo Pasolini e Abel Ferrara. Pasolini, vindo da segunda geração do neo-realismo italiano e tendo começado na carreira como poeta, tinha uma estética mais do que particular, que o mesmo chamava de cinema de poesia, termo criado no livro O Empirismo Herege. Pasolini filmava símbolos, ideias e ideais, fazendo pouca questão de ser “realista”, onde esse realismo poderia ser lírico e lúdico em questionar elementos sociais da Itália - o que o levou a filmar filmes díspares, como Édipo Rei, O Evangelho Segundo São Mateus, Decameron, Saló ou os 120 de Sodoma… E todos em algum sentido pareciam fazer sentido dentro do universo de Pasolini, uma figura complexa que, nos anos 70, era um dos grandes cineastas da Itália e do mundo até encontrar uma morte bárbara e trágica por assassinato em 1975. Por sua vez, Abel Ferrara é surgido do cinema underground dos anos setenta, profissionalizado no cinema e televisão policial dos oitenta e erguido à condição de um dos grandes autores de cinema dos anos 90, graças a filmes de crime viscerais como O Rei de Nova York, Vício Frenético e Os Chefões, onde a preocupação era imergir o espectador em uma das suas principais preocupações: pecado e redenção. Bem e mal, desejo e culpa, rejeição e compreensão. Os dois são pulsões inatas a qualquer ser humano, o cineasta americano de ascendência italiana parece querer implicar em seus filmes. Todos são capazes de andar por essas duas estradas - todos somos feitos de sexo (Eros) e morte (Tânatos). Todos tentam sobreviver às tentações, encontrar um caminho, se liberar das amarras impostas por outro. Há um componente de fé no cinema de Ferrara, mas nada tão dogmático, uma vez que essa dicotomia é uma fina linha de teor um tanto existencialista: seus filmes são muito mais focados na jornada de escolhas do que em uma predestinação inata de caráter - como é possível ver em seu último filme antes deste, Bem-Vindo à Nova York, onde um político respeitável comete assédio sexual e cai em desgraça perante à opinião pública, pagando por seus erros perante à lei (que o desnuda, literalmente, da posição de grande homem) e perante a sociedade (onde vive o resto de seus dias alienado). Se o cineasta italiano filmava com naturalidade o prazer do desejo e com horror a perversidade do autoritarismo e do moralismo e era por si alguém que flutuava entre movimentos políticos, ciclos intelectuais e acadêmicos, casas de amigos e parentes, bairros nobres e periferias, sendo à sua época um legítimo “provocador” deliciado em chocar moralistas e tentar incutir questionamento na sociedade, sendo uma figura controversa e polêmica, amada e odiada, não é nada estranho que seu cinema uma hora ou outra encontrasse com o do americano, ou mesmo que pudesse ser retratado sem estranhamento nenhum em algum de seus filmes. Em Pasolini, novo filme de Ferrara, quarta colaboração do diretor com o ator Willem Dafoe, as duas coisas acontecem: nesse cinema de pólos opostos, vemos de um lado as últimas 24 horas de vida de Pier Paolo, sua jornada de destruição; do outro, a jornada de criação: um novo filme após Saló, com o famoso ator Eduardo de Filippo e o colaborador habitual e namorado à época, Ninetto Davoli. Interado do universo de Pasolini e em uma espécie de meta-homenagem, Ferrara escalou um Davoli já envelhecido para fazer Filippo, como se um filme sobre Pasolini só seria também de Pasolini se em si contivesse também suas marcas registradas: os atores-fetiche, as histórias dentro da história, as narrativa simbólicas descolada e sem interação evidente com a história principal. Se a cinebiografia carrega todo um tom ensaístico inspirado no diretor, não é à toa; Ferrara inicialmente planejava ir tão fundo na inspiração que Pasolini inicialmente seria apenas a inspiração para um filme com a atriz, modelo, roteirista e ativista Zoë Tarmerlis Lund, a protagonista de Sedução e Vingança, e uma das roteiristas de Vício Frenético e O Enigma do Poder, que segundo ele seria uma diretora que viveria a vida que Pasolini viveu - projeto frustrado devido ao infeliz falecimento da atriz. Por isso mesmo, o filme é fragmentado, episódico, com vários momentos que parecem não servir à narrativa ou irrompem da mesma para servir a puro propósito de delírio visual, como quando dentro do filme imaginado por Pasolini, Ninetto e Eduardo perambulam por anárquicas orgias terrenas e infinitas escadarias para o céu. Enquanto isso, na história normal, Pasolini após dar entrevistas sobre seu último e chocante filme Saló e ser advertido pela família a não escrever mais filmes polêmicos que provocassem a ira de radicais reacionários, apaixona-se por um garoto de programa a quem leva a um restaurante e acaba assassinado pelo mesmo e por mais um grupo homofóbico. Multifacetado, sim, difícil de seguir, também. Pasolini era sincero com seus desejos, ácido em seus questionamentos, corajoso em suas posições, e sua rotina tão variada para muitos era algo intolerável. Gangues do Gueto, o conto de natal de Ferrara mostrava os personagens saindo de casa, atravessando pontes e estradas e então chegando a um lado escuro e perverso do mundo que eram obrigados a conhecer e então fazer a longa viagem de volta, física e metafórica; Pasolini, o protagonista, o filme, o filme dentro do filme, não fazem a separação entre carne e espírito, entre ideia e realidade, e andam por todos esses lados sem se preocupar se eles se costuram de forma lógica, cada parte independente, mas tão atreladas entre si justamente através do conceito. O conceito de como o próprio dizia, de viver seus impulsos, de dizer não para si mesmo e não para a sociedade; o que evoca a necessidade do realismo do filme, de recusar o drama fácil e a progressão didática, de chocar a expressão com a repressão que o criador está destinado a encontrar quando expõe seu trabalho à luz. Medo ou força essa que nunca impediu nenhum dos dois cineastas; quando o ator diz, em uma de suas cenas, que Eu penso que escandalizar seja um direito, ficar escandalizado é um prazer e quem recusa o prazer de escandalizar é um moralista está falando por todos os artistas e pessoas ali, reais e fictícios. É mais que mera homenagem a uma influência, é Ferrara falando sobre a sua mais íntima criação. Uma obra mais que pessoal. (Bernardo D.I. Brum)

2014 Lion Veneza

7 Metacritic

Date 22/03/2015 Poster -

33. Landscape in the Mist (1988)

TV-MA | 127 min | Drama

Two children journey the long road to Germany to find the man they believe to be their father.

Director: Theodoros Angelopoulos | Stars: Michalis Zeke, Tania Palaiologou, Stratos Tzortzoglou, Eva Kotamanidou

Votes: 9,645

[Mov 08 IMDB 8,1/10] {Video/@@@@}

PAISAGEM NA NEBLINA

(Topio Stin Omichli, 1988)


''Theo Angelopoulos alcançou um breve período de quase unanimidade cinéfila e crítica com este Paisagem na Neblina, lançado no Brasil no começo da década de 1990. Filme de um rigor notável, Paisagem na Neblina parecia ser o fecho definitivo e perfeito de um ciclo de desencanto pós-Maio de 1968, que rendeu obras-primas indiscutíveis (Profissão Repórter, de Antonioni), sintomas de picaretagem (O Último Tango em Paris, de Bertolucci) e grandes filmes que saíram de moda (Paris, Texas, de Wenders). Em todos os casos, o choque com as utopias dizimadas criava personagens condenados a uma errância que sequer se traduzia em busca, como se o cinema “autoral” não tivesse mais para onde ir, uma vez que a briga maiúscula havia sido perdida. O cinema parecia condenado à sua própria latência. É justamente por estar um pouco à margem desse centro nervoso artístico (e é uma ironia do mundo moderno que a Grécia, de todas as nações, pudesse ser considerada marginal para o pensamento artístico em qualquer momento da história humana) que Angelopoulos consegue, com impressionante inteireza, dar conta dessa mesma distopia com quase duas décadas de atraso. A semelhança da trajetória das personagens com esse estereótipo angustiado esconde, por sua vez, uma motivação diferente: o desamparo órfão de Angelopoulos não é exatamente com o projeto de mundo que morre em 1968, mas sim com um cinema grego que talvez nunca tenha existido com real expressividade no panorama mundial, e do qual Angelopoulos segue como o maior nome. Não à toa, suas personagens são crianças que, na busca pelo pai, encontram um fotograma de cinema perdido, aparentemente em branco. Paisagem na Neblina é um filme não só sobre o cinema, mas sobre o fotograma, o plano – o átomo cinematográfico indivisível, ao qual não sobrevivem os travellings, as panorâmicas, a câmera no ombro. Mesmo o travelling mais longo é apenas uma sucessão de planos estáticos, e são a essas duas coisas – o plano e a estaticidade – que Angelopoulos endereça suas preocupações. Em época de reavaliação premente de um diretor agitado, para o bem e para o mal, pelas marés da moda e dos costumes, é só retornando ao plano, ao indivisível, que podemos reapreender o valor de seu cinema. De todos os muitos planos extraordinários de ''Paisagem na Neblina'', escolho três. O primeiro, que pode ser reduzido a um único fotograma, mostra os dois irmãos na estação de trem, logo após terem sido retirados da composição pelo fiscal. As crianças aparecem no centro exato do quadro; à sua direita, as pilastras destacam o policial que impede que elas sigam viagem; e à esquerda, com uma simetria asfixiante criada na proporção do 1:1.37, passa o trem. A posição cuidadosa de cada elemento no quadro gera, nos irmãos, uma concentração de forças atordoante: há a vontade de partir e a obrigação de ficar; o passado, o presente e o futuro; mas a maneira como os elementos são dispostos no quadro dá a impressão de que todas as forças partem das crianças, ao mesmo tempo em que agem sobre elas. Os outros dois planos são conectados por um elemento de cena que, pelo posicionamento, a interação com as personagens e o tempo de presença no quadro, materializa o pensamento de uma personagem na associação entre os planos. No primeiro, um caminhoneiro que deu carona aos irmãos leva a garota para a carroceria, escondendo-a em um fora-de-quadro criado no centro do quadro. A ação que se dá fora do alcance de nossos olhos dura poucos minutos – talvez sequer tempo suficiente para que possa haver um estupro – mas que trazem o peso da eternidade. A garota desce do caminhão e o sangue escorre por suas pernas. É tudo que vemos: o antes e o depois, e uma bolha de tempo cinematográfico que, mesmo sem cortes, pode ou não corresponder ao tempo real. Mais tarde, na praia, os irmãos reencontrarão um motoqueiro que os ajudara em um momento anterior do filme. Ao fundo, um trailer evoca de imediato a imagem da carroceria do caminhão e o que supomos ter acontecido dentro dela – talvez por Angelopoulos reservar, ao trailer e ao homem, o mesmo espaço do quadro onde antes esteve o caminhão. É como se o trauma permanecesse impresso naquela parte do negativo até o final do filme, fazendo sombra sobre qualquer elemento que ocupasse aquele mesmo lugar. O rapaz convida a menina a dançar, que resiste ao convite. Ele a pega pela mão e, com uma panorâmica, Angelopoulos vai lentamente tirando o trailer do quadro. É como se a lembrança da violência anterior fosse, em um primeiro momento, projetada pela menina no homem que conhecera em sequência, e que também lhes dera carona. Aos poucos o rapaz ganha a sua confiança, e o trauma associado do ato infilmável vai sendo deixado para trás – tanto pela personagem, quanto pelo filme – até que não exista mais trailer, e sobre apenas a areia e o mar. A cada revisão de Paisagem na Neblina, é certo que outros planos, tão ricos e marcantes quanto esses, nos surpreendam como uma revelação. Esse velho cinema de procedimentos, onde a história é sempre contada e escrita pela câmera e pela disposição dos objetos no quadro, com o passar do tempo perdeu espaço e prestígio para um cinema da fluidez absoluta. A reação da geração posterior fez com que uma escritura tão marcada quanto a de Angelopoulos fosse datada em vulgaridade. Retomando Paisagem na Neblina hoje, em momento em que a banalização mina o cinema de fluxo em inanição, o cuidado do cineasta com a construção de cada fotograma volta com um vigor extraordinário. Em parte, isso se dá por os grandes filmes serem organismos vivos, em contato constante com a história que lhes é anterior e subssequente. Mas também porque Angelopoulos, com seu domínio ímpar da mise en scéne e um talento notável para contar histórias, realizou um filme onde cada novo plano sobrevive como um enigma, e cada fotograma em branco é capaz de acobertar, de fato, uma árvore. Basta se comprometer a enxergá-la." (Cinética)

''O cineasta grego Theo Angelopoulos despontou para o público do cinema de arte com este filme belíssimo sobre duas crianças que embarcam em uma viagem à procura do pai. Num ritmo lento, com clara influência de Andrei Tarkovski (que Angelopoulos nega), muitos planos-sequências e atuações por vezes hipnóticas dos atores, ''Paisagem na Neblina'' (1988) constrói uma rede de alegorias sustentadas principalmente pelo branco (a neve, as estátuas, o vestido da noiva), nem sempre compreensíveis, mas sempre instigantes. É o terceiro filme centrado em personagens do diretor, após Viagem a Citera (1984) e O Apicultor (1986). O diretor era mais conhecido por seus dramas históricos, que passavam a limpo a História da Grécia, caso de A Viagem dos Comediantes (1975) e Megalexandros (1980), os dois melhores dessa fase inicial. Ainda que o segundo seja sobre Alexandre, o Grande, o tema é a Grécia, num longo painel memorialista e político. ''Paisagem na Neblina'', apesar de toda sua beleza, produziu um efeito colateral na carreira do diretor: a partir dele, Angelopoulos começou a acreditar que era o maior gênio do cinema, a ponto de espernear quando seu Um Olhar a Cada Dia (1995) não venceu a Palma de Ouro em Cannes. O fato é que nesse filme derrotado no mais artístico dos festivais, já ficava clara a limitação de seu estilo, incapaz de renovação ou mesmo de promover questionamentos sobre sua arte. Era um filme à prova de crítica, e isso não faz nada bem ao cinema. Mas voltemos a ''Paisagem na Neblina'', obra que ainda respira um frescor referencial de história do cinema e história da Grécia, e, por que não dizer?, da civilização ocidental. O que mais impressiona no filme, mais até do que a habilidade estética, é a delicadeza com que Angelopoulos lida com questões como pedofilia, estupro, homossexualidade, morte, violência e intolerância. Em uma cena emblemática, uma mão gigantesca, parte de uma estátua, é retirada das águas, mas tem o dedo indicador ausente, como se houvesse uma recusa em indicar o caminho. A partir daí, fica claro que os meninos estão ao léu, solitários perseguidores de uma verdade que não está ao alcance deles. Muitos consideram que a procura é o grande assunto das artes dramáticas. Se assim for, ''Paisagem na Neblina'' é mais um brilhante esforço para elucidar esse tema tão caro aos gregos e aos demiurgos." (Sergio Alpendre)

1988 Lion Veneza / 1989 Urso de Ouro

Top Década 1980 #33 Top Itália #39

Production Companies Th. Angelopoulos Productions Paradis Films Greek Television ET-1 Basic Cinematografica Rai 2 Compagnie Generale d'Images La Sept Greek Film Center Sofinergie 1

Diretor: Theodoros Angelopoulos

3.477 users / 701 face

Check-Ins 550

Date 22/04/2014 Poster - ###

34. Paisan (1946)

Not Rated | 120 min | Drama, War

American military personnel interact warily with a variety of Italian locals over a year and a half in the push north during the Italian Campaign of WWII as German forces make their retreat.

Director: Roberto Rossellini | Stars: Carmela Sazio, Gar Moore, William Tubbs, Robert Van Loon

Votes: 9,548

[Mov 07 IMDB 7,8/10] {Video}

PAISÁ

(Paisà, 1946)


''No segmento inicial um soldado americano, Joe (Robert Van Loon), tem a tarefa de proteger uma jovem siciliana, Carmela (Carmela Sazio), em um castelo velho abandonado. Ela nada diz ou demonstra alguma emoção, enquanto Joe tenta suplantar a barreira do idioma. O 2º segmento se passa em Nápoles, nele um soldado americano negro tem seus sapatos roubados por um moleque de rua. Ele procura pelo garoto e descobre que o menino vive com vários napolitanos sem-teto. O 3º segmento se passa em Roma, nele um outro soldado americano, Fred (Gar Moore), chega na cidade com seu tanque e lhe é oferecida água por uma amável jovem, Francesca (Maria Michi), e ele rapidamente se sente atraído por ela. Meses mais tarde ele está bêbado e a encontra novamente, quando ela caminha pelas ruas procurando clientes. Ele então se lembra de Francesca, mas não percebe que a prostituta e Francesca são a mesma pessoa. O 4º episódio acontece em Florença, quando uma enfermeira americana, Harriet (Harriet Medin), e um guerrilheiro italiano tentam atravessar as linhas alemãs. No 5º segmento há 3 capelães americanos: um católico, um protestante e um judeu, que pedem para monges franciscanos autorização para passar a noite no monastério deles. Os monges estão desacostumados com religiosos protestantes e judeus, mas descobrem que estão todos unidos sob o mesmo Deus. No 6º capítulo há um forte tiroteio entre forças britânicas e alemãs, em que há grandes perdas para ambos os lados." (Filmow)

"Alguém poderia pensar que "Piasà" não é um filme adequado para a época de festas. Talvez não. Mas talvez sim. Afinal, os seis episódios de que trata Roberto Rossellini tratam da libertação da Itália no final da Segunda Guerra. Vamos da entrada dos americanos, pelo sul do país, até o Vale do Pó. Cada lugar tem um sotaque. Em cada um, os dramas nacionais e os humanos se confundem. Ali estão as pessoas mais ou menos comuns (mais ou menos porque ninguém é comum na guerra), no meio dos resistentes, dos soldados regulares, dos fascistas e nazistas. Desses últimos acompanhamos a agonia, isto é: esse momento de desespero final, em que a destruição, mais do que um objetivo, se torna um prazer. Um filme exemplar." (* Inácio Araujo *)

"O filme é composto de seis episódios que mostram a luta das tropas aliadas para libertar, entre julho de 1943 e o início de 1945, diversas regiões da Itália do domínio nazista. São histórias de amor, amizade e lealdade que focalizam o relacionamento do povo italiano com os soldados estrangeiros: No primeiro episódio, um grupo de soldados americanos desembarca numa praia da Sicília, de onde os nazistas estão se retirando. Uma jovem do lugarejo, Carmela, os guia por entre os campos minados. Num determinado ponto, o grupo continua enquanto Carmela fica com um dos soldados a aguardá-los. Este é atingido por uma bala alemã, enquanto Carmela também morre ao cair de um precipício. No segundo episódio, passado em Nápoles, um moleque de rua rouba um par de sapatos de um soldado negro americano, embriagado. Este o persegue pelas ruas da cidade e, ao encontrá-lo, comovido pela miséria, que o obriga a roubar, o deixa escapar. No terceiro episódio, passado em Roma logo após sua libertação, um soldado embriagado conhece Francesca e, juntos, passam uma bela noite de amor. Ele parte em seguida e retorna à Roma seis meses depois. Encontra-se com uma prostituta e vai para a cama com ela sem reconhecer que se trata de sua Francesca. Durante o encontro, ele fala da Francesca, que o reconhece e, no dia seguinte, bem cedo, ela parte deixando-lhe o endereço onde ele poderá se encontrar com sua amada. Infelizmente, ele é obrigado a partir sem ter tempo de procurá-la. No quarto episódio, passado em Florença, uma enfermeira inglesa da Cruz Vermelha procura desesperadamente por Guido Lombardi, o homem que ama, agora chefe dos partisans e mais conhecido por Lupo. Ao ajudar um colega dele que foi gravemente ferido e está morrendo, este lhe diz que o homem que ela tanto procura foi morto em combate. No quinto episódio, três capelães americanos, um católico, um protestante e um judeu chegam a um convento franciscano localizado sobre os Appenninos. Quando os frades descobrem que dois dos acolhidos não são católicos, decidem iniciar um período de jejum como forma de tentarem conseguir a conversão dos dois hereges. No sexto episódio, um grupo de partisans luta contra as forças alemães no delta do rio Pó. Os alemães são muito mais numerosos e, logo, o grupo se vê cercado e sem saída. Alguns são mortos, outros são feitos prisioneiros e lançados ao rio, num feroz massacre. Roberto Rossellini será sempre lembrado como o cineasta italiano pioneiro do neo-realismo, inicialmente fazendo curtas para o governo fascista, durante a guerra e, em seguida, surgindo internacionalmente em 1945 com o memorável Roma, Cidade Aberta. Realizado em 1946, "Paisà" é um filme em seis episódios que narra o avanço das tropas americanas, desde seu desembarque na Sicília, em 1943, até a libertação da Itália, em 1945. As filmagens seguiram o estilo do seu filme anterior, usando luz natural e atores amadores. Em "Paisà", cada episódio é separado por uma narração off screen, acompanhada do mapa da Itália, onde é mostrado o local onde o próximo episódio terá lugar. Neste igualmente memorável filme, Rossellini consegue mostrar como a guerra se deu na Itália, captando os sentimentos do povo comum, seu heroísmo, seus medos, suas histórias de amor, sua lealdade. Enfim, "Paisà" pode ser considerado como o supremo exemplo do neo-realismo italiano, bem como o segundo filme da famosa trilogia de guerra de Rossellini, que começara com Roma, Cidade Aberta e terminaria em 1948 com Alemanha, Ano Zero.'' (CAA)

19*1947 Oscar / 1947 Lion Veneza

Organizzazione Film Internazionali (OFI) Foreign Film Productions

Diretor: Roberto Rossellini

3.945 users / 221 face

Check-Ins 556

Date 28/04/2014 Poster - #######

35. Twice Born (2012)

R | 127 min | Drama, Romance, War

34 Metascore

A mother brings her teenage son to Sarajevo, where his father died in the Bosnian conflict years ago.

Director: Sergio Castellitto | Stars: Penélope Cruz, Emile Hirsch, Adnan Haskovic, Saadet Aksoy

Votes: 17,364 | Gross: $0.01M

[Mov 01 IMDB 7,4/10] {Video/@@} M/34

PROVA DE REDENÇÃO

(Venuto al Mondo, 2012)


''Gemma visita Sarajevo com seu filho, Pietro. Há 16 anos atrás eles escaparam da cidade assolada pela guerra, quando o pai da criança ficou e acabou morrendo. Enquanto ela tenta reparar a relação com o filho, uma revelação força Gemma a encarar a perda, as consequências da guerra e o poder de redenção do amor." (Filmow)

{Se pensar bem até a virgem Maria emprestou seu ventre a Deus pai} (ESKS)

''O ator e cineasta italiano Sergio Castelitto convidou Penelope Cruz, com quem já havia trabalhado em Não se mova, a protagonizar essa história de amor ambientada durante a Guerra da Bósnia. Para tal, Castelitto se apossou do romance homônimo que sua esposa escreveu. Para fazer par romântico com Penelope, foi chamado Emile Hirsch (Na natureza selvagem). E aí reside o maior problema do filme. Não existe química com o casal. Emile é muito mais jovem do que Penelope, e isso fica evidente nas telas. Castelitto resolveu esse problema através de uma frase, onde Cruz diz: Quantos anos você tem?, de forma debochada. Mas em momento algum do filme, fica claro esse amor. Ainda mais uma paixão fulminante. Não se entende o porquê da personagem dela ter esse fervor todo pelo personagem de Hisrch, um fotógrafo errante, que ela conhece por acaso durante a estada dela em Sarajevo no final dos anos 80, quando ela vai escrever uma tese. O filme narra essa paixão e também fala sobre a vontade do casal de ter filhos. Ela se descobre estéril e daí, o amor do casal dá lugar a luta que o fotógrafo empreende para poder ajudar a população de Sarajevo. O filme vai e volta no tempo, encontrando a personagem de Penelope já com mais idade, e com um filho adolescente. Ela retorna para Sarajevo a convite de um amigo e aí, vai relembrando a tragédia que se apossou do local. O filme, além do problema de casting, tem também pontos fracos residentes no roteiro. O filme é longo, e a primeira parte é toda focada na questão da maternidade. Fiquei o tempo todo querendo entender mais dessa Guerra, que ela invadisse mais a vida dos personagens. Afinal, a Guerra da Bósnia foi esquecida muito rápida, e no entanto, foi extremamente brutal. Angelina Jolie mostrou essa faceta cruel em seu filme In the land of blood and honey. Aqui, se limita a mostrar alguns momentos de tensão e mais tardar, na revelação surpreendente da história, o ponto alto da trama. Mas até lá, o filme demora a acontecer, o que é uma pena. Castelitto obteve um grande orçamento para esse filme, filmou em locações reais em Sarajevo. Mas a sua direção, apesar de correta, pesou no melodrama e faltou na emoção. Outro ponto negativo é a maquiagem: na fase atual, a maquiagem de envelhecimento é pavorosa. Curioso que só pintaram os cabelos de grisalho e deram algumas rugas de expressão, mas o rosto continua jovial, o corpo cheio de vitalidade. O filho de Castelitto dá vida ao filho adolescente, Pietro. Jane Birkin faz uma participação especial na pele de uma agente de uma agência de adoçào de crianças. Ela está a cara da Lily Tomlin. A fotografia é um deslumbre, e a trilha sonora, curiosamente, recheada de canções pop. O filme tem todas as melhores intenções do mundo. Se vale ser visto? Sim. Mas infelizmente, não é aquele melodrama maravilhoso que a gente adora ver e se amocionar com uma história de amor impossível.'' (Hsu)

Medusa Film Alien Produzioni Mod Producciones Picomedia Telecinco Cinema Sky Cinema Mediaset Ministero per i Beni e le Attività Culturali (MiBAC) Banca Nazionale del Lavoro Film Investment Piedmont (FIP) Film Commission Torino-Piemonte Regione Lazio

Diretor: Sergio Castellitto

9.342 users / 6.755 face

13 Metacritic

Date 15/06/2015 Poster - ###

36. Dawn of the Planet of the Apes (2014)

PG-13 | 130 min | Action, Adventure, Drama

79 Metascore

The fragile peace between apes and humans is threatened as mistrust and betrayal threaten to plunge both tribes into a war for dominance over the Earth.

Director: Matt Reeves | Stars: Gary Oldman, Keri Russell, Andy Serkis, Kodi Smit-McPhee

Votes: 468,703 | Gross: $208.55M

[Mov 02 IMDB 7,7/10] {Video/@@@} M/79

PLANETA DOS MACACOS - O CONFRONTO

(Dawn of the Planet of the Apes, 2014)


{esquecível}


Sinopse

''Uma crescente nação de primatas geneticamente modificados e liderados por Cesar é ameaçada pelos sobreviventes humanos de uma alarmante epidemia viral desencadeada há uma década. O momento de paz em que se encontram está fragilizado e dura pouco, quando os dois lados são levados à beira de uma guerra que determinará quem será a espécie dominante da Terra.''
"Continua o prólogo à obra-prima de 1968 de forma estranhamente irrisória e sem coragem, limitando-se a mostrar apenas mais uma entre tantas distopias genéricas." (Alexandre Koball) 30/07/2014 "Mesmo previsível e com alguns estereótipos, é um ótimo filme comercial, com história repleta de significados, personagens com os quais a plateia se identifica e efeitos especiais justificados pela história. Melhor que o anterior em todos os sentidos." (Silvio Pilau)

"Matt Reeves consegue mais uma vez destaque diante de um blockbuster. Mesmo que a porção humana seja esquemática, os símios ocupam o espaço devido e com suas nuanças cada vez mais intensificadas, se proclamam donos da cena com louvor." (Francisco Carbone) "Embora os efeitos sejam bons e a atmosfera geral seja minimamente interessante, o perigo muitas vezes funda-se em esquemas de repetição e a história corre de um jeito previsível, inclusive dando brecha, como é de praxe hoje em dia, para mais sequências." (Guilherme Bakunin)

''Em "Planeta dos Macacos - O Confronto", temos mais uma amostra de que a tecnologia, que costumava andar de mãos dadas com a evolução da linguagem cinematográfica, agora está destruindo o cinema. Quando uma gripe símia acaba com o que chamamos de civilização, os sobreviventes, imunes ao vírus, procuram reestabelecer a geração de energia e sair das trevas. Para isso, precisam reativar uma represa localizada numa área dominada por macacos. Como de hábito, há macacos do bem e macacos do mal, assim como bons e maus humanos. Resta saber que lado prevalecerá. Como se trata de um filme hollywoodiano dos mais previsíveis, não é difícil adivinhar. Matt Reeves, diretor que havia demonstrado qualidades em Cloverfield Monstro (2008) e em Deixe-me Entrar (2010), está completamente perdido em meio a tantos efeitos especiais. Notamos, de início, a mania de fazer com que os macacos desenhados por computadores a partir de interpretações dos atores (na técnica chamada de captura de performance) comportem-se como humanos, com expressões faciais de um Laurence Olivier (1907-1989) digitalizado. Convenhamos: é ridículo. Com os humanos a coisa não é muito melhor. Gary Oldman está no piloto automático e Jason Clarke, que não é mau ator, está num tom equivocado, sobretudo nos confrontos internos entre os sobreviventes. O mesmo podemos dizer da atuação de Keri Russell, a Felicity, da série televisiva homônima criada - vejam só! - por Matt Reeves. Sempre num tom meloso, a atriz pode levar o espectador a uma overdose de sacarose." (Sergio Alpendre)

''É assustadora a capacidade de Hollywood para ter lucros a partir de uma pequena novela fantástica escrita pelo francês Pierre Boulle. O Planeta dos Macacos já rendeu o espetacular filme com Charlton Heston em 1968 (e quatro continuações até 1973), série de TV em 1974 e desenho animado em 1975. Tim Burton retomou o fio da história em 2001, com a caracterização mais simiesca de todas - macacos parecem mesmo bichos imitando gente, e não atores com fantasias. Outro resgate veio com Planeta dos Macacos: A Origem, seguido do recém-lançado "Planeta dos Macacos: O Confronto". Há tecnologia espantosa e ação, apesar de momentos modorrentos. A pergunta é: até quando?" (Thales de Menezes)

Sem buscar as nuances do processo revolucionário no qual se debruça, Planeta dos Macacos: O Confronto cai em conservadorismo político.

''Não quero ser tachado de saudosista, mas adoro os efeitos especiais do primeiro filme da franquia O Planeta dos Macacos. Aquelas máscaras rústicas e roupas futurísticas humanas conferiam realismo à mise-èn-scene. Dito isso, não deixa de ser impressionante a proeza tecnológica do prequel de 2011 - Planeta dos Macacos: A Origem - através da captura de movimentos de atores para criar os macacos. Porém, aparentemente se esqueceram de que os macacos, por mais desenvolvidos que sejam, ainda são animais. Quando todo o público alardeia a expressão profunda e supostamente carregada de sentimentos de Cesar (interpretado por Andy Serkis), falam, na verdade, de uma expressão profunda e carregada de sentimentos humanos. É importante não confundir sentimentos com expressões faciais. Não me soa nada natural, por exemplo, o sorriso de Cesar para sua esposa em um momento de dificuldade. No clássico sessentista, os sentimentos semelhantes aos dos humanos eram muito mais atenuados, mas não havia esse distanciamento perante a verdadeira natureza dos personagens. Além de ser uma necessidade latente de tornar tudo muito realista, recaindo por vezes em excessos, essa humanização dos macacos evidencia muito mais um dispositivo narrativo do filme tão próprio de Hollywood, com o intento de facilitar a identificação do filme pelo espectador. O núcleo humano surge também como uma necessidade de engendrar a obra conforme as convenções dramáticas hollywoodianas. Se no filme anterior havia a trama do personagem de James Franco com seu pai, neste existe a família nuclear clássica, com todos os seus dramas particulares – absolutamente desinteressantes, diga-se. Há uma diferença muito grande entre essa preocupação com a inserção de uma família de humanos - como se não bastassem os próprios macacos - e o sofrimento macro da comunidade autogestionária de sobreviventes humanos, o qual pode explicar certo ódio de alguns humanos em relação aos macacos, ainda que baseado em uma lógica preconceituosa e rasa – o vírus que dizimou a humanidade partiu de soros criados em laboratórios a partir de macacos. Ou seja, a situação coloca o ser humano na mesma condição vivida pelos símios fugitivos, escancarando suas reações diante da necessidade de sobreviver. Essa situação de emergência na qual os humanos estão presentes parece ser esquecida pelo próprio filme, bem como os problemas vividos por Koba, por exemplo, na obra anterior. Os humanos são facilmente divididos pelo roteiro entre bons e ruins, compreensivos e intolerantes, em um maniqueísmo também presente entre os animais, já que, embora o líder da revolução no filme tenha sofrido bastante na produção anterior da franquia, torna-se aqui um vilão completamente insano e impiedoso, com um ódio pelos humanos tratado como um problema moral pela obra. O protagonista, pintado como o herói que pode salvar o mundo do tirano, dá sermões sobre quão atrasado é o antagonista, chegando a dizer que não o considera “um macaco”. Ignora-se, dessa forma, toda a dor imposta pela espécie humana em Koda, causadora do ranço do personagem, numa visão que encara o mal enquanto algo intrínseco ao personagem. No fundo, O Planeta dos Macacos: O Combate é uma ode à moderação revolucionária (leia-se reformismo em outro contexto), ou seja, perpetua a velha ideia conservadora de que oprimido e opressor deveriam se abraçar e beijar para haver uma real mudança, como se o mundo fosse dividido apenas entre pessoas boas e ruins e tudo fosse muito simples de se resolver. Na contramão da dicotomia habitual do filme e da humanização expressiva dos macacos, levantam-se questões sobre o estado ainda animalesco dos personagens, com instintos claros de sobrevivência, sem absorver os vícios das relações humanas, uma vez que não foram nelas inseridos completamente. A hierarquia surgida no grupo, portanto, encontra ecos muito mais fortes na lei do mais forte na natureza do que numa hierarquia de exploração do topo mais alto para o mais baixo. Por outro lado, devido à humanização dos macacos no filme, essa lógica hierárquica pode estabelecer um paralelo (inconsciente, provavelmente) com a realidade humana, ou seja, como se fosse um fator natural – também de nossa espécie - hierarquizar e criar líderes. Não nego ser realmente divertido observar uns macacos montados a cavalo, atirando para todos os cantos e sorrindo, como numa cena emblemática, tampouco a engenhosidade de todas as sequências de luta entre os animais e guerra, mas não chegam a empolgar o suficiente a ponto de eclipsar todos os problemas políticos de O Planeta dos Macacos: A Origem. E o fato de Koba, o nome do macaco insano, ser a forma de Lenin chamar Stalin, diz muito sobre eles..." (Júlio Pereira)

''Quando o reboot de Planeta dos Macacos foi anunciado poucos podiam adivinhar que A Origem seria o bom filme que mostrou ser. Logo ficou claro que temas recorrentes da franquia são tão relevantes hoje quanto no passado, e a sequência, O Confronto, trabalha ainda melhor esses aspectos. Mais inteligente e profundo do que qualquer outro da série cinematográfica, o longa de Matt Reeves funciona em todos os aspectos e ainda é capaz de causar reflexões enquanto diverte, algo raro em blockbusters. A sequência se passa dez anos depois de César (Andy Serkis) liderar os macacos inteligentes à liberdade. Nesse tempo, ele criou uma sociedade complexa nas florestas ao redor de São Francisco. Enquanto isso, o mesmo vírus que aumentou as capacidades cerebrais dos macacos também foi o responsável por eliminar boa parte da humanidade. Quando sobreviventes humanos reencontram os símios, desentendimentos ameaçam começar uma guerra que pode acabar com ambas as espécies. Cabe a César, protagonista da trama, controlar a sede de vingança de seus comandados enquanto negocia trégua com Malcom (Jason Clarke). Embora a trama gire em torno da tensão entre as duas raças, a narrativa não deixa de fora questões políticas internas de cada grupo, além de motivações individuais dos personagens. Esses elementos aprofundam o enredo, garantem diferentes camadas ao longa e refletem a complexidade de nossa própria sociedade. A franquia conhecida por trabalhar questões políticas e sociais volta a tocar nessas questões sem entediar os espectadores, diferente de A Origem, que simplificou demais esses aspectos. Grandes atuações garantem que esses elementos não sejam desperdiçados. Gary Oldman aparece pouco e seu arco acaba de forma simplória, mas o ator domina suas cenas. Jason Clarke consegue ser um coadjuvante a altura de César e a dinâmica dos dois é um dos pontos fortes da produção. Andy Serkis impressiona cada vez mais na captura de movimentos e conseguem transmitir emoções cada vez mais complexas. Grande feito, principalmente se levarmos em conta que boa parte das conversas dos macacos é feita apenas por linguagem de sinais. Reeves faz bem ao trazer de volta os companheiros de César do filme anterior. Personagens que poderiam ter sido substituídos facilmente, agora ganham destaque, principalmente Koba (Toby Kebbell), Maurice (Karin Konoval) e Rocket (Terry Notário). Diferente do primeiro, no qual produtores sentiram a necessidade de focar nos humanos, O Confronto poderia facilmente ter apenas macacos na tela e ainda funcionaria. Mesmo assim, o longa procura fechar o ciclo iniciado no longa anterior, relembrando até mesmo a amizade de César com Will Rodman (James Franco). A relação entre César e Koba garante alguns dos principais momentos da produção. O macaco mais velho questiona a abordagem de César em relação aos seres humanos e, quando discutem, Koba implora por perdão com uma mão estendida e postura de submissão. No começo, o líder pega a mão do amigo com vontade e aceita seu pedido de desculpas, afinal ele entende a dificuldade da situação. Conforme a cena se repete, pequenas variação mostram que algo na amizade entre os dois está mudando. Sutil, mas impactante. Visualmente o filme é muito bonito. Mesmo cenas simples como dois macacos conversando mostram a atenção ao detalhe da equipe de direção de arte e efeitos especiais. Além disso, outro elemento clássico da série retorna de forma abundante: macacos montados em cavalos observando, de longe, os humanos. Essas são apenas algumas cenas inesquecíveis que remetem ao original sem parecerem cópias. No final das contas, o que faz O Confronto ser tão bom é o fato de partilhar com a série antiga a exposição de problemas enfrentados no mundo real. Noções relevantes como família andam lado a lado com questões como pena de morte, isolacionismo e preconceito. Esse é o tipo de filme que Hollywood deveria fazer mais vezes, capaz de tratar de assuntos relevantes e ainda divertir. É algo que todo amante de cinema merece e, mesmo sendo um pouco longo e não precisar ser visto em 3D, é ótima escolha para todas as idades." (Daniel Reininger)

{O macaco se agarra ao galho mais forte} (ESKS)

Um grande exemplar da ficção-científica.

''Filmes de ficção-científica têm o desafio natural de fazer o público embarcar em algo que possui elementos fora do cotidiano. Não é à toa que muitas vezes eles são envoltos em inúmeros efeitos especiais, novas técnicas apresentadas a cada ano, maquiagem elaborada, figurinos inventivos e afins. Um dos grandes problemas do gênero é exatamente a atenção exagerada a esses aspectos, em detrimento de uma boa história, um bom roteiro. Os melhores filmes do gênero conseguem combinar o universo criado onde as premissas são compradas pelo espectador com bom entretenimento, ou personagens bem construídos, algumas vezes com críticas sociais que servem pra nossa própria sociedade. Os clássicos do gênero combinam todos esses elementos, e por isso que desde já ''Planeta dos Macacos: O Confronto" deve entrar nessa categoria. Continuação de Planeta dos Macacos: A Origem, e prequel de uma série que se iniciou em 1968, aqui continuamos acompanhando Caesar, o símio criado por Will Rodman (James Franco) no filme anterior, que se refugiou nas montanhas próximas a San Francisco em conjunto com um grupo de macacos inteligentes e onde vivem em sociedade, isolados dos homens. Já os humanos foram praticamente dizimados pelo vírus criado em laboratório no filme anterior, e os poucos que sobraram não estão muito bem, e nos 15 anos que se passaram desde então, seus suprimentos estão cada vez mais escassos. Um grupo de sobreviventes enfim se encontra com o grupo dos símios quando tentam alcançar uma barragem que pode lhes proporcionar energia novamente, mas para ter acesso a ela, eles precisam convencer Ceasar a confiar nos homens novamente e com isso evitar uma guerra. Assim como no filme anterior, o grande destaque está exatamente no mundo animal. Caesar, Koba e sua sociedade são infinitamente mais interessantes que os humanos que permeiam a história. Aqui vale um adendo para falar no quanto os efeitos especiais são incríveis, a evolução em poucos anos na qualidade dos macacos, em número muito maior, e com muito mais tempo de tela do que em A Origem, é impressionante. E embora o trabalho dos atores que permitem a captação dos movimentos seja incrível, que seja dado o devido valor também aos criadores dos efeitos. É muito difícil em um filme como esse especificar onde termina a genialidade de um artista e começa a do outro, por isso nem entro no mérito de se Andy Serkis merece um Oscar ou não... Mas posso dizer que o trabalho em grupo criou um dos melhores personagens de filmes de ficção-científica de todos os tempos, então espero que todos comemorem e fiquem satisfeitos com isso. Um dos grandes méritos do filme, aliás, é saber onde apostar suas fichas. Seja no roteiro, ou nos efeitos. Mesmo as explosões, e cenas de ações costumeiras, que aqui também recheiam o filme (as vezes até desnecessariamente) são bem menos impressionantes do que momentos mais intimistas. Mas verdade seja dita, embora personagens humanos sejam menos interessantes, James Franco e seu pai John Lithgold no filme anterior, buscando a cura pro Alzheimer, e mesmo Jason Clarke e Keri Russell neste, divididos entre o que resta da humanidade e a sociedade dos macacos, tentando evitar a eminente guerra, já são muito superiores ao personagem de Charlton Heston em 68. E o troféu Personagem Desnecessário, que pertencia a Freida Pinto no filme anterior, nessa vai para Gary Oldman. Embora o roteiro já tenha questões interessantes o suficiente, e reviravoltas, e personagens bem trabalhados, há uma necessidade quase infantil dos roteiristas em colocar seu personagem, uma espécie de antagonista ao Ceaser do lado dos homens. Todas as suas cenas poderiam ser substituídas com Malcolm, personagem de Jason Clarke, como o líder dos humanos, e seu dilema entre salvá-los em detrimentos dos apes como a força motivadora da história seria muito mais forte. Goldman é um bom ator, mas seu personagem só enfraquece a história. Seus momentos em cena são o que tornam o filme mais próximo de um blockbuster, uma espécie de homogeneização. É mais fácil ter alguém pra odiar em ambos os lados. Durante o verão americano, muito se é dito sobre a qualidade dos filmes, sobre a idiotização do público, pelo excesso de franquias, falta de material original... mas a verdade é que nas mãos de diretores inteligentes, essa armadilha pode ser evitada. É o caso de Bryan Singer com os X-Men, J. J. Abrams com Star Trek, Nolan com os filmes do Batman e agora Matt Reeves com o Planeta dos Macacos. Séries ruins só existem com diretores preguiçosos, vide o que Tim Burton fez com os símios em 2001. E tudo começa quando os efeitos estão ali para ajudar a contar uma história, e o roteiro não é uma desculpa para despejar CGI. Nas mãos certas, talvez até Transformers pudesse ser bom." (Felipe Tostes)

Top 250#172

Chernin Entertainment Ingenious Media (in association with) TSG Entertainment

Diretor: Matt Reeves

267.298 users / 45.076 face


Soundtrack Rock

The Band
79 Metacritic

Date 15/07/2015 Poster - ###

37. Peace, Love & Misunderstanding (2011)

R | 96 min | Comedy, Drama, Music

45 Metascore

An uptight New York City lawyer takes her two teenagers to her hippie mother's farmhouse upstate for a family vacation.

Director: Bruce Beresford | Stars: Jane Fonda, Catherine Keener, Elizabeth Olsen, Nat Wolff

Votes: 8,777 | Gross: $0.54M

[Mov 03 IMDB 5.9/10] {Video/@@} M/45

PAZ, AMOR E MUITO MAIS

(Peace, Love & Misunderstanding, 2011)


TAG BRUCE BERESFORD

{cansativo / esquecível}


Sinopse

"Diane é uma advogada de Nova York que há 20 anos não fala com a mãe, uma hippie que mora em Woodstock. Mas quando seu marido pede o divórcio, ela decide levar os filhos para conhecer a avó."
''Com somente 10 minutos, ''Paz, Amor e Muito Mais'' revela o que há de pior na produção independente norte-americana (ou indie), em particular a insistência em personagens atípicos e não-convencionais, para não dizer esquisitos, ocasiões clichês e relacionamentos artificiais, sendo tudo isso envolto na roupagem exótica de uma comunidade hippie que não abandonou os hábitos de Woodstock. Mas antes de visitar esse ambiente pitoresco, o roteiro apresenta Diane (Catherine Keener), uma advogada careta e controladora recém-comunicada da intenção do marido Mark (Kyle MacLachlan) em se divorciar. Para digerir a notícia, ela viaja com os filhos Zoe (Elizabeth Olsen, filosófica) e Jake (Nat Wolff, o protótipo do cineasta aborrecido) à casa da mãe Grace (Jane Fonde), que não vê há 20 anos. Ao lado de casamentos, funerais e jantares de ação de graça, reencontros iguais a esse são a maneira mais batida e barata que a produção indie encontrou para que os personagens revejam seus conceitos e descubram uma faceta nova dentro de si. Entretanto, um cineasta experiente como Bruce Beresford (Conduzindo Miss Daisy), deveria saber que há formas mais elegantes de estabelecer o arco dramático do trio central afora confrontos ideológicos e românticos açucarados e óbvios – perdoe-me se pareço redundante, mas a narrativa força isso. Enquanto a sisuda Diane solta-se em caminhadas pela natureza, banhos no rio e danças sob a lua cheia com Jude (Jeffrey Dean Morgan), a vegetariana Zoe apaixona-se por ninguém menos do que o açougueiro Cole (Chace Crawford) e Jake supera a timidez com a desinibida Tara (Marissa O’Donnell). Contudo, por mais irônico que possa parecer em se tratando de uma comunidade naturalista, tudo decorre com extrema artificialidade e de acordo com a cartilha do gênero (há algum tempo o indie deixou de ser só um modo de produção): os conflitos tolos desenrolam-se acompanhados pela trilha sonora tipicamente melosa; os planos abertos da natureza e do pôr-do-sol martelam o sentimento de acolhida inexistente na selva urbana; e os diálogos comunicam ensinamentos vãos transmitindo a falsa sensação de que existe maturidade ali envolvida. E não há, mas não por causa da vida adotada por Grace – criar galinhas dentro de casa e plantar maconha no porão são extravagâncias aborrecidas, caricaturais e só -, e sim porque aparentar sofisticação, desapego e altivez é mais cômodo do que apenas agir como um adulto médio faria. Ou então um ser humano normal. Se basta pouco tempo para descobrir tudo isso sobre os chatos personagens de Paz, amor e muito mais, imagine aguentá-los por 90 minutos? P.S.: Ainda que estranho, autoindulgente e sem um enfoque claro, o curta-metragem dirigido por Jake e exibido no fim da narrativa é infinitamente melhor do que esta produção." (Marcio Sallen)

BCDF Pictures

Diretor: Bruce Beresford

5.326 users / 1.968 face


Soundtrack Rock

The Gaylads / Grateful Dead / Vetiver / Harper Simon / Fruit Bats
25 Metacritic

Date 28/07/2015 Poster - #

38. Little Miss Sunshine (2006)

R | 101 min | Comedy, Drama

80 Metascore

A family determined to get their young daughter into the finals of a beauty pageant take a cross-country trip in their VW bus.

Directors: Jonathan Dayton, Valerie Faris | Stars: Steve Carell, Toni Collette, Greg Kinnear, Abigail Breslin

Votes: 517,925 | Gross: $59.89M

[Mov 10 Favorito IMDB 7,9/10] {Video/@@@@@} M/80

PEQUENA MISS SUNSHINE

(Little Miss Sunshine, 2006)


TAG JONATHAN DAYTON / VALERIE FARIS

{inesquecível}


Sinopse

''Nenhuma família é verdadeiramente normal, mas a família Hoover extrapola. O pai desenvolveu um método de auto-ajuda que é um fracasso, o filho mais velho fez voto de silêncio, o cunhado é um professor suicida e o avô foi expulso de uma casa de repouso por usar heroína. Nada funciona para o clã, até que a filha caçula, a desajeitada Olive (Abigail Breslin), é convidada para participar de um concurso de beleza para meninas pré-adolescentes. Durante três dias eles deixam todas as suas diferenças de lado e se unem para atravessar o país numa kombi amarela enferrujada.''
"Uma junção de personagens cativantes. Um filme desses que a gente decora as falas e tem pelo menos uma cena marcante: o grito de Dwayne que alertou o mundo sobre a existência de Paul Dano." (Geo Euzebio)

"Simpático e com alguns momentos engraçados. Não vai muito além disso." (Bernardo D.I. Brum)

"Que coisa maravilhosa é a simplicidade, não é?"

(Rafael W. Oliveira

***** ''Cada cena, cada personagem de "Pequena Miss Sunshine" parece trazer a tiracolo uma crítica aos EUA. Não que o american way não seja criticável. Talvez seja até mais, só que neste filme tudo parece feito para seduzir o espectador menos disposto a elogiar tudo que seja dos EUA. Tomemos a garotinha que só pensa em concursos de miss: devorada pela TV e seus hábitos. Ou o irmão que se recusa a falar. Ou o professor suicida. E há ainda o avô, libertário cultor de pornografia etc. Ora, o paradoxal disso é que a história dessa família fuleira, lutando para levar a menininha até o concurso de miss numa charanga digna de Mazzaropi é, afinal, bastante sedutora, sim. É um filme para se divertir, mas é bom resistir à sua sedução: eis o típico filme feito para o espectador sentir-se melhor que os personagens por não ser como eles." (* Inácio Araujo *)

***** Todas as peripécias de "Pequena Miss Sunshine'' preparam o final. Elas não são poucas, e envolvem uma família e seus muitos desajustes, carências e, sobretudo, dificuldades para chegar ao local onde acontecerá o grande concurso a que concorre a filha pequena. Quem prepara a garota, no maior segredo, é o avô. E ele, diga-se logo, é a grande estrela do filme: Alan Arkin. Miss Sunshine foi supervalorizado pelo seu lado inconformista (Arkin ganhou o Oscar de coadjuvante) apenas aparente. Talvez por isso, a sua rápida glória tenha sucedido o esquecimento: hoje, "Miss Sunshine" vaga pelos canais pagos e só." (** Inácio Araujo **)

Simples, agradável e divertido. Seu maior problema é ser vítima da expectativa gerada em torno dele.

''A expectativa ao assistir ''Pequena Miss Sunshine'' era das maiores. Afinal, fora aclamado como um dos melhores do ano por onde passou, virou quase que unanimidade e deu um inesperado e enorme retorno de bilheteria. Por todo esse currículo, se tornou o filme independente do ano e é, desde já, especulado como um dos favoritos ao Oscar ano que vem. Ao final da projeção, a decepção: o filme é vítima do próprio hype. Convencional, de temática já explorada à exaustão pelo cinema indie e um roteiro que força a barra algumas vezes, o filme não faz jus à fama. Não é ruim, longe disso, mas se não fosse toda essa histeria sobre ele, talvez funcionasse melhor. Os Hoover são os malucos da vez. O chefe de família, Richard (Greg Kinnear, sempre medíocre), é um aspirante a guru de auto-ajuda que vê no futuro lançamento de seu livro de estréia a sua salvação financeira. Sheryl (a excelente atriz Toni Collette, mal aproveitada) é a matriarca, que tenta contornar todos os problemas da família com bom senso. Os filhos também não são lá exemplos de normalidade: Dwayne (Paul Dano) odeia a tudo e a todos e está em voto de silêncio há meses; a fofíssima Olive (a inacreditável Abigail Breslin, sem dúvidas a melhor coisa do filme – é impressionante como cinema americano consegue descobrir esses talentos infantis) é uma garotinha que, mesmo pançudinha e de enormes óculos de grau no rosto, sonha em ser miss, passando boa parte do seu tempo treinando para tal objetivo com o avô paterno Edwin (Alan Arkin, que tem os melhores diálogos), que no final da vida resolveu se entregar aos prazeres mundanos, em especial ao uso de heroína. E, por fim, há a chegada do professor Frank (Steve Carell, mais conhecido como o "virgem de 40 anos", talentoso toda vida), irmão de Sheryl, que é acolhido na família após ter tentado suicídio. A vida de todos é radicalmente alterada quando eles têm de embarcar em uma viagem desastrada, do Novo México à Califórnia, para que a pequena Olive possa participar de um concurso de miss para garotas da idade dela. Essa espécie de "Férias Frustradas" se torna muito engraçada por conta do veículo utilizado: uma Kombi amarela, daquelas bem velhas, que quebra no meio do caminho e passa então a só funcionar quando empurrada. Cenas realmente hilárias são criadas a partir desse fato, e uma é antológica: quando um membro da família é esquecido em um posto de gasolina."Pequena Miss Sunshine'' tem muitos momentos engraçados, e o seu clímax catártico, absolutamente surreal, deixa uma sensação boa. A gente sai do cinema mais leve, como se todas as agruras daquelas pessoas fossem intimamente ligadas às nossas, e aquela desforra deles contra o mundo também fosse a nossa. E nisso o filme funciona: ele consegue fazer uma identificação entre o espectador e personagens. Minha maior reserva é em relação ao desenvolvimento de sua história, que já foi por demais explorada. Pegue qualquer filme independente recente de temática parecida – Retratos de Família (Junebug), por exemplo. Coloque os personagens dentro da Kombi. Pronto: essa é a fórmula aqui utilizada pelos diretores estreantes Jonathan Dayton e Valerie Faris, casal na vida real, que vêm de carreira de grande sucesso em videoclipes e comerciais. A direção deles é precisa, mas esbarra em um roteiro (do também estreante Michael Arndt) que, com todos os problemas já citados, ainda abusa do direito de utilizar coincidências como desencadeador dramático: a do hotel, a do reencontro entre Frank e um antigo aluno, e a descoberta de uma anomalia na visão de Dwayne. Tudo muito falso. É muito oba-oba por tão pouco. Se de perto ninguém é normal, ''Pequena Miss Sunshine'' é, descascado, algo absolutamente dentro dos padrões. Tirando toda a ovação, é um filme simples, agradável e divertido. E é assim que deveria ser lembrado." (Andy Malafaya)

Um pequeno belo filme, Miss Sunshine deverá arrancar risadas e algumas lágrimas, quem sabe algumas indicações ao Oscar também.

''Acredito que um bom diretor pode fazer qualquer história ficar interessante, a dupla Johnatan Dayton e Valerie Faris, egressos de uma sólida carreira com videoclipes e documentários, estréiam em longas provando sua competência com a manjadíssima história de Pequena Miss Sunshine. Um road-movie sobre uma família desajustada que se modifica com a viagem, já vimos isso antes, com um tema de vencedores/perdedores já abordado em centenas de outros filmes americanos, junte-se a isso uma criancinha fofa que tem um sonho e você obtém a receita do desastre total. Filme de sábado à noite na televisão com todos os clichês possíveis. Mas o surpreendente é que é funciona. Os diretores sabem contar a história sem cair em nenhuma armadilha piegas ou grosseira, o cômico e o sentimental são perfeitamente dosados embora o roteiro resvale no absurdo. Os personagens parecem exagerados, mas são interpretados com brilho pelo elenco, emprestando a eles uma sinceridade que diferencia Pequena Miss Sunshine de outras comédias rasteiras que são lançadas todo ano nos cinemas. A presença de Steve Carell pode atrair seus fãs que devem estranhar um pouco, é um filme independente e ele está fazendo um papel contido, também devem saber que ele não é o personagem principal. Carell, que se tornou conhecido depois do divertido O Virgem de 40 Anos e emprestou sua voz ao hilário esquilo de Os Sem-Floresta, é o comediante americano do momento e aqui ele mostra versatilidade vivendo o melancólico Frank, um professor homossexual que acabara de tentar o suicídio. O elenco ainda conta com Alan Arkin, vivendo o avô viciado, Greg Kinnear e Toni Collete como os pais da menina Olive, cujo desejo de participar de um concurso de beleza acaba arrastando todo mundo na viagem, e Paul Dano, como o estranho irmão mais velho de Olive, vivida por uma ótima atriz mirim chamada Abigail Breslin, que coloca o filme no bolso em todas as cenas que aparece. Após inúmeras pequenas e grandes tragédias, a viagem deles culmina em um divertidíssimo climax. ''Pequena Miss Sunshine'' não é o filme mais original mas a execução é impecável e em um ano de filmes ambiciosos e decepcionantes, uma história simples acaba se tornando uma das melhores opções a chegar nos cinemas." (Ary Monteiro Jr)

''Um filme modesto pode se tornar grande. A prova é "Pequena Miss Sunshine", que estréia nesta sexta-feira. Cotado para disputar o Oscar de melhor roteiro original em 2007, a produção de orçamento minúsculo cativa ao abordar temas pesados (adolescência problemática, fracasso profissional, homofobia, suicídio, desilusão amorosa e drogas) sem perder o senso de humor. Tudo graças a um elenco talentoso e bem dirigido, além de diálogos enxutos e precisos. O longa é um road movie. Uma família disfuncional atravessa o deserto, em uma kombi amarela com defeito, para levar a caçula até a Califórnia onde será disputado um concurso de beleza para crianças. No caminho, os dramas dos seis personagens se agravam, criando um clima de tensão e ânimos exaltados. Apesar da "lavagem de roupa suja" sobre quatro rodas, o filme alimenta a esperança de que a família Hoover, bem como a da platéia no cinema, tem chance de se entender e ficar unida. Um dos motivos do sucesso de público e crítica de "Pequena Miss Sunshine" é a atriz-mirim Abigail Breslin, 10, que despontou no suspense Sinais. A garota é um prodígio. Tomara que supere a maldição Shirley Temple e vire, quando adulta, atriz com a força visual de uma Drew Barrymore e Natalie Portman. O ponto alto de Abigail coincide com o momento mais emocionante do filme, quando a garota Olive, sua personagem, tenta consolar o irmão revoltado Dwayne (o promissor Paul Dano, 23), fã de Nietzsche, após uma explosão de raiva dele contra a família. Outro motor do filme é o ator Steve Carell, que enverniza sua carreira após protagonizar o sucesso comercial de O Virgem de 40 Anos outra boa comédia com pretensão de defender o fim de padrões impostos de comportamento. Em "Pequena Miss Sunshine", Carell é o professor gay e suicida Frank, especialista na obra de Proust --uma piada para os mais eruditos. Não há caricatura na composição do personagem, que na trama exerce a função de pacificar a família. Para completar a kombi, a mãe Sheryl (Toni Collette) tenta equilibrar a família, diante do marido Richard (Greg Kinnear), que dá palestras de auto-ajuda e parece encarnar a obsessão da América pelo sucesso material e o desprezo por quem não se encaixa nesse perfil. Para ele, o mundo se divide em vencedores e perdedores, e só crianças magras conseguem o sucesso. O problema é que o seu pai Edwin (ator veterano Alan Arkin), viciado em heroína, não é bem um exemplo de êxito. Desde Beleza Americana, vitorioso no Oscar de 1999, passando por Traffic e mais recentemente Crash (melhor filme de 2006) e Transamérica, explorar as farsas e fragilidades do modelo de família perfeita - em drama ou comédia - deixou de ser um filão restrito ao chamado cinema independente, conceito cada vez mais débil diante da esperteza dos grandes estúdios de focar também seus negócios para filmes de arte, fora do circuito. Na TV, o fenômeno de mostrar a outra América se repetiu com séries como A Sete Palmos e Desperate Housewives. Mesmo com essa maior busca por roteiros alternativos, fora da fórmula, "Pequena Miss Sunshine" sofreu tanto quanto seus personagens para chegar às telas. O roteirista Michael Arndt, estreante em longas, ouviu muito não. Após o burburinho causado no festival de Sundance neste ano, o filme despertou interesse dos executivos da 20th Century Fox. O estúdio gastou uma ninharia estimada em US$ 10 milhões pelos direitos do filme. Ou seja, a imagem da família empurrando a kombi não é à toa no filme dirigido pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, mais conhecidos por assinar clipes de bandas melancólicas nos anos 90 como Smashing Pumpkins. Se não se agarrase a um fio de otimismo no final da história, "Pequena Miss Sunshine" seria mais contundente ao mostrar a perversidade dos adultos em castrar a infância de seus filhos para realizar seus ideais de sucesso, fabricando uma geração de crianças plastificadas e pasteurizadas, tanto na beleza como nas atitudes para enfrentar seus conflitos." (Sergio Alpendre)

79*2007 Oscar / 64*2007 Globo / 2007 César

Fox Searchlight Pictures Big Beach Films Bona Fide Productions Deep River Productions Third Gear Productions

Diretor: Jonathan Dayton / Valerie Faris

334.595 users / 14.435 face


Soundtrack Rock

Pulse / Rick James
36 Metacritic

Date 05/11/2015 Poster - ########

39. Poltergeist (2015)

PG-13 | 93 min | Horror, Thriller

47 Metascore

A family whose suburban home is haunted by evil forces must come together to rescue their youngest daughter after the apparitions take her captive.

Director: Gil Kenan | Stars: Sam Rockwell, Rosemarie DeWitt, Kennedi Clements, Saxon Sharbino

Votes: 61,063 | Gross: $47.43M

[Mov 08 IMDB 5,3/10] {Video/@@@@@} M/71

POLTERGEIST - O FENÔMENO

(Poltergeist, 2015)


TAG GIL KENAN

{esquecível / cansativo}


Sinopse

''Família é perseguida e atormentada por fantasmas após mudarem-se para uma casa construída sobre um terreno assombrado.''
"Nem mesmo as duas cenas-chave do original (palhaço e árvore) esta refilmagem conseguiu emular com a mínima qualidade. É um trabalho superficial e vazio, altamente burocrático. Faz o original parecer uma obra-prima, algo que ele não foi." (Alexandre Koball)

A refilmagem fast-food de (quase) sempre.

''Um fato incontestável no meio da Hollywood atual: existe uma carência enorme de ideias. Originalidade nunca foi um requisito obrigatório para que um filme se tornasse bom, mas há anos que a escassez de inspiração dos roteiristas da grande indústria tem sabotado diversas histórias e narrativas, onde tudo é mergulhado numa onda de incessantes clichês e obviedades. E apesar deste problema englobar o cinema como um todo, dois gêneros em especial se tornaram as principais vitimas: a comédia e o terror. Enquanto o primeiro gênero obriga muitos dos diretores e roteiristas a se apoiarem na repetição incessante de piadas e gags já vistas em milhares de filmes, o segundo já usa e abusa de diversos artifícios que tentam, de alguma forma, trazer o sentimento de medo ao espectador. E nos últimos anos, é possível contar nos dedos as produções que conseguiram obter sucesso na reunião de alguns dos costumeiros elementos do gênero e, ao mesmo tempo, trazer algum frescor (não estranhe se Invocação do Mal for o primeiro exemplo contemporâneo a surgir na sua cabeça). "Poltergeist: O Fenômeno" é mais um destes belos exemplos de que a indústria precisa, urgentemente, se reinventar. Refilmagem do clássico do horror de Tobe Hooper lançado nos anos 80 (que está bem mais para uma ficção cientifica com sensíveis toques de humor negro), o projeto até criou certa expectativa quando anunciado, especialmente por ter o diretor Sam Raimi (de A Morte do Demônio e Arraste-me para o Inferno) como um dos produtores, mas ledo engano. Atualizando a já conhecida trama da família Bowen (Freeling, no original) para os dias atuais, com a presença constante da tecnologia como meio de fazer a narrativa andar, o que temos é mais uma típica obra onde, já nos primeiros cinco minutos de projeção, os diálogos, composições de cenas e trilha sonora já nos dão pistas fortes do que poderemos esperar ao longo da trama. Em resumo, reina uma previsibilidade gritante. Existe, no entanto, um certo esforço do roteirista David Lindsay-Abaire (de Oz: Mágico e Poderoso) e do diretor Gil Kenan (A Casa Monstro) em abordar certos temas e fazer do filme uma experiência, no mínimo, visualmente atrativa. Lindsay-Abaire, por exemplo, pega a constante presença da tecnologia (TVs, celulares, tablets) como uma forma de falar sutilmente sobre a nossa própria relação com estes instrumentos, ao mesmo tempo em que a situação financeira do casal Bowen é uma ponte para construir alfinetadas em cima da onda de desempregos pós-queda da bolsa ou até mesmo do capitalismo. E Kenan, apesar de ainda pouco experiente no ramo, sabe como filmar certas cenas, trabalhando em cima de planos abertos e de movimentos de câmera que desafiam o olhar do espectador. Mas o fato é que tais esforços em trazer alguma força para a experiência acabam não passando disso: esforços. Pois "Poltergeist: O Fenômeno" é, em suma, uma reciclagem do que há de mais redundante no gênero terror: fenômenos estranhos, objetos se movendo, portas batendo, sussurros sendo ouvidos, a casa intimidadora, o casal cético, as crianças com forte tendência a enxergar o sobrenatural, a adolescente mimada, palhaços, sons altos nos momentos de susto e, claro, um ou dois coadjuvantes que irão surgir lá pelas tantas para ajudar a salvar o dia. O original de Tobe Hooper carregava muitas destas características, é claro, mas o diretor soube como injetar uma boa dose de auto-ironia e transcrever a experiência para um outro nível. Já esta versão moderna, apesar dos vários momentos de humor voluntário (os involuntários também estão lá), peca ao levar-se à sério demais, acreditando que o necessário já reside no básico. Um erro mortal. As inevitáveis comparações com o original apenas diminuem o efeito de um filme, por si só, já condenado ao limbo. Kenan tenta reproduzir algumas das cenas e elementos que fizeram a fama do filme de Hooper, mas numa velocidade digna de um fast-food. Enquanto que Hooper trabalha bastante com a sugestão e com o invisível aos olhos, Kenan exagera na crueza e na pressa em impactar o espectador, o que desconstrói qualquer nível de tensão que tais cenas poderiam render. E algo mais impressionante é que, mesmo com a evolução das técnicas visuais, os efeitos especiais gritantes e espalhados ao longo do filme apenas nos incomodam com o tom fake no qual mergulham as cenas de maior ação, o que até nos faz sentir saudades do CGI tosco do original de Hopper (que, convenhamos aqui, não envelheceu tão bem em termos técnicos). Como bem ali em algum texto do filme pela internet afora, Poltergeist: O Fenômeno pode ser resumido como um dos típicos terror-espetáculo feitos para o público atual, que acredita que mais é sempre melhor. Não há mais valorização na subjetividade ou no trabalho com o imaginário do público. O que devemos ter agora é o explicito, o mastigado, o óbvio, aquilo que faz o chamado entretenimento passageiro. E a refilmagem de Poltergeist é isso: um produto mastigado e sem nenhum atrativo fora disso, recorrendo ao moralismo e ao óbvio. E assim, apenas vai restando os leves fiapos de esperança de que o gênero, de fato, se reerga novamente com o tempo." (Rafael W. Oliveira)

''O “Poltergeist – O Fenômeno” original, lançado em 1982, marcou época graças ao roteiro inspirado de Steven Spielberg e direção competente de seu parceiro na empreitada, Tobe Hooper (“O Massacre da Serra Elétrica”). Existia uma urgência naquele longa que, aliada à trágica morte precoce de sua estrela mirim Heather O’Rourke (que faleceu após estrelar duas fracas continuações daquela fita), o alçou à condição de clássico maldito do gênero. Trinta e três anos depois chega às telas este remake homônimo, com Sam Raimi (Homem-Aranha) no lugar de Spielberg e Gil Kenan (da subestimada animação A Casa Monstro) substituindo Hooper na direção. Por mais que sejam dois profissionais extremamente talentosos, especialmente Raimi, que é um cineasta quase tão querido quanto o próprio Steven Spielberg, algo deu errado nesta refilmagem. A trama é basicamente a mesma, com uma família que recém se mudou para uma casa no subúrbio descobrindo que o imóvel é assolado por forças sobrenaturais e tendo de resgatar a caçula, sequestrada por fantasmas vindos de um antigo cemitério sob o qual a casa fora construída. A grande diferença entre o original e este remake jaz justamente nos estilos de trabalho das duplas. Com os produtores do remake presos entre colocar o seu próprio toque autoral no filme e homenagear o clássico no qual este é baseado, o remake ficou em uma espécie de limbo por não saber exatamente que tipo de produção realmente é. Spielberg e Hooper levavam o texto a sério, criando uma aura de terror crescente que englobava a projeção inteira, mixando a inocência infantil com um clima de tensão, uma das marcas registradas de Spielberg. Já Raimi e Kenan tem um retrospecto de, por falta de termo melhor, “terrir”, acrescentando toques constantes de comédia no decorrer da projeção (até mesmo no terceiro ato) que minam qualquer tipo de tentativa de seriedade do projeto, especialmente quando surgem os especialistas em parapsicologia na trama, que se convertem em heróis trash típicos dos trabalhos de Raimi. Isoladamente, esses estilos de produção funcionam muito bem, mas são incompatíveis dentro de uma só obra. Nisso, vemos ótimos atores como Sam Rockwell e Rosemarie DeWitt (que fazem os patriarcas da família assombrada) e Jared Harris (como o caçador de fantasmas no melhor estilo da série de TV Ghost Hunters) absolutamente perdidos na tela, com performances que alternam tons sérios e cômicos de maneira quase que aleatória. Tanto os produtores quanto o roteiro aparentemente não sabiam qual direção seguir. Nisso, Raimi e Kenan, que vinham de bons filmes como o novo A Morte do Demônio e o interessante Cidade das Sombras, se sabotam, tentando emular uma estilização cinematográfica que foge de suas próprias assinaturas fílmicas, deixando o espectador tão confuso quanto os personagens (e atores) sobre o que está acontecendo, causando momentos de risos em cenas inadequadas, matando qualquer tipo de tensão que as sequências mais intensas poderiam gerar. O resultado, obviamente, beira o desastroso, desperdiçando boas ideias e uma competente direção de arte em um longa forçado e que só encontra virtudes graças ao carisma dos membros veteranos do elenco, especialmente Rockwell e Harris. O que torna um remake eficiente é ver cineastas oferecendo suas próprias visões de histórias conhecidas, algo que só vemos de relance neste “Poltergeist – O Fenômeno”. Chega a ser irônico que o apego excessivo de Raimi e Kenan ao original tenha matado este filme.'' (Thiago Siqueira)

Fox 2000 Pictures Metro-Goldwyn-Mayer Ghost House Pictures Vertigo Entertainment TSG Entertainment

Diretor: Gil Kenan

32.426 users / 70.080 face


Soundtrack Rock

Spoon / Bleached
27 Metacritic

Date 09/11/2015 Poster - #

40. White Bird in a Blizzard (2014)

R | 91 min | Drama, Mystery, Thriller

51 Metascore

In 1988, a teenage girl's life is thrown into chaos when her mother disappears.

Director: Gregg Araki | Stars: Shailene Woodley, Eva Green, Christopher Meloni, Angela Bassett

Votes: 29,989 | Gross: $0.03M

[Mov 07 IMDB 6,4/10] {Video/@@@@} M/51

PÁSSARO BRANCO NA NEVASKA

(White Bird in a Blizzard, 2014)


TAG GREGG ARAKI

{interessante}


Sinopse

''Eve Connors (Eva Green), mãe de Katrina (Shailene Woodley) abandona a família, deixando todos em estado de choque. Kat e seu pai tentam colocar a vida em dia, mas logo a jovem começa a ter sonhos perturbadores. Aos poucos, ela irá perceber que há uma verdade terrível por trás do desaparecimento da mãe.''
''As múltiplas orientações da sexualidade combinadas com uma estética lisérgica viciante fizeram dos filmes do diretor Gregg Araki um item essencial no contexto indie. Em "Pássaro Branco na Nevasca", o cineasta americano continua fiel às desordens adolescentes, mas ameniza a ousadia temática, perdendo um tanto do impacto antes alcançado com Geração Maldita, Mistérios da Carne e Kaboom. O filme se impõe graças ao prazer com que Araki recupera a percepção juvenil de uma época, entre o fim dos anos 1980 e início da década de 1990, quando o pop ainda não tinha voltado a soar feliz e a Aids cobria os desejos com uma capa de medo. Numa tarde de outono, poucos meses antes de Kat completar 18 anos, sua mãe some sem deixar rastros. A dedicação integral ao marido e um lar perfeito haviam transformado Eve em morta-viva. Desaparecer era apenas questão de tempo. Como o filme descreve os antecedentes da perspectiva de Kat, o casamento dos pais ganha um ácido retrato combinado de fantasia infantil com tédio adolescente. Araki também tira proveito desse ângulo para criar uma inversão de lugares entre mãe e filha, entre a mulher madura reprimida e a jovem cheia de tesão. Enquanto a mãe cobiça o namorado da filha, a garota vai experimentar prazer na cama com um detetive quarentão. A troca de posições funciona ainda melhor com a escalação da sexy Eva Green para o papel da mãe e da virginal Shailene Woodley como a filha e duplo, representação de uma hipótese do tipo "eu sou você ontem". À primeira metade coberta de deliciosa ironia, sucede uma segunda parte amenizada pelas convenções do filme adolescente. A paixãozinha entre Kat e o vizinho, as confidências com os amigos fora do padrão, a mudança para a universidade e a inevitável questão o que quero ser? são tratadas de modo rotineiro e o filme patina. Araki só recupera a verve na parte final do filme, quando o retorno de Kat durante as férias à cidade provinciana traz de volta o mistério do sumiço da mãe. O tema leva o filme a revisitar os códigos do policial noir, em que as reviravoltas são temperadas com a descoberta de segredos sexuais. Mas já é tarde para tirar a impressão de um filme indeciso entre o estilo assumidamente artificial do cineasta e a abordagem que pede mais realismo. Nesse limbo, "Pássaro Branco na Nevasca" pode ser tanto um trabalho de transição como prenúncio de fim de carreira." (Casio Starling Carlos)

"A busca da juventude por sentidos na vida, tão vibrante em se tratando de Araki, acaba semelhante à que se viu em Kaboom, mas com distinções suficientes para transcender as fragilidades da narrativa." (Pedro Costa De Biasi)

Pássaro branco aprisionado.

''É provável que pouquíssimos se lembrem quem é Gregg Araki. Há pouco tempo ele filmou Kaboom, mas foi com Mistérios da Carne que ganhou notoriedade. Araki é diretor e roteirista. Suas histórias sempre transitam em terrenos controversos e seu estilo de filmagem é bem característico: geralmente conta a história de maneira simples e decidida guardando um segredo que nunca se revela até chegar a beira do fim, quando finalmente explode indubitavelmente. Seguramente é possível esperar coisas surpreendentes em suas obras, além de questões adolescentes, sexuais, cores vibrantes e trilhas melancólicas. Em Pássaro branco na Nevasca permite-se trabalhar com temas oníricos, rendendo todo um mistério sobre verdades latentes capazes de emergir como insights em sessões de terapia... ou em transas. No âmbito da adolescência temos uma viagem temporal apenas por ocasião, já que nada se difere da juventude contemporânea. Final dos anos 80. As caracterizações estão uniformemente demarcadas. A jovem Kat Connor (Shailene Woodley) é filha única e assiste a desestrutura dos pais alcançá-la a ponto de fazê-la questionar sua função no meio; e mais, suas impressões com relação aos sentimentos confundem-se nas observações evasivas que faz sobre sua mãe, Eve (Eva Green), uma potencial alcóolatra odiosa, amarga e amargurada com o que fez com sua vida aos olhos da passividade morosa de seu marido Brock (Christopher Meloni). Temos a mesma impressão que Kat, e tal como ela, nos sujeitamos a dúvida de um desaparecimento repentino. O filme aí se desconstrói, poucos anos passam com a ausência de Eve, sumiço o qual a polícia mostrou-se incapaz de encontrar qualquer pista. Eva Green atordoa em sua composição colérica. Seu olhar serrado e sua lubricidade congênita favorece sem esforços algumas propostas do roteiro em trabalhar com o imaginário do espectador. Por si só o filme é imagético, bem filmado e realizado, mas fugaz nas pretensões estilizadas em ser deveras surpreendente ou ao menos imprevisível. Consegue, mas de maneira mecânica demais, sem naturalidade nos quadros. O melhor do filme é sem dúvidas as relações dispostas da protagonista: é ótimo acompanhar Kat, seus descobrimentos sexuais, sua personalidade corrompida pela censura traumática de um evento importante, seus interesses obscenos os quais cospe na tela e suas dúvidas que afligem suas condutas. Tudo isso se resume a performance convincente dessa jovem estrela hollywoodiana, Shailene Woodley, novamente adorável num filme menor que seu grande talento. Abarrotado de representações, a obra se revela incógnita: os sonhos de Kat são simbólicos, coisas que enquanto desperta não consegue ver. É preciso observar de perto para enxergar! Aparentemente esse é o recado do filme. Não à toa, a vizinha em frente é uma senhora cega que não tem controle sobre o que seu filho faz ou o que os vizinhos aprontam. Apenas especula, tal como o espectador. Nessa onda simbólica o filme agrada com seus diálogos concisos e com o embate em diferentes níveis entre Shailene Woodley e Eva Green, dois talentos, dois símbolos sexuais explícitos cuja diferença temporal tende a um lado. Adaptado a partir do livro de Laura Kasischke, Pássaro branco na Nevasca é um drama promissor freado pelo asseio técnico que por vezes o mantém congelado, tal como a ação de um velho freezer, símbolo das razões dos sonhos gélidos de sua bela protagonista." (Marcelo Leme)

Mãe, filha e o tempo.

''Gregg Araki traz para seu filme o antagonista mais brutal de todos: o tempo. Diante de nós, ele expõe um duplo particular: o velho e o novo. Duas faces da mesma moeda, lançada ao ar segundo após segundo num jogo de apostas diabólico ao qual o homem se submete a todo momento. Eve Connors está envelhecendo e sua filha, Kat, está na adolescência fluorescente. Mãe e filha duelam, ferozes, dia após dia, demarcando cada vez mais evidentemente que a força avassaladora do tempo é capaz de obscurecer as ideias das mentes mais sãs. Para Eve, o momento é de lamúria, de refletir em toda a vida desperdiçada. Ao olhar para seu redor vendo o que construiu, a dona de casa não sente nada além de arrependimento. Para Kat, o tempo não parece existir. Após suportar uma puberdade hostil, num corpo disforme e irreconhecível, a garota floresceu para a vida adulta, magra, peituda e impecável. Kat domou o tempo, está por cima dele, como um caçador ingênuo posando para fotos em cima de uma besta atordoada. A manifestação recorrente do tempo em ''O Pássaro Branco na Nevasca'' acontece nos sonhos de Kat - é a neve caindo. Silenciosa e sedutora, soterrando pouco a pouco quem está por baixo, no caminho. Eve nunca teve nenhuma chance. Desde o começo do filme, ela já estava nua, adormecida no chão, os flocos de neve cobrindo cada vez mais seu corpo delicado. Enquanto isso, Kat assiste à cena, num misto de admiração e impotência, sem prestar muita atenção no fato de que neva ao seu redor também. Quem tem coração deve se lembrar de uma das cenas mais desconcertantes daquela que ainda é a obra-prima de Gregg Araki, Mistérios da Carne: um aidético contrata o garoto de programa-protagonista por uma noite, apenas para que seja abraçado. Embora as temáticas de Mistérios da Carne sejam bastante diferentes, é possível refletir que o afeto (mais precisamente a falta dele) também motiva muitas ações vistas em "O Pássaro Branco na Nevasca". A imagem de um pássaro branco numa nevasca também nos remete a uma ideia de solidão e invisibilidade. Solidão, carência e o tempo passando, explicações possíveis para que essa mulher, Eve, pudesse achar que não está mais no seu prime. Eva Green já não tem mais as curvas impecáveis imortalizadas por Bertolucci em Os Sonhadores, mas permanece como uma das mulheres mais bonitas do mundo. Mas entre os olhos que fitam e a imagem que reside no espelho, existe a percepção. E a percepção de Eve estava desordenada. Uma dona de casa solitária, cada vez mais alcoólatra, desembestando em direção a um caminho sem volta, marcando tragicamente a vida de sua família. Infelizmente, porém, o filme de Araki não é sobre Eve Connors. Não que Kat Connors seja uma má personagem, mas a potência mágica no filme existe quando Green e Woodley contracenam, juntas, construindo de um jeito absurdo e levemente surreal o mosaico que compõe a relação de mãe e filha. Os outros caminhos da história, os personagens coadjuvantes extremamente subservientes à protagonista, o terceiro ato insultante... Nada disso me parece digno de nota, digno de menção. Melhor é acreditar que todo esse resto de fato não existe, e que Pássaro Branco na Nevasca é uma história curta sobre uma mãe e filha que, abraçando-se e repelindo-se ao mesmo tempo, escorregam juntas em direção à tragédia." (Guilherme Bakunin)

Refletindo uma lembrança de cinema.

''Há várias maneiras de um cinema prestar homenagem a outro cinema. Muitas vezes, o que é trazido de outras escolas e movimentos diversos nem é tão consciente, como o próprio material de inspiração poderia não ser. O cinema não se separa espontaneamente em grupos e épocas e depois volta a eles como parte de um processo mecânico, quem faz isso é a crítica. Estamos o tempo todo cercado de textos sobre como Sniper Americano, de Clint Eastwood, ou os filmes de Todd Haynes, que compete no Festival de Cannes 2015 com Carol, trazem de volta o cinema clássico americano. E é muito doce perceber num filme pequeno como o de Gregg Araki um honesto resgate do drama, do exagero e da cor da Hollywood em crise de 1950. ''Pássaro Branco na Nevasca'' não é Longe do Paraíso. Não traz de volta Douglas Sirk como um capricho cinéfilo (sempre bem-vindo), mas antes compartilha de uma linguagem da época que talvez esteja até mais clara nos filmes ruins de então. Lembra pérolas como Mulher Maldita e Depois da Tormenta, que foram desaparecendo da memória coletiva, mas ainda com um toque da tradição coming of age da década de 1980, jogando um olhar de afeto e melancolia para a classe média suburbana. Esse encontro é organizado muito delicadamente pelo filme de Araki. Está na trilha sonora saudosista, de New Order, Depeche Mode, Talk Talk e The Cure (esse compromisso com certo resgate musical é um traço de estilo muito forte no cinema adolescente de época que tem feito sucesso nos últimos anos, como As Vantagens de Ser Invisível), no lirismo visual dos sonhos e na dor dos personagens. O filme se sustenta esteticamente num espaço perdido entre a geração de Eve (Eva Green) e a de Kat (Shailene Woodley). Mãe e filha, sendo que a primeira, com exceção de uma cena final atrapalhada, só existe quando lembrada, imaginada e sonhada pela segunda. Pássaro Branco na Nevasca é uma adaptação do romance de Laura Kasischke, mas Araki consegue fazê-lo um filme de memória, de uma adolescência gay que contempla distante e temerosa o boom da AIDS, assim como é seu filme mais aclamado, a também adaptação Mistérios da Carne. Como a existência real de Eve já não é mais possível devido a seu desaparecimento, só resta à personagem ser representada na memória de Kat e no filme de Araki. Eve, como o tempo do qual faz parte, passou, e agora essas são suas únicas possibilidades de existência. Em breve, nem a memória restará, só a representação. É a partir dela que se sustenta a atuação de Green e Woodley. Nenhuma das duas viveu suas personagens ou o momento delas, mas o cinema cerca-as de imagens que permitem construí-las. A boneca russa de representações é inerente a qualquer narrativa de época, tendo mais camadas quanto maior a distância entre o tempo real e a menção feita a ele. Em Pássaro Branco na Nevasca, no entanto, há um curioso conflito entre as imagens resgatadas. Assim, eis que, entrecortando a construção de cena oitentista e a partir da memória da Molly Ringwald interpretada por Woodley está a Jane Wyman de Green: o exagero, as caras e bocas há muito rejeitadas por Hollywood como overacting. E, ainda, como cenário para a personagem, Kat e Araki constroem uma trama de melodrama noir sobre o marido reprimido e a esposa insatisfeita. São dois filmes em um. Duas referências dentro de uma cronologia que nenhuma autoridade tem sobre a lembrança do cinema como uma entidade maior e conjunta. O título do filme evoca a imagem de uma imensidão branca. O vazio, no entanto, nunca é parte dele. Pássaro Branco na Nevasca é cheio de ideias, imagens e sons dramaticamente ativos. Talvez, então, o nome tenha a intenção de falar menos da cor e mais da não distinção de um sujeito em relação a seu ambiente ou talvez não tenha intenção alguma, apenas seja essa imagem branca no início do filme e, no fim, o reflexo de todas as cores." (Cesar Castanha)

Desperate Pictures Orange Studio Why Not Productions Wild Bunch

Diretor: Gregg Araki

18.864 users / 2.897 face


Soundtrack Rock

Cocteau Twins / The Psychedelic Furs / This Mortal Coil / New Order / Siouxsie and the Banshees / Depeche Mode / Talk Talk / Tears for Fears / Echo & The Bunnymen / Love and Rockets / The Cure / Everything But The Girl / Soft Cell / The Jesus & Mary Chain / Ulrich Schnauss
27 Metacritic 1.899 Up 6

Date 09/01/2016 Poster - #######

41. The Martian (2015)

PG-13 | 144 min | Adventure, Drama, Sci-Fi

80 Metascore

An astronaut becomes stranded on Mars after his team assume him dead, and must rely on his ingenuity to find a way to signal to Earth that he is alive and can survive until a potential rescue.

Director: Ridley Scott | Stars: Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Kate Mara

Votes: 924,899 | Gross: $228.43M

[Mov 09 IMDB 8,1/10] {Video/@@@@} M/80

PERDIDO EM MARTE

(The Martian, 2015)


TAG RIDLEY SCOTT

{inspirador / inteligente}


Sinopse

''Durante uma missão a Marte, o astronauta Mark Watney (Matt Damon) é dado como morto após uma feroz tempestade e é deixado para trás por sua tripulação. Mas Watney sobrevive e encontra-se sem recursos e sozinho no planeta hostil. Apenas com suprimentos escassos, Watney deve contar com a sua criatividade, engenho e espírito para subsistir e encontrar uma maneira de sinalizar à Terra que está vivo. A milhões de quilômetros de distância, a NASA e uma equipe de cientistas internacionais trabalham incansavelmente para trazer "o marciano" de volta enquanto seus colegas de tripulação simultaneamente traçam uma ousada, se não impossível, missão de resgate. Conforme essas histórias de incrível bravura se desdobram, o mundo se une para torcer pelo retorno seguro de Watney.''
"Filme tem a qualidade de ser uma "ficção científica" mais aproximada da realidade, e isso é fascinante, ainda mais vinda do diretor de Alien. É todo certinho e emocionante, e deve fazer bem para a carreira de Scott." (Alexandre Koball)

"Enquanto obras científicas costumam minimizar o impacto do homem perante o universo, Perdido em Marte vai no caminho inverso e mostra que toda vida é necessária. Belos planos, boas sacadas, bom humor, enfim, um trabalho bem completo de Scott." (Rodrigo Cunha)

"Sem a mão pesada que costuma lhe caracterizar, e com um tom leve e bem humorado (mas sem perder a pegada filosófica do tema), Scott faz de "Perdido em Marte" seu melhor trabalho desde "Thelma & Louise" e a melhor ficção científica depois de "Gravidade"." (Régis Trigo)

"Sem pressa, detalhista e bem humorado, Scott dessa vez explora o espaço por outros caminhos e reafirma sua habilidade sem igual no gênero. Poucos atores dariam conta de carregar um filme desses praticamente sozinho, e a escalação de Damon foi certeira." (Heitor Romero)

"Scott entrega um filme acessível (sem excessos de explicações técnicas) e surpreendentemente bem humorado, visivelmente esforçado em manter-se contido para contar sua boa história. O resultado é um dos grandes filmes do diretor em mais de dez anos." (Rafael W. Oliveira)

*** ''Se "Perdido em Marte" pode ser visto como uma das decepções do Oscar recente, isso se deve em boa parte à expectativa criada em torno do filme de Ridley Scott. Podia-se pensar em um ensaio sobre a solidão: um astronauta que por qualquer razão fosse deixado em outro planeta. Tudo isso já começa muito enfraquecido desde a cena em que Matt Damon perde o ônibus espacial. Também ao desenrolar da trama falta interesse maior, já que se segue uma dessas operações de salvamento cheias da emocionalidade previsível do gênero. Não é um filme insuportável de ver, é apenas decepcionante.'' (* Inácio Araujo *)

*** ''Mesmo tendo deixado a festa do Oscar sem nenhum prêmio, "Perdido em Marte" é um dos grandes acertos de 2015. O diretor Rydley Scott conseguiu a façanha de pegar uma situação desalentadora, um astronauta esquecido em Marte por seus companheiros, com escassos suprimentos e recursos, e transformá-la em um filme divertido, quase uma comédia. Méritos também para Matt Dammon. Sua luta pela sobrevivência enquanto aguarda um resgate o levou novamente ao rumo certo.'' (Thales de Menezes)

''Esqueçam o espaço hostil de Alien e a distopia de Blade Runner. O futuro que o diretor Ridley Scott nos apresenta em "Perdido em Marte" é outro: divertido e cheio de esperança. Após o sucesso de duas missões tripuladas à Marte, a Nasa tem o primeiro revés. Durante a evacuação do planeta vermelho em decorrência de uma tempestade, a tripulação da Ares 3 deixa em solo marciano o astronauta Mark Watney (Matt Damon), dado como morto após sofrer um acidente. Com recursos limitados, ele precisa se virar até a chegada de um possível resgate. Essa simplificação pode enganar quem pensa que tudo não passa de uma mistura de Apollo 13 com Náufrago. "Perdido em Marte" não é a história de um sujeito isolado que luta para sobreviver, mas sim uma magnífica declaração de amor à ciência e ao futuro da exploração espacial. Quando Stanley Kubrick e o escritor Arthur C. Clarke se uniram para produzir 2001 - Uma Odisséia no Espaço, o programa Apollo estava próximo de seu ápice. A curta janela entre o lançamento do filme, em 1968, e as primeiras pegadas de Neil Armstrong na Lua, em 1969, causou um tipo de ruído. Por conta dos efeitos especiais criados por Douglas Trumbull, com o suporte de uma concepção realista do futuro, surgiram teorias que afirmam que as imagens dos pousos lunares foram forjadas por Stanley Kubrick a pedido da Nasa. Esse ceticismo conspiratório é combatido por grandes divulgadores científicos, como o astrofísico Neil deGrasse Tyson. O livro de Andy Weir, no qual "Perdido em Marte" se baseia, certamente colabora com eles. Todos os problemas que o programa Ares enfrenta são absolutamente reais e suas soluções são cientificamente corretas. Mas se no livro Weir consegue manter o leitor interessado pela qualidade do texto, no filme é Matt Damon quem faz esse papel. Seu Mark Watney nunca é reduzido à fácil figura do cowboy do espaço e suas reações diante das dificuldades da missão soam humanas e fiéis às de um astronauta treinado à exaustão. Infelizmente ainda estamos longe da primeira missão tripulada à Marte, e é pouco provável que as primeiras imagens do homem por lá sejam atribuídas a Scott, mas a sensação ao fim da sessão é a mesma de 2001 na era das missões Apollo: o ser humano e a ciência são incríveis." (Cassio Starling Carlos)

''É difícil assistir ao filme "Perdido em Marte" sem se emocionar. Um astronauta sozinho, usando todos os recursos que pode imaginar para se manter vivo num planeta hostil, é uma metáfora poderosa, símbolo da individualidade de cada um de nós. Também lutamos – muitas vezes sós – pela nossa sobrevivência física e emocional numa vida que nem sempre é fácil e aconchegante. O filme, dirigido por Ridley Scott (Blade Runner) e baseado em romance de Andy Weir de 2011, é um elogio à criatividade humana. É bom lembrar que 10 mil anos atrás mal havíamos desenvolvido técnicas agrárias. Hoje, lançamos sondas aos confins do sistema solar, incluindo nosso misterioso vizinho vermelho. E elas nos trazem imagens surpreendentes, habilmente usadas no filme. Cânions de milhares de quilômetros de extensão, leitos de antigos rios e vulcões extintos provam que Marte era um mundo muito diferente na sua infância, onde a água fluía em abundância, e a atmosfera era bem mais espessa. Hoje, Marte é um deserto gelado, com tempestades de areia terríveis e atmosfera fina (96% de gás carbônico), incapaz de bloquear a radiação ultravioleta que vem do sol. Mesmo com a descoberta de água líquida na superfície marciana, a vida lá é improvável. Somos nós os marcianos. O filme é um contraste entre a hostilidade da natureza e a gana que temos pela vida. O astronauta Mark Watney (Matt Damon, excelente) nunca perde sua humanidade. Une o bom humor a um enorme conhecimento científico (a botânica que usa para plantar batatas é uma das muitas áreas que domina) para suplantar dificuldades absurdas. Em meio à ficção científica, encontramos uma mensagem poderosa: heróis não são apenas os que lutam em guerras, mas os que redefinem os limites do possível – incluindo astronautas e cientistas." (Marcelo Gleiser)

Em Marte, ninguém pode ouvir você gritar.

''Sou da opinião de que nunca se deve dar a carreira de um grande artista por encerrada. Por mais que trabalhos recentes decepcionem, quem um dia realizou uma obra de verdade pode, a qualquer momento, voltar a fazê-lo. Ridley Scott é um bom exemplo dessa teoria. Embora responsável por clássicos do cinema na segunda metade do século XX, o cineasta britânico jamais foi capaz de manter uma regularidade em sua filmografia, oscilando entre produções de indubitável qualidade e outras de gosto bastante duvidoso – para não dizer ruins. Mas nunca se deve dar a carreira de um grande artista por encerrada, e Scott mostra isso mais uma vez ao realizar ''Perdido em Marte'', seu melhor trabalho em muitos anos. Escrito por Drew Goddard [do bacanérrimo O Segredo da Cabana] a partir do livro de Andy Weir, Perdido em Marte é um filme que reserva uma boa parcela de surpresas – mais em função da própria abordagem de Scott do que pelo enredo, que segue por caminhos fáceis de prever. A principal dessas surpresas talvez seja o tom de leveza com que o roteirista e o diretor encaram o material; seria fácil transformar a história de um homem sozinho em um planeta distante em um conto sombrio e reflexivo, mas não é o que ocorre. Perdido em Marte é uma produção surpreendentemente divertida, com diversas passagens eficazes de humor, e ágil, não obstante as mais de duas horas de duração. Nesse sentido, méritos devem ser dados a Goddard, hábil ao condensar os inúmeros acontecimentos e personagens da trama em um todo coeso e equilibrado – no que recebe apoio do excelente trabalho de edição de Pietro Scalia. O roteirista certamente precisou fazer algumas escolhas arriscadas: é bastante temerário, por exemplo, iniciar o filme sem qualquer preâmbulo ou apresentação dos personagens, por limar um fator essencial para uma obra dessa natureza, a identificação entre a plateia e as pessoas da história – mais especificamente, Mark Watney, o protagonista. Como se não bastasse, Perdido em Marte também traz muito pouco sobre o passado ou a vida particular dos astronautas e dos profissionais da NASA envolvidos na situação, optando por construir suas personalidades e obter a empatia da plateia apenas no desenrolar dos fatos. Escolha arriscada, mas que se revela bastante eficiente. Contando com um roteiro que raramente se permite digressões, os realizadores não precisam de muito para fazer com que o espectador “torça” pelo destino dos personagens. A camaradagem entre os astronautas, sempre implicando uns com os outros, e as difíceis decisões tomadas pelo pessoal na Terra contribuem para a construção desse laço imaginário. Ajuda também, claro, a qualidade e o carisma dos atores, que retiram o máximo de seus personagens mesmo quando têm pouco tempo em tela. É o caso de Jeff Daniels, por exemplo, que, beneficiado pela inteligente opção do roteiro de não transformá-lo em um vilão, faz do diretor da NASA um líder coerente e firme, e de Jessica Chastain, que impressiona ao compor uma capitã incrivelmente segura e eficaz em suas decisões, sem deixar de demonstrar vulnerabilidade. Mas Perdido em Marte é um filme de Matt Damon. Se não se pode dizer que é um show-de-um-homem-só – como foi o caso de Sam Rockwell em Lunar -, uma vez que a narrativa exibe ao mesmo tempo os acontecimentos da Terra e da nave, não seria equívoco algum creditar o sucesso da produção ao talento do ator. Surgindo quase sempre sozinho em cena, Damon demonstra o seu alcance dramático ao transmitir eficientemente toda a gama de emoções vivida por Watney, especialmente sua incontestável determinação. O personagem é prático: ele entende que não há tempo para lamentar, portanto, age. Assim que acorda do acidente que dá início ao filme, por exemplo, prontamente retorna à base e cuida do ferimento, sem qualquer choro de sua parte. Damon passa essa força e esse otimismo de forma completa, sem deixar de lado o bom humor tão fundamental para o público abraçar o protagonista, e que resulta em alguns dos momentos mais divertidos do filme (Sou o melhor botânico desse planeta). Aliás, a personalidade de Watney é amostra de outro fator essencial para o resultado positivo de Perdido em Marte: a inteligência dos personagens. Quem não se irrita com filmes nos quais os protagonistas tomam decisões que nem mesmo uma criança de cinco anos tomaria? Aqui, Scott e Goddard têm o cuidado de não se renderem a essa muleta de roteiro para criar situações e conflitos novos; quando algum problema acontece, é simplesmente por ser inevitável. Estamos diante de pessoas inteligentes que precisam tomar decisões rápidas com o que têm em mão, e é sempre um prazer assistir a personagens assim em ação. Como consequência, é sempre um prazer de acompanhar a narrativa de Perdido em Marte, sem contar o fato de não ser tão fácil encontrar filmes que respeitem a inteligência do espectador. E talvez o melhor exemplo dessa maneira reverente com a qual Scott e Goddard tratam a plateia é que Perdido em Marte é um filme que valoriza – e muito – o lado científico da trama. Estou longe de dominar os campos do conhecimento exibidos na produção para avaliar sua verossimilhança, mas isso não importa; o que importa é que tudo PARECE real. Os realizadores evitam a armadilha de criar situações incríveis em prol do espetáculo, preferindo manter os pés no chão em todas as soluções encontradas pelos personagens. É uma escolha louvável para uma história passada em Marte, e que acaba por trazer aos acontecimentos um lastro que ajuda a aproximar o espectador da narrativa. Perdido em Marte, dessa forma, transforma-se em uma verdadeira ode à ciência e ao conhecimento, onde o cérebro é muito mais importante para a sobrevivência do que os músculos. Não é à toa que, quando se dá conta do que precisa fazer para escapar do planeta, Watney exclama uma frase que tem tudo para se tornar cult: I’m gonna have to science the *beep* out of this. Também é louvável perceber que, mesmo abordando diversas questões técnicas, Scott e Goddard jamais carregam o filme de didatismo. A solução para a plateia entender as ações de Damon no planeta vermelho é simples, mas bastante eficiente: uma espécie de diário em vídeo, recurso que permite ao protagonista explicar seus pensamentos e atitudes sem jamais soar artificial - nada de Sandra Bullock falando consigo mesma, portanto, naquele que é o fator de maior incômodo em Gravidade. Aliás, o artifício é tão eficaz que a plateia até mesmo anseia por maiores explicações em determinados momentos, embora elas não sejam necessárias para o desenrolar da trama. Mas o principal mérito de ''Perdido em Marte'' está mesmo no tratamento leve e divertido que Scott e Goddard dão ao material. Há apenas menções superficiais a temas como a sanidade do protagonista ou às consequências de uma vida em isolamento. Na verdade, Watney nem parece sofrer muito, haja vista o alto astral que é capaz de manter em seu longo exílio no planeta vizinho. O resultado é um filme que jamais ambiciona uma profundidade psicológica ou uma possível reflexão existencial, o que não é demérito, pois os realizadores têm plena consciência daquilo que pretendem alcançar. Dessa forma, Perdido em Marte é uma obra extremamente eficaz dentro daquilo a que se propõe, e, se alguém esperava a densidade de um Tarkovski em Solaris ou a ambição de um Nolan em Interestelar (ambição não alcançada, vale ressaltar), está no filme errado. ''Perdido em Marte'' é uma aventura divertida e realizada de forma competentíssima, uma limitação na qual parece se sentir bastante à vontade. Na verdade, chega até a estranhar o comedimento de Scott na produção. Comumente associado a espetáculos visuais, o cineasta britânico prefere dar um passo atrás e focar na história. Sim, Perdido em Marte tem imagens deslumbrantes do planeta vermelho e do espaço, mas o CGI nunca assume a frente do que está sendo contado; pelo contrário, está ali de maneira discreta, apenas para tornar realidade a trama. Notável também é a maneira como Scott evita o exagero do melodrama, inclusive no final do filme – algo que um diretor menos maduro certamente abraçaria sem culpa, buscando a manipulação da plateia. Claro que há um ou outro deslize: em certo momento, o diretor começa uma cena com uma imagem de um discurso sendo visto em uma tela de TV, para depois assumir a imagem tradicional, em um recurso que nada acrescenta à sequência em questão. Enquanto isso, o clímax também ameaça descambar para o excesso, embora consiga evitar de abraçá-lo totalmente, e o fato de o resgate ser transmitido ao vivo por emissoras de TV quase joga por terra a verossimilhança da narrativa. E o que dizer da maneira óbvia e desengonçada com que Scott evita filmar o rosto do dublês nas cenas em que o protagonista aparece magro? Longe de ser um filme de ação como foi vendido, Perdido em Marte é uma espécie de híbrido entre Náufrago e Apollo 13 , acrescentado de alguns toques cômicos (a piada com Sean Bean e O Senhor dos Anéis merece destaque). Trata-se de um belo exemplar do cinema comercial norte-americano, capaz de combinar espetáculo e inteligência na medida certa, ainda encontrando espaço para momentos mais contemplativos, como o de Mark Watney sentado em uma duna de Marte observando o horizonte. Porém, acima de tudo, é a prova de que um artista comprovadamente talentoso sempre tem a arte dentro de si, embora nem sempre consiga exprimi-la em toda sua forma. Ridley Scott, aqui, felizmente conseguiu." (Silvio Pilau)

88*2016 Oscar / 73*2016 Globo

Top 250#194

Twentieth Century Fox Film Corporation TSG Entertainment Scott Free Productions Genre Films International Traders Mid Atlantic Films

Diretor: Ridley Scott

301.289 users / 129.807 face


Soundtrack Rock

Vicki Sue Robinson / Donna Summer / The Hues Corporation / Thelma Houston / David Bowie / ABBA / The O'Jays / Gloria Gaynor
46 Metacritic 8 Up 1

Date 16/01/2016 Poster - #######

42. Bridge of Spies (2015)

PG-13 | 142 min | Drama, History, Thriller

81 Metascore

During the Cold War, an American lawyer is recruited to defend an arrested Soviet spy in court, and then help the CIA facilitate an exchange of the spy for the Soviet captured American U2 spy plane pilot, Francis Gary Powers.

Director: Steven Spielberg | Stars: Tom Hanks, Mark Rylance, Alan Alda, Amy Ryan

Votes: 327,670 | Gross: $72.31M

[Mov 06 IMDB 7,7/10] {Video/@@@} M/81

PONTE DOS ESPIÕES

(Bridge of Spies, 2015)


TAG STEVEN SPIELBERG

{simpático}


Sinopse

''Em plena Guerra Fria, o advogado especializado em seguros James Donovan (Tom Hanks) aceita uma tarefa muito diferente do seu trabalho habitual: defender Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos americanos. Mesmo sem ter experiência nesta área legal, Donovan torna-se uma peça central das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética ao ser enviado a Berlim para negociar a troca de Abel por um prisioneiro americano, capturado pelos inimigos.''
"Spielberg volta a emular John Ford e a apostar no cinema clássico, solene e patriótico. Mas com um roteiro torto (2 filmes em 1), perseguições aéreas fora do tom, e tensão nula, o filme passa mas não marca. Pelos talentos envolvidos, o saldo é frustrante." (Régis Trigo)

"É lindamente filmado, com planos bem compostos e fotografia evocativa, mas Spielberg opta por um caminho seguro e tradicional em termos narrativos, inclusive deixando a sutileza de lado em suas mensagens. Bom filme, eficiente, mas sem muito impacto." (Silvio Pilau)

"Spielberg ainda se abraça aos maniqueísmo típicos de seu cinema de melodrama patriótico, mas seu 'Ponte dos Espiões' é uma aula de condução narrativa e perícia técnica, dando vida a alguns dos momentos mais belos e intensos do ano. Filmaço." (Rafael W. Oliveira)

"Nada que já não vimos antes, mas Spielbeg constrói seu filme de maneira belíssima com elementos que lembram muito Jean-Pierre Melville, entregando não só um dos melhores filmes de espiões dos últimos tempos, mas como um dos melhores filmes do ano!" (Guilherme Spada)

"O paradoxo de Spielberg é construir filmes frios e emocionais ao mesmo tempo, sempre com aquela quase-perfeição técnica. Não tem a força e intensidade de um Munique, mas é mais um trabalho muito competente do diretor." (Alexandre Koball)

**** ''Há um bom tempo que Steven Spielberg parecia ter se transformado num burocrata da mise-en-scène. Sempre hábil, claro, mas nem por isso menos evasivo. Capaz de fazer sucessos, ganhar Oscars, divertir ou mostrar-se grave. Um homem do espetáculo, sempre. Mas nem sempre no melhor sentido. Digamos, então, que em "Ponte dos Espiões" reencontramos o vigor clássico de certo Spielberg, que com brio reconstitui um episódio-chave da Guerra Fria e, mais, seu espírito e atmosfera. No exato momento em que sobe o Muro de Berlim deve se processar a delicada troca entre um estoico espião da URSS apanhado pelos americanos (já há tempos, diga-se) e um americano capturado pelos russos. Spielberg sabe reencontrar a densidade por vezes tétrica do episódio. Não abandona o espírito do espetáculo, mas também não o barateia: belo filme, enfim, para fechar um domingo.'' (* Inácio Araujo *)

Spielberg encontra os irmãos Coen e todos saem ganhando.

''O primeiro encontro entre duas escolas tão distintas de cinema como Steven Spielberg e Joel & Ethan Coen acaba dando uma rasteira em todos pelo equilíbrio e a elegância. Não sou de forma alguma da tribo de detratores de Spielberg (que é crescente); apesar do recente dramalhão Cavalo de Guerra, sou admirador assumido do seu longa anterior Lincoln, que muita gente acusa de chato, americano em demasia ou muito didático, opiniões do qual não compartilho. Sim, Spielberg é afeito ao açúcar, mas seu último filme não padece desse mal, assim como Munique (Munich, 2005) e esse novo, a adaptação do livro de Gilles Whitell feita pelos Coen e por Matt Charman. O filme é o exato oposto do longa de Angelina Jolie Invencivel (Unbroken, 2014), que teve roteiro mexido pelos Coen e onde não vimos coisa alguma do toque deles, parecia um filme sem qualquer personalidade. Aqui não: embora não se trata de um filme dirigido pela dupla, vemos claramente as cenas onde eles têm mais influência e frases tipicamente saídas de suas cabeças. A Spielberg coube sentar na sua cadeira e construir um universo tão tipicamente seu, no sentido de realização técnica, dentro de um texto alheio. Mas o roteiro respeita acima de tudo as características do seu autor, e já tendo passeado em seara parecida anteriormente, Spielberg se prova grande mais uma vez, contrariando as expectativas negativas. A seu favor ele tem mais uma vez a fotografia de seu parceiro Januzs Kaminski, seu montador Michael Kahn e seu cenógrafo Adam Stockhausen. Quem ficou de fora dessa vez foi o mítico John Williams (será que o maestro ficou muito ocupado com o novo Star Wars?), e no seu lugar entrou a contenção de Thomas Newman, fazendo um belíssimo e milimétrico trabalho. Na tela acompanhamos Tom Hanks como o típico herói americano, aquele homem sempre acima de qualquer suspeita. Aqui ele é o advogado obrigado por seu escritório a defender um russo acusado de espionagem durante a Guerra Fria. Paralelo a essa ação, um soldado americano é feito preso ao cair em território inimigo e o governo precisa realizar essa troca, que vai caber justamente ao personagem de Hanks, fechando o ciclo da trama. Se tem algo que fica faltando a um trabalho tão competente é a falta de um viés sub textual, já que o filme opera estritamente no campo da história bem contada e executada, não além disso. Mas Spielberg não é um cineasta onde essa seja uma característica aguçada, não aparecendo sempre. Dessa vez o objetivo aqui era somente cumprir seu papel de artesão imagético, e o filme conta com cenas de fato impressionantes, como a perseguição da abertura do longa, a protagonizada pela ponte do título e todos os exímios diálogos entre o relutante advogado e seu cliente tão sincero e direto nas suas colocações. A máquina de produzir carisma chamada Tom Hanks está em casa, numa personagem que não se imagina sendo feita por outro ator. O elenco de coadjuvantes é composto por participações pequenas de gente do porte de Alan Alda e Amy Ryan, mas é Mark Rylance quem bate a maior bola com o protagonista e marca gols cena a cena, num trabalho sublime de construção e imersão. Se não fossem as questões patrióticas (que irão fazer a festa de seus detratores) realçadas lá pelas tantas pelo filme graças a presença do soldado e da eterna questão do exército americano em não deixar ninguém para trás, estaríamos diante de um filme irretocável. Do jeito que se apresenta, a sedutora parceria entre o mestre do classicismo e os irmãos da anarquia se mostra um trabalho de excelente naipe, extremo bom gosto e delicada emoção, fazendo jus ao talento de todos os envolvidos." (Francisco Carbone)

''Diretor do grande espetáculo e das emoções ligeiras, Steven Spielberg virou, quem diria, um belo cineasta da palavra. Depois de Lincoln, ele oferece em "Ponte dos Espiões" mais uma celebração do poder do diálogo. Baseado em fatos reais, o filme tem como protagonista James Donovan (Tom Hanks), advogado especializado em seguros que aceita defender Rudolf Abel (o inglês Mark Rylance, excelente), espião soviético capturado pelos americanos em meio à Guerra Fria. A persistência de Donovan em livrar Abel da pena de morte é vista como uma traição à pátria. Mas, sendo um legalista, acredita que qualquer indivíduo merece defesa. Quando um militar americano é capturado pelos soviéticos e oferecido em troca de Abel, Donovan é enviado a Berlim para comandar as negociações – e decide tentar incluir no acordo um estudante americano preso na Alemanha Oriental. O problema é que soviéticos e alemães orientais não estavam alinhados e que os americanos não faziam questão de resgatar o segundo preso. Mas Donovan insiste na ideia de que toda vida vale o esforço e passa a negociar com os três lados. Seja trabalhando com o filme de tribunal (na primeira metade do filme) ou com o filme de guerra (na segunda metade), Spielberg oferece um sólido entretenimento baseado não na ação física, mas na ação verbal. Em um sentido superficial, "Ponte dos Espiões" pode ser visto como o triunfo da sagacidade americana, representada na figura de Donovan. Mas o advogado não é um herói americano convencional: ele é alguém que afronta a opinião pública e seu governo por seus valores; que defende uma superioridade ética, não bélica. "Ponte dos Espiões" é a apoteose do mediador. E, nesse sentido, é também um filme político, por defender um poder moderador, não-ideológico (algo que remete à política externa de Obama). Spielberg, quem diria, virou não apenas um belo cineasta da palavra, como também um belo cineasta político." (Ricardo Calil)

''Depois de terem trabalhado em três filmes juntos (O Resgate Do Soldado Ryan, Prenda-me Se For Capaz e O Terminal), Tom Hanks e Steven Spielberg se unem novamente para falar de espionagem e contar uma história impressionante sobre o período da Guerra Fria, que testa os limites dos personagens ao colocar em xeque a relação entre as duas principais potências da época: Estados Unidos e União Soviética. E a dupla Spielberg e Hanks é uma das razões de Ponte Dos Espiões ser um ótimo filme, que também mescla bem vários gêneros do cinema, como suspense, drama e mistério, além de conter uma contextualização histórica admirável. A sintonia entre os dois é evidente. Enquanto o diretor demonstra que entende de Guerra Fria e de espionagem em sua direção dinâmica e ágil, Hanks mostra sua força e habilidade na hora de interpretar James Donovan, um personagem que tinha tudo para ser caricato e chato, mas que se apresenta de maneira carismática e até heroica, fazendo com que o público se identifique e torça por ele ao longo do filme. Baseado em fatos reais, a trama acompanha a saga de um advogado norte-americano (Hanks), especialista em seguros, que é incumbido de defender nos tribunais Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelo FBI. Sério e dedicado, Donovan faz de tudo para inocentar o seu cliente e não tem medo de qualquer ameaça que o governo ou a população possa fazer a seu respeito. Se isso já é o suficiente para colocar a vida do advogado em perigo, afinal de contas, o país vive o auge da Guerra Fria e deseja que qualquer comunista seja condenado, tudo começa a piorar quando ele é mandado para Berlim, que está dividida por causa dos conflitos entre EUA e URSS, para comandar uma negociação que envolve um soldado americano detido pelos russos, um estudante de economia que mora na Alemanha Oriental e o próprio Abel. Só essa maneira que o longa discute o jogo de interesse entre os dois países já é o suficiente para classificar esse filme como interessante, mas a boa notícia é que as virtudes não param por aí. Outro grande mérito de Ponte dos Espiões é que ele serve como uma grande aula de história mundial. É claro que ele não escapa de alguns clichês, como a presença do patriotismo americano exagerado, mas ao longo de aproximadamente duas horas e dez minutos (que não sentimos passar), vemos uma trama bem elaborada, com minuciosas explicações sobre o período abordado e a descrição de fatos precisos e corretos. Além disso, temos personagens intrigantes que volta e meia circulam a vida do protagonista. Nesse ponto, vale destacar Rudolf Abel. Por mais que o seu número de cenas seja menor em relação a Donovam, ele é um personagem que participa da trama a todo instante, pois sempre é citado e lembrado nos momentos mais importantes. Com um olhar otimista, ''Ponte dos Espiões'' é um dos melhores filmes de espionagem já feitos para o cinema, o que o credencia como uma ótima pedida para a família, afinal, é bem preciso ao relatar fatos históricos, algo que vai agradar os mais velhos e os historiadores de plantão, e também consegue ser leve, com boas doses de comédia, permitindo que um público mais jovem confira." (Pedro Titto)

88*2016 Oscar / 73*2016 Globo

Amblin Entertainment DreamWorks SKG Fox 2000 Pictures Marc Platt Productions Participant Media Reliance Entertainment Studio Babelsberg TSG Entertainment

Diretor: Steven Spielberg

98.096 users / 41.988 face

48 Metacritic 31 Down 10

Date 25/01/2016 Poster - ###

43. Open Your Eyes (1997)

R | 119 min | Drama, Mystery, Sci-Fi

A very handsome man finds the love of his life, but he suffers an accident and needs to have his face rebuilt by surgery after it is severely disfigured.

Director: Alejandro Amenábar | Stars: Eduardo Noriega, Penélope Cruz, Chete Lera, Fele Martínez

Votes: 73,225 | Gross: $0.37M

[Mov 04 IMDB 7,8/10] {Video/@@}

PRESO NA ESCURIDÃO

ABRA OS OLHOS (alternative title)

(Abre Los Ojos, 1997)


ALEJANDRO AMENÁBAR

{eaquecível}


Sinopse

"César (Eduardo Noriega) é dono de uma grande fortuna e um mulherengo. Ao dar uma festa em sua casa conhece a bela Sofia (Penélope Cruz) e tenta conquistá-la. Entretanto, Nuria (Najwa Nimri), a última namorada de César, é extremamente ciumenta e não aceita que ele tenha outra mulher. Então Nuria, ao saber do relacionamento, comete suicídio batendo com seu carro e César que estava com ela, tem seu rosto completamente desfigurado. Agora César se encontra em profunda depressão e seu pesadelo apenas está começando, uma vez que começa a ter visões estranhas e assustadoras."
''Preso na Escuridão'' tem várias possíveis motivações para ser assistido. A mais óbvia é a de que nessa mesma semana estréia a refilmagem americana com Tom Cruise no papel inicial, Vanilla Sky. Uma outra é o sucesso e as nominações que recebeu o belo Os Outros, do mesmo diretor em sua primeira aventura hollywoodiana. Pois bem, sejam quaisquer que sejam os principais motivos para se ver um filme, um deveria se sobrepor aos outros: Alejandro Amenábar é um diretor talentoso. Desde o começo, um gosto indisfarçado pelo classicismo: uma viagem de carro nos remonta para certas metáforas daquilo que depois acontecerá no filme (como Hitchcock em O Homem Errado), referências estilísticas (O Fantasma da Ópera, O Homem da Máscara de Ferro), mas acima de tudo uma preocupação pouco comum numa nova geração de cineastas francamente maneirista (pensemos em Baz Luhrmann ou Wes Anderson): apenas contar sua história da maneira mais visualmente eficaz possível. Claro que aqui não se faz apologia da narrativa como única maneira de se fazer bom cinema, mas como algo que parece esquecido das telas de hoje, onde os verdadeiros artistas são autores, ou seja, donos de um universo que é mais importante do que a própria história a ser contada, e os apologetas da narrativa são simplesmente pueris, de interesse puramente (ou majoritariamente) comercial e nada criativos na forma com que encenam e montam seus filmes. Nesse modelo, uma antiga forma de fazer cinema, muito cara ao amante da arte cinematográfica, fica à deriva: o cinema de artesão. É nesse nicho que Alejandro Amenábar vem se inscrever no panorama do cinema contemporâneo recente. Vejam-se os primeiros trinta minutos de Preso na Escuridão para se notar um trabalho muito bem realizado, onde a criação de climas é a iniciativa predominante do diretor. E já aí uma diferença gritante entre os novos realizadores: Amenábar sabe que cinema é eminentemente uma arte visual, e é mestre justamente nessa modalidade, ao contrário dos amantes de um cinema-de-roteiro tão recentemente propalado e simplesmente inócuo e vazio (pensemos no argentino Nove Rainhas ou no ignóbil Memento/Amnésia de Christopher Nolan). Pois em Preso na Escuridão, por mais que o roteiro seja importante e a narratividade ocupe um lugar muito especial (como em todo cinema clássico de artesanato), Amenábar sabe que cinema se resolve na tela. Uma mesma frase povoa o filme: abra os olhos. Começa, entremeia e termina, com uma tela preta que a acompanha. Quando ele finalmente acorda, é César, um jovem bem-sucedido, invejavelmente belo, um don juan que tem por reputação jamais dormir com uma mulher por mais de uma vez. Uma espécie de homem dos sonhos do imaginário macho, pois. Só que os sonhos se transformam em pesadelos, e uma dessas mulheres, Nuria (a belíssima e polar Nájwa Nimri) passa a persegui-lo no dia de seu aniversário. Para fugir dela, César começa a conversar com Sofia (a também insinuante e cálida Penélope Cruz) – por quem seu maior amigo, Pelayo, está apaixonado –, e depois de uma noite em claro na casa dela, acaba se enamorando, e a ação é recíproca. Isso tudo nos é contado num flashback. No período presente, César está com o rosto aparentemente inutilizado (ele o escponde com uma máscara) e conta sua história para um médico, dentro de uma cela num hospital psiquiátrico – teve seu rosto deformado por uma batida de carro que vitimara Nuria e, meses depois, cometera um assassinato por influência de delírios visuais. Esses delírios são as linhas mestras pelas quais o filme evolui. Preso na Escuridão vai aos poucos envolvendo o espectador numa rede onde sonho e realidade, onde plausibilidade e implausibilidade coexistem numa mesma lógica, em que César é incapaz de saber se está sonhando ou em vigília – ou apenas tem surtos delirantes. Isso nos remete a dois filmes recentes razoavelmente aparentados: o já mencionado Memento e um filme de David Fincher, The Game. Nos dois, há a dúvida se a verdade é aquilo mesmo que está simplesmente sendo visto ou uma realidade que escapa aos olhos do protagonista. Em todo caso, é uma aventura, ou melhor: a vida é vivida como uma historinha de videogame, como um jogo de imaginação (detalhes futuros mostrarão como o personagem de Abre los Ojos pode estar vivendo um sonho atrás de outro). Só que Amenábar tem uma dupla vitória sobre esses dois filmes: a primeira é que realmente sabe filmar muito melhor, e sem o ranço (improcedente) de enfant terrible que esses outros dois diretores sustentam. A outra diz respeito à própria narrativa: a verdade final, finalmente encontrada em Memento ou The Game (quando fica claro ao final o que é o quê), até existe, mas não como complô (em Fincher) ou pura montagem auto-consciente e complacente de memórias (em Nolan). Com Preso na Escuridão, o protagonista (e o espectador junto com ele) finalmente se coloca em xeque, e há antagonismo moral e um sentimento estético que dele decorre. Mas o amor à narrativa não esconde uma certa insuficiência. Como em Os Outros, deve haver o momento explicativo: para aqueles que não entenderam, o filme trata de explicar-se ponto a ponto nos últimos minutos de projeção. Isso dá imediatamente a desagradável sensação de que estamos viajando com um guia por demais cioso de zelar por nossos passos. Esse zelo pode se transformar em controle, e o viajante simultaneamente sente que a viagem não é mais sua. Tanto pior quanto Preso na Escuridão por momentos parece delegar essa liberdade ao espectador (e Memento também). Amenábar ama seu filme, mas não a ponto de entregar a verdadeira experiência de seu personagem à pessoa que vê o filme. Resulta uma viagem muito interessante, mas quase o tempo inteiro dentro de um ônibus, onde se contempla lugares muito bonitos. Se se procura uma genuína experiência, no entanto, a saída é dirigir-se a eXistenZ (Cronenberg) ou Mulholland Drive (Lynch), esses sim filmes onde é proibido apertar os cintos de segurança." (Ruy Gardnier)

''Nascido no Chile e criado na Espanha, o cineasta Alejandro Amenábar convive com elogios exasperados desde que lançou o primeiro filme, Morte ao Vivo, em 1996. Suspense seguro e cheio de tensão, o longa-metragem chamou a atenção da mídia espanhola, que passou a tratá-lo por Orsonzito, numa referência ao gênio precoce de Orson Welles, que fez “Cidadão Kane” com a mesma idade que Amenábar tinha ao estrear na tela grande. Exagero à parte, o cineasta escapou do assédio construindo uma obra de fôlego, e trafegando por outros gêneros. Apesar da alta qualidade dos trabalhos que dirigiu, contudo, é possível afirmar que “Preso na Escuridão” (Abre los Ojos, Espanha, 1997) ocupa o posto de obra-prima do diretor e músico, apesar de ser o menos conhecido de todos os trabalhos dele. “Preso na Escuridão” fez sucesso no circuito de festivais dedicados ao cinema fantástico europeu, tendo sido descoberto durante o Festival de Berlim de 1998 pela sócia de Tom Cruise, a produtora Paula Wagner, que recomendou o filme ao astro. Cruise assistiu à obra em seu cinema particular, gostou do que viu e entrou em contato com Amenábar. A parceria acabou rendendo dois bons frutos: uma refilmagem americana (Vanilla Sky, a cargo de Cameron Crowe, inferior ao original apesar de ainda interessante) e o excelente horror fantasmagórico Os Outros, produzido pelo ator norte-americano e protagonizado pela então esposa dele, Nicole Kidman. Aqui, Amenábar constrói um suspense instigante, com toques de ficção científica, para tecer uma dura crítica à preocupação excessiva com as aparências que rege o mundo contemporâneo. Utilizando referências sofisticadas (o musical “O Fantasma da Ópera” é a mais explícita delas), o diretor realiza uma espécie de releitura livre e pós-moderna do romance O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, tematizando com muita propriedade e inteligência uma característica recorrente dos filmes contemporâneos: o questionamento constante da natureza do real, através do embaralhamento das fronteiras entre sonho e realidade. “Preso na Escuridão” funciona como uma parábola que bate forte na cultura yuppie, mas faz isso sem o menor traço de didatismo, ao construir uma narrativa empolgante sobre um jovem milionário que mergulha pouco a pouco na loucura, depois de ter o rosto desfigurado em um acidente de automóvel. A ação, mais psicológica do que física, centra o foco no rico e arrogante César (Eduardo Noriega, perfeito no papel). Herdeiro de uma fortuna, ele não tem nenhuma atividade a não ser dar festas de arromba, aproveitando a boa aparência para se envolver com uma garota diferente a cada noite. Justamente quando se apaixona pela primeira vez, por uma aspirante a atriz (Penélope Cruz, ótima), César acaba pagando pelo narcisismo e sofre uma agressão promovida por uma ciumenta ex-amante (Najwa Nimri, que além de ótima também é linda). A garota se mata em um acidente que o deixa com o rosto monstruoso. A partir daí, o que se vê é uma trama envolvente, que desafia a lógica convencional e flerta com a metafísica ao discutir temas polêmicos, como o uso da tecnologia para superar a barreira da morte. Tudo isso enquanto César tenta desesperadamente recuperar a antiga beleza. O filme é excepcional. A paixão enlouquecida de César por Sofia (Penélope Cruz) ganha toques de tragédia com as referências ao subtexto de O Fantasma da Ópera, mas traça um caminho completamente novo e original, graças a um roteiro engenhoso e a uma direção criativa e inteligente. Amenábar consegue imprimir a lógica dos sonhos à narrativa, através de cortes abruptos que quebram o fluxo espaço-temporal e da inclusão de diversos momentos de dèjá vu (cenas repetidas, com leves diferenças, em que o personagem principal visita os mesmos cenários e fala as mesmas coisas, percebendo o fato mas não encontrando explicação para ele). A música, também composta pelo diretor, é ótima, e há momentos de suspense muito interessantes, como a assustadora cena no bar em que um estranho homem, que parece seguir César por todos os lugares, tenta convencê-lo de que toda a vida dele não passa de um sonho. Apesar da complexidade da história, o final amarra todas as pontas soltas, providenciando explicações lógicas e detalhadas para tudo o que foi visto antes. Alguns espectadores podem interpretar a excessiva verbalização dessas explicações como um dado negativo, o que não deixa de ser verdade, pois não abre espaço para que a platéia interprete uma parte dos acontecimentos, o que poderia valorizar ainda mais o filme. Ainda assim, “Preso na Escuridão” se constitui num dos melhores filmes espanhóis dos anos 1990." (Rodrigo Carreiro)

1998 Urso de Ouro

Canal+ España Las Producciones del Escorpión Les Films Alain Sarde Lucky Red Sociedad General de Televisión (Sogetel)

Diretor: Alejandro Amenábar

51.194 users / 3.736 face


Soundtrack Rock

Massive Attack / The Walkabouts / Amphetamine Discharge / Side Effects / The Sneaker Pimps
3.243 Up 1.343

Date 01/02/2016 Poster - ####

44. Prison (1949)

79 min | Drama

A film director tries to create the best film in history, but finds out that human abilities have their limits.

Director: Ingmar Bergman | Stars: Doris Svedlund, Birger Malmsten, Eva Henning, Hasse Ekman

Votes: 2,141

[Mov 08 IMDB 7,1/10] {Video}

PRISÃO

(Fängelse, 1949)


TAG INGMAR BERGMAN

{onírico}


Sinopse

''Diretor de cinema é procurado por seu antigo professor de matemática, que diz ter uma grande idéia para um filme. O argumento: o demônio declara que a Terra é o verdadeiro inferno. De imediato o diretor rejeita a idéia, dizendo que ela não tem nenhum fundamento. No entanto, pouco depois do encontro entre eles, o diretor se depara com algumas situações que envolvem um roteirista, um amigo íntimo e uma jovem prostituta por quem é apaixonado. Para o diretor, são coincidências que provam que o professor de matemática tinha razão.''
''No início de sua carreira como diretor, Ingmar Bergman se dedicou a comandar roteiros escritos em parceria com outra pessoa, ou adaptações de livros e peças. Foi preciso alguns filmes no currículo até esse renomado sueco levar pela primeira vez às telas uma história original, concebida totalmente por ele. Isso veio a acontecer em Prisão (1949), seu sexto longa-metragem, que, apesar de mostrar certa artificialidade em alguns momentos (detalhe que pode ser decorrência do baixo orçamento), consegue ser uma obra que faz jus à sua belíssima filmografia. ''Prisão'' tem início quando o professor de matemática Paul (Anders Henrikson) sai de um asilo e visita seu antigo aluno Martin (Hasse Ekman), que agora é cineasta. No encontro, o primeiro compartilha com o segundo a ideia para um filme: a Terra é o verdadeiro inferno comandado pelo próprio Diabo. Mesmo não acreditando muito no potencial da trama, Martin repassa o enredo a seu amigo e jornalista Thomas (Birger Malmsten), este que, por sua vez, comenta sobre uma matéria que tentou fazer com a prostituta Birgitta Carolina Söderberg (Doris Svedlund), dizendo depois, em tom de brincadeira, que ela seria ideal para protagonizar o longa. No entanto, as vidas de Thomas e Birgitta eventualmente mostram que a conjectura realmente merece atenção. Bergman realiza em Prisão um conto existencialista, num viés que ele tanto gostava de explorar. Se no prólogo, visto antes dos créditos iniciais (que, aliás, são narrados ao invés de inseridos nos típicos letreiros), vemos Thomas bem humorado ao lado de sua esposa Sofi (Eva Henning) e de Martin, logo depois testemunhamos sua vida bastante apática, tanto que ele cogita o suicídio. E isso se passa apenas seis meses após, indicando o quão rápido a vida pode se tornar incômoda. O mesmo acaba servindo para Birgitta, cujo arco dramático é ainda mais trágico que o de Thomas, considerando que inicialmente a vemos bem, para logo depois a reencontramos numa situação complicada (e as coisas para ela pioram ainda mais a partir daí). Assim, é interessante acompanhar a história como um filme dentro do filme, já que aquilo que Thomas e Birgitta vivem, juntos ou individualmente, acaba se relacionando com a ideia proposta por Paul. A própria estrutura utilizada pelo diretor permite que Prisão seja visto dessa forma. Bergman demonstra humanidade tocante no modo como conduz tudo isso, tendo noção de que mesmo que a vida nos coloque para baixo, ela pode nos dar alguma alegria, embora muitas vezes momentânea. É algo visto na cena em que Thomas e Birgitta se divertem assistindo a um filme, parte mais descontraída da história (e o fato de isso ocorrer graças à arte para a qual Bergman dedicou boa parte de sua vida não deixa de ser algo curioso). Além disso, Paul diz: “A vida segue um arco cruel e sensual do berço até o túmulo”. É interessante ver esta mesma frase recitada no terceiro ato por Martin, que a completa com um simples (mas muito significativo): Isso pode ser verdade para algumas pessoas, em uma visão triste, mas real, sobre o que ocorre no mundo. Isso, inclusive, ganha maior espaço no filme na cena em que uma infeliz Birgitta vê de longe um casal de namorados tratando da melhor maneira possível uma gravidez. ''Prisão'' não é um dos filmes pelos quais Ingmar Bergman se tornou mais lembrado. Isso é até compreensível, levando em conta o número de obras inesquecíveis que ele realizou depois. Mas certamente é um trabalho importante, que dá indícios das muitas coisas que ele veio a fazer ao longo da carreira.'' (Thomas Boeira) {A vida é simplesmente um arco cruel e sensual do berço ao túmulo} (ESKS)

''É evidente a evolução de Bergman com “Prisão” e isso se dá especificamente por ele ter conseguido liberdade para construir seu próprio roteiro, então já podemos ident)ificar algumas de suas marcas, como a reflexão sobre a religião e as angústias humanas, saindo do melodrama presente em seus trabalhos anteriores. A proposta do filme é mostrar a vida de dois jovens que buscam liberdade sexual, amorosa e equilíbrio espiritual, escapando do conformismo de uma sociedade sufocante. É angustiante ver Thomas e Birgitta Karolina com suas buscas por sentido na vida e o tom pessimista que permeia todo o filme fortalece essa angústia. No mais, minhas cenas preferidas são as sequências de reflexão do professor de matemática sobre sua ideia de roteiro sobre o inferno na terra; além da cena da projeção do filme mudo burlesco; e do pesadelo surreal de Birgitta (o ápice do filme, sem dúvida). E também há algumas frases marcantes e que nos fazem refletir. Destaco essa, dita pelo professor: A vida é simplesmente um arco cruel e sensual do berço ao túmulo.'' (TC)

Top Suécia #41

Terrafilm

Diretor: Ingmar Bergman

932 users / 48 face

Date 05/03/2016 Poster - ######

45. Phoenix (II) (2014)

PG-13 | 98 min | Drama, History, Music

89 Metascore

After surviving Auschwitz, a former cabaret singer has her disfigured face reconstructed and returns to her war-ravaged hometown to seek out her gentile husband, who may or may not have betrayed her to the Nazis.

Director: Christian Petzold | Stars: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Nina Kunzendorf, Trystan Pütter

Votes: 20,663

[Mov 09 IMDB 7,3/10] {Video/@@@@@} M/89

PHOENIX

(Phoenix, 2014)


TAG CHRISTIAN PETZOLD

{intenso}


Sinopse

''Nelly Lenz é uma sobrevivente do campo de concentração durante a segunda guerra mundial, onde foi deixada terrivelmente desfigurada. Após uma cirurgia de reconstrução facial, Nelly volta à Berlin em busca do seu marido Johnny. Quando ela finalmente o encontra, Johnny não a reconhece. No entanto, ele se aproxima dela com uma proposta.''
"Bastante distante e frio (justificável pelo clima depressivo de uma Alemanha arrasada no pós-guerra), porém o encerramento é magistral (não uso esta palavra gratuitamente), não menos que isso." (Alexandre Koball)

"O modo como o título ganha significado na ressurreição da personagem é genial, assim como o modo como vamos descobrindo as coisas junto com ela, mas sem sabermos como ela irá reagir a aquilo tudo. Ótima construção psicológica de personagem." (Rodrigo Cunha)

"Petzold mistura "O Casamento de Maria Braun" e "Um Corpo que Cai" para falar de uma Alemanha, antiga e atual, que ainda tenta cicatrizar suas feridas do pós-guerra. A sequência final, ao som de "Speak Low", está entre as melhores de 2015. Grande filme!" (Régis Trigo)

"A condução de Petzold é lenta e jamais alcança impacto emocional, mas o cineasta preenche seu filme de significados, como a reconstrução da identidade no pós-guerra e o próprio título da obra. De quebra, tem uma das melhores cenas finais do ano." (Silvio Pilau)

"O filme segue à duros passos até o final, com personagens inflexíveis e travadas e uma trama pouco interessante, pra dizer o mínimo Referências à Vertigo são inevitáveis. A última cena, porém, é absurda, um dos maiores finais que eu já vi no cinema." (Guilherme Bakunin)

"Por mais que lembranças amargas fiquem pelo caminho, algumas cicatrizes sobrevivem ao tempo apenas para lembrar o quão dolorosa é a trajetória de vida dos sobreviventes de uma guerra e que Petzold ilustra com perfeição na cena final." (Francisco Bandeira)

Christian Petzold alcança novo patamar com belo drama sobre reconstrução humana e imagética.

''Christian Petzold é definitivamente um cineasta querido na Alemanha natal. Sua fama já tinha vazado para outras partes do mundo, mas ele ainda era indiferente pra mim. Mesmo o belo trabalho anterior (Barbara), tão incensado, aplaudido e premiado, não tinha necessariamente me tocado, apesar de reconhecer suas qualidades. Essa impressão finalmente vem por terra com a estreia do novo Phoenix, que se ambienta num período do qual já estou de saco cheio há muito tempo (a Segunda Guerra Mundial), mas retrabalha um jogo de máscaras sociais e desconstrói perfis românticos de heróis do gênero, aqui alquebrados e de caráter duvidoso. Petzold volta a contar com a colaboração habitual de Nina Hoss, a melhor atriz alemã da atualidade, um produto exportação que o próprio diretor transformou em estrela; e ela agradece a ele com eventuais shows de interpretação, como aqui. Seu rosto dúbio nunca foi tão bem aproveitado, porque aqui ele é a matéria prima para o roteiro apresentado, e em torno dele giram os reflexos dos espelhos emocionais que perpassa toda a produção. Nina vive uma sobrevivente de um campo de concentração que se desfigurou e, por conta disso, reconstruiu todo o resto, assim como a vida. De volta à própria casa, sua melhor amiga lhe informa que talvez seu marido (vivido pelo mesmo Ronald Zehrfeld que também já trabalhou com o diretor diversas vezes, inclusive em Barbara) tenha servido de relator durante sua prisão, e que talvez seja ele o responsável pela sua desgraça. Como ele não a reconhece e insiste para que ela se passe pela própria mulher (que ele insiste ter morrido), aos poucos ela tenta compreender o homem que talvez nunca tenha conhecido e remexer um passado duro demais. O filme brinca com a imagética a todo tempo, da construção cinematográfica e também das personas que somos obrigados a vestir diariamente, transitando no jogo de espelhos e fazendo a brincadeira durar do início ao fim sem perda de fôlego. E é nesse jogo que o filme de Petzold sai da pura história contada para o algo mais que caracteriza os grandes momentos, transformando a angustiante trajetória da personagem em uma metáfora cinematográfica por excelência, com o duplo de Nelly sendo vivido por ela mesma. Com cenas impactantes e cheias de poesia como o passeio de Nelly pelos escombros da cidade assim que volta pra casa, Petzold enfim me ganha e me coloca em expectativa para seu próximo longa. Todo o elenco, mesmo os cameos, parecem completamente integrados à narrativa e imersos naquela realidade, absorvendo toda a atmosfera assustada e melancólica geral. Com um desfecho enigmático e explosivo, Phoenix deixa no ar as respostas certas para um excepcional debate após sessão, mas de concreto fica a ideia de que as máscaras não duram pra sempre." (Francisco Carbone)

A Face da Fênix.

''Impiedoso enquanto um drama pessoal sobre uma sobrevivente do nazismo e brutal enquanto registro histórico dos acontecimentos vinculados ao Holocausto, Christian Petzold visita as memórias de Auschwitz e explana uma história fantasmagórica em sentido psicológico a partir das ruínas do pós guerra que desfigurou uma nação; engendrada ainda na desfiguração da face de uma mulher vítima da inconsequência. A partir desse ponto, conciliada na magnitude moral contrastada no caráter de seus personagens e entre a dinâmica relacional entre um casal em face da violência da guerra, o filme escandaliza uma revolta consoante ao desejo de reconquista. A identidade ruiu. "Phoenix" é um filme filmado entre sombras. O contorno turvo da fotografia parece se adequar à retratação da Alemanha sob cinzas, se reerguendo em becos, discutida em bares. Tal como a Alemanha em busca de redenção, Nelly, nossa protagonista, busca igualmente se reerguer após a violência sofrida que lhe rendeu uma desfiguração facial. Tal como uma fênix, a mulher e o país se alçam das cinzas. Ela precisou passar por procedimentos cirúrgicos que lhe renderam um novo rosto. A despersonalização é manifesta no olhar e nos gestos de uma personagem buscando se reconhecer através de uma máscara permanente. Deixou de se Nelly, tornou-se Esther. É o vislumbre que acompanhamos num drama de reconciliação pessoal. Infeliz por seu novo rosto, Esther inicia uma busca atrás de seu marido Johnny, um pianista que desaparecera. Ao saber de seu paradeiro, ela o encontra e ele não a reconhece. O objetivo do homem, ao contrário do dela, visa uma outra conquista, essa que permeia a obra e ascende os fantasmas de passados próximos, íntimos na indulgência. Juntos arquitetam um plano, o que evoca a reconstrução da personalidade da mulher que se perdera. Phoenix é um filme abismal que diz respeito cruelmente a comportamentos humanos. Estrutura-se na redenção de uma nação e representa-se na pele de uma mulher: tornar-se outro ou ser quem outrora fora? A dúvida paira e se delonga até o ato final arrebatador. O cineasta Christian Petzold parece tratar dos temas de seu país como se estivesse num divã: discutiu emigração em Jericó (Jerichow, 2008) e heranças políticas no majestoso Bárbara (Barbara, 2012). Aqui em Phoenix levanta aspectos do pós guerra e o quanto a Alemanha buscou transformar-se. Em ambos os filmes há algo em comum: a presença de Nina Hoss, atriz sublime que assume a frente dos projetos com eficiência, sendo uma das grandes intérpretes do cinema contemporâneo. Dessa vez vive uma judia sobrevivente nos arredores de Berlim. É ótimo acompanhar a atriz habituando-se a uma persona dúbia e caminhar quase se arrastando. Entre madrugadas, sai às escondidas atrás de seu marido, dada a um acerto de contas implausível, incerta a respeito da responsabilidade deste por sua atual condição. Mas ela ainda o ama e isso se soma as dúvidas dispostas pelo roteiro. Segundo um personagem, alguns alemães desejariam um novo rosto após tudo o que fizeram durante o nazismo. Simbolicamente, as bandagens deixam o rosto de Nelly e nos apresenta Esther. A nova feição é exposta. Agora ninguém a reconhece e ela pode iniciar uma nova história, mas o passado é impositivo e se envolve com dinheiro e paixão. Na obscuridade estética, o filme prima pelo texto indeterminado, com clima de constante ameaça e acusações duvidosas. A obra flerta com o noir e revela-se sem pressa. O vermelho anuncia na placa da boate Phoenix a reunião de vidas marginalizadas em meio à escuridão. É para lá que Esther vai. Entre fantasmas de lembranças recentes, entre as dores que a saudade indevida envolve, emocionalmente complexa, Nelly/Esther percorre os becos e assume-se envolvida num plano mirabolante. Para nós, espectadores, resta acompanhar incrédulos seu passo a passo. A vemos se desenvolver, a vemos se modelar, se remontar e se readequar, até o ponto em que finalmente desvela-se capaz de levantar voo sozinha, mas antes profere um canto acompanhando uma melodia, uma das mais dolorosas de se ouvir." (Marcelo Leme)

''O alemão Christian Petzold tem uma carreira irregular, mas com grandes achados dramáticos. Em seus melhores momentos, Fantasmas e Yella, desenvolve dramas pesados em uma estrutura bem rígida, mas que comporta alguns voos audaciosos, facilitados pela base sólida dos roteiros que constrói com Harun Farocki e por um exímio trabalho com os atores. Em "Phoenix", Petzold mostra sua musa, Nina Hoss, como Nelly, uma sobrevivente dos campos de concentração que teve o rosto desfigurado e foi tida como morta. Numa espécie de milagre chamado cirurgia plástica, tem o rosto reconstruído. Ela volta à sociedade, numa Berlim em ruínas, onde procura retomar sua vida e reencontrar Johnny, o escroque com quem havia se casado. Com fortes toques de Hitchcock (Um Corpo Que Cai é uma clara referência) e do cinema alemão do pós-guerra, o filme tem lá seus exageros, mas se beneficia de um clima de estranheza muito bem arquitetado e suficientemente forte para garantir nosso interesse até o final acachapante." (Sergio Alpendre)

Top Polônia #9 Top Histórico #35

Schramm Film Koerner & Weber Bayerischer Rundfunk (BR) Westdeutscher Rundfunk (WDR) Arte (co-production) Tempus

Diretor:Christian Petzold

9.805 users / 2.872 face

30 Metacritic 3.916 Down 672

Date 23/06/2016 Poster - #######

46. Elementarteilchen (2006)

113 min | Drama, Romance

Two half brothers in Berlin, 30+, one an introverted scientist, the other a sexually frustrated teacher, have no love life. That's about to change.

Director: Oskar Roehler | Stars: Moritz Bleibtreu, Christian Ulmen, Franka Potente, Martina Gedeck

Votes: 8,306

[Mov 05 IMDB 6,7/10] {Video/@@@@@}

PARTÍCULAS ELEMENTARES (unofficial)

(Elementarteilchen, 2006)


TAG OSKAR ROEHLER

{melamncolico / hilário}


Sinopse

''Dois irmãos com mais de 30 anos possuem personalidades opostas, sendo um deles tímido e introspectivo, enquanto o outro é adepto de fantasias sexuais realizadas com prostitutas. Quando ambos conhecem duas mulheres pelas quais se apaixonam, algo muito sério acontece, fazendo com que os dois homens decidam entre lutar pelas suas conquistas ou voltar a viver como antes.''
* ''Alguns filmes são um verdadeiro prato cheio para os aficcionados da psicoanálises. Elementarteilchen é um destes. Baseado no livro polêmico de Michel Houellebecq, conhecido por ter revolucionado a escrita francesa a partir dos anos 90, este filme alemão foi feito para não deixar ninguém indiferente. Colocando em primeiríssimo plano a questão da sexualidade e das frustrações cotidianas, Elementarteilchen apresenta ao espectador dois meio-irmãos opostos entre si em todos os aspectos, mas que são ligados por uma mesma origem provocadora e de abandono. Carregado muitas vezes de um tom bastante irreal e com uma boa carga de sexo e violência psicológica, este filme acaba sendo um bom exemplo de como a adaptação de uma grande obra literária pode ficar bastante abaixo do esperado. Tudo indica que Elementarteilchen simplifica a obra original, tornando as histórias dos meio-irmãos apenas uma questão freudiana." (Crítica (non)sense da 7Arte)

{Não temos que entender o mundo, temos apenas que nos dar com ele} (ESKS)

''Um filme tão repleto de problemas, mas que nos fisga tão profundamente, que nos mostra como extensões sofridas dos personagens, que defende a tese de que o bom aproveitamento sexual pode acabar com as guerras nucleares… Pode não ser uma obra-prima, mas é um filme que intriga, seduz, entristece e nos faz perceber como amantes! Sem contar que Franka Potente no elenco é um elogio por si…'' (WPC)

*** ''O resumo acima acabou contando mais do filme do que eu normalmente gosto de narrar, mas achei necessário para conseguir citar, na sinopse desta produção, os nomes dos quatro grandes atores que estrelam ''Partículas Elementares''. Quem tem acompanhado o blog nos últimos tempos e/ou vem seguindo as estréias do cinema alemão nos últimos anos certamente conhece estes atores. Moritz Bleibtreu e Martina Gedeck estrelaram o recente Der Baader Meinhof Komplex, filme que foi indicado para representar a Alemanha no último Oscar – e que ficou entre os cinco finalistas ao prêmio. Franka Potente é conhecida por vários filmes, inclusive em Hollywood, mas eternamente será lembrada como a protagonista de Lola Rennt. E Christian Ulmen é conhecido pela série televisiva Dr. Psycho e pelo filme Herr Lehmann. Esse quarteto de atores é o grande mérito de ''Partículas Elementares''. Tanto a direção quanto o roteiro de Oskar Roehler acabam sendo apenas medianos. Me explico. Roehler acerta em muitos momentos do filme no quesito direção. Com a ajuda do diretor de fotografia Carl-Friedrich Koschnick ele consegue, por exemplo, diferenciar muito bem o tempo atual e o passado (leia-se flashbacks) dos protagonistas. Mas no geral, seu pulso com os planos filmados é bastante tradicional – ele não acompanha a inovação da história. E seu roteiro também fica a meio caminho de um bom trabalho. Se por um lado ele consegue manter um ritmo interessante no filme do início ao fim, nos surpreendendo a cada novo episódio da vida dos meio-irmãos protagonistas, por outro lado ele deixa uma grande característica da obra original jogada ao relento. Certo que uma das características do livro de Michael Houellebecq é explorar como a questão da sexualidade e da libido influi decisavamente na vida de qualquer pessoa, jogando com a questão do desejo/rechaço sexual do filho pela mãe. Esse aspecto do complexo de Édipo e de outras idéias propostas por Freud – aqui você encontra um artigo interessante a respeito – estão presentes na obra original e no filme. Verdade. Mas conforme alguns textos que li sobre Houellebecq, esta questão não é a central de seu livro. Ou, pelo menos, não é o que lhe diferencia de outras obras que tratam do mesmo tema. Segundo esta referência da Wikipédia sobre o autor, Les Particules Élémentaires ganhou muitos fãs por fazer uma reflexão bastante singular sobre a história do ser humano. Fica evidente, especialmente pelo início e pelo final do filme, que a obra original dá bastante importância para a questão científica, configurada na busca do personagem Michael Djerzinski em investigar a reprodução de organismos sem a necessidade do contato sexual. Mas no roteiro do diretor Oskar Roehler a parte científica é praticamente relegada a um pé de página. O que interessa, na sua adaptação da história, é a diferença com que os frutos de uma mesma mulher lidam com a sua sexualidade. Então temos, por um lado, os excessos de Bruno e, por outro, a negação da libido (até um certo ponto) de Michael. Claro que a reflexão sobre as diferenças entre os protagonistas é válida. O tema de o-que-nos-faz-ser-quem-somos, no qual está imersa a questão fundamental da família e, mais especificamente, de nosso pai e mãe, sempre me interessou. Neste quesito, ''Partículas Elementares'' se mostra uma interessante reflexão de como podemos ser mais agentes de nosso próprio destino do que inicialmente se acredita (ou se vende nas prateleiras das ideologias). Afinal, Bruno e Michael foram igualmente abandonados por uma mãe libertina, provocadora e manipuladora, mas cada um fez seu caminho de forma oposta. Michael se dedicou à ciência e se tornou mundialmente conhecido por suas pesquisas, enquanto Bruno teve que lidar com sua sexualidade mal resolvida e com a rejeição materna de forma dura, entrando e saindo de clínicas psiquiátricas. Talvez esse seja o aspecto mais interessante do filme – ou, pelo menos, aquele em que os realizadores apostaram suas fichas. O problema é que os outros questionamentos da obra, como a crítica mordaz de seu autor aos hippies e ao movimento contracultural, assim como a sua aposta na ciência como o caminho da Humanidade, foram jogados na tela de maneira disciplicente. Fica difícil entender como um homem que rechaça tanto as idéias liberais – e que escreve textos extremamente racistas -, como é o caso de Bruno, acabe suportando justamente um camping hippie em busca de sexo. Bem, talvez esta seja uma crítica do autor à nossa modernidade, na qual as convicções parecem tão diluídas e mutáveis. Mas pior que isso são as citações científicas do roteiro, que apontam de maneira leviana para uma era da clonagem. Pelo roteiro de ''Partículas Elementares'', a reprodução assexuada parece ser a solução para a loucura e o descontrole – ressaltando a antítese entre Michael e Bruno. O problema é que estas idéias são jogadas de maneira descuidada na tela, perdendo espaço para as aventuras sexuais de Bruno e Christiane, para dar um exemplo – inevitável não lembrar de Eyes Wide Shut, grande último filme de Kubrick. Uma pena que o filme tenha gastado tantos esforços em mostrar apenas o lado mais sexual da obra de Houellebecq. Se bem que, pelo menos estes questionamentos freudianos, valem a experiência." (Crítica (non)sense da 7Arte)

2006 Urso de Ouro

Medienfonds GFP

Diretor: Oskar Roehler

6.891 users / 551 face


Soundtrack Rock

Don McLean / Harry Nilsson / Eric Clapton / The Box Tops
Date 04/08/2016 Poster - ########

47. Fathers & Daughters (2015)

R | 116 min | Drama

31 Metascore

A Pulitzer-winning writer grapples with being a widower and father after a mental breakdown; 27 years later, his grown daughter struggles to forge her own connections.

Director: Gabriele Muccino | Stars: Russell Crowe, Amanda Seyfried, Aaron Paul, Diane Kruger

Votes: 28,726

[Mov 06 IMDB 7,1/10] {Video/@@@} M/71

PAIS E FILHAS

(Fathers and Daughters, 2015)


TAG GABRIELE MUCCINO

{simpático}


Sinopse ''Nova York, 1988. Novelista mentalmente instável e viúvo (Russel Crowe) tenta criar sozinho a filha de cinco anos. Vinte anos depois a garota, já adulta (Amanda Seyfried), cuida de crianças com problemas psicológicos e ainda tenta entender sua complicada infância.''


**** ''Fazer transbordar os sentimentos é um pecado estético de que o melodrama sempre foi acusado. O que não impede o gênero de ser tratado hoje pelos estudiosos como um tesouro de múltiplos sentidos. "Pais e Filhas" lembra os melodramas clássicos que levaram à fogueira, por pieguice, diretores como Frank Borzage e Leo McCarey, mas agora causam romarias cinéfilas. O diretor Gabriele Muccino segue uma tradição italiana da ópera que desaguou no cinema. Com esse pedigree, trata seu material derramado sem temer ser chamado de cafona. Muccino reveza produções na Itália e nos EUA, onde tem a presença vantajosa de estrelas nos elencos e a devoção do público aos filmes lacrimosos, que não saem de moda. "Pais e Filhas" relembra que a família é o núcleo duro do melodrama. Estamos às voltas com Jake (Russell Crowe), um escritor de maus modos, mas de bom coração, e sua filha, Katie (Amanda Seyfried).A garota é órfã de afetos por traumas infantis e vive sendo disputada pelo pai, que sofre distúrbios psíquicos, e pela tia vingativa e alcoólatra. A história é narrada em dois tempos, com Katie criança e adulta, quando se torna psicóloga e vê, no bloqueio da menina Lucy (Quvenzhané Wallis), uma situação equivalente à de sua infância. O elenco ainda traz Jane Fonda, Aaron Paul, Octavia Spencer e Diane Kruger, todos muito bem em papeis nos quais a menor nota acima pode desarranjar a harmonia. O talento de Muccino aparece na habilidade de esticar as cordas até o limite e mantê-las, equilíbrio sem o qual o melodrama desce para a categoria novela mexicana. Essas qualidades tornam "Pais e Filhas" um filme assistível, mas isso ainda é pouco para que ele seja lembrado depois de amanhã." (Cassio Starlimg Carlos)

Andrea Leone Films Busted Shark Productions Fear of God Films Voltage Pictures

Diretor: Gabriele Muccino

21.329 users / 8.232 face

17 Metacritic 4.266 Down 107 Date 20/07/2017 Poster - ##

48. Phil Spector (2013 TV Movie)

TV-MA | 92 min | Biography, Drama, Music

A drama centered on the relationship between Phil Spector and defense attorney Linda Kenney Baden while the music business legend was on trial for the murder of Lana Clarkson.

Director: David Mamet | Stars: Al Pacino, Helen Mirren, Jeffrey Tambor, Chiwetel Ejiofor

Votes: 7,924

[Mov 06 IMDB 6,3/10] {Video/@@@@@} M/71

PHIL SPECTOR

(Phil Spector, 2013)


TAG DAVUD MAMET

{interessante}


Sinopse ''A intensa relação do lendário produtor musical Phil Spector e sua advogada Linda Kenney Baden, que o defendeu durante seu primeiro julgamento pelo assassinato de Lana Clarkson.''


"Um filme que não deve ser confundido com eletrizantes tramas de tribunal. É diferente da série recente sobre o julgamento de O J Simpson ou qualquer outra boa reconstituição de um drama real. O produtor musical Phil Spector, poderoso e influente nos anos 1960 e 1970 foi mesmo julgado (e condenado) pelo assassinato de uma atriz em sua mansão, em 2003. Mas o caso é praticamente apenas um ponto de partida para o cineasta e dramaturgo David Mamet desenvolver um filme perturbador sobre relações entre cliente e advogado. E conta com dois pilares para representar a dupla: Al Pacino como Phil Spector e Helen Mirren no papel da advogada Linda Kenney. Um filme delicioso, difícil de largar.'' (Thales de Menezes)

''A música que abre Phil Spector é inconfundível: Unchained Melody, do Righteous Brothers, que ganhou o mundo ao ser escolhida como a música-tema de Ghost – Do Outro Lado da Vida. A canção deve muito de seu sucesso a Harvey Philip Spector – ou, simplesmente, Phil Spector – produtor musical que trabalhou com verdadeiras lendas da música, alavancando carreiras e colocando muitos nomes até então desconhecidos no mapa. Ao longo dos anos, ele produziu artistas como Tina Turner, Beatles, Ramones, Cher, Céline Dion e os próprios Righteous Brothers. O problema, no entanto, é que a Unchained Melody que abre Phil Spector é o único indício musical marcante que encontramos no filme. Fora as gratuitas menções a astros em diálogos e raros momentos embalados por outras trilhas, o longa escrito e dirigido por David Mamet está focado no evento que selou de vez o fim da carreira do personagem-título: o tumultuado julgamento que definiria se ele era culpado ou não pela morte da jovem atriz Lana Clarkson em seu apartamento. A decisão de ter esse enfoque não é lá muito sábia, já que, com ela, Phil Spector, em breves 90 minutos, torna-se meramente filme sobre os bastidores de um julgamento, esquecendo a importância artística da icônica figura que tem como protagonista. Exibido em março pela HBO, Phil Spector é um filme curto e sem muito tempo para firulas. E, mesmo com dois gigantes frente ao elenco (Helen Mirren e Al Pacino), esse parece um projeto menor da emissora – como se tivesse sido feito apenas para cumprir contratos e cotas. É exatamente em função disso que Phil Spector se torna tão decepcionante. Aqui não existie a ambição e o requinte que estamos acostumados a ver em produções que carregam o selo HBO (em telefilmes, o excelente Virada no Jogo, por exemplo, foi o exemplar mais admirável da emissora nos últimos anos). O filme de Mamet soa como uma formalidade mesmo, apostando em um formato repetido e que não demonstra um fiapo de originalidade. Os próprios atores não têm muito o que fazer com o material. Helen Mirren, a verdadeira protagonista como a advogada que, relutante, aceita defender Spector, uma vez ou outra dá indícios de sua habitual elegância e sutileza, mas o texto é completamente raso. Já Al Pacino repete maneirismos (You Don’t Know Jack?), muito acomodado nos figurinos e perucas do personagem, tornando-se uma figura quase chata em seus discursos prolongados. Na realidade, não dá para culpar Pacino e Mirren, já que toda a decepção de Phil Spector vem toda do trabalho de direção e roteiro de David Mamet, onde o seu maior mérito é construir todo o filme sem tomar partido: afinal, Spector matou ou não a garota? Até hoje ainda há divergências quanto a esse assunto, mas Mamet nunca se mostra tendencioso – o que é, no mínimo, algo coerente. Só que, de resto, nada instiga: o roteiro escrito por ele não poderia ser mais previsível para o tipo de enredo que desenvolve, contando o caso do protagonista de forma muito linear e didática. Mamet está mais preocupado em mostrar as minúcias da construção da defesa do protagonista (entrevistas, ensaios, testes) do que a dinâmica entre a advogada e o réu. A relação entre os dois poderia – e deveria – ser o ponto alto do filme. Não só porque traria momentos preciosos para os dois atores, mas também porque a história só teria a ganhar com os entraves entre essas duas figuras tão distintas. Por não apostar nesse acerto tão óbvio, Phil Spector perde muitas chances. É realmente uma pena que seja assim, já que não é todo dia – seja na TV ou no cinema – que vemos dois grandes nomes como Al Pacino e Helen Mirren dividindo um filme.'' (cinemaeargumento)

“Phil Spector”, apresentado pela primeira vez na TV americana no domingo, é, na essência, um elogio da dúvida. O filme, centrado no primeiro julgamento do excêntrico compositor e produtor musical, não defende a inocência nem corrobora a acusação de que Spector teria matado, com um tiro na boca, em sua casa, há uma década, a atriz e modelo Lana Clarkson. O profissional com rico histórico de violência contra mulheres (uma das vítimas mais notórias seria sua parceira por sete anos, Ronnie Spector, do grupo Ronettes) e repetidos incidentes de uso de armas de fogo em estúdios foi condenado, em segunda instância, a 19 anos de prisão. Spector nunca admitiu o crime e se diz vitimizado pela Justiça californiana, refém da reação da opinião pública, então enojada com as absolvições seguidas de outras celebridades, como O.J. Simpson e Michael Jackson, envolvidos em casos talvez mais escandalosos do que o da morte da loura de 41 anos. Clarkson era uma atriz do segundo time que trabalhava duro como garçonete em uma das franquias da casa de espetáculos House of Blues para pagar as contas. Em declaração dada antes da estreia do filme na TV americana, o protagonista Al Pacino afirmara que o diretor David Mamet estava certo da inocência de Spector. O principal argumento da defesa aparece de forma recorrente na trama: seria impossível Spector apertar o gatilho e, ao mesmo tempo, sair da cena do crime com seu terno branco imaculado, sem uma gota do sangue da vítima. A declaração de Pacino gerou críticas de grupos de defesa de vítimas, que prometeram campanhas contra a produção da HBO e alertaram para a tática de se enfatizar na tela a possibilidade de suicídio de Lana. Já a atual mulher de Spector, Rachelle, protestou contra o que denunciou ter sido uma quebra de acordo confidencial entre seu marido e seus advogados, fontes fundamentais no filme de Mamet. “Phil Spector”, o filme, não oferece pistas para a solução do caso. A atuação de tirar o fôlego de Pacino é acompanhada por uma inspirada Helen Mirren, encarnando a advogada Linda Kenney Baden, uma figura, na tela, quase tão atormentada e misteriosa quanto a de seu cliente. O ponto alto do filme não é a tentativa de se contar o que de fato aconteceu na mansão do homem que se apresenta, não sem razão, como inventor da indústria da música pop, e sim, bem no estilo de Mamet, o duelo verbal entre Pacino e Mirren. Quiçá para fugir da acusação de revisionismo — rótulo associado recentemente a A hora mais escura, em torno da caçada ao terrorista Osama bin Laden — “Phil Spector” começa com um aviso: Esta é uma obra de ficção. Trata-se de uma dramatização inspirada em um julgamento real, mas não é uma tentativa de se fazer um comentário sobre o resultado do processo judicial. É impossível, no entanto, não chegar ao fim sem uma pulga atrás da orelha. Teria Phil Spector, o recluso e excêntrico inventor do Wall of Sound (recurso de estúdio em que comprime os sons de toda uma orquestra em um único canal, como em “Be my baby”, das Ronettes) e produtor dos celebrados primeiros discos solo de John Lennon e George Harrison, sido condenado mais por sua aparência e estilo de vida desconectados da maioria dos americanos do que por reais evidências? Mamet, Pacino e Mirren não respondem à pergunta. Mas oferecem cenas memoráveis como a da explosão de Pacino durante o último ensaio antes de seu depoimento no tribunal, quando é obrigado a assistir a um vídeo em que Ronnie Spector destrói minuciosamente o caráter do ex-marido. Ou a de Mirren tentando decifrar o que repórteres já anunciavam, do lado de fora da corte, como “entrada espetacular” de seu cliente. Impossibilitada de encontrar a imagem de Pacino nas câmaras de segurança, ela se prostra à frente do elevador, para quase cair para trás com a peruca afro - uma homenagem a outro perseguido, Jimi Hendrix - usada por Spector em seu depoimento. Pedaços de uma história que revelam, aí sim sem margem para grandes questionamentos, por que a televisão americana vem sendo cada vez mais relevante do que Hollywood.'' (Eduardo Graça)

71#2014 Globo

HBO Films

Diretor: David Mamet

5.326 users / 2.227 face


Soundtrack Rock

The Righteous Brothers / The Ronettes / The Crystals
3.005 Down 771

Date 12/02/2017 Poster - #####

49. Words and Pictures (2013)

PG-13 | 111 min | Comedy, Drama, Romance

49 Metascore

An art instructor and an English teacher form a rivalry that ends up with a competition at their school in which students decide whether words or pictures are more important.

Director: Fred Schepisi | Stars: Clive Owen, Juliette Binoche, Bruce Davison, Amy Brenneman

Votes: 11,414 | Gross: $2.17M

[Mov 05 IMDB 6,6/10] {Video/@@@} M/49

PALAVRAS E IMAGENS

(Words and Pictures, 2013)


TAG FRED SCHEPISI

{divertido}


Sinopse ''Jack Marcus (Clive Owen) é um ex-astro literário que batalha para manter seu novo emprego como professor de inglês em uma escola preparatória. Quando Dina Delsanto (Juliette Binoche), uma pintora e professora de arte abstrata, chega no campus e faz com que as paixões de Jack, tanto por Dina quanto pela arte de escrever se revigorem. Com a avaliação de desempenho se aproximando, Jack tem a ideia de realizar uma competição entre seus alunos e Dina, uma batalha entre palavras e imagens, que ele espera inspirar as crianças e salvar seu emprego.''


''Jack Marcus (Clive Owen) é professor de Inglês. É também um escritor frustrado e um alcoólico em potência que corre o risco de perder o emprego. Mas, acima de tudo, é um diletante e um homem cuja eloquência só é comprável à enorme paixão que tem pela língua, pela literatura, pelas palavras. Dina DelSanto (Juliette Binoche) é a professora recém-chegada para leccionar Artes. Assim que são apresentados, uma coisa parece ficar clara: movem-se em territórios opostos e pouco mais terão em comum para além do desprezo e do preconceito com que encaram a disciplina um do outro. Estão abertas as hostilidades. A declaração de guerra dá início a uma série de provocações constantes entre os dois docentes. A comunidade deixa-se envolver pelos momentos em que esgrimem argumentos intelectuais e artísticos, medindo forças entre a palavra e a imagem. O entusiasmo com que os rivais defendem as respectivas áreas do saber, associada à devoção de ambos ao ensino, acaba por produzir resultados surpreendentes: por um lado, revela-se uma enorme fonte de motivação para os alunos, capaz de os fazer despertar da mesmice e da superficialidade das mensagens e das redes sociais; por outro, faz despontar uma relação entre duas pessoas (e dois mundos) que, afinal, se completam. Um filme romântico do realizador australiano Fred Schepisi (Roxanne, Um Grito de Coragem), a partir de um argumento de Gerald Di Pego." (CineCartaz)

Latitude Productions Lascaux Films American Entertainment Investors

Diretor: Fred Schepisi

7.573 users / 2.523 face

26 Metacritic

Date 13/02/2017 Poster - ###

50. Passengers (I) (2016)

PG-13 | 116 min | Drama, Romance, Sci-Fi

41 Metascore

A malfunction in a sleeping pod on a spacecraft traveling to a distant colony planet wakes one passenger 90 years early.

Director: Morten Tyldum | Stars: Jennifer Lawrence, Chris Pratt, Michael Sheen, Laurence Fishburne

Votes: 447,217 | Gross: $100.01M

[Mov 03 IMDB 7,1/10] {Video/@@} M/41

PASSAGEIROS

(Passengers, 2016)


TAG MORTEN TYLDUM

{esquecível}


Sinopse ''A nave espacial Avalon, em sua viagem de 120 anos para o distante planeta colônia Homestead II e transportando 5259 pessoas, tem uma avaria em uma das câmaras do sono, após o choque com um meteoro. Como resultado, a cápsula de hibernação de Jim Preston abre prematuramente lhe despertando 90 anos antes de seu destino. Mas aguentar a solidão do espaço não é nada fácil, e para piorar esse não é o único problema que aflige a enorme nave espacial.''


"Passageiros fica no limiar do superficial e do profundo. O desenho de produção é fantástico (um Wall-E com personagens reais, bem mais avançado) e as questões morais são pertinentes, ainda que nem sempre bem exploradas, e há esquematismos previsíveis." (Alexandre Koball)

"Durante dois atos, é um filme interessante, com toques existenciais e dilemas morais, sobre solidão e conexão humana. Mas o último ato joga tudo por terra, entregando-se às exigências do cinema comercial ao virar um filme de ação repleto de clichês." (Silvio Pilau)

"Fora o equilíbrio em cena de Pratt, sobra apenas um arremedo de história que não estabelece nada, não desenvolve nada e leva suas cenas a um nível de pedantismo visual que só é rivalizado pelo histrionismo de Lawrence. Morten Tyldum não sabe dirigir." (Rafael W. Oliveira)

*** "Atores quentes (Jennifer Lawrence e Chris Pratt) como Adão e Eva perdidos no espaço. Estética visual moderna numa sci-fi vintage." (Thales de Menezes)

"Passageiros" utiliza um elemento clássico da ficção científica: a tecnologia criada para beneficiar o homem acaba se voltando contra ele. O filme não tenta surpreender, ele cativa ao colocar o espectador na situação angustiada de seus protagonistas. Em sua primeira parte, a história funciona de modo impecável, como um Robson Crusoé do espaço. Jim Preston, o engenheiro mecânico interpretado por Chris Pratt, não está sozinho numa ilha, mas preso em uma espaçonave gigantesca com outros 5.000 ocupantes. O problema é que todos dormem em seus casulos high-tech, que devem deixá-los em hibernação por 120 anos, até que a nave chegue ao planeta que eles vão colonizar. Um problema técnico no casulo desperta Preston 90 anos antes da hora. Assim, ele é o único acordado numa nave que parece o hotel mais bacana que a tecnologia do futuro pode conceber. Depois da revolta inicial, em que ele se desespera diante da certeza de morrer de velhice antes de interagir novamente com outro humano, Preston tenta aproveitar o que seu lar solitário tem de melhor. Nessa fase hedonista, ele encontra alívio nas conversas com o barman Arthur, um androide conversador. Mas a rotina de Preston na nave muda quando ele ganha uma companheira, Aurora Lane, outra a despertar. Aí, Robson Crusoé se transforma em Adão e Eva. Mas a lua-de-mel vai virar pesadelo quando os problemas técnicos começam a pipocar pela astronave. No terço final, quando Preston e Aurora têm de lutar pela sobrevivência, o filme cai um pouco. O espectador deixa de divagar sobre a solidão, para ver cenas de ação. Boas cenas, sim, mas seu melhor é na parte filosófica inicial. Num filme com três personagens, os atores pesam muito no resultado. E o elenco ajuda bastante o longa de Morten Tyldum, norueguês que vem do sucesso de O Jogo da Imitação. Chris Pratt é o galã do momento no cinema americano. Não é um ator excepcional, mas tem presença na tela que permite a muitos tratá-lo como um novo Harrison Ford. Jennifer Lawrence é a melhor atriz de sua geração e consegue transmitir com garra as reações de Aurora, o papel mais exigente da produção. E o ator inglês Michael Sheen, ótimo no filme Frost/Nixon e na série de TV Masters of Sex, acerta a mão como um robô capaz de manter uma conversa entre a simpatia e o sarcasmo. "Passageiros" não foge do arcabouço da ficção científica, mas vai além ao discutir a finitude do homem. Diverte e faz pensar." (Thales de Menezes)

Uma rasa e súbita história de amor.

''Aspectos novelescos (Soap opera) afloram de maneira descomunal hoje em dias nas grandes produções americanas. Geralmente intensificados por uma premissa interessante, os longas, em sua maioria, são entregues como produtos esquecíveis, de teor bastante efêmeros, como um entretenimento excessivamente vazio, sem qualquer tipo de elemento diversificado, abusando de uma fórmula estabelecida nos anos 90, que foi aprimorada na primeira década do século XXI; fazendo o grande público assisti-los de forma automática, forçando uma sensação de espera propagada pelos trailers bastante chamativos e que apresentam, basicamente, as únicas cenas boas do filmes. Mesmo tendo quem leve cinema a sério - e têm seus filmes devidamente lançados - há quem apenas o trate como um passatempo (a grande maioria) e, logicamente, não se trata de um erro social, cada um com seus gostos. O problema é quando a obra tem potencial para se destacar da maioria mas é ofuscada por sistema coercivo. Passageiros poderia ser uma boa e honrada ficção-científica, concebida para acrescentar à arte, criando toda uma base de conversas do público nichado, proliferando discussões reflexivas para ser lembrado como um destes filmes modelares. Porém, como várias das produções norte-americanas recentes, o longa se atribuiu por um roteiro inócuo, personagens pessimamente construídos e acontecimentos previsíveis e importunos. O longa narra a história de Jim Preston, interpretado por Chris Pratt, um passageiro de uma nave espacial que transporta milhares de pessoas para um planeta colônia, que tem uma avaria em uma de suas câmaras de sono e é despertado 90 anos antes de qualquer outra pessoa. Confrontado pela perspectiva de envelhecer e morrer sozinho, ele então decide acordar um segundo passageiro, Aurora Lane, vivida por Jennifer Lawrence - esta que é retratada de uma maneira bem objetificada - marcando o início do que se tornará uma história única de amor. Apesar da sinopse atraente, que segue com uma premissa bem segmentada onde questões sobre individualidade, moralidade, solidão e benevolência podem ser levantadas, o longa apenas entrega superficialidades: em todo momento, se concretiza o amor de uma maneira obtusa, exuberante, porém inverossímil, sem qualquer sustância incutida. ''Passageiros'', com seus personagens unilaterais, não apresenta nenhum resquício de complexidade ou subjetividade; sempre a retratação é feita de modo direto, tornando, portanto, como já se esperava, Preston um herói - algo relacionado a um exemplo para ser seguido - esquecendo, de maneira perturbadora, todo o contexto impregnado à narrativa. A grande questão não é o personagem ser este asco humano - existem vários na cultura popular que adoramos - e, em certos momentos, há um sentimento de arrependimento vindo de Jim; mas, não reconhecer seus problemas e erros, gerando uma ausência de autocrítica, que se estabelece numa falsa ética acentuada por um egoísmo travestido de vitimismo, faz qualquer indício sentimental ir por água abaixo. Jennifer Lawrence marca com uma atuação fraca, em uma personagem influenciável, inepta - seus melhores momentos são fortificados pelos caros efeitos especiais - em cena, seus diálogos são vergonhosos, sua atuação é quase nula, vemos um retrato da própria atriz sob seus papéis e o peso que isso tem em sua interpretação, quando tenta ser teatral, mostra-se sem dimensão, abstraindo-se de qualquer força em tela; diferente de Pratt e Michael Sheen - o robô garçom - que conseguem, ao menos, entregar um bom humor em seus maneirismos. Com pouca ou quase nenhuma substância narrativa, o longa falha crucialmente em absolutamente tudo. Quando entrega uma ação abrupta, se prende a situações banais, divertindo nos primeiros minutos, mas irritando algum tempo depois. Ao tentar ser intimista, cria um drama pessoal que não tem amparo, já que questões morais são pouco abordadas e quando levantadas se solidificam como algo bem raso; e quando tenta ser um suspense, não cria sustentabilidade, pois já conhecemos e sabemos o entorno dos personagens e as pretensões de seus realizadores, fazendo qualquer passagem previsível, estragando todo conflito que a obra venha a ter. Morten Tyldum, diretor da produção, se mostrou decente algum tempo atrás com o suspense alemão Headhunters (Hodejegerne, 2011). Quando foi para Hollywood, agradou críticos e o público com o mediano O Jogo da Imitação. Neste aqui, além do notório peso de produtor, há um cinismo do diretor, característico à indústria, principalmente quando quer vender algo: seus olhos estavam voltados ao modelo de sucesso, ocultando sua criatividade. A equipe técnica é primorosa, o diretor de fotografia, Rodrigo Prieto, que já trabalhou com Scorsese e Iñárritu, faz um bom trabalho, destacando a profundidade dos cenários, e consegue trabalhar junto com os efeitos-especiais, que são bem feitos, mesmo passando uma sensação artificial. Por sua vez, a direção artística, incluindo figurino e locações, é bem pensada, fazendo sentido no contexto geral. Entretanto, a emoção barata, a superficialidade íntegra e as situações de vergonha alheia - algo que o filme tem aos montes - tiram qualquer brilho, fazendo com que se torne não só um entretenimento rápido, mas também uma obra totalmente esquecível." (Felipe Ishac)

89*2017 Oscar

Columbia Pictures LStar Capital Village Roadshow Pictures Original Film Company Films Start Motion Pictures Wanda Pictures

Diretor: Morten Tyldum

244.821 users / 41.223 face


Soundtrack Rock Imagine Dragons / Sirius / Bob Dylan


48 Metacritic 249 Down 86

Date 18/06/2017 Poster - #

51. The Pilgrim (1923)

TV-G | 47 min | Comedy, Western

Disguised as a priest, an escaped convict makes his way to Texas. He ends up in a small rural town where the townsfolk mistake him for their new church minister.

Director: Charles Chaplin | Stars: Charles Chaplin, Edna Purviance, Syd Chaplin, Mai Wells

Votes: 5,679 | Gross: $0.28M

[Mov 06 IMDB 5,3/10] {Video}

PASTOR DE ALMAS

(The Pilgrim, 1923)


TAG CHARLES CHAPLIN

{divertido / nostálgico}


Sinopse ''Um convicto escapa da prisão e, para não ser reconhecido, se livra de seu uniforme de preso e se disfarça de pastor. Ele acaba ficando em uma pequena cidade em que as pessoas acham que ele é realmente um pastor. Sua vida estará prestes a ser ameaçada quando um comparsa seu descobre todo o seu plano.''


''O último filme protagonizado por Chaplin ao lado de Edna Purviance, embora seja um curta-metragem, já conta com a estrutura dramática de suas obras posteriores. De fato, o cuidado maior com a trama já vinha se apresentando nos últimos anos de seu trabalho. A narrativa passou a seguir uma linha melhor definida e, ao longo dela, as piadas são inseridas de acordo, trazendo uma maior coesão para o filme como um todo. É essa coesão que logo salta aos olhos em Pastor de Almas. Nele, acompanhamos Carlitos, um prisioneiro recém escapado da prisão que se disfarça como um pastor. Em meio a sua fuga, ele é confundido pelos moradores da cidade, sendo considerado o pastor que logo ali chegaria. Por meio desta simples premissa, Chaplin consegue nos prender cena após cena ao indagarmos em quais possíveis situações ele poderia se meter. As risadas aqui são espontâneas, ao passo que as gags utilizam de situações mais do que comuns para criar humor. Aqui, devo destacar a incrível sequência passada na igreja, na qual Charlie faz uma representação de Davi e Golias. Embora exista ali uma plateia em cena, o ator/diretor representa para nós, espectadores, com seu olhar virado diretamente para a câmera, como se nós próprios estivéssemos dentro do filme. É uma sutil quebra da quarta parede que mais do que se encaixa naquele contexto. Tanto nesta ocasião, como no restante da projeção, é notável a pequena quantidade de cartelas presentes, que se resumem a uma explicação do realmente necessário. Toda a trama é construída através da precisa direção de Chaplin, além de todo seu carisma, que tiram do ex-detento qualquer aspecto negativo. Assim como no restante de sua filmografia, não é preciso muito tempo para logo nos enfatuarmos a sua figura, contribuindo ainda mais para a imersão já solidificada pela simples e bem construída narrativa, que nos leva de uma fuga no trem até uma leve paixão rapidamente estabelecida. Estamos, afinal, nesta última parceria em cena (salvo posteriores pontas) entre Edna e Charlie, química que sempre funciona pela mera troca de olhares. O foco no romance, contudo, não ocupa grande parte da trama, que logo nos resgata para o ponto onde fomos introduzidos. Há um caráter cíclico na obra, que novamente nos remete à coesão que jamais é quebrada. Desta forma, Chaplin ainda insere alguns elementos de western, formando uma efetiva gag que certamente trará risadas aos conhecedores do gênero. Através dessa bem colocada inserção, o curta (ou média metragem, dependendo da forma de classificação) se encerra, sem cansar a audiência com cansativas repetições. "Pastor de Almas" é uma obra bem conduzida, contando com todos os elementos que esperamos em um filme de Charlie Chaplin – risadas, romance e toques de crítica à sociedade. Acompanhando essa cuidadosa mistura, temos a trilha composta pelo próprio diretor, que ainda conta com uma música cantada, I’m Bound for Texas, presente na primeira parte da trama. Seguindo uma linha de raciocínio bem construída, o curta consegue, sem dificuldade, cativar sua audiência, que, quando percebe, já está diante das palavras The End." ( Guilherme Coral)

Charles Chaplin Productions

Diretor: Charles Chaplin

3.268 users / 99 face



Date 15/09/2017 Poster - #####

52. The Program (II) (2015)

R | 99 min | Biography, Drama, Sport

53 Metascore

An Irish sports journalist becomes convinced that Lance Armstrong's performances during the Tour de France victories are fueled by banned substances. With this conviction, he starts hunting for evidence that will expose Armstrong.

Director: Stephen Frears | Stars: Ben Foster, Chris O'Dowd, Guillaume Canet, Jesse Plemons

Votes: 19,399

[Mov 08 IMDB 6,5/10] {Video/@@@@} M/53

PROGRAMADO PARA VENCER

O PROGRAMA (alternative title)

(The Program, 2015)


TAG STEPHEN FREARS

{interessante}


Sinopse ''Cinebiografia do ciclista norte-americano Lance Armstrong, que abrange desde a ascensão e consagração no Tour de France até a desgraça pelas acusações de dopping.''


{É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação} (ESKS)

''É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação. Dirigido pelo experiente diretor britânico Stephen Frears (Alta Fidelidade), "Programado Para Vencer" mostra os detalhes mais profundos de um fato real que abalou o mundo do esporte e conseguiu transformar um herói norte-americano do esporte em um grande traidor e anti desportista. Com um excelente roteiro adaptado, assinado pelo craque John Hodge (Trainspotting – Sem Limites), uma baita atuação do sempre dedicado Ben Foster e uma direção muito correta de Frears, o longa-metragem promete gerar mais indignação sobre esse famoso caso mundial. Na trama, baseada totalmente em fatos reais, tendo como base o livro Seven Deadly Sins: My Pursuit of Lance Armstrong, do jornalista David Walsh (no filme interpretado por Chris O’Dowd), conhecemos a curiosa trajetória do ciclista Lance Armstrong (Ben Foster), um atleta que conseguiu o impossível, vencer o mais difícil torneio de ciclismo do mundo, o Tour de France, por nada mais nada menos que sete vezes consecutivas, entre os anos de 1999 e 2005. Tratado como herói norte-americano, tendo que superar um inesperado câncer, o ex-campeão era praticamente um Deus em sua terra natal. Até que um dia, tudo que ele fez vai ralo abaixo quando é comprovado, e tardiamente confessado por Armstrong, que ele fez parte de um programa de dopagem. Ao longo dos 103 minutos de projeção, passados de maneira bem dinâmica e inteligente, vamos acompanhando, perplexos, todo o desenrolar da trama, que mostra detalhadamente uma corrupção dentro de um esporte amado por muitos. O filme é bem forte e resolve mostrar tudo mesmo, talvez pelas fortes certezas sobre o acusado, talvez por ser uma produção britânica. O pilar, também central, da trama é o jornalista David Walsh (Chris O’Dowd), um amante do ciclismo do bem que embarca em uma busca frenética onde teve que suportar diversos tipos de pressões, tanto de pessoas ligadas ao alto escalão do ciclismo na época, quanto do próprio jornal onde escrevia para poder provar e comprovar a dopagem de Armstrong. Analisando os fatos apresentados neste projeto, imaginamos como será a reação do público norte-americano ao filme, que estreia na casa de Armstrong, nos Estados Unidos, no dia 18 de março deste ano. Lançado no último Festival de Toronto, "Programado Para Vencer não fala sobre heróis, fala sobre vilões, e também sobre os falsos limites que o ser humano se impõe para poder vencer a qualquer custo. Em ano olímpico no Brasil, um filme como esse só reforça a obrigação dos atletas em respeitar o espírito olímpico, competindo com lealdade e honestidade. E quem não respeitar, que seja banido do esporte, como Lance foi." (CinePop)

''O ciclista Lance Armstrong foi protagonista de um polêmico capítulo do esporte. O longa, dirigido pelo veterano Stephen Frears, se baseia no livro Sete Pecados Capitais escrito pelo jornalista David Walsh, que durante anos se dedicou a compreender as mentiras por trás da gloriosa carreira do competidor. Armstrong, vitorioso por anos consecutivos da Tour de France, uma das maiores e mais prestigiadas competições de ciclistas, teve todos os seus prêmios invalidados em 2012, quando revelou na mídia aquilo que escondeu durante toda sua trajetória, que fez parte do mais sofisticado esquema de doping já visto na história. O filme acompanha todo o caminho percorrido pelo promissor esportista (interpretado por Ben Foster), que sobreviveu a um câncer e se revelou um herói, ajudando organizações em prol de vítimas da doença e superando sua fraqueza, se tornando um grande campeão.Não é sempre que uma boa manchete se transforma em um bom filme. "Programado Para Vencer" é um exemplo a se destacar, deixando de ser apenas uma grande matéria de jornal, mostrando-se um produto interessante como cinema, ainda que não esconda seu tom de documentário investigativo. Poderia ter sido tudo muito simples, logo que não há tantas reviravoltas nem saídas imprevisíveis, no entanto é, ainda assim, inegável a força do longa, que facilmente nos seduz ao seu jogo de mentiras e trapaças, crescendo ao seu decorrer, entregando uma trama intrigante, que nos faz questionar a todo instante como tudo aquilo foi possível na vida real, além de performances sólidas de um competente elenco. Acredito que tenha sido um momento notável na carreira oscilante do britânico Stephen Frears, que sai um pouco de sua zona de conforto e constrói um filme relevante. O grande destaque de sua produção é, sem dúvidas, sua ágil montagem, que mescla com maestria arquivos reais, notícias, além das belíssimas sequências em movimento quando capta os competidores em ação. O filme peca na falta de ambiguidade em seus protagonistas. O embate entre o jornalista David Walsh, aqui vivido por Chris O'Dowd, e seu alvo de pesquisa, Lance, teria sido mais interessante se eles deixassem de agir, por alguns instantes, fora de seus respectivos códigos de conduta. É uma visão pouco convincente a desse escritor que luta com todas as suas forças para incriminar alguém apenas porque ele fere sua moral, sem segundas intenções, como se o furo jornalístico não passasse em sua mente. Ele é correto demais para isso. Lance Armstrong perde um pouco na tela quando o roteiro nos impede de ver seu lado mais humano, não há nenhum resquício de bondade ou de boa intenção em suas atitudes, o que dificulta esta conexão com público e dificulta vê-lo como um ser real. Claro, ainda não deixa de ser um personagem que nos causa algo, nos intriga e nos deixa curiosos sobre suas motivações. Sorte, também, é ter o talento de Ben Foster para compor a loucura, obsessão e fúria existente em Armstrong. Se trata de uma atuação marcante, irreparável. Seus discursos arrepiam e sua força em cena é admirável. "Programado para Vencer" se firma como um excelente drama de esporte, mostrando com competência os conflitos existentes nas grandes competições, as rixas e aquela constante procura em ser o mais veloz, o melhor. Traz, também, a adrenalina quase como religião, aquilo que motiva a vida dos profissionais, que os tornam preenchidos. O longa também discute a ética no esporte, construindo um debate eficiente sobre o doping. E nada melhor que discutir a moral de um esportista e o quanto suas escolhas podem gerar consequências inimagináveis do que apresentar a jornada de Lance Armstrong. Um homem que não mediu esforços para alcançar seu auge, a perfeição. "Programado Para Vencer" é sobre o nascimento desse herói, que construiu um império através de uma farsa, que conquistou fãs, que entregou uma história de superação e tudo aquilo que a mídia precisa para contar e uma sociedade precisa para se inspirar, acreditar no futuro melhor. Revelar as mentiras de Lance era mais do que destruir uma brilhante carreira, havia muito mais em jogo. Havia o sonho corrompido, havia a herói desarmado. Revelar a verdadeira face do homem seria como revelar o quão na merda o mundo está." (Fernando Labanca)

Anton Capital Entertainment (ACE) StudioCanal Working Title Films

Diretor: Stephen Frears

12.523 users / 6.323 face


Soundtrack Rock Ramones / The Fall / Black Rebel Motorcycle Club / The Lemonheads / Radiohead / Primal Scream / Leonard Cohen


20 Metacritic

Date 04/12/2017 Poster - ###

53. Personal Shopper (2016)

R | 105 min | Mystery, Thriller

77 Metascore

A personal shopper in Paris refuses to leave the city until she makes contact with her twin brother who previously died there. Her life becomes more complicated when a mysterious person contacts her via text message.

Director: Olivier Assayas | Stars: Kristen Stewart, Lars Eidinger, Sigrid Bouaziz, Anders Danielsen Lie

Votes: 43,271 | Gross: $1.31M

[Mov 05 IMDB 6,2/10] {Video/@} M/77

PERSONAL SHOPPER

(Personal Shopper, 2016)


TAG OLIVIER ASSAYAS

{simpático}


Sinopse ''Maureen é uma jovem americana em Paris que trabalha como personal-shopper de uma celebridade. Além disso, ela parece ter a capacidade psíquica de se comunicar com espíritos, assim como seu irmão gêmeo, Lewis, que faleceu recentemente. Maureen logo começa a receber mensagens misteriosas que vêm de uma fonte desconhecida.''


"Assayas tenta de tudo um pouco. Fala das relações virtuais, impessoais, imateriais - e reflete isso numa trama sobre espiritualidade que não pende total para o terror. Mas muito disso é abandonado no caminho. Ele já fez esse filme antes - e fez melhor." (Heitor Romero)

"Ainda que Assayas tenha se utilizado com maestria da tecnologia e da globalização para criar um conto inigualável de horror (e Stewart está, por um milagre, boa - ou seja, bem dirigida), a sensação de que lhe falta algo, de que fica aquém, permanece." (Felipe Leal)

**** ''Todo mundo sabe que para testar sua nova máquina os inventores do cinema registraram chegadas de trens, passantes e a visão concreta do movimento da vida. Logo depois, outros pegaram a câmera com a intenção de mostrar o que os olhos não veem, as transfigurações, as percepções alteradas, as fantasmagorias. É essa tensão original do cinema que ressurge em "Personal Shopper". A atriz Kristen Stewart, que interpreta Maureen, que busca algum contato com seu irmão gêmeo. O diretor Olivier Assayas é um cineasta cinéfilo. Foi um crítico de cinema arguto antes de passar a dirigir e vem construindo uma obra que interpela a tradição. Sua cinefilia manifesta-se também no desejo de filmar movido por uma questão central: o que pode o cinema? "Personal Shopper" não tenta uma resposta acabada, prefere testar a crença do espectador no visível. Por isso, pode parecer frustrante e malsucedido. O filme decepciona os que buscam o encantamento da imagem, o fascínio da beleza que a moda e a publicidade produzem incessantemente. Ao contrário, o objeto de "Personal Shopper" é, antes, seu desencantamento. O que pode o cinema num mundo em que a imagem se tornou a medida de todas as coisas? Se nossa realidade é predominantemente virtual, como filmar essa desmaterialização? Basta andar nas ruas para verificar que a atenção da maioria não se detém no que as cerca, mas nas telas. Seguindo essa tendência, Assayas transfere a sequência central do filme para um celular, transpõe toda a ação para mensagens instantâneas e alcança um resultado tanto realista como abstrato, cinema contemporâneo e, simultaneamente, filme mudo. Por sua vez, Maureen (Kristen Stewart) não tem nenhuma vida própria. Sua principal ocupação é escolher roupas para Kyra, uma celebridade cuja presença no filme não passa de aparição. Enquanto desempenha a tarefa, a sensitiva Maureen contato de seu irmão gêmeo, que morreu subitamente. Aqui também importa a presença de duplos, figuras que reprojetam a existência de Maureen. Nesse sentido, "Personal Shopper" é um filme duplo do longa anterior de Assayas, "Acima das Nuvens", no qual uma atriz madura em crise encontrava sustento na relação com a assistente, já interpretada por Kristen Stewart. Enquanto Acima das Nuvens filia-se a gêneros duplos, ao mesmo tempo drama psicológico bergmaniano e filme de vampiros, "Personal Shopper" sobrepõe o thriller psicológico e histórias de fantasmas. Não menos importante é a escolha de Kristen Stewart como protagonista. Não se trata apenas de um desejo cinéfilo de libertá-la da imagem de Bella, arrancar-lhe a aura de mocinha presa do universo vampiresco da saga Crepúsculo. "Personal Shopper" se constrói em torno do corpo de Stewart, de sua indeterminação andrógina no início à sobreposição da feminilidade por meio das roupas na segunda parte. Por essas e outras, "Personal Shopper" é para se assistir com os olhos bem abertos." (Cassio Starling Carlos)

''A existência da vida após a morte assola a mente do ser humano desde seu estágio primitivo – o questionamento de nossa realidade e o sentido de nossas vidas esteve presente na religião e filosofia desde que o homem consegue se lembrar e o que mais nos obriga a pensar nessas questões do que a morte de um ente querido? ''Personal Shopper'', que garantiu o prêmio de melhor diretor ao francês Olivier Assayas, coloca essa questão no centro do palco, mostrando o quão difícil pode ser vencer o luto após a perda de alguém querido, evidenciando a forma como isso afeta nossas vidas. A trama gira em torno de Maureen (Kristen Stewart), uma jovem americana que se mudara para Paris após a morte de seu irmão gêmeo, Lewis. Sua intenção é entrar em contato com seu espírito de alguma forma e, para isso, visita sua antiga casa a fim de obter algum sinal. Os dois, sendo médiuns, prometeram, se morressem, enviariam algo para o outro a fim de ajudar nessa transição e mostrar que estão bem. Para sustentar sua estadia ali, a garota passa a trabalhar para uma celebridade como sua compradora de roupas e joias, tudo se complica, porém, quando ela passa a receber mensagens de um número desconhecido, não sabendo se elas vem de seu irmão ou de alguém que tem seguido seus movimentos e sabe mais do que deveria de sua vida. ''Personal Shopper'' nos pega imediatamente de surpresa com seu teor sobrenatural logo no princípio da projeção – há um realismo na forma como aborda tal questão que pode ser verdadeiramente desconcertante para o espectador, mas o roteiro de Assayas sabiamente não foca unicamente nessa questão. Esse é um filme com um foco psicológico, é um thriller e não um terror, dito isso, ele prefere colocar em evidência a forma como a protagonista é afetada por todas essas reviravoltas em sua vida. Kristen Stewart, que já provara que sabe entregar uma boa atuação quando bem dirigida, nos traz um retrato da instabilidade. Sentimos que seu interior está em polvorosa e a atriz, desde o olhar, passando pelas mãos que tremem, até a forma hesitante que fala, nos passa a impressão de alguém sob forte pressão psicológica, de sofrimento, tentando encontrar um sentido em sua vida após a perda do irmão. A profissão de Maureen é um perfeito exemplo disso, uma futilidade gigantesca que deixa claro a perda da base dessa pessoa. Trata-se de um estágio transitório, é claro, mas não podemos deixar de ansiar para que algum sinal venha para que ela possa, enfim, seguir adiante. Apesar de ser bastante previsível quem, de fato, envia as mensagens para a personagem, é criada uma tensão que chega a ser palpável no espectador. Não é o clássico whodunnit, o quem matou, e sim o medo do que irá acontecer a seguir com a protagonista, que parece querer atrair essa figura misteriosa para ela. É criado um sentimento em nós de que ela, de fato, ansia pela morte em certo nível, como uma forma de reencontro com seu irmão – o perigo a deixa viva. Existe, é claro, a possibilidade dele próprio enviar as mensagens, mas, desde cedo, suspeitamos que não se trata dele. A direção de Assayas sabe muito bem trabalhar com a sugestão, criando o suspense no espectador através do que ele pensa que viu em tela ou do que nos é ocultado. É criada uma forte expectativa na audiência e ele apenas a incita através de respostas que não são claras e, na realidade, somente abrem espaço para mais perguntas, nos deixando com um final em aberto que nos obriga a pensar, não nos oferecendo um texto mastigado e quebrando um pouco a previsibilidade do que fora apresentado anteriormente. ''Personal Shopper'' consegue, portanto, nos atingir como um bem realizado thriller psicológico, que nos mantém na dúvida do início ao fim do filme. Jamais é oferecida a resposta da eterna pergunta: existe a algo após o fim da vida? O que fica é a história de superação da perda, seja através da própria morte ou do simples seguir em frente, que tira alguém da vida ausente de propósito no qual ela próprio se colocara." ( Guilherme Coral)

Um retrato chamado Kristen.

''Precisamos falar sobre essa moça. Há algum tempo, seriamente? Sim. Porque Kristen Stewart chegou no ponto onde chegou de sua carreira' é um bom ponto de partida, e a resposta mais cretina/rasa seria parabenizar seu agente (que sim, merece ser parabenizado), mas Kristen chegou nas bocas, chegou nos lugares, chegou no topo. E se seu agente hoje consegue excelentes contatos, testes e resultados é porque talvez hoje o mundo precise de Kristen Stewart. Em todos os sentidos. Kristen é a garota comum, a atriz comum, gente como a gente, meio bagaceira, meio real, que tá puta de tirar foto fazendo cara sexy e repetindo quem fez seu vestido, que deve achar um saco muito grande tudo isso, e que parece algo que muita ganhadorazinha de Oscar cedo demais infelizmente precisa fabricar: Kristen parece viva e autêntica. Isso não tem fabricação, tá na cara da pessoa. E o ora enfado nas fotos, ora visível empolgação pra mim sempre traduziu um tempo, uma geração. É quase como se disséssemos que Kristen, sem querer, sabe onde estamos e para onde vamos, mesmo sem querer... o cinema então se viu hipnotizado e fascinado pela moça não tão bonita assim, nem tão talentosa assim, mas que sabe expressar dentro e fora das telas a insatisfação e o cansaço atual que todos nós sentimos. Óbvio que estou no meio do Festival do Rio e essa análise do momento tem a ver com ele. Já vi Kristen três vezes na tela grande esse ano e duas delas são originárias da Croisette 2016, a terceira é o coadjuvantismo dela no belo filme de Kelly Reichardt também em cartaz no Festival, 'Certas Mulheres', onde ela discretamente representa o fascínio que estranhamente nos assola. Uma variação muito mais autônoma desse personagem vimos no último Woody Allen, onde esse mesmo fascínio tem um quê tão a mais que Allen não tem outra coisa a fazer a não ser dar textura a sua criação, para Kristen enfim humanizar. Mas a surpresa que assola o projeto ''Personal Shopper'' vai ainda além, e infelizmente esse além não é positivo em todos os lados para onde olhamos. Independente da gritaria por trás da atuação do júri de Cannes desse ano e do incrível prêmio de direção que Olivier Assayas conseguiu receber, paralelo a isso existe um filme que precisa ser analisado sem essa sombra. E a verdade é que o novo filme do diretor de Clean é inexplicável, e eu não estou usando nenhuma questão de roteiro para ressaltar isso. Kristen é o que o título diz, uma mulher que vive da imagem alheia, dando voz a anseios alheios, comprando a beleza para outros usufruírem; sinal dos tempos que tenhamos chegado a terceirizar o acesso particular a ser belo. Em determinado momento, sua personagem começa a ser colocada em cheque frente a fenômenos sobrenaturais e, como qualquer ser humano normal, foge. Corre. Apavora-se. Deixa o desespero tomar conta e erra muito nos próximos passos a seguir. E assim vai complicando a própria vida. Esse ano o Festival curadorizado por Thierry Fremaux viu em dois filmes um ponto de partida em questões estéticas ligadas ao humano, e de como isso pode destruir ou esvaziar as vidas dos envolvidos. Se a explosão estroboscópica Demônio de Neon explora o ponto nevrálgico dessa situação de modo dolorido, aqui Assayas está interessado no esvaziamento não somente da tessitura desse viés, mas também do nosso próprio lugar nesse universo a qual estamos refém, sem vida e sem espaço para o renascimento. A busca pela beleza pessoal é uma prisão que estamos passando adiante, parece dizer Assayas. O problema é que o diretor parecia ter uma premissa e os signos mais fortes que a trama em si. O que adianta você saber exatamente o que dizer se não souber exatamente como? No final, Assayas consegue muitas dúvidas com sua protagonista que corre desenbestada por aí sem dar muito sentido prático a isso, algumas certezas com sua direção sempre climática e estranha, conseguindo por muitas vezes uma atmosfera não de medo mas de bizarrice, e um único golaço chamado Kristen Stewart. A parceria que começou no longa anterior Acima das Nuvens rendeu inúmeros prêmios a ela, um reconhecimento muito espontâneo de um talento desconstruído. Se Assayas sai de 'Personal Shopper' com uma grande certeza é a de ter escalado a pessoa certa para o projeto; Kristen há muito tempo não estava tão entregue, dinâmica, intensa, pulsante, verdadeira em seu desespero e dando credibilidade a bobagens do roteiro como passar longuíssimos minutos a discutir com um possível fantasma via WhatsApp. No fim das contas se o filme tem alguma estrela e talento, terá sido esse reconhecido a Kristen mediante o que Assayas tirou dela? Independente da conclusão dessa brincadeira de gênero do diretor francês cuja substância ele alcançou melhor no lado poético que no prático, a verdade é que o show aqui é dessa mau humorada 'girl next door', uma mulher que é um retrato do nosso tempo muito mais acertado do que temos coragem de admitir." (Francisco Carbone)

Fantasmas do cinema.

''Maureen (Stewart) trabalha como personal shopper, transitando pelas ruas de Paris em busca de roupas e acessórios para sua patroa, uma celebridade aparentemente não muito importante do glamouroso circuito da moda europeia. Ela também desenha, embora venha dedicando pouco tempo à pretensa carreira artística. Há ainda um terceiro afazer notável em seu cotidiano, que Assayas apresenta antes mesmo dos demais, iniciando um encadeamento de sequências didáticas dispostas nos primeiros minutos da narrativa, selando uma carta de intenções da obra: Maureen, que acaba de perder seu irmão gêmeo, tem o dom de se comunicar com os mortos. Já nessa abertura, precedendo sua primeira investida por boutiques parisienses, a garota percorre a casa que pertencera ao irmão à procura de uma presença, um sinal deste que, ainda em vida, prometera comunicar-se com ela diretamente do mundo dos mortos. Recebe em troca, entretanto, apenas o vômito de um espectro irreconhecível, ação que é sucedida pelo início de uma pesquisa sobre as possíveis origens da arte abstrata e, finalmente, pela ida às compras. Fantasmagoria, abstração e materialismo formam um conjunto de keywords que norteiam Personal Shopper. Os diferentes núcleos narrativos estruturados pelo cineasta aproximam as presenças físicas em cena – os apartamentos e as ruas da cidade, as roupas e joias adquiridas por essa compradora fantasma, os Iphones e Macbooks, dispositivos de acesso ao campo virtual – e as formas abstratas, constantemente materializadas na imagem a partir de intervenções digitais – os vídeos na tela do computador, a timeline das mensagens no smartphone, ou até mesmo efeitos especiais utilizados para pintar na superfície do filme a forma igualmente abstrata dos espectros. Por essa perspectiva, Personal Shopper se filia a obras como Pulse, de Kiyoshi Kurosawa, para pensar os gestos e movimentos de um mundo materialista cada vez mais estruturado em torno da ausência, possibilitando o contato entre corpos sem que ambos estejam em um mesmo plano físico, e que, pela legitimação dessa ausência no cotidiano, pode esconder, debaixo de vestidos cintilantes e ternos alinhados, verdadeiros indivíduos fantasmas. Se não há nada de extraordinário no comentário sobre a contemporaneidade – nada que o próprio Assayas já não tenha arranhado antes em Demonlover ou Boarding Gate, filmes articulados sob uma relação direta entre o virtual, a globalização e o cosmopolita –, a novidade de Personal Shopper está então na forma com que o diretor, através de pequenos exercícios de gênero, sustenta essas aproximações, esse seu desejo pela materialização da ausência e pela representação do abstrato em um mundo de essência virtual e, paradoxalmente, tão materialista. Ao mesmo tempo, suas fraquezas surgem de certa conveniência na articulação destes núcleos, que podem verter poderosos fluxos de cena internos, mas recair em seguida em signos superficiais, reiterações ou, diante da necessidade de direcionar-se para sua conclusão centralizadora, em estripulias que vão minando as próprias potências do filme em prol de uma baguncinha autoconsciente atrelada cada vez mais, e muito confortavelmente, à condição psicológica de sua protagonista. É assim que ''Personal Shopper'', à medida em que exercita diferentes gêneros cinematográficos em torno de uma mesma presença (o horror sobrenatural, o thriller psicológico, e até mesmo, lá pelas tantas, uma breve narrativa de crime), também limita a própria potência de seus núcleos em detrimento desta presença. Cabe dizer ainda que Assayas não é Kiyoshi Kurosawa, como também não é David Lynch; porém, como cinéfilo aplicado e cineasta com um pé firmado no academicismo, joga com as formas e busca no horror sobrenatural de um e nas jornadas surreais e oníricas de perturbação mental do outro algumas referências indiretas, mas sem a mesma potência para a materialização do campo espiritual de Kurosawa, e preso demais à ordem do significante e à superfície natural das imagens e das presenças para permitir que seu desejo pela abstração atinja de fato uma conotação onírica como em Lynch - o que deixa certa proximidade da metade final do filme com as experiências de Cidade dos Sonhos e Inland Empire soando mais como picaretagem conceitual do que como uma narrativa genuinamente funcional e inventiva em suas formulações. Não significa que, nos melhores momentos, Assayas não demonstre extrema habilidade na composição de suas cenas e atmosferas. As sequências de horror paranormal podem muito bem figurar entre as mais arrepiantes do ano, tanto quanto as longas conversas entre Maureen e o número desconhecido que insiste em comunicar-se com ela por mensagens de celular, de longe a mais bem sucedida das ideias, na qual longos minutos de silêncio são desprendidos para transformar a imagem da tela do Iphone em uma espécie de recorte do abstrato, pelo qual uma sucessão de palavras e frases dita o movimento das imagens e das ações – e quando, enfim, converte-se o abstrato em físico com notoriedade. As conversas durante as viagens de trem e, especialmente, a extraordinária sequência em que um pequeno toque numa função do aparelho transforma uma cena aparentemente banal em momento de puro terror, com horas de apreensão sendo condensadas em poucos segundos de maneira angustiante, são por si só mais fortes que muitos suspenses inteiros por aí. O que aumenta ainda mais a sensação de frustração quando, logo em seguida, todo esse universo representado se desfaz cena a cena, revelando outro traço habitual da contemporaneidade: pela legitimação da ausência, e eximindo-se das responsabilidades, o cineasta fica à vontade para revelar que, por duas horas, acompanhamos nada além de um homem talentoso brincando com sua câmera, produzindo a partir dessas imagens uma espécie de filme fantasma." (Daniel Dalpizzolo)

2016 Palma de Cannes

Top República Tcheca #12

CG Cinéma Vortex Sutra Sirena Film Detailfilm Arte France Cinéma ARTE Westdeutscher Rundfunk (WDR) Arte France Canal+ Ciné+ SCOPE Invest

Diretor: Olivier Assayas

20.902 users / 3.920 face

38 Metacritic 469 Up 65

Date 07/01/2018 Poster -###

54. Paprika (2006)

R | 90 min | Animation, Drama, Fantasy

81 Metascore

When a machine that allows therapists to enter their patients' dreams is stolen, all hell breaks loose. Only a young female therapist, Paprika, can stop it.

Director: Satoshi Kon | Stars: Megumi Hayashibara, Tôru Emori, Katsunosuke Hori, Tôru Furuya

Votes: 96,822 | Gross: $0.88M

[Mov 05 IMDB 7,7/10] {Video/@@@} M/81

PAPRIKA

(Papurika, 2006)


TAG SATOCHI KON

{intenso}


Sinopse ''Num futuro próximo, o Dr. Tokita inventa um poderoso aparelho chamado DC-Mini, que torna possível o acesso aos sonhos das pessoas. Sua colega, a Dra. Atsuko Chiba, psicoterapeuta e pesquisadora de ponta, desenvolve um tratamento psiquiátrico revolucionário a partir do aparelho. Mas antes de seu uso ser sancionado pelo governo, o DC-Mini é roubado. Quando vários dos pesquisadores do laboratório começam a enlouquecer e a sonhar em estado de vigília, Atsuko assume seu alter-ego, Paprika, a bela detetive de sonhos, para mergulhar no mundo do inconsciente e descobrir quem está por trás da tragédia.''


"A atmosfera pesada de Paprika e do cinema de Satoshi Kon não é para todos, mas o cineasta estava muito à frente da média de sua geração em termos de narrativa e estética. Honra o ótimo nome dos animes japoneses com folga." (Alexandre Koball)

**** ''O território dos sonhos já foi explorado em gêneros tão distintos como o terror de Freddy Krueger em A Hora do Pesadelo e a ingenuidade de Peter Pan. Já a animação japonesa "Paprika" invade, com cores berrantes e muitos bonecos, o mundo dos sonhos - e pesadelos, já que aqui não há diferença - para decifrar as neuroses e alucinações do ser humano. Um aparelho permite que mais de uma pessoa adentre no sonho de outra. A idéia é curar traumas ou obsessões, mas o invento é roubado por um vilão e causa uma série de suicídios. O diretor Satoshi Kon nos faz mergulhar numa espécie de sonho dentro do sonho, ao ponto de não sabermos se estamos vendo a realidade ou dormindo. Tudo é colorido demais, entulhado de coisas demais, rápido demais, sem muita conexão. Como Kon mesmo diz, seu trabalho resultou em uma inundação de cores, do qual o exemplo máximo é a cena da parada musical, cheia de sapos, robôs e bonecos de porcelana. No making of, ele diz que as imagens são o essencial do filme e que primeiro as criou para depois se preocupar com a trama, inspirada em um best-seller japonês. Acaba por fazer uma viagem por nossas culpas e por aquilo que nos perturba. Culpa, aliás, é tema recorrente para o diretor, que já havia feito Tokyo Godfathers, sobre o abandono de uma criança com um grupo de mendigos." (Lúcia Valentim Rodrigues)

2016 Lion Veneza

Madhouse Sony Pictures Entertainment

Diretor: Satoshi Kon

54.946 Users / 8.342 face

26 Metacritic 4.734 Down 108

Date 14/04/2018 Poster - #

55. Black Panther (2018)

PG-13 | 134 min | Action, Adventure, Sci-Fi

88 Metascore

T'Challa, heir to the hidden but advanced kingdom of Wakanda, must step forward to lead his people into a new future and must confront a challenger from his country's past.

Director: Ryan Coogler | Stars: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira

Votes: 837,381 | Gross: $700.06M

[Mov 07 IMDB 7,5/10] {Video/@@} M/88

PANTERA NEGRA

(Black Panther, 2018)


TAG RYAN COOGLER

{intenso}


Sinopse ''Após uma tragédia, que forçou o jovem Príncipe TChalla a assumir o trono de Wakanda, ele é confrontado em um teste final, pondo em risco o destino de seu país e do mundo inteiro. Em conflito contra sua própria família, o novo rei deve reunir seus aliados e liberar o poder total da Pantera Negra para derrotar seus inimigos e abraçar o seu futuro como um Vingador.''


"É um filme Marvel com todos os problemas desse universo, como conveniências bobas de roteiro e cenas de ação apoiadas apenas no CGI. Mas também fica clara a preocupação em construir algo com significado, no que é bem-sucedido. Acima da média do gênero."(Silvio Pilau) "Com direito a todos os clichês do cinema americano perante a cultura africana, pelo menos é um dos filmes da Marvel que mais capricham em uma roupagem que fuja um pouco da fórmula do estúdio, ainda que no fim se mostre limitado dentro desses padrões." (Heitor Romero)

"Destaca-se por se preocupar em contar uma boa história, em encontrar um contexto adequado e honrá-lo, e também desenvolver grandes personagens, especialmente os femininos. Representativo, está além da mesmice dos filmes de herói." (Marcelo Leme)

"Como produto cultural, um dos filmes mais importantes da Marvel. Como filme, o vilão Kilmonger se destaca, mas o drama pungente se perde em coadjuvantes rasos, heroísmo deslocado e roteirismo cafona que denotam o desgaste da linha de produção do estúdio." (Bernardo D.I. Brum) "O filme se reconhece como uma produção industrial e consegue articular muito bem esse reconhecimento com a construção dos personagens que ele apresenta. Para mim, o melhor filme do MCU." (Cesar Castanha)

''Duas coisas precisam ser ditas sobre Pantera Negra. Primeira: é um dos melhores filmes de heróis da Marvel, mesmo que às vezes não pareça ser um filme da Marvel. Segunda: tem um enredo complexo e interessante, com várias narrativas entrelaçadas, o que deve agradar a muitos, mas também pode ser defeito para uma parcela dos fãs. Agora, a tentativa de explicar essas ideias. "Pantera Negra", o personagem, não é do primeiro escalão da Marvel. Qualquer fã de quadrinhos pode elencar duas dezenas de heróis mais importantes nos gibis da editora: Thor, Hulk, Capitão América, Wolverine, Demolidor, Homem de Ferro, Homem-Aranha, Quarteto Fantástico e tantos outros. Tudo leva a crer que o Pantera Negra terá atuação extensa no próximo filme dos Vingadores, que sai em maio, mas, até agora, sua participação estava resumida a uma ponta em Capitão América: Guerra Civil. Antes desse longa próprio, contudo, não era reconhecido pelo grande público. Mesmo para o adepto de gibis, a versão do cinema, exageradamente high tech, parece um pouco estranha. Então, ao acompanhar o enredo de "Pantera Negra", fica um tanto distante a associação do personagem aos Vingadores e outros heróis. O espectador simplesmente esquece do resto do universo Marvel. O foco da ação é Wakanda, o fictício país africano que era governado pelo pai de TChalla, assassinado em Capitão América: Guerra Civil. O confronto do herdeiro, que é o herói Pantera Negra, com gente disposta a não vê-lo no trono é o mote da aventura, entrecortada por batalhas espetaculares no país tecnologicamente mais desenvolvido da Terra. São várias facções políticas em Wakanda. As tramas pelo poder têm ecos de peças de Shakespeare. TChalla, interpretado com energia por Chadwick Boseman, enfrenta opositores declarados, inimigos dissimulados e suas próprias incertezas. Esse roteiro intrincado vai agradar justamente àqueles que reclamam da pouca densidade das histórias dos filmes de super-heróis. Os fãs de carteirinha, porém, podem torcer o nariz para o excesso de falação em "Pantera Negra". Menos conversa e mais ação poderiam agradasse mais aos consumidores de gibis. Com personagens fortes, o filme capricha no elenco predominantemente negro. Além de Boseman, nomes famosos incluem Angela Bassett, Michael B. Jordan (de Creed), Danai Gurira (The Walking Dead) e os ganhadores de Oscar Forest Whitaker e Lupita Nyongo. Atores brancos? Dois: Andy Serkis, como um dos inimigos do herói, e Martin Freeman, no papel de um agente da CIA. Além da relevância óbvia para a comunidade negra de Hollywood, neste que é o primeiro filme blockbuster de super-herói protagonizado por afro-americanos e dirigido por um, Ryan Coogler, o filme também agrada às mulheres em sua luta interminável por trabalhos mais impactantes no cinema. Há várias mulheres poderosas em Pantera Negra, como a espiã Nakia (Lupita), a rainha-mãe Ramonda (Angela Bassett) e a irmã de TChalla, Shuri (papel da ótima Letitia Wright), uma adolescente que domina toda a tecnologia de ponta em Wakanda. A menina vem para incorporar o time de gênios inventores da Marvel, com Tony Stark (Homem de Ferro) e Bruce Banner (Hulk). Algumas vezes arrastado, outro tanto de vezes eletrizante, "Pantera Negra" é um sucesso evidente da Marvel - que conseguiu nos últimos anos produzir filmes muito bons com heróis de segundo time, como Homem-Formiga, Guardiões da Galáxia e Dr. Estranho. Que venha o novo dos Vingadores." (Thales de Menezes)

''Pantera Negra, sem dúvida alguma, era um dos filmes mais aguardados do Universo Cinematográfico Marvel desde que sua produção foi anunciada e desde que a primeira aparição em carne e osso (e vibranium) do herói se deu em Capitão América: Guerra Civil, ainda que sua presença, ali, tenha sido de certa forma ofuscada pela talvez ainda mais aguardada ponta do Homem-Aranha. Quando o elenco quase que integralmente composto de atores negros começou a ser anunciado, começou-se a notar que estaríamos diante de um filme focado nas raízes do personagem, evitando aquelas transposições de ação para outros lugares onde T’Challa seria o único personagem africano em meio ao usual mar de caucasianos. A contratação de Ryan Coogler para dirigir, recém-saído do sucesso que foi Creed: Nascido para Lutar, filme que ressuscitou a franquia Rocky (ótimo, mas nunca vi ninguém reclamar que Creed é basicamente uma refilmagem do primeiro Rocky da maneira como reclamaram – e ainda reclamam – que O Despertar da Força é uma refilmagem de Uma Nova Esperança), foi também uma escolha inspiradíssima da produtora, tão injustamente acusada de ser formular e, portanto, repetitiva (falarei sobre isso mais para a frente). Mesmo com a trilogia (e a série) Blade e Luke Cage no bolso, a Marvel Studios queria algo 100% legítimo, perfeitamente à prova de bala em termos de inclusão e diversidade. E ela conseguiu, ainda que já tenha lido reclamações das mais variadas e todas, claro, descabidas. Mas, como meu colega Anthonio Delbon bem disse em sua crítica sem spoilers, Pantera Negra, ainda bem, consegue subir mais degraus ainda do que ser “apenas” um filme feito para ser inclusivo e diverso, por mais importante que isso seja. Pantera Negra é, além disso tudo, um filme genuinamente bom. Não, nada disso, só bom nada. É excelente. Realmente um dos melhores dos até agora inacreditáveis 18 longas lançados nos 10 primeiros anos do UCM. E, como há muito o que falar sobre o filme, decidimos, como já tem sido uma tradição aqui no site, trazer uma crítica mais completa e longa, sem as restrições naturais impostas pelo receio de revelar spoilers. Portanto, se já viram o filme ou se não se importam com spoilers, peguem um café, sentem-se confortavelmente e boa leitura! Ah, os quadros azuis de Implicância, inéditos aqui no site, são só isso mesmo, implicâncias inconsequentes para a formação da avaliação final. ''Pantera Negra'' não é exatamente um filme de origem e isso acaba abrindo um bem-vindo espaço para que esse batido recurso cinematográfico em filmes de super-heróis seja substituído pela construção da mitologia de Wakanda e dos Panteras Negras. Ainda que Coogler não resista e insira um preâmbulo contando a origem da nação, que se desenvolveu a partir da queda de um meteoro de vibranium que não só e valioso por si próprio, como alterou a vida na região e levou à reunião de tribos beligerantes debaixo do manto do primeiro Pantera Negra a partir dos efeitos da erva coração, a grande verdade é que ele o faz de maneira elegante e eficiente, sem firulas. Em algo como um ou dois minutos, Coogler consegue estabelecer a importante ancestralidade da cultura de Wakanda e marcar muito fortemente a questão do isolamento do país e seu disfarce como uma nação subdesenvolvida. A mitologia, então, ganha contornos mais atuais, mais ainda assim no passado, no começo da década de 90, com uma ação do rei T’Chaka (com essa idade vivido por Atandwa Kani), em Oakland (cidade natal de Coogler, não é uma coincidência), na Califórnia, cujos desdobramentos – o assassinato de seu irmão por suas mãos e o abandono de seu sobrinho ao Deus dará – levará à derrocada momentânea de T’Challa (Chadwick Boseman) pelas mãos de Erik Killmonger (Michael B. Jordan), seu primo, na versão africana dos pecados dos pais voltando para castigar os filhos. A visão que temos então do rei falecido em Guerra Civil, que leva à passagem de manto a seu filho, é desfeita aos poucos e T’Challa aprende sobre o que ele fizera na medida em que nós também aprendemos. Esse conflito de gerações – presente também no caso de Killmonger, ainda que com bem menos impacto – é, pela falta de uma expressão melhor, a materialização presente da história milenar de Wakanda. Sim, uma nação secreta altamente tecnológica que parece ser o El Dorado, como os olhos cheios de cifrões de Ulysses Klaue (Andy Serkis) afirma, ou, para ficar na metáfora bíblica, o literal paraíso na Terra. Mas o segredo vem com um preço e esse preço pode ser a própria alma, algo com que T’Challa lida literal e figurativamente. Desde que T’Challa apareceu em Guerra Civil e abriu a boca, fiquei me indagando porque raios afinal ele fala inglês com sotaque tão carregado? Uma explicação possível poderia ser a necessidade que a produção talvez tenha tido de sublinhar que ele não é americano ou britânico, mas isso seria subestimar demais a inteligência do leitor (prática comum, aliás). Afinal, tudo que cerca o personagem remete à Wakanda e não há necessidade dessa reiteração. Em termos de história, considerando que ele teve uma das melhores educações do mundo por ser realeza de um país secretamente extremamente rico, seu inglês deveria ser perfeito ou bem próximo disso. A não ser que ele tenha faltado às aulas da língua, claro. Se eu mesmo conheço diversas pessoas – que não são reis, rainhas, príncipes e princesas – que falam inglês sem sotaque e aprenderam aqui no Brasil, não haveria razão para o mesmo não acontecer com T’Challa. Seria a mesma coisa que estabelecer que Magneto deveria ter sotaque alemão ou que a Supergirl falasse com sotaque kriptoniano… A estrutura narrativa de todo esse começo do filme, do prelúdio até a vitória do novo rei sobre M’Baku (Winston Duke), monarca da única tribo do país que se manteve isolada das restantes, recusando-se a ajoelhar-se perante o Pantera Negra, é, todo ele, irretocável em sua função de impulsionar a narrativa principal e de criar um rico passado à nação fictícia. O roteiro de Coogler, que ele co-escreveu com Joe Robert Cole, co-produtor da primeira temporada de American Crime Story, é perfeito nesses aspectos e não cansa em momento algum. Ao contrário, fica aquela vontade de conhecer mais detalhes sobre o passado da nação, sobre os outros Panteras e especialmente de ver mais da versão jovem de T’Chaka e até mesmo do mencionado – mas nunca mostrado – treinamento de T’Challa para assumir o manto do símbolo de seu país. Vendo as justificativas para o isolamento de Wakanda do resto do mundo, a primeira questão que me veio à mente foi o grau de egoísmo dessa decisão. Afinal, ainda que fosse efetivamente possível esconder um país com esse grau de desenvolvimento dos olhares vigilantes de outras nações desenvolvidas, como explicar que uma nação assim não teria pelo menos tentado impedir que seus pares à sua volta no continente africano fossem escravizados ou que guerras civis eclodissem diariamente há poucos quilômetros além de suas fronteiras? Como na época da escola, deu vontade de levantar a mão e perguntar a um Coogler imaginário ali perto da telona como ele podia justificar uma escolha obtusa e genocida por negligência dessas? No entanto, quando meu braço estava coçando para levantar e interromper essa aula imaginária, eis que o roteiro começa a transformar esse isolamento, essa escolha em um passado distante no ponto nodal macro da narrativa. A entrada de Nakia (Lupita Nyong’o) na história, com o Pantera resgatando-a de um comércio moderno de escravos para que ela participe do funeral de T’Chaka e de sua coroação, tem o objetivo indireto de oferecer um passado recente para o monarca, dando-lhe mais dimensões logo de imediato e, diretamente, de oferecer um olhar de fora para dentro, um olhar que julga e condena exatamente a questão do isolamento. Nakia, por ter vivenciado o mundo ao seu redor como a 007 de Wakanda, não consegue mais justificar mentalmente a incomunicabilidade de seu país. O isolamento proposital de Wakanda poderia ter sido quebrado imediatamente por um roteiro menos corajoso e mais conveniente. Seria como se vê em tantos quadrinhos e filmes por aí: estabelece-se uma situação qualquer somente para ela ser pervertida completamente alguns minutos depois, como se ela nunca tivesse existido. Coogler e Cole, muito ao contrário, usam exatamente esse isolamento para contar uma história que é substancialmente auto-contida, com começo, meio e fim dentro de seu universo bem particular, apesar de, claro, estar contida em um universo cinematográfico bem mais amplo que ganha suas devidas referências sem que o ritmo da história seja quebrado, outro perigo na medida em que mais e mais filmes entrelaçados são lançados. E esse talvez seja o segundo maior mérito do roteiro que cria um bolsão narrativo independente que é, ao mesmo tempo, absolutamente harmônico em relação aos elementos já estabelecidos na mitologia geral do UCM sem se fiar neles ou interromper a narrativa para nos situar em relação a eles. E essa auto-contenção reforça a tal legitimidade que mencionei nos parágrafos preambulares. A história que vemos diante de nossos olhos é uma história integralmente do Pantera Negra, que nasce a partir do passado de seu país e se desenvolve em relação a ele. Mesmo o estrangeiro no filme, o sul-africano bôer sem mão Klaue, está intrinsecamente ligado à mitologia do personagem em razão tanto dos quadrinhos do Pantera quanto o que foi estabelecido em Era de Ultron. E é exatamente Klaue que é utilizado como pontapé inicial para a história, com T’Challa, já completamente legitimado como rei, encabeçando uma missão junto com a eficiente e estoica Okoye (Danai Gurira, como sempre manejando armas brancas como ninguém), líder do Dora Milaje, guarda real de Wakanda e a já citada Nakia em uma ação que parece homenagear em sua integralidade os filmes de James Bond, desde Shuri (Letitia Wright) fazendo as vezes de Q, passando por Nakia como a literal 007 de seu país e Everett K. Ross (Martin Freeman) servindo como o típico liaison da CIA e, claro, toda a sequência de ação em si dentro do cassino e pelas ruas da Coréia do Sul. Não fosse o uniforme de Pantera Negra, teríamos o primeiro James Bond negro, já pensaram? Apesar de fora de Wakanda, a sequência, em si, não foge do conceito de auto-contenção que Coogler se esmera em obter. Tudo o que acontece – inclusive o breve interlúdio para o roubo de um machado de vibranium em um museu em Londres – tem origem e consequência dentro da narrativa que toca o Pantera e/ou Wakanda diretamente. Klaue é o ponto focal por sua história pregressa no país camuflado e sua captura é uma falha no reinado de T’Chaka, algo que seu filho tenta corrigir, mas não consegue, para profundo desapontamento de seu amigo e líder tribal W’Kabi (Daniel Kaluuya), cuja infantilidade (abordarei esse aspecto mais para a frente) precipita a queda de T’Challa. É perfeitamente possível aceitar que um playboy bilionário com fetiche por fantasias de morcego tenha uma caverna debaixo de sua mansão secreta repleta de equipamentos altamente tecnológicos, mas é um tantinho mais difícil acreditar que uma cidade inteira que poderia muito bem ter sido retirada de um episódio dos Jetsons existir na Terra de hoje em dia sem que alguma anomalia fosse detectada por satélites ou outras tecnologias. Sem dúvida, a ideia, no papel – ou seja, nas HQs – pode até funcionar, pois papel aceita qualquer coisa, como já diria o sábio. Mas, quando há a transposição para o celuloide, tornando a coisa mais próxima da vida real, a carga de suspensão da descrença aumenta consideravelmente. E já é a segunda vez que a Marvel nos pede isso, já que, em Inumanos (O horror! O horror!), Attilan fica escondida na lua sob uma redoma de invisibilidade… A fotografia noturna de Rachel Morrison (que trabalhou com Coogler em Fruitvale Station) também procura emular a “atmosfera 007” com muita superfície reflexiva que empresta aquele ar de sofisticação decadente ao cassino e um lustre dinâmico à perseguição cheia de CGI (dos bons) que se segue. É até um certo choque a troca radical de paleta de cores, mas ela faz pleno sentido aqui. Enquanto Wakanda é sempre vista como um diamante sobre a Terra, brilhante, multifacetado e gerando cores por seu prisma evolutivo, a Coréia faz as vezes de antro de escória e vilania, mas não como uma crítica ao país, e sim como um espelho para a verdadeira alma formativa do país de T’Challa, algo ainda alheio ao personagem nessa altura. Portanto, o contraste das cores tribais vivas e alegres do país africano cede espaço, momentaneamente, ao sombrio chique e o colorido histriônico do país asiático. O choque é proposital e eficiente. Mas, como disse, Coogler queria seu filme como uma volta às raízes e é para Wakanda então que voltamos com o misterioso Erik Killmonger começando a ser encaixado de forma razoavelmente orgânica narrativa, ganhando seu passado e chegando no reino para revelar a dura verdade que o próprio T’Challa só descobrira pouco tempo antes depois de enfrentar verbalmente o xamã Zuri (Forest Whitaker no segundo papel seguido para a Disney em que ele faz um veterano que se sacrifica diante de seu protegido…). Incomodou-me a velocidade com que Killmonger clama o trono e, sem maiores delongas, sai para desafiar T’Challa que, em sua arrogância (e também com o peso da culpa pelos atos de seu pai), aceita. Esse momento de correria é o primeiro que efetivamente parece estranho na projeção, com um encadeamento narrativo dependente demais de coincidências e de aceitações de situações completamente fora da curva que, em uma corte normal, deveria passar por detidos exames dos mais velhos, especialmente no que se refere à hereditariedade, legitimidade ao trono, direito de desafiar o rei e assim por diante. O roteiro procura simplificar demais a transição e a derrocada de T’Challa e, com isso, a história perde em riqueza, que é trocada por celeridade meteórica sem que ela seja realmente necessária. E essa celeridade continua na forma como o embate entre primos se dá. Se compararmos com a luta contra M’Baku no começo, aqui vemos um T’Challa que já entra derrotado. Sem dúvida, ele está abalado pelas descobertas recentes, mas ele é um guerreiro e, acima disso, um rei. Quando Killmonger o derrota com razoável facilidade, tendo sua vida poupada inicialmente pela interferência indevida – e ilegal – de Zuri, a situação fica ainda pior, já que toda a cerimônia e toda a tradição de Wakanda é quase que jogada no lixo. Se o desafio é legítimo, então Killmonger foi o vencedor e mesmo Nakia e a família de T’Challa deveriam ter aceitado o resultado. Era a única postura possível para uma nobreza que pelo menos parece ter o verniz da retidão moral. Aliás, vale ainda um adendo: T’Challa, mais tarde, previsivelmente alega que, como ele não morreu pelas mãos de Killmonger e também não desistiu, o combate não teria acabado. Mas isso não é verdade já que Zuri interrompeu o coup de grâce. Sei que estou achando o proverbial cabelo em ovo, mas são os pequenos detalhes que tendem a derrubar a lógica estrutural de um filme. De forma alguma porém, quero dizer que esse elemento desabona a obra, pois, dentre os problemas que detectei, esse é, digamos, o menor. Além disso, há diversos outros aspectos que já tratei e que também ainda tratarei que compensam e tendem a enturvar os defeitos, como a magnífica beleza que Coogler coloca diante de nossos olhos. E falo, aqui, de beleza plástica mesmo. "Pantera Negra'' pode não ser exatamente o melhor filme do UCM (não é para mim, mas pode ser para você, lógico), mas ele me parece o mais visualmente impressionante. E de longe. Mesmo considerando o cuidado que Capitão América: O Primeiro Vingador mostrou ao retratar os anos 40 nos EUA e na Europa devastada, mesmo diante da variedade e da hipnotizante paleta de cores dos dois Guardiões da Galáxia e também de Thor: Ragnarok, mesmo até diante dos filmes da Distinta Concorrência, Pantera Negra está em outro nível, como se realmente tivesse seu universo próprio. A começar pelo uniforme/armadura do personagem titular que, apesar de eu sempre preferir o todo preto e de tecido clássico dos quadrinhos (sou old school, admito), é deslumbrante em seus mínimos detalhes, desde a textura que forma desenhos que referenciam os mais coloridos de sua cultura, passando pelos detalhes em prata (ainda bem que T’Challa escolheu o modelo prateado!) e também pela capacidade de absorver e devolver impactos representada pela cor arroxeada, há uma graça e uma harmonia ímpar para a vestimenta de guerra do soberano de Wakanda. E digo isso em relação aos dois uniformes que vemos e também com o mais antigo de T’Chaka que vemos apenas brevemente nos dois momentos de flashback para Oakland. Mas os figurinos não ficam restritos ao Pantera. Muito ao contrário, eles ganham realmente a variedade representativa oriunda da origem de Wakanda (e dos povos e tribos africanos em geral, pois foi esse o objetivo, logicamente) quando observamos as armaduras vermelhas e douradas da tropa de elite Dora Milaje, as roupas propositalmente diferentes, mas perfeitamente dentro de uma harmonia ampla de Nakia, Shuri e, claro, da elegante Ramonda (Angela Bassett), das roupas cerimoniais de cada tribo que vemos na primeiro combate cerimonial de T’Challa e, depois, as não cerimoniais como parte das tribos que mais vemos, ou seja, as lideradas por M’Baku – reminiscentes de um gorila branco, já que M’Baku, nos quadrinhos, é conhecido como Homem Gorila (nome que foi evitado para minimizar as inevitáveis piadinhas idiotas) e se veste como tal – e W’Kabi, mais pastorais, mais imponentes em seu azul mudo. Até mesmo as cicatrizes de Killmonger criam um fascinante mosaico em seu corpo que estranhamente combinam com a vida e as cores ao seu redor (ou então estou vendo coisas demais, me perdoem…). Queremos Klaue de volta! Revivam-no como fizeram com o Agente Coulson já! E a tempo de ele lutar ao lado de Thanos e sua Ordem Negra!!! Em suas diferenças, o conjunto de figurinos, de responsabilidade da maga da área Ruth E. Carter, transmite uma impressionante unicidade realista que nos convence de que sim, é perfeitamente possível acreditar que um país altamente tecnológico mantenha, de forma profunda, o respeito por sua ancestralidade. Nada de ternos pasteurizados, portanto, que fica restrito ao momento inicial em que vemos Ross em sua missão na Coréia do Sul. Mas essa harmonia não seria possível se ela não fosse ecoada no restante do design da produção, trabalho comandado por Hannah Beachler, com a decoração de sets sob responsabilidade de Jay Hart. Muito dependente de CGI, o trabalho, aqui, é de dar credibilidade também à cidade escondida debaixo de um holograma de floresta densa. Se aceitar a existência secreta de um país inteiro é difícil, é muito fácil acreditar nele uma vez que o vemos. A fusão entre mega-cidades (só vemos uma, até onde vai minha memória) e campo, com direito a criações de ovelhas e de rinocerontes(!!!) – aliás, outro figurino excelente é o desses bicharocos em suas armaduras que fariam invejam ao Rino, inimigo clássico do Aranha – é revestida de verossimilhança, mesmo que tenhamos pouco tempo para apreciá-la. Wakanda, com isso, torna-se um fascinante reduto que simplesmente precisa ser mais explorada em inevitavelmente vindouras continuações. Arriscaria dizer que não há nada fora de lugar em termo visuais. ''Pantera Negra'' poderia ser um filme mudo e ainda sim seria capaz de deslumbrar. Mas ainda bem que a imagem vem muito bem acompanhada de um som muito particular. Encarregado da trilha sonora instrumental de Pantera Negra, Ludwig Göransson (Fruitvale Station, Creed e Corra!) apresenta uma das trilhas sonoras mais redondas e realmente temáticas do UCM. Não pretendo, aqui, fazer uma análise detalhada da trilha, primeiro por minha confessada ignorância sobre o assunto e, segundo, porque a crítica separada ainda será feita por quem realmente entende. No entanto, o compositor, apesar de não fazer uma trilha que pareça funcionar fora da estrutura do filme, cria algo extremamente funcional e marcante dentro da projeção, com diversos sons tribais marcando o ritmo das sequências de ação, especialmente os dois combates ritualísticos e a batalha final com direito à cavalaria de rinocerontes e M’Baku chegando no proverbial último minuto. E a sincronização de Coogler é particularmente feliz, pois ele, em diversas cenas, consegue adequar e manobrar a sonoridade de forma que ela se mescle com a edição e montagem sonora da obra. Trata-se de um belo exemplo de trilha sonora funcional que amplifica de verdade a força da narrativa sem, porém, interferir nela, chamando mais atenção para si do que deveria. Mas a arquitetura sonora de ''Pantera Negra'' vai além da trilha – que conta, também, com canções de Kendrick Lamar que dão sabor, mas são subaproveitadas na fita – e ecoa a diversidade visual que vimos concretizada nos fascinantes figurinos em seus sons ricos de mitologia e lenda. Coogler, mesmo longe de tentar colocar nas telonas um filme de arte, faz de seu blockbuster uma plataforma diferenciada para trabalhar sons que remontam a tribos – desde percussão diegética até sons guturais de guerra. Por vezes ele até arrisca comicidade involuntária ao colocar M’Baku e sua tribo imitando o som de gorilas, algo que ganha enorme poder na segunda vez em que ouvimos o som, em momento decisivo da batalha final. No entanto, Pantera Negra não é, definitivamente, um filme de arte no sentido pretensioso que muitos atribuem a essa categoria de filmes que eu nem estou muito certo que é mesmo uma categoria. Com isso eu quero dizer que a obra é indisfarçavelmente um filme de super-heróis e, como tal, acaba sujeito a alguns problemas mais salientes. Já mencionei a correria do roteiro para inverter o quadro, tirar T’Challa do trono e colocar Killmonger no lugar. Esse acontecimento, mais do que esperado, diria, acaba catalisando uma sequência de ações que faz a aventura descambar para o lugar-comum. Toda a tentativa de criar um fiapo de tensão sobre o fim do monarca – que até os rinocerontes adestrados sabem que não morreu, mesmo caindo de uma cachoeira mais alta que Victoria Falls – soa boba, com Coogler e Cole caindo na armadilha do filme-padrão-de-ação-que-todo-mundo-sabe-cada-detalhe-do-que-vai-acontecer. Quem acompanha minhas críticas sabe que sou a última pessoa do mundo a exigir imprevisibilidade em roteiros. Muito ao contrário, aquelas surpresas, twists e oooohs e ahhhhhhs que tantos almejam e outros tantos desdenham com o famoso eu já sabia são artifícios narrativos que não me encantam particularmente. Um filme – mesmo arrasa-quarteirões – precisa ser mais do que sua surpresa. Parafraseando Alfred Hitchcock, eu troco 15 segundos de surpresa por 15 minutos de suspense sempre. E eu também tenho plena consciência de que, em filmes de super-heróis, a morte do protagonista é algo impossível e Coogler tinha que lidar com a situação. E a forma como ele encontrou foi, pela ausência de uma palavra melhor, trivial, pouco inspirada. Falo, aqui, dos minutos entre a “morte” do rei e seu renascimento, com todas as sequências sobre a malvadeza de Killmonger no meio. O que vemos, ali, é o diretor sucumbindo a uma fórmula, mas não à fórmula Marvel que muitos detratores do UCM acusam a produtora. É uma fórmula, uma sucessão de clichês, de sequências useiras e vezeiras que mais cansam do que realmente acrescentam alguma coisa. Sim, T’Challa aprende algo com sua morte. Quando ele está no “plano astral” com seu pai e demais Panteras, ele renega sua herança monolítica e imutável. Ali ele toma a decisão de abrir Wakanda para o mundo, algo que, como mencionei, vinha sendo muito bem trabalhado ao longo da narrativa e que Killmonger catalisa. E, por isso, ele não pode morrer. No entanto, para isso acontecer, tivemos que passar pela cadência do morre-não-morre, M’Baku, meu inimigo mortal, me salvou e outras baboseiras padrão de filmes assim. Recheando esse problema, ainda há a quase que instantânea virada de casaca de W’Kabi, que o roteiro estabelece como um admirador de T’Challa e amante (marido?) de Okoye. Ah, mas o roteiro faz isso justamente para surpreender no twist traidor, alguém poderia dizer. Sim, mas eu não acabei de dizer que o twist é o de menos? Que ele precisa ser orgânico à narrativa e não algo improvável apenas? W’Kabi parece uma criança chorona batendo o pé na loja porque seu pai não quis comprar um bala. T’Challa não capturou Ulysses Klaue, apesar de quase morrer tentando praticamente no primeiro dia de reinado e, por isso, W’Kabi faz biquinho e entrega seu amigo de bandeja para Killmonger? Haja paciência, não é mesmo? E Killmonger, aliás, será ele mais um dos vilões fracos do UCM? Aqui a resposta vai depender. Em termos de motivação, ele está coberto, mesmo que seu objetivo resvale na boa e velha vingança. Mas funciona dentro da estrutura proposta e de forma alguma parece algo jogado em tela. No entanto, o que retira sua força é um pouco da já mencionada velocidade com que as coisas ocorrem a partir do resgate de Ulysses Klaue das mãos de Ross e T’Challa. Quase que completamente do nada, como se os acontecimentos ali tivessem despertado uma raiva adormecida, Killmonger decide ir até Wakanda para lidar com T’Challa. Ora, T’Chaka já havia morrido e sua morte televisionada pelo mundo todo. Se ele conhece a cultura do país de seu pai como o roteiro dá a entender (ele fala a língua inclusive, devemos lembrar), então ele sabe do ritual e poderia ter feito tudo o que fez antes, de maneira muito mais limpa e direta, sem todas as voltas e sem parecer que ele despertou de um torpor de 30 anos depois do assassinato de seu pai. Sei que, se assim fosse, não haveria filme, mas creio que o problema seria perfeitamente remediável se toda essa raiva incontida do personagem se materialize em um plano de décadas para estar pronto para clamar o trono, algo que desse substância e uma certa preparação para o que transparece como uma decisão entre comer pão com manteiga ou com requeijão. Com isso, Killmonger acaba ficando lá no meio (ou na metade de cima, para ser bondoso), misturado com seus amigos Ronan e Kaecilius na escala Marvel de vilões, o que, definitivamente, não é algo ruim. Diria até mesmo que ele não precisava morrer e poderia muito bem ser reaproveitado em futuro longa do Pantera. Os problemas de Pantera Negra – que sim, são mitigados pela qualidade geral do filme, não tenham dúvida – tem como origem a malfadada Fórmula Marvel? Vamos investigar rapidamente. Primeiro, considero injusta a pecha de que a Marvel Studios se usa de uma fórmula própria. Tivemos filme de época, filme de assalto, comédia, filme de espionagem, filme psicodélico, ópera espacial, filmes de origem e, agora, uma aventura clássica sobre honra, hereditariedade e erros do passado com uma bela camada e mensagem políticas. E isso tudo com identidade própria, com se estivéssemos lendo quadrinhos: todos são diferentes, mas todos são também parte de um mesmo universo. E um universo inédito e extremamente complexo no cinema que é ainda recheado por séries de TV e curtas em um emaranhado surpreendentemente positivo. Então, a Fórmula Marvel é uma lenda bobalhona. O que existe, claro, é uma fórmula e ponto final. Essa tal fórmula – ou forma, chamem do que quiser – é a que permite a criação de blockbusters em cadeia, em uma linha de produção que é variada, mas que se prende ao mesmo tipo de estrutura narrativa de outros universos, como os de Harry Potter, DC Comics e até mesmo – perdoe-me por citar isso aqui – a Saga Crepúsculo. E, com isso, não quer escudar nem escusar a Marvel Studios de críticas negativas. Ao contrário até. Cada filme precisa e deve ser analisado por seus méritos próprios e Pantera Negra mais do que merece isso. Chega a ser engraçado como a cada novo filme da produtora, temos os comentários mais um filme cheio de piadinhas, mais um vilão porcaria e assim por diante, como se estivéssemos falando de uma amálgama em que não fosse possível separar uma coisa da outra. Se Pantera Negra é mais um de alguma coisa, então o problema talvez esteja na estrutura formular desse tipo de comentário e não da forma de fazer filmes da Marvel. ''Pantera Negra'' é, literalmente, uma beleza de filme. Um filme de super-herói com coração, coragem e consistência, mesmo que peque aqui e ali. Uma mais do que bem-vinda adição ao UCM que mostra que esse universo parece mesmo estar longe de parar de nos surpreender. P.s: O 3D é completamente desnecessário, mas é bem utilizado nas sequências diurnas, com profundidade de campo apropriada. No entanto, nas sequências escurecidas, notadamente na ação na Coréia do Sul e na pancadaria final entre o Pantera e o “Onça Pintada”, os óculos atrapalham demais e tornam a experiência irritante. P.s 2: Há duas cenas depois que o filme acaba. Uma logo depois dos nomes individuais passarem ao final, que tem carga política, mas não acrescenta nada que já não tenha sido abordado no filme e uma ao final de tudo, relacionada mais com o UCM, só que sem maiores consequências." (Ritter Fan)

Um marco em vários sentidos.

''O nascimento de Pantera Negra, o primeiro super-herói de descendência africana na história das grandes histórias em quadrinhos americanas, e a chegada de seu primeiro filme solo, composto majoritariamente por um elenco negro, marcam um evento de grande importância não só para a bem-sucedida posição da Marvel e seu prestígio com o público, mas das próprias adaptações sobre heróis no geral. Claro, nada da discussão que cercou o personagem desde sua participação em Capitão América: Guerra Civil até a formação de seu diretor, o jovial e competente Ryan Coogler (do contundente Fruitvale Station), junto à escolha de toda a linha de frente do elenco, se revelaram pouco originais, em especial no que se refere à questão da representatividade negra no cinema e seu protagonismo nas grandes produções. E por mais que tais questões sejam inegavelmente merecedoras de toda a atenção possível, o filme de Coogler passa por cima de posicionamentos sobre o tema (sem jamais desmerecê-los, mas pontuando-os sutilmente) e se concentra no potencial espetáculo que há para ser extraído da rica e magnífica Wakanda. Ambientado após os acontecimentos de Guerra Civil, onde T’Challa (Chadwick Boseman) perdeu seu pai, outrora rei de Wakanda, em um atentado, o Pantera retorna para sua terra natal, apresentada aos olhos do mundo como uma pobre nação de fazendeiros, para ser coroado como o novo rei do reino, cuja principal fonte de força e riqueza está na extração do Vibranium, o metal mais poderoso da terra, o que permite que Wakanda seja avançada tecnologicamente de uma forma que deixaria Tony Stark humilhado, além da magnífica vastidão cultural do reino, composta por cinco tribos bastante distintas. Colocando-se no caminho da paz de Wakanda está Ulysses Klaue (Andy Serkis), que roubou um punhado de Vibranium anos atrás, e sua parceria misteriosa com Erik Killmonger (Michael B. Jordan). ''Pantera Negra'', é claro, não é um filme que parte de politizações, mas se reveste delas para formar o seu quadro de auto-importância, resultado não apenas deste planejamento de 10 da Marvel com seus heróis, mas de toda essa era-Trump onde não há como fugir de alguns reflexos sobre a situação política atual, seja dos EUA ou do mundo. O roteiro de Coogler ao lado de Joe Robert Cole é bastante feliz ao conceber suas próprias “cutucadas” à contemporaneidade, como a breve referência aos refugiados, à colonização, à própria visão estereotipada sobre pessoas negras (Você botou todos os seguranças atrás de mim desde que entrei aqui.), ou mesmo a extrema textura da cultura africana que compõe toda a identidade visual do longa, deslumbrante e harmoniosa como poucos da Marvel o foram em sua trajetória. Wakanda, por sinal, é quase uma personagem à parte dentro da narrativa, tão cheia de cores, vida, sons, cenários e riqueza cultural que nos fazem perguntar o quão extenso deve ter sido o estudo dos responsáveis pela direção de arte e figurino para criar uma existência paralela tão exuberante e pulsante como o reino fictício em questão. Não apenas isto, é notável o enorme respeito da produção pela retratação da cultura local, indo além dos cenários e figurinos para as máscaras simbólicas, o significado das danças e ao movimento dos corpos, as crenças míticas em deuses e rituais… Há uma enorme satisfação em Pantera Negra nessa pintura minuciosa sobre um povo ancestral, o que confere novas e interessantes camadas ao universo estendido da MCU. Impossível não notar a trilha sonora instrumental de Ludwig Göransson, que mescla batuques e tambores com os momentos de grandiloquência, definitivamente embarcando no capitaneamento do rapper Kendrick Lamar para a OST do longa. Coogler e Cole, por sinal, sabem como delinear seus personagens e, por vezes, colocá-los acima do bem ou do mal e compô-los com uma tridimensionalidade que tem se tornado cada vez mais usual nos filmes de heróis, algo muito bem-vindo para um “gênero” cujos protagonistas sempre representaram personalidades muito unilaterais. O personagem de B. Jordan, em especial, recebe um carinho muito particular de um roteiro (e certamente devido a proximidade de Coogler com o ator, com quem trabalhou em todos os seus filmes anteriores) que lhe empresta motivações plausíveis para suas atitudes que, em determinado momento, rivalizam com nosso conceito sobre o que realmente pode ser vilanizado em suas escolhas. Há aqui os ares de tragédia familiar shakesperiana que marcaram o primeiro Thor, por exemplo, e Jordan novamente se mostra um ator de belas nuances ao compor Killmonger como um rosto carregado pelo peso do passado e também a personificação do abandono social de grande parte da população negra dos EUA. É o grande arco do filme, sem dúvidas. O que não significa que os outros rostos de Pantera Negra não possuam suas próprias camadas, pelo contrário. Chadwick Boseman, entre poucos gestos e mudanças sutis de postura e expressões, encarna com competência os conflitos internos e as responsabilidades como novo rei de Wakanda, em especial quando se defronta com o resultado de ações de seu pai cometidas no passado. Andy Serkis comprova o quanto poder ser um ator tão completo quanto é na captura de movimentos e faz de Klaue um antagonista caricato e imprevisível, com o ator claramente se divertindo na pele megalomaníaca do vilão. E igualmente surpreendente é o time de rostos femininos que compõe figuras femininas fortes e que em nada devem ao posicionamento da realeza masculina, e os nomes de Lupita Nyong'o, Angela Basset e Danai Gurira, que lidera o notável exército de defesa de Wakanda composto apenas por mulheres. Diante de tanta preocupação com o estabelecimento da ambientação de Wakanda e um desenvolvimento adequado das ações e reações de seus personagens, Pantera Negra investe bem pouco na ação física, o que não seria um problema se, quando presente, a ação não acelerasse tanto a narrativa que, até aquele momento, se fazia satisfeita com a forma que caminhava. Como um filme de estúdio, chega um ponto em que Coogler se vê obrigado a investir na ação ininterrupta e no suspense para manter o público atento na poltrona, e aqui não apenas o longa resvala em certa banalidade (apesar disto não ser o pecado maior), como também acumula plot twists que, de tão previsíveis, minam o impacto do próprio conflito entre os Wakandanos, por exemplo, algo que parece da noite para o dia (basta prestar atenção na virada nada orgânica de W'Kabi, personagem de Daniel Kaluuya). Também falta mais apuro a Coogler para lidar com a ação, e apesar de explorar bem o visual das cenas mais noturnas (a perseguição na Coreia do Sul), a movimentação das cenas ainda pede um pouco de inventividade nos movimentos, por vezes repetitivos. Mas ''Pantera Negra'' é, de fato, um filme especial como todos queríamos. É político, sem a necessidade de se fazer gritante para tal. É representativo, e consegue este feito através de artifícios muito naturais. E é um belo filme de personagens realmente interessantes em meio ao mar de mesmices a que o segmento dos super-heróis parecia condenado. Independente do quanto batam o pé para ele, sua posição como marco da representatividade no cinema blockbuster e como um novo salto no estabelecimento do universo Marvel já está cimentada. Que venha Guerra Infinita e os novos rumos para esses heróis lendários." (Rafael W. Oliveira)

Marvel Studios (presents) Walt Disney Pictures

Diretor: Ryan Coogler

324.772 users / 125.322 face

55 Meatacritic 6 Down 1

Date 09/06/2018 Poster - #

56. Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales (2017)

PG-13 | 129 min | Action, Adventure, Fantasy

39 Metascore

Captain Jack Sparrow is pursued by old rival Captain Salazar and a crew of deadly ghosts who have escaped from the Devil's Triangle. They're determined to kill every pirate at sea...notably Jack.

Directors: Joachim Rønning, Espen Sandberg | Stars: Johnny Depp, Geoffrey Rush, Javier Bardem, Orlando Bloom

Votes: 345,749 | Gross: $172.56M

[Mov 06 IMDB 6,6/10] {Video/@@@@} M/39

PIRATAS DO CARIBE - A VINGANÇA DE SALAZAR

(Pirates of the Caribbean: Dead Men Tell No Tales, 2017)


TAG Joachim Rønning/ Espen Sandberg

{hilário}


Sinopse ''O azarado Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) encontra os ventos da má sorte assoprando mais forte ainda quando piratas fantasmas mortais liderados por seu velho inimigo, o aterrorizante Capitão Salazar (Javier Bardem), escapam do Triângulo do Diabo, determinados a matar todos os piratas no mar... incluindo ele. A única esperança de sobrevivência do Capitão Jack encontra-se em buscar o lendário Tridente de Poseidon, um poderoso artefato que dá sobre seu possuidor total controle sobre os mares.''


"Já cansou." (Rafael W. Oliveira)

"As franquias de cinema costumam apresentar queda de qualidade a cada filme. Às vezes um deles acerta a mão no roteiro e até revitaliza a série, mas quase sempre é ladeira abaixo. No caso de Piratas do Caribe, não é correto dizer que o quinto filme, estreando agora, seja pior que os anteriores. O problema dele é ser exatamente igual a todos. A Disney está praticamente refilmando sem parar o original, sucesso estrondoso de bilheteria em 2003. Não é apenas Johnny Depp como o deplorável e eternamente bêbado capitão Jack Sparrow a única constante nos episódios. Sparrow está sempre prestes a ser executado quando sua tripulação aparece para salvá-lo e, dali, partir para uma nova aventura. O mundo todo sempre quer a cabeça do pirata: a Marinha inglesa, outros piratas, feiticeiros, monstros do mar e, no caso do novo filme, fantasmas. Cada história tem seu objeto de desejo. Pode ser um baú do tesouro, uma bússola mágica, um tridente mitológico, coisas assim, que ficam passando de mão em mão durante a trama. O enredo sempre reúne um mocinho insosso, talvez para não ofuscar Depp, e uma mocinha bonitinha e destemida. Em "Piratas do Caribe - A Vingança de Salazar", o australiano Brenton Thwaites aparece como filho de Will Turner, personagem de Orlando Bloom nos primeiros filmes. Os atores poderiam ser mesmo pai e filho: ambos não têm menor graça. A mocinha continua europeia: depois da inglesa Keira Knightley e da espanhola Penélope Cruz, é a vez de outra britânica, Kaya Scodelario. A legião estrangeira continua com o australiano Geoffrey Rush, no papel do pirata rival Barbossa desde o primeiro filme, e o espanhol Javier Bardem, ainda preso a personagens caricatos em Hollywood, desta vez como o morto-vivo Salazar. "Piratas do Caribe - A Vingança de Salazar" tem muita ação e algumas boas piadas, mas tudo muito mecânico, nada surpreendente. É mais do mesmo. Para quem quer só diversão, tudo bem, mas falta um mínimo de criatividade. Mais uma jogada de repetição: depois da atuação de Keith Richards como o pai de Sparrow nos dois filmes anteriores, agora é Paul McCartney que faz uma pontinha como tio do pirata. Será que Bob Dylan estará no sexto filme?" (Thales de Menezes)

Navegando por águas de salsicha.

''Em 2003, Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra lembrava aqueles filmes matinês dos anos 40, 50, onde a ação era descompromissada com uma história que só fazia levar esquetes de ação com personagens carismáticos para a frente em busca de algum artefato lendário. Baseado em um brinquedo da Disney e lotado de rostos conhecidos do público, a fórmula fez tanto sucesso que imediatamente engatilhou duas sequências muito próximas uma da outra, lançadas em 2006 e 2007 que, apesar de faturarem na casa do bilhão de dólares, cansaram sua imagem por não terem o mesmo carisma e uma história fraca demais para a grandiloquência que a série tentou alcançar, deixando de lado aquele descompromisso que atraía a diversão. Em 2011 houve uma outra tentativa de resgatar Piratas do Caribe, mas o resultado foi a prova real de que Jack Sparrow precisava descansar. Seis anos no hiato, chega aos cinemas ''Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar'', uma tentativa de reaproximação com o material original e de decolar novamente a franquia, que embora acerte em alguns pontos, esbarra nos mesmos problemas dos episódios anteriores. A verdade é que esse novo episódio é exatamente o que você já viu antes na série, para o bem e para o mal. Jack Sparrow (Johnny Depp) não goza mais do prestígio que tinha antigamente: sem barco e sem tripulação, vê sua sorte ir embora e o seu destino esbarrar com os jovens Henry (Brenton Thwaites) e Carina Smyth (Kaya Scodelario), que procuram, cada um por seus motivos, o lendário Tridente de Poseidon. É claro que ele será perseguido por um perigoso morto-vivo conhecido como Capitão Salazar (Javier Bardem), que anos atrás viu-se amaldiçoado por Sparrow e deseja vingança ocupando todo o mar com morte; o que tira da vida boa o Capitão Hector Barbossa (Geoffrey Rush), que irá atrás de Sparrow para encerrar esse pesadelo. É engraçado ver como Sparrow segue como um catalisador de toda essa confusão: sua persona jamais está à altura da fama quando os personagens o conhecem pessoalmente, bêbado e desengonçado. Ele segue funcionando no sentido de ligar os pontos de toda a história, a maravilha da coincidência da fantasia, sem nunca ter uma função relativamente principal na trama, apesar de ser um personagem ultra desgastado; Depp faz exatamente as mesmas coisas que fazia há quatorze anos atrás. É irônico também notar como a história exalta o papel da mulher, tão relevante na igualdade de gêneros dos dias de hoje, já que a personagem Carina é a única que consegue ler o mapa que leva ao Tridente, mesmo com toda a imagem de Depp abalada pelo recente caso de agressão à mulher. Deixando isso de lado, apesar de Brenton e Kaya serem atores competentes e bonitos, seus personagens jamais chegam à altura do que Orlando Bloom e Keira Knightley significaram anos atrás, e não é a toa que a trama tenta trazê-los de volta caso o casal principal não vingue. Sparrow nunca funcionou sozinho, e isso talvez explique porque os filmes anteriores, que focam nele como figura central, acabam sendo tão frágeis estruturalmente. Já Javier Bardem, pra variar, faz um papel brilhante ao encarnar um Salazar perigoso e extremamente bem feito; não só ele como todo o trabalho de composição do vilão e sua trupe. O barco é muito bom e a maneira como parece abrir a boca como um tubarão nas batalhas é fantástico, assim como os corpos despedaçados e vazios de uma tripulação que não apenas viu a morte de perto como se tornou sua própria personificação. Esse espetáculo gráfico já era esperado, uma vez que era o principal atrativo dos filmes de 2006 e de 2007. O grande problema é que eles são usados mais uma vez como narrativa e não como ferramentas para auxiliar uma história, deixando novamente o filme visualmente 'verborrágico', pesado, gastando preciosos minutos entediando o público tentando impressioná-lo ao invés de investir no que faz de melhor, diverti-lo. Esse excesso de cenas de ação estendidas deixa pouco tempo para o filme desenvolver sua história; algo que nunca foi o foco da franquia, e justamente por isso ela sempre foi tão fria e distante, apenas com uma diversão aqui ou ali oriunda de sua essência totalmente Sessão da Tarde. Deviam apostar mais nisso e menos na pretensão. A cena da guilhotina ficou bem bacana e criativa e a da âncora fecha bem o filme, mas acabam sendo exceções em um trabalho novamente longo e cheio de gorduras; a cena do casamento é constrangedora e inútil e o Pérola Negra, o barco mais veloz que já se viu, é facilmente alcançado logo depois, não honrando a própria lógica criada dentro do longa. A participação especial de Paul McCartney, apesar de gratuita, é divertida e bem vinda. Quando poderemos ver um Beatle bem humorado e como pirata? Se há algo de inesperado, é quando o filme arrisca uma poesia ao colocar Sparrow sentindo saudade do passado ao colocar o seu barco em miniatura contra o horizonte, como se ele estivesse navegando naquele gigantesco mar. O momento funciona. É claro que a Disney fará a roda da fortuna que é a franquia girar outras vezes, só que esperamos que ela crie histórias à altura dos artefatos que quer reinventar, com personagens que funcionem e uma ação mais divertida e enxuta. Das cinco tentativas, apenas a primeira acertou o alvo, e talvez porque era novidade no mercado. Você já viu esse filme antes outras quatro vezes; se segue gostando deles, A Vingança de Salazar é para vocês. Eu cansei anos atrás." (Rodrigo Cunha)

Walt Disney Pictures Jerry Bruckheimer Films Infinitum Nihil

Walt Disney Pictures Jerry Bruckheimer Films Infinitum Nihil

Diretor: Joachim Rønning / Espen Sandberg

196.785 users / 189.385 face

45 Metacritic 119 Up 12

Date 10/06/2008 Poster - #####

57. War for the Planet of the Apes (2017)

PG-13 | 140 min | Action, Adventure, Drama

82 Metascore

After the apes suffer unimaginable losses, Caesar wrestles with his darker instincts and begins his own mythic quest to avenge his kind.

Director: Matt Reeves | Stars: Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn, Karin Konoval

Votes: 282,662 | Gross: $146.88M

[Mov 05 IMDB 7,5/10] {Video/@@@@} M/82

PLANETA DOS MACACOS - A GUERRA

(War for the Planet of the Apes, 2017)

TAG MATT REEVES

{intenso}

Sinopse ''César e seus macacos são forçados a um conflito mortal contra um exército de seres humanos liderados por um Coronel implacável. Depois que os macacos sofrem perdas inimagináveis, César luta contra seus instintos mais escuros e começa sua própria busca mítica para vingar sua espécie. À medida em que a jornada finalmente os coloca cara a cara, César e o Coronel se enfrentam em uma batalha épica que determinará o destino de suas espécies e o futuro do planeta.''

"O enredo mais pessoal (mesmo que envolto em algo maior - uma guerra) dá novo fôlego à série e valoriza as personagens. Até a arriscada inclusão de uma criança na parte central da história funciona bem." (Alexandre Koball)

"Mantém a seriedade imputada à franquia no anterior, porém com núcleos mais potentes. Inicia como um survival de guerra pela selva e termina como um filme de fuga de prisão bem digno. Derrapa na pieguice, mas vendo depois do Nolan parece uma obra-prima." (Daniel Dalpizzolo)

"Embora Reeves derrape ocasionalmente (como nos momentos sentimentais), trata-se de um raro blockbuster que desenvolve com complexidade os personagens, suas relações e motivações. Mais lento que o esperado, mas com muita força. O CGI é impressionante." (Silvio Pilau)

''Basta ver a primeira imagem para saber do que se trata. No capacete de um soldado está escrito mata-macacos. Os outros soldados aparecem: trata-se do cerco de um grupo armado aos símios comandados por César. Não leva cinco minutos e já sabemos do que se trata: de um faroeste reciclado. No caso, não são brancos que enfrentam índios. O combate entre humanos e macacos servirá como metáfora para os confrontos entre americanos e iraquianos, israelenses e palestinos, cristãos e muçulmanos... Tudo ou todo lugar em que se perca a dimensão do adversário como semelhante serve, no caso. Como Hollywood é liberal – no sentido americano da palavra – ninguém se espantará de saber que à frente dos soldados está o vilão da história, o Coronel de Woody Harrelson, branco e temível. A ele caberá matar a única fêmea do filme (e que mal aparece, diga-se: a mulher de César). Estamos em um filme masculino por excelência. Se o Coronel pode lembrar o insano general do Dr. Fantástico de Stanley Kubrick, o restante abrirá seu leque para outras paragens: haverá um pouco de aventura romana, um tanto de Spartacus, de Egito, de nazismo (e suas extensões) e de Dez Mandamentos. Ou seja: como se trata de raspar o tacho, é preciso vasculhar mais ou menos todas as tradições conhecidas. E a fabulosa saga inaugurada um dia (de 1968) por Franklin Schaffner, em que o homem viajava em busca de si mesmo, um si mesmo que talvez estivesse no outro, nos símios. Muitas sequências inúteis depois, Tim Burton retomou a saga com muita dignidade (em 2001). O certo é que hoje, após algumas novas acrobacias, chega-se ao estágio de esgotamento total, em que o 3D e a semelhança cada vez maior dos macacos do filme com os macacos reais lutam para produzir algum interesse na batalha do macaco César e seus liderados para chegar a um convívio pacífico com os humanos. O 3D parece entrar para demonstrar que não serve para grande coisa. Se excetuarmos Harrelson, bem como sempre, e alguns efeitos, inclusive uma explosão um tanto apocalíptica, esta nova incursão ao esgotado planeta dos macacos é de visão perfeitamente dispensável. Nada de ideia ou de invenção. Em nenhum sentido. Pois a série já nos mostrou o macaco rebelde. Agora é a vez do coronel psicopata. Ou seja: é sempre um outsider que entorna o caldo. Estamos a alguns planetas de distância do filme original. Agora a ordem, seja a dos homens, seja a dos macacos, é sempre boa. Quem quiser que aceite.'' (* Inácio Araujo *)

''Nenhuma franquia no cinema americano deve ter uma trajetória tão fascinante e imprevisível como a do Planeta dos Macacos. Depois de um excelente primeiro filme, a saga originada do livro de Pierre Boulle rendeu uma série de continuações que variavam do bom até o prazer culposo, duas séries de TV e um remake desastroso pelas mãos de Tim Burton. Tudo ganha uma revolução quando a Fox decide apostar em uma nova guinada da saga de símios, iniciando uma trilogia que explora as origens da dominação planetária, com A Origem e O Confronto tornando-se alguns dos melhores exemplares da franquia até então, mergulhando em um novo nível de drama e estudo de personagem. Seguindo essa linha, Planeta dos Macacos: A Guerra oferece uma satisfatória conclusão para essa nova fase. A trama começa alguns anos após o final do anterior, com César (Andy Serkis) sendo caçado pelos poucos grupos de humanos presentes na região, agora uma equipe de militares liderado pelo misterioso Coronel (Woody Harrelson), que faz o possível para garantir sua sobrevivência quando o vírus que dizimou a humanidade começa a apresentar um novo efeito colateral: a perda de fala em humanos. Quando César sofre uma perda pessoal em um conflito, ele arma uma missão pessoal para localizar e neutralizar o Coronel, visando encerrar de uma vez por todas a guerra entre humanos e símios. É basicamente isso. Se Matt Reeves e o roteirista Mark Bomback já haviam oferecido algo muito simplista e direto em O Confronto, eles reduzem ainda mais a escala e os eventos em Guerra, que limita-se a uma jornada de vingança pessoal em uma narrativa sem muitos elementos, núcleos de história ou até mesmo diálogos. Quase todos os 140 minutos de projeção são dedicados à César e o núcleo dos símios, nunca desviando o ponto de vista para algum personagem humano, que ocupam – em maioria – o cargo de antagonismo do longa. Isso garante mais belos e raros momentos no atual cenário do cinema blockbuster americano, onde diversas ações e pensamentos são resolvidos através da linguagem de sinais, olhares ou simples interações corporais; ainda que César tenha a fala muito mais aprimorada neste filme. Justamente por esses momentos, o primeiro ato e o começo do segundo são os melhores momentos da projeção. A pequena expedição liderada por César, composta de seus companheiros Maurice (Karin Konoval), Rocket (Terry Notary) e Luca (Michael Adamthwaite) é um remanescente forte do cinema western, com o quarteto cavalgando lentamente por paisagens geladas no solo canadense, e especialmente melancólicas pelo fato de estarmos em um ambiente pós-apocalíptico. Dessa forma, conseguimos belíssimas imagens que Reeves e o diretor de fotografia Michael Seresin, garantindo também um bom ritmo e uma atmosfera altamente imersiva – a fantástica trilha sonora de Michael Giacchino também merece créditos na criação desse universo, trazendo uma belíssima valsa como tema final. A direção de Matt Reeves é um fator que amadurece consideravelmente. Logo na primeira cena, começamos com um longo plano que nos apresenta aos soldados, culminando em um confronto violento e que já nos demonstra como os efeitos visuais estão sobrenaturais: os pelos, olhares e a luz refletem de forma de extremamente realista nos símios, cada vez mais expressivos. Reeves também traz sua mão de suspense de Deixe-me Entrar e Cloverfield para sequências mais tensas, como o primeiro encontro entre César e o Coronel; marcado pelas sombras e os feixes de luz vindos de armas e miras laser, e a grande batalha que encerra a projeção, repleta de pequenos conflitos e clímaxes que agarram o espectador pela garganta. É impossível não se comover. O problema maior fica mesmo no segundo ato, onde a narrativa toma uma curva que agrada por sua imprevisibilidade, mas acaba pecando em termos de ritmo e duração. Mais centrada no que acontece no núcleo humano, é onde Reeves e Bomback acabam se esforçando demais para atingir um nível dramático e melancólico, como se a referência temática e visual ao Holocausto e o Fascismo já não fossem o suficiente por si só – um problema similar que também atingiu Logan, onde o filme parece tentar demais ser algo mais complexo e adulto – ainda que os diálogos do excelente Woody Harrelson façam valer esse esforço. A Guerra funciona justamente em seus momentos mais sutis, e essa exposição acaba prejudicando e atrapalhando o bom ritmo, além de estender demais a duração do filme. Tirando esse solavanco, ''Planeta dos Macacos: A Guerra'' é uma conclusão digna e satisfatória para essa nova trilogia que definitivamente será lembrada como uma das melhores que o cinema americano comercial já viu. Com maior enfoque em dramas pessoais e metamorfoses, a criação de Pierre Boulle nunca esteve melhor representada, e eu realmente espero que essa história não termine aqui." (Lucas Nascimento)

Percorrendo o planeta dos macacos.

''O universo de Planeta dos Macacos é um dos mais interessantes e bem aproveitados do cinema de gênero. Ele se baseia em uma ideia muito simples: o apocalipse de uma inversão radical na relação de poderes da sociedade. No primeiro filme da excelente saga original, humanos são tratados como animais selvagens em uma sociedade governada por símios e macacos. São bastante conhecidas as leituras raciais feitas sobre esses primeiros filmes a partir de algumas sugestões e pistas deixadas por eles. Os primatas que regem a sociedade, por exemplo, tentam provar a inferioridade do ser humano através de uma análise da sua formação craniana, uma referência muito direta à sociologia determinista do século XIX. A recriação cinematográfica do universo que teve início em 2011 com Planeta dos Macacos: A Origem se afasta um pouco dessa leitura racial, possivelmente considerando que uma correlação tão direta dos personagens com minorias específicas seria consideravelmente inadequada no contexto contemporâneo. Assim, o novo universo se abre para um comentário mais amplo sobre o modo como a opressão opera na vida em sociedade, pesando talvez um pouco mais para a questão dos direitos dos animais. É interessante acompanhar uma saga de blockbuster em que as metáforas políticas sejam tão centrais para o universo que apresenta. Planeta dos Macacos: A Guerra, o mais novo filme da série e terceiro dessa recriação, no entanto, revê sua relação com essas metáforas. Lógico, há um comentário claro sobre a cultura de militarização e uma referência interessante a um muro a ser erguido à força, para o prejuízo daqueles que o erguem (essa simbologia do muro foi inclusive muito bem utilizada pelo pôster do filme). Mas, pela primeira vez em um filme de Planeta dos Macacos, não é a crítica política que justifica a constituição do universo fantástico, mas esse próprio universo que dá espaço para o comentário crítico. Isso é bom, é consequência de uma crescente complexidade dessa narrativa, o que permite observações mais sofisticadas sobre o modo como os personagens se reconhecem nesse mundo definido pela expectativa de extermínio do Outro. Em A Guerra, é particularmente interessante a maneira como são apresentados os macacos desertores de Caesar, o líder da resistência símea. Eles são vistos trabalhando para os humanos como animais de carga, e por isso se lê a identificação donkey nas costas de cada um deles. É a primeira vez que temos conhecimento de um mundo para além das fronteiras dos personagens. E essa expansão funciona bem, fundamenta a continuidade da saga ao reconhecer uma sociedade mais diversa, menos polarizada entre estereótipos do bem e do mal. Não que Planeta dos Macacos não tenha feito excelente uso desses estereótipos no passado. O vilão deste novo filme, inclusive, O Coronel (Woody Harrelson), assume com tanto despudor os clichês dos personagens de filmes de guerra que já basta para se desconfiar do interesse do filme de ironizar com os tipos que surgem nesse gênero. Além das referências a filmes de guerra - em uma parede nos túneis abaixo do quartel de quarentena dos humanos se lê Ape-calypse Now -, o filme também encena um faroeste nos primeiros atos, em que Caesar e três de seus macacos de confiança cavalgam pela neve à procura do coronel, enquanto o último pedaço da trama é uma tentativa mais direta de escape movie. Tem um pouco de charme nessas homenagens, mas elas também soam como sintomas de um texto meio perdido entre suas possibilidades. A construção do roteiro é tão problemática que a história de Planeta dos Macacos: A Guerra só se resolve a partir de uma série de deus ex machinas e sequências apoteóticas de ação que não se inserem muito bem no filme, embora certamente facilitem o trabalho da equipe de marketing. Se, por um lado, expandir o universo viabiliza certa liberdade de criação, por outro parece que não se sabe muito bem o que deve ser feito com essa abertura. Apesar desses problemas, o filme consegue manter o principal acerto dos filmes anteriores: o especial interesse nos personagens e em como estes são afetados pela ação. O diretor Matt Reeves se dedica, mais uma vez, a aproveitar a tecnologia para explorar as expressões de rosto e as particularidades do olhar, corajosamente se apoiando em diálogos silenciosos. Há excepcional valentia em se construir longas cenas dramáticas voltadas unicamente para o desenvolvimento emocional de um personagem criado a partir de capturas digitais. O mais cativante dessa recriação segue sendo a incomum congruência entre o artifício que justifica o interesse na obra pela indústria - os efeitos que permitem feições e movimentos realistas, humanizados, a personagens de fantasia - e a apreciação metafórica, política do universo conquistada a partir dessa humanização. Mesmo que Planeta dos Macacos: A Guerra se destaque entre os desafinados da saga, o universo que apresenta ainda é um dos mais sensíveis e significativos da Hollywood contemporânea. Afinal, é uma conclusão respeitável para a trilogia e uma ótima indicação do que esse universo ainda é capaz." (Cesar Castanha)

90*2018 Oscar

Twentieth Century Fox Chernin Entertainment TSG Entertainment

Diretor: Matte Reeves

173.924 users / 74.256 face

Soundtrack Rock Jimi Hendrix

51 Metacrtic 150 Down 59

Date 11/06/2018 Poster - ##

58. Professor Marston & the Wonder Women (2017)

R | 108 min | Biography, Drama, History

68 Metascore

The story of psychologist William Moulton Marston, and his polyamorous relationship with his wife and their mistress who would inspire his creation of the superheroine, Wonder Woman.

Director: Angela Robinson | Stars: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote, Connie Britton

Votes: 28,643 | Gross: $1.59M

[Mov 10 Favorito IMDB 7,1/10] {Video/@@@@@} M/68

PROFESSOR MARSTON E AS MULHERES MARAVILHAS

(Professor Marston and the Wonder Women, 2017)


TAG ANGELA ROBINSON

{excitante / inteligente}


Sinopse ''A não-convencional vida de Wiliam Marston (Luke Evans), psicólogo e inventor de Harvard que ajudou a tornar real o Detector de Mentiras e que também criou a Mulher-Maravilha, personagem dos quadrinhos, em 1941. Marston mantinha uma relação polígama envolvendo sua esposa Elizabeth Marston (Rebecca Hall), psicóloga e inventora, e Olive Byrne (Bella Heathcote), uma ex-aluna que virou acadêmica. Essa relação e os ideais feministas das duas mulheres foram essenciais para a criação da personagem.''


''Neste ano, a Mulher-Maravilhabrilhou em seu filme individual e também ao lado dos marmanjos superpoderosos na estreia da Liga da Justiça no cinema. Agora, um terceiro longa relacionado à heroína amazona dos gibis chega às telas. E é um dos melhores da temporada."Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas" é um drama que reconstitui a vida de William Moulton Marston, um professor de psicologia que inventou a personagem e escreveu suas primeiras aventuras, a partir de 1941. Desde o final da década de 1920, ele vivia com duas mulheres: Elizabeth Marston, com quem era casado, e Olive Byrne, sua amante. Ambas inspiraram sua personagem. O filme dirigido pela cineasta feminista Angela Robinson, uma das produtoras do bom seriado L Word, apresenta uma versão romanceada da trajetória real de Marston. Não foi necessário muito trabalho para criar um roteiro atraente. A vida do psicólogo e quadrinista já foi bastante rica em passagens incríveis. Em 1925, Marston e a mulher trabalharam na invenção de um detector de mentiras (e tiveram sucesso, marcando bobeira ao não patentear o aparelho). Para as pesquisas, contrataram a assistente Olive, aluna de Marston. Espíritos livres, como se definiam, ele e Elizabeth se encantaram pela jovem e começaram um relacionamento a três, em que as mulheres eram bissexuais. Na verdade, embora Marston tenha se interessado por Olive desde a primeira hora, é a paixão da jovem por Elizabeth que dispara de vez a relação deles. Morando juntos e tendo filhos, aos poucos eles têm seu estilo de vida descoberto por vizinhos e colegas. Isso provoca pressão para que deixem seu trabalho e sua casa. Apoiadores de causas feministas, os três dividiram as pesquisas e a criação dos quatro filhos com jogos sexuais ousados. A busca por quebrar limites levou o trio a ambientes de perversão sadomasoquista. E, quando perdeu o emprego de professor, pelo escândalo de sua relação com duas mulheres, Marston passou a escrever HQ misturando mitologia grega, feminismo e alguma pornografia. Os gibis da Mulher-Maravilha tinham quadrinhos de pornô soft, com a heroína volta e meia amarrada e torturada pelos vilões. Essa carga erótica foi quase totalmente excluída da produção das revistas depois da morte de Marston, em 1947, de câncer. Os ingredientes mais curiosos do filme, e às vezes não exatamente fiéis à história real, são as referências da vida pessoal que Marston teria inserido nas aventuras da Mulher-Maravilha no gibi. Ele não teve um avião de brinquedo transparente, como o que aparece na tela para supostamente inspirar a criação do avião invisível que a heroína pilota nos quadrinhos. Mas o uniforme dela foi realmente desenhado a partir de roupas de couro estilo dominatrix que Olive vestia para suas transas. A melhor sacada é o laço mágico da Mulher-Maravilha, aquele que obriga as pessoas presas nele a dizer somente a verdade. O item é uma mistura do detector de mentiras que o casal Marston criou com as cordas que o trio usava para se amarrar em suas brincadeiras de dominação. Num roteiro de cenas desafiadoras, o elenco vai bem. O galês Luke Evans, como Marston, e a novata australiana Bella Heathcote, no papel de Olive, estão ótimos. Mas quem rouba a atenção é a inglesa Rebecca Hall, como Elizabeth. Charmosa e bonita, sem se encaixar nos padrões estéticos convencionais, é o dínamo sexual de um filme que realmente excita a plateia. Falando de gibis, "Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas" é diversão sexy e engenhosa para adultos. Ao lado do blockbuster Mulher-Maravilha, é um dos grandes filmes deste ano." (Thales de Menezes)

''A criação da maior defensora da verdade na cultura pop é cheia de segredos. Fruto da mente de William Moulton Marston, a história de Mulher-Maravilha tem origem na admiração do seu criador pelo sexo feminino e no seu relacionamento nada convencional com duas mulheres extraordinárias. Em Professor Marston & the Wonder Women, Angela Robinson usa esses segredos para contar uma história interessante e divertida, ainda que longe de ser fiel aos fatos. Marston (Luke Evans, que em nada lembra fisicamente o homem que interpreta) começa a sua história durante a crise da sua heroína. Na frente de uma comissão de censura, ele explica seus métodos, a sua teoria sobre as emoções humanas e defende com entusiasmo a “perversão” que colocava nas páginas das HQs. O foco do longa, porém, não é a Princesa Amazona ou o seu impacto social. Robinson está mais interessada da relação de poliamor entre Marston, Elizabeth (Rebecca Hall) e Olive Byrne (Bella Heathcote). É uma versão romantizada e simplificada dessa relação à três, mas o charme dos seus atores e o humor do roteiro garantem que a atenção seja mantida nos seus 108 minutos. Como Elizabeth explica, com Marston as coisas nunca ficavam entediantes e o filme garante que todas as facetas notáveis da sua história sejam abordadas - a criação do detector de mentiras, a sua descoberta do sadomasoquismo, do bondage e as suas ideias sobre submissão. As dificuldades encontradas pela relação dos três são abordadas, mas nunca ficam no caminho da aura leve do longa, o que evita também que qualquer outro elemento narrativo seja aprofundado. Se garante entretenimento com essa descomplicação, Professor Marston & the Wonder Women também evita se tornar memorável. Sua história é tão importante e excepcional e é certamente digna de ser contada, só não faria mal alguns instantes sob o laço da verdade." (Nátalia Bridi)

Opposite Field Pictures Boxspring Entertainment Stage 6 Films Topple Productions

Diretor:Angela Robinson

14.311 users / 7.289 face

38 Metacritic 1.301 Up 41

Date 29/08/2018 Poster - ##########

59. The Pirates of Somalia (2017)

R | 116 min | Biography, Drama

54 Metascore

In 2008, rookie journalist Jay Bahadur forms a half-baked plan to embed himself with the pirates of Somalia. He ultimately succeeds in providing the first close-up look into who these men are, how they live, and the forces that drive them.

Director: Bryan Buckley | Stars: Al Pacino, Evan Peters, Melanie Griffith, Barkhad Abdi

Votes: 11,146

[Mov 04 IMDB 6,8/10] {Video/@@@} M/54

PIRATAS DA SOMALIA (unoffcial)

(The Pirates of Somalia, 2017)


TAG BRYAN BUCKLEY

{interessante}


Sinopse ''Em 2008, o jornalista novato Jay Bahadur elabora um plano para se infiltrar nos piratas somalis e descobrir quem são esses homens e qual o tamanho de sua força.''


''O título deste filme é mais do que um pouco atrevido quando você considera que o protagonista, um jovem jornalista canadense que aposta na ideia de que ele realmente pode fazer um nome para si mesmo cortejando o perigo do outro lado do mundo, dificilmente o faz a bordo de um barco no tempo de quase duas horas da imagem. Mais preciso seria O irmão que queria entrar com os piratas da Somália". Baseado em um livro de Jay Bahadur , o filme abre no Great White North. Jay ( Evan Peters , saindo como uma versão muito menos saudável de Patrick Fugit em Quase Famosos) cuida de seus sonhos no porão da casa de seus pais (ele tem um pôster de Todos os Homens do Presidente em uma parede de madeira compensada) lá embaixo), enquanto seu irmão mais novo rouba seu Red Bull e seus amigos do irmão o insultam quando eles embarcam em uma viagem a um bar local chamado Parrots. Depois de um acidente de neve, ele se encontra na sala de espera de um médico e descobre que o velho rabugento na cadeira em frente a ele é a lenda do jornalismo canadense Seymour Tobin. Tobin é jogado por Al Pacinono que equivale a uma pequena aparição estendida; Pacino lida com o papel no modo que ele usou quando interrogou Hank Azaria em “Heat”. Você continua esperando que ele diga coisas como “Eu tenho um GRANDE LEDE! Mas o roteiro, do diretor Bryan Buckley , nunca o acomoda em Esse respeito. Em vez disso, ele oferece pérolas como Você lê muito. F ** k mais meninas em vez disso. Depois de olhar para a escrita de Bahadur, ele oferece: Você não é a segunda vinda de Hunter S. Thompson . Há um subtexto interessante neste filme. Apesar de sua ostensiva missão de lançar um pouco de vida na cultura somali e na situação precária de sua democracia, o filme é realmente sobre um cara branco tentando ganhar moeda cultural em uma época em que o que ele representa está cada vez mais apressado. No final do filme, quando Jay é apresentado ao presidente da Somália, aquele homem brinca “Você é o próximo Bob Woodward?” E Jay responde que ele sempre identificou mais com Carl Bernstein.. As aspirações de Jay constantemente o levam para o passado, um passado que realmente está morto e está ficando mais morto. O frágil cliente jornalístico que registra o fim do colonialismo ocupa cada vez menos espaço em um mundo cada vez mais pós-colonial. Não há esperança para um inovador jornalístico do presente ou do futuro: é apenas o passado recente que contém modelos viáveis. Isso faz parte do problema do filme. Além de ser uma outra narrativa exótica, como eu me tornei-fora-de-um-fora. O filme significa para nós nos deliciarmos com o desrespeito de convenções de Jay. Quando o menino que é amigo dele vê a esposa atraente de um chefão local de fora da janela de Jay, Jay exclama: Você é um bom wingman, Assad, e estamos destinados a ser encantados. O filme contém um bom trabalho de interpretação, principalmente dos atores que interpretam personagens somalis; Barkhad Abdiestá envolvido como Abdi, que guia Jay depois que ele toca e aconselha a não aceitar a oferta de US $ 1.000,00 da CBS News para qualquer um que consiga filmar reféns de um navio somali. Falando nisso, em um dos toques de bravura mais imprudentes do filme, o material da pirataria é confinado a cenas em que Jay e quem quer que ele esteja tentando obter informações ficam no topo do khat compartilhado (uma planta nativa da África que provoca uma rápida euforia). Então eles vão estar mastigando khat e falando, e boom, Hypnotize do notorious BIG vem na trilha sonora e os ataques de alto-mar são retratados em animação neon-brilhante. Porque eles estão chapados, você vê. Como muitas outras coisas neste filme, não é tão fofo quanto pensa." ( Glenn Kenny)

Hungry Man BCDF Pictures Kalahari Pictures

Diretor: Bryan Buckley

6.064 users / 4.774 face face

11 Metacritic 4.311 Up 351

Date 07/10/2018 Poster - #####

60. Paterno (2018 TV Movie)

TV-MA | 105 min | Biography, Crime, Drama

Penn State football coach Joe Paterno becomes embroiled in a sexual abuse scandal.

Director: Barry Levinson | Stars: Al Pacino, Kathy Baker, Kenneth Maharaj, Michael Mastro

Votes: 7,584

[Mov 05 IMDB 6,5/10] {Video/@@@@@} M/71

PATERNO

(Paterno, 2018)


TAG BARRY LEVINSON

{interessante}


Sinopse ''Joe Paterno é um dos técnicos mais vencedores do futebol americano universitário. Mas após se ver envolvido na série de acusações de abuso sexual de Jerry Sandusky, seu legado e respeito está em risco.''


"A confusão moral impera no novo filme da HBO, “Paterno”, que mostra a intimidade do famoso técnico de futebol americano da Universidade Estadual da Pensilvânia enquanto ele tenta lidar com as repercussões do envolvimento de um ex-assistente de longa data em um escândalo de abuso sexual infantil que abalou a cidade que abriga a escola. O drama, que estreia no sábado e tem Al Pacino no papel de Joe Paterno, mostra a vida doméstica do técnico durante um cerco midiático de semanas em meio ao qual a família lidou com sua derrocada súbita. Eis um homem que falava de integridade, e mesmo assim isso aconteceu, disse o diretor Barry Levinson à Reuters. Então o que ele sabia? O que ele não sabia? Levinson explora o paradoxo de um treinador que professava e vivia de acordo com um código moral rigoroso que também exigia de seus jogadores, mas que não foi capaz de reagir aos sinais de que seu assistente Jerry Sandusky estava abusando de meninos. “Paterno” faz as perguntas, mas não oferece respostas. O comportamento humano sempre é mais complicado, disse o diretor, vencedor do Oscar por Rain Man. Existem coisas que podemos nunca entender, mas isso é a parte que o torna interessante. O filme emprega várias narrativas, de administradores da universidade que ignoraram queixas feitas contra Sandusky à jovem repórter Sara Ganim, que revelou a história e o trauma emocional de uma vítima de Sandusky que veio a público. Levinson e a roteirista Debora Cahn deixam os maiores enigmas por conta de Paterno, técnico de futebol americano universitário que conquistou mais títulos e que no espaço de poucas semanas do outono local de 2011 foi da notoriedade à demissão. Eles mostram Paterno distante dos detalhes de seu trabalho, confuso e com dificuldades de entender a natureza dos crimes de Sandusky, que transcorriam há décadas. O que é sodomia?, Paterno pergunta à mulher enquanto lê a queixa criminal que levou à condenação do assistente por 45 acusações de abuso sexual. O filme recria momentos reais e supostos nos quais Paterno ou ignorou sinais da conduta de Sandusky dos quais se tornou ciente ou deixou de tomar providências depois de se reportar aos seus superiores. "Paterno" morreu de câncer pulmonar em 2012 aos 85 anos de idade." (Reuters)

Edward R. Pressman Film The Levinson / Fontana Company

Diretor: Barry Levinson

4.327 users / 9.974 face


Soundtrack Rock Grateful Dead / The Roots


1.948 Down 119

Date12/10/2018 Poster - ###

61. Papa Hemingway in Cuba (2015)

R | 110 min | Biography, Drama

37 Metascore

In 1959, a young journalist ventures to Havana, Cuba to meet his idol, the legendary Ernest Hemingway who helped him find his literary voice, while the Cuban Revolution comes to a boil around them.

Director: Bob Yari | Stars: Giovanni Ribisi, Joely Richardson, Adrian Sparks, Minka Kelly

Votes: 1,678 | Gross: $1.12M

[Mov 04 IMDB 6,3/10] {Video/@@} M/37

PAPA

PAPA HEMIiNGWAY: UMA HISTÓRIA VERDADEIRA (alternative title)

(Papa Hemingway in Cuba, 2015)


TAG BOB YARI

{esquecível}


Sinopse ''Em 1959, um jovem jornalista se aventura em Havana, Cuba, para encontrar seu ídolo, o lendário Ernest Hemingway, enquanto a Revolução Cubana chega em torno deles''


''Na literatura, existe um termo chamado Herói de Hemingway, que é essencialmente um conjunto de traços nobres e qualidades honrosas que o leitor deve aspirar, como qualquer personagem de um romance de Ernest Hemingway. Todo escritor que tentar criar esse atributo descobrirá que as qualidades que hoje constituem um herói em comparação com as dos dias de Hemingway são consistentes e atemporais. Essa idéia do que faz de um homem um homem, e vivendo uma vida de honra, coragem e resistência em um mundo que às vezes é caótico, muitas vezes estressante e sempre doloroso”, sempre parecerá fiel àqueles em busca de um sentido mais profundo da vida. . O filme dirigido por Bob Yari Papa: Hemingway em Cuba, conta a história verdadeira do relacionamento de um homem com o lendário escritor Ernest Hemingway, e basicamente inicia sua jornada para encontrar seu próprio e literal, Herói Hemingway. O que você diz ao homem que mudou sua vida e nunca te conheceu? Ed Myers (Giovanni Ribisi), jornalista do Miami Herald na década de 1950, faz essa pergunta enquanto tenta encontrar as palavras para uma carta que planeja enviar para seu ídolo, Ernest Hemingway (Adrian Sparks). Crescendo órfão durante a depressão, a explicação de Myers revela que ele sempre quis ser escritor e aventureiro. Sua falta de laços familiares criou um desejo de alguém para admirar, alguém para ser uma figura paterna. Ele escreve tudo isso e muito mais em sua carta, derramando sua alma na página. Então, um dia, Myers recebe um telefonema que muda a vida do próprio homem, dizendo o quanto ele apreciava a carta e depois pedindo que viajasse para Cuba para passar um tempo com ele. Enquanto o primeiro terço do filme tende a se arrastar um pouco devagar, ele realmente ganha vida quando seguimos Myers para Cuba e conhecemos Hemingway. A atmosfera da cidade e a música ao vivo são eletrizantes, uma justaposição ao homem que Hemingway se tornara naquele momento de sua vida. Myers rapidamente desenvolve uma proximidade com Hemingway e sua esposa Mary (Joely Richardson), considerando-os a família que ele nunca teve. No entanto, sua vida feliz entra em caos quando se encontram imediatamente no meio da revolução cubana. Vale a pena assistir o fato de que essa é apenas uma história verdadeira, mas provavelmente o maior ponto de venda é que este é o primeiro filme de Hollywood a ser rodado em Cuba em mais de 50 anos. A autenticidade de poder fotografar nos locais originais, incluindo o bar El Floridito e a casa de Hemingway na Finca Vigia, que agora é preservada como museu nacional, é algo fascinante de se ver. Possivelmente, a lembrança mais legal de todas é que a máquina de escrever usada no filme é a original de Hemingway. Pessoalmente, sou um grande fã de Hemingway (afinal de contas, eu batizei meu cão de Ernest). É difícil ver esse período na vida dele, pois todos sabemos o resultado de sua batalha perdida com a depressão. É uma pílula difícil de engolir, observando-o enfiar um revólver na boca e bater na esposa. Por tão bonitos os mundos que ele criou em seus livros, o homem que vemos na tela é um artista torturado que luta para ver o propósito de sua própria vida. Adrian Sparks captura o brilho e os demônios de Hemingway em sua performance, dando verdadeiramente justiça e respeito ao falecido autor. Por mais que você seja absorvido pela performance de Sparks, há momentos em que você pode sair do filme. Às vezes, Ribisi fica um tanto irritado, por exemplo, recebendo a ligação inicial de seu ídolo, o próprio Hemingway, ele quase não consegue excitar. Em vez disso, parece que essa cena pode ter sido ensaiada muitas vezes e, com essa tomada, ele estava apenas passando os movimentos. Outro momento de coçar a cabeça é a rapidez com que o filme salta para algumas cenas sem muita configuração. Em um momento, Myers está na praia em Cuba; no outro, na praia, na Flórida, contando à namorada (Minka Kelly) sobre sua viagem a Cuba. Parece apressado, mas, neste momento, nos tornamos investidos nesses personagens que estamos juntos, então não nos importamos para onde estamos indo ou como chegamos lá. Papa: Hemingway em Cuba é um retrato impressionante de um dos maiores autores e contadores de histórias do século XX. Bob Yari leva a cinebiografia e dá vida ao gênero apenas pela quantidade de detalhes autênticos (como os locais de filmagem), além dessa história inspiradora e verdadeira da busca de um homem pelo significado da vida, é algo com o qual todos podemos nos relacionar. Bônus - fique de olho em uma rápida participação especial da neta de Ernest, Mariel Hemingway. Papa: Hemingway em Cuba é classificado como R por linguagem, sexualidade, alguma violência e nudez. Abre em cinemas selecionados na sexta-feira, 29 de abril.'' (Morgan Rojas)

Magenta Light Productions Studio 2050 Sunstone Film Productions Yari Film Group

Diretor: Bob Yari

1.255 users / 558 face

17 Metacritic

Date 04/11/2018 Poster - #####

62. Small Town Killers (2017)

Not Rated | 90 min | Comedy, Crime, Drama

Two Danish BFFs have lost interest in their wives and consider divorce, but end up getting drunk and hiring a Russian hitman online instead. The Russian flies in. Unfortunately, their wives get to know the Russian as well.

Director: Ole Bornedal | Stars: Nicolas Bro, Ulrich Thomsen, Mia Lyhne, Lene Maria Christensen

Votes: 2,759

[Mov 10 Favorito IMDB 5,3/10] {Video/@@@@@}

PLANO QUASE PERFEITO

(Dræberne fra Nibe, 2017)


TAG OLE BORNEDAL

{hilario}


Sinopse ''Dois comerciantes, Ib e Edward (Nicolas Bro e Ulrich Thomsen), que estão cansados de seus casamentos sem amor e têm o sonho de viver uma boa vida, decidem contratar um assassino russo de aluguel para levar suas parceiras. Mas eles subestimam suas esposas, e os dois logo se veem no topo de uma lista de mortes.''


''Em 1994, o dinamarquês Ole Bornedal aterrissou com seu filme de estréia Nattevagten um inesperado sucesso internacional. O thriller de terror impressionou com uma mistura extremamente bem-sucedida de tensão de roer unhas e humor nórdico preto-azeviche. Em 1997, o significativamente mais fraca US refazer foco suave Congelar - pesadelo noite relógio , novamente Bornedal sentou-se na cadeira do diretor no. A seguinte produção do dinamarquês também foi qualitativamente instável. Somente com a amarga Suspense Incondicionalmente Bornedal foi 2007 novamente construir perto de igualar a força de sua estréia. Em contraste, o novo filme de Bornedal, Small Town Killers, marca um novo ponto baixo no trabalho escandinavo. Small Town Killers é uma comédia negra sobre os dois artesãos Edward (Ulrich Thomsen) e Ib (Nicolas Bro). Os maridos frustrados querem se livrar de suas esposas sem dizimar desnecessariamente sua pequena fortuna, que tem sido laboriosamente não declarada, através de pagamentos de manutenção devido ao divórcio. No Suff, você tem a ideia de salvar: Um verdadeiro assassino profissional precisa ir! Quando suas esposas Gritt (Mia Lyhne) e Ingrid (Lene Maria Christensen) ficaram sabendo do plano desagradável, começaram imediatamente o contra-ataque não menos perverso. A premissa de Small Town Killers parece promissora - especialmente se você aprecia o humor negro dos escandinavos. Mas o que ainda parecia extremamente novo em 1994 se estabeleceu como uma marca bem conhecida que há muito tempo se tornou popular entre as pessoas com piadas inocentes, como The Hundred Year Old, que saltaram pela janela e desapareceram . Ao contrário Nattevagten é cidade pequena Killers nenhum filme de gênero emocionante com primer humoriger preto, mas uma comédia pura. E, ao contrário do que o índice sugere, o filme está quase completamente livre de tensão. O grande perigo dos assassinos de pequenas cidadesDeixar um tigre completamente desdentado na platéia parece ter consciência de Bornedal ao escrever o roteiro. Então ele girou o parafuso de humor negro ainda mais e sem vergonha afunda na máxima incorreta política. O último, no entanto, é tão deliberado que as risadas já cansadas ficam presas na garganta em algum momento. O assassino contratado não é apenas um russo, mas também um alcoólatra durão que já está bêbado no aeroporto. Um motorista de táxi muçulmano é um defensor de Bin Laden, o professor de salsa local é naturalmente gay e até o garçom no bar local é um espástico que é ridicularizado pelos protagonistas. O que pode parecer uma peça desinibida com clichês no começo é apenas irritante no meio do filme, o mais tardar - especialmente porque a comédia quase completamente desintoxicada tem pouco charme alternativo a oferecer. Isso é ainda mais irritante, uma vez que atores conhecidos atuam aqui com mímicos dinamarqueses conhecidos, como Ulrich Thomsen (Das Fest) e Nicolas Bro (Adam's Apples ). Mas mesmo eles não podem compensar as grandes fraquezas do roteiro de Bornedal. Small Town Killers também é bom em artesanatoconvencer. Não há nada a reclamar a esse respeito, desde o bom trabalho da câmera até a música de fundo apropriada. Algumas elipses fornecem, em média, humor muito mais seco do que a maioria dos diálogos engraçados combinados. Infelizmente, todo esse talento diverso na frente e atrás da câmera é completamente desperdiçado neste filme.'' (Gregor Torinus)

Miso Film 4Fiction Nordisk Film Danmarks Radio Den Vestdanske Filmpulje Det Danske Filminstitut

Diretor: Ole Bornedal

1.816 / 199 face


Soundtrack Rock Love Shop


Date 01/12/2020 Poster - #######

63. Can You Ever Forgive Me? (2018)

R | 106 min | Biography, Comedy, Crime

87 Metascore

When Lee Israel falls out of step with current tastes, she turns her art form to deception.

Director: Marielle Heller | Stars: Melissa McCarthy, Richard E. Grant, Dolly Wells, Ben Falcone

Votes: 56,145 | Gross: $8.80M

[Mov 07 IMDB 7,1/10] {Video/@@@@} M/71

PODERIA ME PERDOAR?

(Can You Ever Forgive Me?, 2018)


TAG MARIELLE HELLER

{melancólico}


Sinopse ''Passando por problemas financeiros, a jornalista Lee Israel (Melissa McCarthy) decide forjar e vender cartas de personalidades já falecidas, um negócio criminoso que dá muito certo. Quando as primeiras suspeitas começam, para não parar de lucrar, ela modifica o esquema e passa a roubar os textos originais de arquivos e bibliotecas.''


{Queremos mais filmes de gente feia} (ESKS)

''Cinebiografia que justifica o holofote sobre uma personagem desconhecida, pela força da história e por como é contada, interpretada, contextualizada, filmada com beleza. Ou um 'Oscar bait' que merecia mais reconhecimento que Bohemian Rapsody e Green Book.'' (Rodrigo Torres)

''Há subtramas que não dizem a que veio responsáveis por travar o filme em algumas passagens, mas McCarthy e Grant defendem seus personagens no tom melancólico certo de uma cinebiografia com olhar muito sensível sobre a solidão de seus personagens.'' (Rafael W. Oliveira)

''O que mais importa aqui não é o fato em si, mas a maneira como a protagonista é retratada, com Heller e McCarthy superando possíveis estereótipos para construir uma mulher complexa e frustrada consigo mesma. Um belo estudo de personagem.'' (Silvio Pilau)

''Para mim, “Poderia me Perdoar?” começa mal, com a inscrição na tela “baseado em uma história real. Nos dias de hoje, parece quase uma obrigatoriedade, para chamar a atenção dos espectadores, que os filmes venham com esse aposto. Estamos diante de uma extensão dos reality shows? Do Facebook? Dos stories? Não se criam mais boas histórias em Hollywood Curiosamente, em certo trecho deste filme inspirado na vida de uma escritora anônima (mas real) chamada Lee Israel, a personagem ouve de sua agente que, para sair da penúria financeira, ela deveria colocar mais de si mesma nas biografias que escreve. “Você precisa fazer sua voz ser ouvida. E tem mais: não pode ser uma escrota desse jeito sendo uma desconhecida”, ensina a profissional literária. Mas, após esse desconforto momentâneo, o filme começa a chamar a atenção por suas qualidades. A protagonista é uma cinquentona feia que se veste mal e mora em um apartamento insalubre cheio de moscas e cocô de gato. Atualmente, gente feia talvez só seja permitida em filmes baseados em vida real. Cabe unicamente à personalidade da personagem conseguir empatia com o público. Por mais que tudo pareça apontar contra essa senhora, Melissa McCarthy, indicada ao Oscar de melhor atriz, consegue uma interpretação tão boa que logo estamos suportando a chata da Lee Israel. E torcendo para que seus golpes deem certo. O filme fica melhor ainda com a entrada de um segundo trambiqueiro, feito pelo ator Richard E. Grant, que também foi indicado ao Oscar, de melhor coadjuvante - uma terceira nomeação ficou com um casal de roteiristas, por melhor história adaptada. Jack Hock vai auxiliar Lee Israel na sua caça por colecionadores ávidos por missivas históricas. Além disso, ele traz um alívio cômico à depressiva vida de Israel e principalmente a nós, que estamos enroscados nela. Para completar, a trilha sonora é excelente. Traz jazzes melancólicos de Billie Holiday e outros mais nervosos, do estilo ouvido em Whiplash. Consegue misturar isso com a delicadeza desesperada de Lou Reed ou com a porrada sonora dos Pixies, casando perfeitamente com a Nova York dos anos 1990." (Ivan Finotti)

A carência pintada de fel.

''Lee Israel foi uma escritora de sucesso. Surgida no final dos anos 60 como jornalista na 'New Yorker', as duas décadas seguintes foram dedicadas a escrever biografias que lhe renderam prestígio e reconhecimento. O fracasso de um novo livro no fim dos anos 80 foi crucial para transforma-la numa alcoólatra, e realçar péssimas características como a antissociabilidade, a amargura, o distanciamento dos pares, o sentimento de traição sofrida. Cada vez mais reclusa, Lee perde o emprego e o pouco apoio que recebia graças a seu temperamento irascível. A beira da falência no entanto, Lee descobre um talento insuspeito ao vender um bilhete que Katherine Hepburne tinha escrito para ela. Se as pessoas colecionam e pagam pequenas fortunas por material como esse, porque não forjar artigos raros e nunca escritos por artistas, pensadores e escritores e sair do buraco com essa ideia? Esse mote do segundo longa de Marielle Heller (o primeiro é o surpreendente Diary of a Teenage Girl) é obviamente inspirado em fatos ocorridos ao longo de dois anos na vida da escritora no início dos anos 90, e também é um longa que opera nas raias de uma melancolia crescente, que se transforma em depressão e molda duas vidas, que se entendem como eternamente sendo trapaceadas pela vida real, que as abandonou. Para tanto, vão dobrar a existência às suas demandas, mesmo que suas carências nunca sejam supridas. O filme tem bom humor (a presença de Melissa McCarthy como protagonista com certeza ajudou no resultado), mas o que fica dele é o sentimento de exclusão particular, do olhar pro horizonte e perceber que tudo deu errado lá atrás. Heller vem de uma experiência parecida, também uma adaptação literária, e aqui está em um terreno conhecido. O filme tem um clima claustrofóbico até nas cenas externas. Talvez por ser demais apegado ao interior de sua protagonista, a ideia do mergulho em um universo parece tão fácil aqui; fácil aqui não é sinônimo de confortável, pelo contrário. A fotografia de Brandon Trost (colaborador da diretora e que tinha feito um magnífico trabalho em Lords of Salem) nos aprisiona naqueles tons de marrom e ocre, sem liberar luminosidade a uma atmosfera onde ela realmente não está. A trilha composta pelo irmão da diretora, Nate Heller, é de uma sensibilidade ímpar, incrível que esteja passando despercebida nos elogios ao filme. Sua empostação, sua presença clara, ajuda um filme muito dolorido, cuja significação pessoal tem um peso bastante considerável. Ainda que o roteiro não seja de muitos acertos, as características biográficas desse tipo de longa sempre acaba por traí-los em seu espaço temporal, em sua descrição emocional no tempo descrito, impossível negar a qualidade dos seus diálogos e da criação de dois personagens que nascem clássicos. Essa prisão formal da fórmula da biografia se faz presente aqui mais uma vez, as amarras que não fazem o roteiro respirar direito, para além do desenho dos personagens. Mas independente disso, tanto Lee quanto seu amigo vivido por Richard E. Grant conseguem ser belas mostragens de empenho de escrita. Duas pessoas amargas, debochadas, irônicas, solitárias e com nenhum traquejo social acabam se identificando e criando uma parceria improvável; os diálogos entre ambos são igualmente impagáveis. E obviamente que o desempenho tanto de Melissa quanto de Grant elevam o material final. São seus desempenhos que criam laços com a gama de emoções que cada um constrói. Melissa nunca esteve melhor, contida, uma rocha bruta, mas ainda sarcástica, com um olhar que de longe vislumbramos a vontade de doação; ótima sem ele, incrível com ele. Ele é Grant, um dos mais tarimbados atores britânicos das três últimas décadas, nunca conseguiu chance maior para provar seu valor quanto aqui. Não apenas prova como ameaça a todo momento roubar o filme de Melissa. Seu interpretação não apenas é uma aula como se despede de cena com uma cena já inesquecível, olhos marejados e injetados seguidos de uma risada e uma tirada cheia de alfinetes. Uma dupla completa, que vive juntos os raros momentos de carinho que a vida lhes ofertou, nesse filme onde percebemos os problemas, mas que a memória tenta pregar peças quanto ao valor do que é mostrado, e sentido." (Francisco Carbone)

91*2018 Oscar / 76*2019 Globo

Archer Gray Bob Industries Fox Searchlight Pictures TSG Entertainment

Diretor:Marielle Heller

38.141 users / 36.771 face


Soundtrack Rock Lou Reed / Billie Holiday / Paul Simon / Pixies / Roxy Music


56 Metacritic 1.508 Up 211 Date 01/01/2020 Poster - ######

64. Parasite (2019)

R | 132 min | Drama, Thriller

97 Metascore

Greed and class discrimination threaten the newly-formed symbiotic relationship between the wealthy Park family and the destitute Kim clan.

Director: Bong Joon Ho | Stars: Song Kang-ho, Lee Sun-kyun, Cho Yeo-jeong, Choi Woo-sik

Votes: 958,752 | Gross: $53.37M

[Mov 06 IMDB 8,6/10] {Video/@@@@} M/96

PARASTA

(Gisaengchung, 2019)


TAG JOON-HO BONG

{intenso}


Sinopse ''Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo num porão sujo e apertado. Uma obra do acaso faz com que o filho adolescente da família comece a dar aulas de inglês à garota de uma família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe, filho e filha bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custarão caro a todos.''


''Surreal! Bong realiza um dos filmes mais criativos dos últimos tempos. Navegando brilhantemente entre a comédia, o drama e o suspense, Parasita aborda, com uma linguagem universal, questões relacionadas à polarização social, ao acesso (e à falta dele) às oportunidades e ao famigerado sistema de meritocracia, revelando que as consequências da extrema desigualdade entre 'os do porão' e 'os de cima' levam a adversidades que afetam, direta ou indiretamente, a todos. E que elenco magnífico!'' (Léo Félix)

''Bong consegue trabalhar simultaneamente o cômico/satírico e o trágico/crítico em cima de um argumento que vai se estendendo e expandindo até um limite impossível de imaginar. Tudo para traçar um retrato verdadeiro e fiel sobre os conflitos de classe e sobre a situação social da Coreia do Sul. Quando você pensa que no final ele vai fraquejar e se render a um desfecho mais conciliador, o último frame bota tudo por terra.'' (Heitor Romero)

''Conduz com habilidade o tema da desigualdade social na Coreia do Sul, sem nunca cansar, por várias vezes surpreendendo. Comédia de sorriso amarelo, humor negro, com um final que joga na nossa cara como tudo aquilo de engraçado não tinha nada. Pessimista, mas ao mesmo tempo realista e fantasioso. Complexo assim.'' (Rodrigo Cunha)

''Um conto moral onde não se encontra com facilidade a origem de seu título: quem seriam os reais parasitas do roteiro? Bong Joon-Ho parte da sua Coreia para falar empaticamente do mundo inteiro, em uma obra tão ampla que rapidamente percebemos que estamos diante de algo maior que o nosso tempo; 'Parasita' já nasce assustadoramente atemporal.'' (Francisco Carbone )

''A habilidade que sobra para costurar uma verdadeira trama, com um drama social rascante que corre com toda fluidez, finas tintas cômicas e set-pieces de suspense cruciantes (apesar de fundadas na comédia de erros), além de perfeita mise-en-scène, direção de atores, articulação e tensão de todos esses elementos e sensações narrativamente, falta no momento mais fácil: o de se encerrar. O final se alonga e a última cena é uma excrescência que subestima o espectador e a si. É o que faltou para o 10.''(Rodrigo Torres )

''Parasita proporciona uma dinâmica exemplar entre cinema como entretenimento (pois leva o espectador a caminhos inesperados várias vezes) e cinema como espelho humano e social (que funciona muito bem para nós, brasileiros, pois este é um país de grandes desigualdades, como as apresentadas no filme). Faltou o roteiro ser um pouco melhor costurado - mas aí talvez seja pedir demais!'' (Alexandre Koball)

''Depois do deslize de 'Okja', John-ho Bong retorna com um trabalho de altíssimo nível, combinando com maestria uma trama repleta de reviravoltas, humor negro e poderosa crítica social. Imprevisível do início ao fim, o filme surpreende ao enveredar por caminhos que o espectador dificilmente imagina, junto a cenas compostas com total domínio técnico. A discussão sobre a diferença de classes é a cereja do bolo de um dos melhores - talvez o melhor - filmes do ano.'' (Silvio Pilau)

***** ''No centro de “Parasita” existe um buraco negro. Ele separa, numa imponente mansão, a área social do lugar que os pobres frequentam, uns para viver, outros para se digladiar. A atenção dada ao lugar por Bong Joon-ho, autor do filme que levou a Palma de Ouro em Cannes neste ano, é evidente. Ela é marcada por ligeiros travellings, movimento de câmera no qual ela se desloca pelo espaço, cada vez - ou quase - que a passagem aparece. Essa passagem delimita dois mundos - o dos ricos e o dos pobres. Embora contíguas, essas duas categorias (ou classes sociais) vivem em mundos à parte. No dos ricos, só o homem trabalha, mantém a sua empresa, enquanto a mulher mal se ocupa da casa, com a ajuda de uma governanta. A mãe se preocupa obsessivamente com o filho, que certa noite, conforme sua narrativa, viu um fantasma (uma cabeça que apareceu no buraco negro, justamente). A família vive sem nenhuma preocupação, e essa ausência de preocupação parece engendrar uma incapacidade de lidar com o mundo dos pobres, que ignora. Do outro lado existem os pobres, os vigaristas. Mas também podem ser chamados de artistas, tanto faz. O importante para eles não é como são chamados, mas a capacidade que desenvolvem de representar vários papéis (professores, motorista, governanta), de modo a se introduzir na mansão e desfrutar dos salários pagos pelos ricos. Não se trata de um assalto ou coisa assim. São servidores. Por vezes, aproveitadores, sem dúvida. Seu problema não é esse, mas sim a existência de um bunker projetado para acolher a rica família em caso de ataque. Daí nascerá o real conflito do filme, em que pobres e pobres se enfrentam por um bom tempo, enquanto os ricos mal percebem o que se passa. As consequências virão para todos, é verdade, mas isso diz respeito à intriga, muito original, mas sobretudo reveladora de certos desequilíbrios que afetam a Coreia do Sul. Num país admirado mundialmente, admirável mesmo, pela maneira agressiva como passou do subdesenvolvimento a um invejável avanço tecnológico e cultural, o progresso parece ter deixado —ao menos é o ponto de vista do filme - rastros de seu ritmo vertiginoso nas relações entre as pessoas e as classes sociais. Os ricos são marcados aqui por viverem alienados num mundo particular em que até mesmo a existência dos pobres é ignorada. Os pobres são relegados a subempregos e condenados a viver em pardieiros, afligidos por dificuldades de todo tipo. Tudo isso seria banal, não fosse a condução formidável de Joon-ho. Ao filme não falta humor nem tragédia, não falta um ritmo ágil, simplicidade e eficácia nos enquadramentos e na direção de atores. Não falta uma visão aguda dos desequilíbrios de uma sociedade que já povoaram seus filmes com monstros (O Hospedeiro), com mães protetoras (Mother), com crimes em série (Memórias de um Assassino, seu melhor filme). Do terror ao policial, da violência ao fantástico, Joon-ho vai compondo, filme a filme, um quadro notável, talentoso e original desse país que nos parece a princípio tão distante, mas de certos pontos de vista nos é tão familiar, já que esses buracos negros, pelos quais se escoa o mal-estar da civilização, estão em toda parte. “Parasita” é, de longe, um dos grandes filmes deste ano carregado de bons filmes.'' (* Inácio Araujo *)

Teatro de máscaras se choca com circo de horrores em candidato a clássico moderno.

''Por muito tempo, Bong Joon-ho foi um daqueles cineastas de que se falava maravilhas quando seus filmes eram exibidos em festivais. Filmes como Memórias de Um Assassino e O Hospedeiro causaram furor onde passaram pela facilidade do cineasta em fazer uma abordagem muito autoral de gêneros cinematográficos. Era, ao lado de Chan-Wook Park, uma das estrelas da “invasão sul-coreana” iniciada com Oldboy, e, quando foi para os Estados Unidos filmar, reconhecidamente sua adaptação de romance gráfico O Expresso do Amanhã foi a mais bem recebida em comparação com outros conterrâneos. Já a fantasiosa aventura Okja, sua produção seguinte em colaboração com a Netflix, carregava o luxo de um elenco estelar no ocidente, mas talvez tenha sido sua produção menos elogiada, com críticas ressaltando um certo tropeço no tom do filme. Ainda assim, ninguém foi louco de negar momentos impressionantes e uma temática social abordada de maneira muito particular. E Parasita, novo vencedor da Palma de Ouro em Cannes, carrega toda essa bagagem meteórica para firmar Joon-ho como mestre do cinema de seu tempo. O suspense satírico (ou sátira tensa) idealizado, roteirizado (ao lado de Han Jin-won) e dirigido por Bong é talvez a crítica social mais incisiva já feita pelo cineasta. Se O Hospedeiro ou O Expresso do Amanhã, por exemplo, se apropriaram de embalagens como “filme de monstro” e “distopia futurista” para fazer seus comentários sociais, o cineasta fala aqui com uma franqueza sem filtro que não era visto desde seu debute em Cão Que Ladra Não Morde. Se há algo a ser relacionado com seus outros filmes na história de uma família à margem da sociedade — que graças à indicação do filho como tutor de inglês para uma garota rica passa a conspirar para tomar vagas como trabalhadores de lar para a família da mesma — é o profundo ressentimento de classe e a sensação de que há não “santos” em lugar algum, mas, antes de tudo, meros seres humanos. Explorando esse cinema de contradições e confrontos entre indivíduos imperfeitos de forma profundamente espacial — repare quanto do filme é dedicado a “conhecer” a casa da famíla rica e como ela contrasta com a da família pobre, desvendando pouco a pouco desde a superfície até as estranhas daquela casa —, Joon-ho não esquece de tornar seu filme cruelmente engraçado com seu humor farsesco, explorando um jogo de máscaras onde pessoas são gentis cara a cara para se apunhalarem pelas costas. Os eventos, de tão rápidos e entrecortados por elipses, conferem um ritmo amalucado em que Joon-ho, sabiamente, insere as primeiras sementes de seu surpreendente final. Tais construções são um feito, parando para pensar, pois opera tanto no nível cômico e instrumental, quanto em um nível subjetivo e tonal. Pensemos nas relações entre o pai da família pobre que trabalha como motorista para o pai da família rica (ambas as famílias formadas da mesma configuração: dois homens e duas mulheres, quase como espelhos). É nítida a falsa cordialidade do primeiro para com o segundo, enquanto tenta fazer que empregue sua esposa. Mais sutil é a anatomia de poder, dentro do carro, onde o trabalhador pode, claro, tomar liberdades e influenciar o patrão — mas desde que seja dentro de uma lógica perversa onde o empregado motorista também é uma espécie de faz-tudo, de carregador a terapeuta, sujeito aos comentários ácidos e sutilmente classistas. A composição frontal de Bong sempre escancara uma inevitabilidade. O cineasta frequentemente filma sem perspectiva tridimensional, sem objetos de bloqueio, que confiram aquela sensação ilusória de “personagem em cena” que se convencionou a filmar no cinema hollywoodiano. Mas esse é um filme sobre a perda das máscaras — ou ao menos um suspense onde vemos a construção dessas máscaras para depois ver a resistência das mesmas. Todos estão desnudados, vendo e sendo vistos, mesmo quando são vistos de perfil ou por cima. A ação encenada é limpa, aberta, por vezes cômica, frequentemente chocante, ocasionalmente ambos, quando o cineasta configura a farsa familiar e o suspense de infiltração sob o mesmo teto. O desconcerto que já sabia como produzir desde cedo em Memórias de Um Assassino e seus interrogatórios que acabam em brigas homéricas segue em plena forma aqui, onde uma governanta cozinha e serve os patrões ao mesmo tempo que dá cabo de uma vítima, fazendo bocas se abrirem de espanto ou se contorcerem de riso amarelo, e certamente não deixando a quem assiste passivo. Já por sua vez, a conclusão de Parasita não é apenas uma conclusão, mas também uma ampliação de todos os temas discutidos até então. Bong muda de chave, e toda a brutalidade subliminar que provocou risos até então vem à tona na forma de outros finais reconhecidamente violentos que já criou — como em Mother - A Busca Pela Verdade e Okja. A partir do seu início simples, direto e brutal, a sequência evolui para um espetáculo burlesco e inesperado, no qual uma celebração de status torna-se um circo de horrores e o diretor organiza um caos cheio de pequenos detalhes, muitas vezes abertamente interpretativo pela narração visual. Não há a sensação de “bizarrice tonal” perceptível em outros filmes, mas a de caminho inexorável — como se fossem desdobramentos naturais de decisões conscientemente anti-éticas com base na usurpação ou afirmação de poder. É verdade que, em seus minutos finais, Parasita se torne um tanto contemplativo, emotivo, distanciado do cinismo, mais aberto e idílico. Mas se torna a obra mais lenta, e assim também ninguém pode acusar o diretor de odiar aqueles monstros cômicos e amorais, mas sim de abordá-los de maneira humana, como o são — e sem fazer juízo de valor da palavra, mas só admitindo a maré de sentimentos que sentem, independente de suas ações, como é possível ver na cena da chuva. Admitir a tragédia pessoal e social em meio a um circo de mentira e violência torna a obra ainda mais densa em matéria de construção. E é desse estilhaço autoral de flertes com os tons do gênero que Joon-ho emerge como um dos grandes nomes da geração e, pode-se dizer, se afirma como um mestre do seu fazer, onde sua filosofia de composição torna-se referência e assistir aos seus filmes, necessário para se entender a cinematografia de nossos tempos. Parasita transparece as preocupações temáticas e estéticas de sua sociedade, de seu tempo e de seu diretor, conjugando em si potencialidades bem passíveis do que talvez seja um marco de seu tempo. Quem tem olhos que veja o cineasta resumir o que vê com uma encenação tão hilária, trágica, brutal e, principalmente, poderosa.'' (Bernardo D.I. Brum)

92*2020 Oscar / 77*2020 Globo / 2019 Palma de Cannes

Top 42#250 Top 300#82 usuários (Cineplayers)

Barunson E&A CJ E&M Film Financing & Investment Entertainment & Comics CJ Entertainment TMS Comics TMS Entertainment

Diretor: Bong Joon Ho

361.536 users / 360.955 face

52 Metacritic 7 Up 5 Date 01/03/2020 Poster - #####

65. Downsizing (2017)

R | 135 min | Drama, Fantasy, Sci-Fi

64 Metascore

A social satire in which a man realizes he would have a better life if he were to shrink himself to five inches tall, allowing him to live in wealth and splendor.

Director: Alexander Payne | Stars: Matt Damon, Christoph Waltz, Hong Chau, Kristen Wiig

Votes: 124,433 | Gross: $24.45M

[Mov 04 IMDB 5,7/10] {Video/@@@@} M/63

PEQUENA GRANDE VIDA

(Downsizing, 2017)


TAG ALEXANDRE PAYNE

{simpático}


Sinopse ''Sátira social onde pessoas têm a possibilidade de se miniaturizar para viverem em comunidades menores (literalmente) e terem menos gastos. Um homem de Omaha, então, aceita que, se ele passar por esse processo, ele levará uma vida melhor.''


''Um pequeno grande erro do costumeiramente muito bom Alexander Payne, que desperdiça uma ótima premissa (até que bem desenvolvida no primeiro ato) transformando-a num material pseudo-ambientalista totalmente sem rumos.''(Léo Félix)

''Incrível como a boa e divertida premissa é arruinada por Payne e Taylor, que claramente não sabem para onde levar a história. O resultado é uma bagunça sem foco, que desperdiça seu potencial narrativo para virar uma bobagem panfletária sem sentido.''(Silvio Pilau)

''Difícil dizer o que é pior: a direção preguiçosa, o desperdício do elenco (Damon perdido e Wigg sem função), a falta de graça da 1a metade, ou a bizarra mensagem ambientalista da 2a. Payne, em seu pior filme de longe, atirou em Kaufman e acertou em Crowe.''(Régis Trigo)

''Uma obra de grande profundidade dá lugar a um apanhado de gags fáceis, para riso e 'reflexão' das grandes plateias, fazendo um estranho híbrido de auto-ajuda com episódio nada inspirado dos Trapalhões. Sai da escuridão, Payne!''(Francisco Carbone)

''Todo mundo sabe que a ficção científica é um gênero que inventa histórias mirabolantes sobre o futuro ou sobre realidades alternativas, tecnologias hipotéticas e mundos impossíveis. Porém o que essas fábulas muitas vezes mostram são características menos evidentes da nossa realidade. Nesse sentido, "Pequena Grande Vida" retoma uma veia que a ficção especulativa cultivou desde suas origens, ao criticar o presente como se cogitasse a respeito de algum futuro. Só que, em vez da fantasia ilimitada e do pessimismo na forma de distopias que predominam na atual ficção científica, o diretor e roteirista Alexander Payne prefere a sátira, modo de aliviar com humor o que parece sério. Num mundo similar ao nosso, Paul Safranek (Matt Damon), um zé-ninguém cujas economias nunca dão para o gasto, decide aderir a um programa revolucionário de encolhimento físico. A invenção de cientistas nórdicos amenizou o risco da catástrofe ambiental anunciada e, de quebra, facilitou a vida de quem nunca teve muito. As pessoas se apequenam, e suas economias não, possibilitando aos miniaturizados ter um padrão de conforto antes inconcebível. Como toda utopia, Littleland também esconde suas fissuras, que logo se revelam, quando Safranek descobre, em outra escala, as imperfeições irrevogáveis da natureza humana. A primeira parte, dedicada à transposição do tamanho, indica um grande filme, no qual a fantasia visual dialoga com o humor ácido que Payne consegue em seus momentos mais inspirados. Mas à medida que Safranek passa do lugar de herói sem qualidades ao de consciência culpada, "Pequena Grande Vida" oscila e quase decepciona. A tentação de Payne pela escrita espiralada, que distingue trabalhos como Os Descendentes ou Nebraska, enfrenta aqui o problema contrário do acúmulo. A duração de 135 minutos parece ser maior que a trama pede. E a saturação de mensagens cansa quando o filme troca a sátira futurista pelo drama social, ticando tópico por tópico da agenda politicamente correta. É um problema com que o cinema hollywoodiano tem de lidar desde que as séries passaram a oferecer complexidade narrativa ao público de sofá, deixando para os filmes a função limitadora de entretenimento sensorial. Payne pelo menos não evita o risco de elaborar, o que já não é pouco." (Cassio Starling Carlos)

O sonho de um homem ridículo.

''No enredo de ''Pequena Grande Vida'', novo filme de Alexander Payne, a ciência descobre uma maneira brilhante de minimizar os estragos do homem ao meio-ambiente e dessa forma salvar o planeta e a raça humana. Através de uma tecnologia capaz de diminuí-lo ao tamanho médio de 12 centímetros e colocá-lo para viver em mini-cidades com excelentes condições de vida e insignificantes índices de poluição, é possível também aproveitar o embalo e oferecer ao homem de classe média comum a chance de finalmente alcançar o inalcançável sonho americano da casa própria, carro do ano, família perfeita e conforto financeiro. Autor costumeiro de personagens em crise com seus próprios sonhos e ambições e observador satírico das instituições afundadas na hipocrisia americana, Payne centraliza agora em Paul Safranek (Matt Damon) a ideia do homem engolido por esse meio, literalmente diminuído e resumido a um mero fantoche que abre mão de sua própria integridade em busca da chance de finalmente alcançar a suposta felicidade e plenitude vendidas nos anúncios de jornal e TV. Mas o conflito permanece, pois Paul não é simplesmente um americano capitalista – ele é um americano capitalista com senso de culpa, sendo capaz de perceber, ainda que a contragosto, o horror daquela ideia vendida como tão cheia de boas-intenções a favor do planeta e da vida. ''Pequena Grande Vida'' tem um argumento muito divertido que parece saído da mente de algum membro do Monty Python, e na sua primeira hora o explora sempre com muito bom humor e uma direção inspirada. Sempre em planos inteligentes que valorizam a discrepância de tamanhos entre os homens normais e os encolhidos, as imagens de Payne falam por si só e provocam risadas sem precisar de uma única palavra, expondo todo o ridículo da situação levada tão a sério pelos cientistas e vista como ideal pelos consumidores. Expandindo todas as possibilidades, ele inclui questões sociais como as dificuldades de adaptabilidade dos “encolhidos no mundo dos normais”, o preconceito de um lado para com o outro, implicações políticas e financeiras, o impacto na segurança das fronteiras entre os países, etc. Atingindo todas as esferas sociais, o diretor brinca bastante com sua história maluca em um primeiro momento. A partir da segunda hora, passado o deslumbramento com o novo universo inventado, Pequena Grande Vida de repente se transforma em um filme diferente – e pior. A questão ambiental, que até então era usada como desculpa moral para a execução de um negócio puramente capitalista e nada preocupado com o meio-ambiente e qualidade de vida, logo passa a ser levada tão a sério pelo roteiro que qualquer vestígio de humor some e entra uma abordagem sentimentalóide e panfletária. Uma vez dentro de uma dessas mini-cidades, Paul se desilude ao descobrir algum tempo depois que lá também existe desigualdade social, pobreza, miséria e sofrimento. Ao conhecer uma ativista vietnamita que perdeu a perna e atualmente trabalha como empregada doméstica e ajuda comunidades carentes na periferia daquele mundo não-tão-perfeito, ele percebe que trocou seis por meia dúzia e que isso lhe custou o casamento e a própria identidade. A conclusão estaria implícita nessa situação, mas Payne inexplicavelmente abre mão de todo o humor mordaz e de toda a irreverência e abre espaço para um roteiro esquemático, maniqueísta e superficial em todas suas considerações panfletárias de conscientização sobre a destruição do planeta Terra. Uma trilha sonora melosa e insistente também entra subitamente em cena para tentar conferir algum peso dramático, mas a partir desse ponto nada convence e a obra vai se descaracterizando até perder de vez sua autenticidade. Soa como uma auto sabotagem, como se o próprio filme caísse na armadilha e se revelasse tão pueril e ingênuo quanto aquele Paul do começo, acreditando piamente na possibilidade de um mundo melhor e mais justo que somente o capitalismo poderia (?) oferecer.'' (Heitor Romero)

75*2018 Globo / 2017 Lion Veneza

Paramount Pictures Ad Hominem Enterprises

Diretor: Alexandre Payne

94.806 users / 93.457 face


Soundtrack Rock The Hollies / BoDeans / The Chapin Sisters


Check-Ins 48Metacritic 991 Down 148

Date 05/01/2019 Poster - #######



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